Faça-me esquecer escrita por alinerocha


Capítulo 5
Capítulo 4




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"Meu Medo é a minha única coragem." – Bob Marley

Oito anos atrás

Olho para o céu e o sol brilha para mim, as nuvens sorriem em minha direção. Um dia perfeito para um churrasco em família, um dia perfeito para distrações, um dia perfeito, para todos ao meu redor, menos para mim. Sentada no balanço que está preso na arvore que fica ao lado de nossa casa, observo meus pais e tios conversarem, rirem, talvez de uma piada antiga, talvez apenas estejam felizes.

O que aconteceria se eu me levantasse agora, entrasse na frente deles e contasse tudo? O que eles fariam com o querido irmão deles que está logo ao lado? Será que tio Henry tiraria uma arma atrás da calça, como fazem nos filmes, e atiraria em todos? Será que ele me mataria primeiro ou mataria todos na minha frente para me fazer chorar, implorar que ele pare e me afundar ainda mais na miséria que ele me impôs?

Eu realmente não sei, nunca vou saber. Só vou ficar aqui, me balançando para frente e para traz, para evitar que as lágrimas caiam, para evitar ficar perto de qualquer um.

Penso em como fui idiota ao imaginar que quando eu fizesse quinze anos, tudo seria melhor do que já era. Na vida de outras meninas, quem sabe? Não havia como imaginar que meu presente de quinze anos seria uma escapada do meu tio para o meu quarto no meio da madrugada. Não havia como imaginar que uma pessoa pode ser tão cruel.

Ainda temo que meus pais descubram, eu quero isso. Muito. No entanto, a vida deles é mais importante. Eu consigo aguentar, tenho que conseguir. Cada maldita vez que meu tio me encontra, escondida dele em algum canto, eu tenho que manter esse pensamento na minha cabeça. Não posso desabar, não posso, não posso!

Sinto as lágrimas picar meus olhos, respiro fundo e as mando embora. Vão! Agora não é hora para aparecer, companheiras. Porém, a dor no meu coração não se vai, nunca. Cada minuto do dia sinto uma rachadura se abrir, sangrando pelas lágrimas não derramadas, pelas palavras não ditas.

Meus primos brincaram alegres pelo gramado, o mundo para eles ainda é bonito, é colorido e cheio de vida. Olho para os pais deles e não á nenhuma preocupação em seus olhos. Oh, pobres coitados, não sabem o perigo que seus filhos correm ao lado desse monstro que é chamado de tio por eles.

Olho para mamãe e ela está me olhando de volta, seu lindo sorriso está estampado no rosto, mas sinto que ela está me avaliando. Ela faz um sinal com a mão me chamando para participar da alegria. Eu me forço a sorrir e dou um leve balançar de cabeça, dizendo que não. Sua testa se enruga e ela deixa seu copo de suco na mesa e começa a caminhar em minha direção.

Oh, céus. Será que está muito evidente?

Pareça feliz.

– Meu amor, por que você está tão quieta ai? – Ela diz, quando chega perto de mim, passa suas mãos macias pelo meu rosto e sobe para acariciar minha cabeça.

– Estou só com um pouco de dor de cabeça, deve ser por causa do sol. – sorrio em sua direção, e espero que seja convincente o suficiente. – Mas estou bem, só quero ficar um pouco na sombra.

Ela sorri de volta convencida com o que eu disse, mas sua testa continua enrugada.

– Talvez você deva entrar em casa, o barulho não vai ajudar a dor de cabeça também.

– Não! Hum... Sério, estou bem aqui, mamãe. – o desespero me quebra em mil pedaços fazendo com que eu perca o sorriso.

Sua testa se enruga mais e ela pega minha mão, me fazendo levantar do balanço.

Não, não, não, não! Ele vai me encontrar sozinha. Por favor, me deixe.

– Filha, se você não está se sentindo bem não precisa ficar aqui, sério, pode entrar. – Ela me acompanha até a porta e a abre para mim. Sinto os olhos de tio Henry nos acompanhar. – Mais tarde eu volto para te dar um remédio, caso a dor não passe.

Ela fecha a porta atrás de si e eu me sinto presa, dentro da minha própria casa, sozinha e vulnerável. Subo as escadas correndo, com meu coração em uma batida frenética. Paro no corredor e encaro as portas. Aonde vou me esconder? Preciso ser rápida!

Oh, Deus, não deixe ele me achar. Não deixe.

Olho para a porta do quarto dos meus pais, no final do corredor, e corro como se estivesse em uma maratona. Fecho a porta o mais silenciosamente possível, e desabo encostando-se a ela. Abraço meus joelhos e apoio minha cabeça em minhas mãos. Permaneço quieta, sem mexer nem um músculo. Ele não vai me achar aqui, não seria tão ousado assim.

Não sei exatamente quanto tempo se passou, mas escuto a primeira porta do corredor sendo aberta.

Meu coração congela. O que eram batidas frenéticas se tornou pesado, duro e doloroso de se carregar. Levanto a cabeça devagar e respiro com dificuldade. Minhas queridas companheiras retornam e dessa vez não posso impedi-las. Deixo que escorreguem pelo meu rosto livremente.

Ouço sua risada podre.

– Doce Liza. – ouço mais uma porta se abrir e fechar. – Você não está se escondendo de seu tio, não é? Eu espero que não.

Sua risada vibra pela casa novamente e me pergunto se sou a única a ouvir. Levanto-me devagar, olho para o espaçoso quarto de meus pais procurando por lugares para me esconder. O desespero gritando meu nome cada vez mais alto.

– Eu vou te achar, querida. – mais uma porta é fechada. – E vou te punir por se esconder.

Não há lugares para se esconder! Não tem como se esconder de baixo da cama Queen size, não tem como se esconder dentro do banheiro, ele ouviria a porta sendo aberta.

O trinco da porta faz barulho, olho para traz e vejo-o girar lentamente. Ele abre a porta, seus olhos encontram os meus e um sorriso perverso aparece em seu rosto. Minhas mãos se fecham em punhos, meu corpo começa a tremer e dou passos lentos para trás.

– Te achei.

Meu mundo desaba.


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