Faça-me esquecer escrita por alinerocha


Capítulo 4
Capítulo 3




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/574923/chapter/4

The flags are flying across the Plains

I got a secret picking in my brain

I wanna see you, see you

Yes, this sign is on my face

I don't know my home, I don't know my place

I just wanna be there, be there

Kings of leon – Supersoaker

Brian

Encosto-me a parede e suspiro para o turbilhão de emoção que essa mulher trouxe. Como pode existir uma mulher, pequena e com rosto de menina, que deixaria mulheres mais velhas no chão? Como pode ser como uma bomba relógio, só esperando o momento certo de explodir?

É isso que ela faz, observa e investiga, fica a espreita e se vê uma ameaça já está preparada para enfrentar. Vejo o medo em seu olhar, apesar dela tentar não demonstrá-lo duramente.

Confesso que fiquei assustado quando a vi entrar correndo pela porta da oficina. A olhei como se fosse um fantasma, muito bonito, por sinal. Seus cabelos na altura do ombro, sua franja tampando as sobrancelhas e pele tão pálida.

Primeiro pensei que estava ficando louco, eu quero dizer, estava muito tarde e ninguém em plena consciência andaria naquela tempestade. Depois pensei que poderia ser um assalto, tem acontecido muito por essa região. Uma mulher entra, distrai as pessoas e depois os caras maus entram na história. No entanto, depois de vê-la chorando, eu me senti tolo por te achado que uma pessoa com tamanha fragilidade pudesse me assaltar.

O desejo de saber o que houve com ela para ter a deixado assim me domou. E eu sabia que não iria conseguir não ajuda-la. Então eu o fiz, e estou fazendo, a ajudando. Estou fazendo o que gostaria que alguém tivesse feito comigo: me ajudado. Posso ajuda-la por umas horas, mas me sinto bem sabendo que mesmo em pouco tempo, tentei fazer melhor que posso.

Lembro-me do momento em que ela disse que quer uma vida nova, mas como eu a perguntei, isso não daria muito trabalho? Por que ter uma vida nova se você já passou por incontáveis dificuldades? A vida de ninguém é perfeita, ninguém nasce destinado a viver uma vida plena e feliz até a morte, sempre há problemas e dramas, coisas ruins. Então, se ela já passou por esses momentos ruins, por que ter uma vida nova e passar por isso mais uma vez?

Com perguntas demais em minha cabeça, tomo um banho rápido, com uma estranha vontade de olhar para o mistério que é a pessoa que está no quarto ao lado.

Quando saio do banheiro, com uma calça de moletom preta e a camiseta do meu pai, que foi a única coisa que deixei que ficasse comigo. Ela é branca, e na frente se encontra uma única frase com as letras na cor preta: “Do pó vieste, ao pó retornarás... Gênesis, 3;19”

Quando eu era menor e o vi usando a camiseta, ficava intrigado, então eu o interrogava sobre a frase e a única coisa que ele me respondia era: Um dia você irá entender, filho.

Agora eu entendo, pai.

Ela ainda não saiu do quarto, não sei se é um mau sinal, mas não estou preocupado de que eu a tenha insultado por falar do seu medo. Vou até a cozinha e preparo dois sanduíches e dois copos de suco de morando.

Também não estou preocupado de parecer bom demais, pois hoje em dia ser bom demais gera desconfiança, mas se ela não saiu correndo enquanto estávamos na oficina, creio que não o fará mais.

Coloco os pratos em cima da mesa de centro, que fica entre os sofás, e instantes depois estou batendo na porta do meu quarto de hóspedes.

Ela abre a porta e me vejo perdido em seus olhos, com a luz do quarto, consigo velos claramente agora. São de cor âmbar, como uísque e com certeza pode deixar muitos bêbados por ai.

– Você vai me mandar embora agora? – Ela pergunta, trocando o peso de um pé paro o outro.

E por que eu faria isso?

– Não deixaria você ir embora com minhas roupas. – Olho para seu corpo e sinto meu estomago afundar com a visão dela em minhas roupas. Elas estão largas e grandes, o moletom está com voltas para cima para não a fazer cair, mas ainda assim, sinto que não poderia ter ficado melhor. – Que por sinal, ficaram perfeitas e no tamanho certo.

Ela ri, e olha para baixo examinando as roupas.

– Sim, inclusive eu estava pensando em como ficaram melhores que as minhas.

Sorrio para ela e me viro indo em direção á sala, pedindo para ela me seguir, momentaneamente precisando me afastar do quão adorável ela parece.

– Eu preparei um lanche para você, e não está com nenhum tipo de droga que te faria dormir para eu poder te sequestrar e te levar para onde ninguém saberia e também se você comer não vai ser abusar da minha boa vontade.

Eu me viro e o olhar em seu rosto me assusta, droga! Eu a assustei de novo.

– Desculpe, foi só uma brincadeira. – Eu digo.

Ela assente e depois de pegar um dos sanduíches de queijo se senta na ponta do sofá. Vejo como ela parece desconfortável enquanto dá a primeira mordida e mastiga lentamente.

Suspiro e me sento no mesmo sofá que ela, e começo a comer também.

Comemos em silencio, a cada segundo penso em algo para falar, mas as palavras estão brincando comigo.

– Você não me perguntou o meu nome. – Ela diz, acabando com o silêncio e minha tortura interna.

– Como você se chama? – pergunto para ela, virando para olha-lha.

Ele dá de ombros.

– Elizabeth.

– Lindo nome, Elizabeth. – continuo a encarando, desejando que faça o mesmo. – Mas por que deu de ombros como se isso não significa nada?

Ela sorri e me perco novamente.

– Você não deixa passar nada, não é?

– Quase nunca. – afirmo. – Não mude de assunto.

– Não significa nada, é só um nome.

Balanço a cabeça em concordância e olho para frente, mas sei que ela não respondeu minha pergunta. Ela não balançou os ombros para o nome, e sim para ela. Como se o fato dela existir não significasse nada. Decido não insistir nisso.

Ela termina de comer e limpa os farelos que caiu em seu colo, os colocando no prato.

– Parece que você tem dotes culinários. – Ela diz.

– Qualquer um sabe fazer um sanduíche.

Sinto que ela me olha e viro o rosto em sua direção.

– Então isso deve significar que minha situação é critica, porque não sei nem fazer um sanduíche decente.

Vejo-a caminhar até a cozinha com o seu prato e copo vazios. Levanto-me e vou atrás dela e a vejo lavando o prato e copo que sujou.

Empurra-a para o lado e balanço a cabeça, querendo dizer que não vou deixar que ela faça isso. Ela discorda também, e tenta me empurrar para lado, assim como fiz com ela.

– Fala sério, você vem me ajudado esse tempo todo e eu não posso nem ao menos lavar aquilo que sujei? – Ela indaga.

Eu olho para seus olhos cor de âmbar e falo da forma mais séria que consigo.

– Não.

Ela não foge do meu olhar, aceitando o desafio.

– Eu não vou quebrar se fizer isso. Não sou de porcelana. – Diz.

– Mas parece.

Sorrio internamente quando a vejo colocando as mãos na cintura, claramente nervosa.

– Você já me insultou duas vezes hoje.

Estou tentando me manter sério e isso está quase me matando.

– Eu não disse nada além da verdade, e não te insultei realmente. – chego mais perto, inclino minha cabeça bem perto da sua e sussurro. – Isso é abusar da minha boa vontade.

Ela fica paralisada por um momento e se afasta rapidamente pendido desculpas.

– Foi você quem falou que sua boa vontade quer se abusada hoje.

E assim ela se vira e me deixa com a boca aberta, indicando quem foi que venceu. Ok, Elizabeth 1, Brian 0.

***

Volto para sala e a vejo encolhida no sofá, dormindo. Imagino como ela deveria estar cansada. Vou até o meu quarto e pego duas cobertas e travesseiros. Seguro sua cabeça e coloco um travesseiro por baixo, rezando para que ela não acorde. Coloco a coberta em cima de seu corpo, e não posso deixar de ficar por um momento vendo a dormir como um anjo.

Por fim, deito no sofá do lado esquerdo e durmo pensando em como essa foi a noite mais louca e boa que tive depois de anos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!