Tatame escrita por PaolaPS


Capítulo 4
Quatro


Notas iniciais do capítulo

Emilly Braga, a sua recomendação fez o meu dia! Vocês não tem ideia do quão feliz eu fico em saber que vocês estão curtindo Tatame, mesmo ela fugindo dos padrões das outras fanfics e não ser focada em um casal. Muito obrigada pelas favoritações e por acompanharem. Embora a maioria das pessoas que acompanham essa história não comentem, eu fico imensamente feliz só em saber que vocês leem isso aqui.



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Quatro

Seguindo as ordens do pai, Bianca entrou em casa desanimada. Ela foi direto para a cozinha, pegando todos os ingredientes necessários para fazer o bolo de aniversário da irmã. Mesmo tendo memorizado a receita, ela abriu o livro de receitas da mãe na página certa, seguindo um ritual criado há anos.

A atriz esboçou um sorriso se lembrando das várias tentativas frustradas de fazer um bolo idêntico ao que Ana fazia nas datas especiais. Seguindo a receita, ela conseguia fazer um bolo de chocolate gostoso, mas não era o suficiente. O bolo que ela tinha comido tantas vezes era especial, tinha algo além do tradicional. E foi só quando ela desistiu de fazer o bolo da mãe e começou a fazer o que a Karina chamava de “bolo da Bianca”, que ela conseguiu o resultado tão desejado.

Qual era o ingrediente secreto? Amor.

E um pouco de caramelo salgado, claro.

Tua tatoo, teu olho azul, tua atitude, teu tom de voz também. Mas se pensei a semana inteira em te rever, pode crer, vem, vou te fazer bem. –Bianca cantarolava enquanto decorava o bolo.

Tenho tevê, tenho elepê, tenho tatame, garrafa de saquê. Só, por favor, não apareça só em sonho chega mais e deixa eu ver você. –Dandara, que havia acabado de chegar, começou a cantar também.

To querendo te conhecer. Te vi na balada lá nos cafundó. –Elas cantavam juntas, rindo. -To querendo mais, e você? Vai querer?

Aquela música, por muito tempo, havia sido a mais tocada na casa. Bianca era apaixonada pela banda, e desde a primeira vez que ouviu “Tatame”, ela sentiu que aquela música tinha sido escrita especialmente para a irmã, que acabou gostando também.

–Quanto tempo faz que eu não escutava essa música por aqui. -Dandara comentou, observando o trabalho da enteada.

A atriz, como sempre, havia caprichado no bolo.

–Pois é, desde que quebraram o CD… -Ela comentou.

Não foi preciso a madrasta perguntar para entender que o disco tinha sido apenas uma das coisas que tinham sido quebradas no surto de Karina.

–Estou pensando em fazer macarrão com camarão pro almoço, o que você acha? -Dandara mudou de assunto deliberadamente.

–Hm, acho ótimo. Fiquei com água na boca só de imaginar. -A garota disse rindo.

–Então eu vou descongelar o camarão.

Bianca terminou de decorar o bolo e foi ajudar Dandara com o almoço. Quando Gael e a filha mais nova chegaram, a mesa já estava posta.

–Hn, você ainda está aqui. -K disse ao ver a irmã.

–Karina, não fala assim. -O mestre repreendeu a filha. -Será que hoje nós podemos ter um almoço de família?

A lutadora deu os ombros e foi logo se sentando a mesa. Apesar da presença de Bianca tornar o almoço menos agradável, ela estava com fome.

–O João vai almoçar conosco? -Gael perguntou repetindo o gesto da filha mais nova.

–Não, ele foi almoçar com o Pedrinho. -A cantora informou, ignorando a careta que Karina fazia.

–Não faz falta nenhuma. - A esquentadinha disse servindo o almoço.

O pai suspirou, mas preferiu dar um desconto para a aniversariante. Logo todos já estavam servidos e o único barulho que se ouvia era dos talheres. E aquele foi mais um dos terríveis almoços familiares que os Duarte vivenciavam.

–Eu vou pra academia treinar mais um pouco. -Karina disse assim que terminou de comer. -De lá eu vou pro colégio.

Antes que alguém pudesse protestar ela já estava no quarto pegando a roupa e os materiais.

Gael suspirou desapontado, vendo a filha mais nova sair de casa.

–Pelo menos ela almoçou com a gente. –Dandara tentou ser otimista.

–É. –O lutador concordou, mesmo não convencido.

Bianca começou a recolher a louça suja, já que, aparentemente, todos tinham perdido o apetite.

–Bom, eu tenho uma reunião da liga agora. –Gael disse.

–Algum problema? –A cantora perguntou preocupada.

–Não, é só uma conversa sobre os lutadores que vão participar do Warriors e como vai ser a disputa.

–Entendi. Vou descer com você então, preciso acertar algumas coisas com o Ed antes das aulas começarem. –Ela disse. –Você vai pra Ribalta também, Bi?

–Eu só vou arrumar algumas coisas aqui e já vou.

Foi só o casal sair pra Bete chegar, tirando a atriz da cozinha. Ela foi tomar um banho, na tentativa de se animar para as aulas de arte, já que, naquele momento, a última coisa que ela queria era sair de casa.

–Bianca, está tudo bem? –Bete perguntou batendo na porta.

A garota tinha perdido a noção do tempo debaixo do chuveiro.

–Está tudo bem sim, Bete. Já estou saindo.

–Seu celular está tocando. –Ela avisou.

A atriz se apressou para sair do banheiro e conseguiu atender antes que a ligação caísse na caixa postal.

Já estava quase desistindo de falar com você. –Era Gael do outro lado da linha. –Você está na Ribalta?

–Não, estou em casa ainda. Demorei pra atender porque estava no banho. –Ela se justificou.

Ótimo, eu estou precisando de um documento que eu deixei aí. Tem como você achar ele e levar pra academia? Assim que a reunião terminar, eu passo lá pra pegar.

–Que documento e onde ele está?

É a planta da academia, ela está numa daquelas gavetas da estante do meu quarto.

–E pra que o senhor precisa da planta da academia? –Ela perguntou confusa.

Preciso levar ela na prefeitura pra fazer uma atualização. Coisas burocráticas, sabe?!

–Entendi. Vou procurar e deixo na academia pro senhor.

–Obrigado, Bi.

–Por nada.

Assim que o pai desligou, a garota se vestiu e logo foi para o quarto dele. Bianca revirou as gavetas do pai até encontrar o tal documento, e debaixo dela ela encontrou um álbum de fotos antigo. Ela se lembrava de tê-lo visto uma vez quando era criança, e de ter ficado encantada com os registros da mãe vestida como uma princesa de um dos contos que ela ouviu muitas vezes. Gael explicou para a menina que aquelas fotos eram da época que a mãe trabalhava como atriz na Ribalta, o que foi o suficiente para a filha mais velha começar a falar que seria uma grande atriz também.

E de repente, o álbum desapareceu. Obviamente, o mestre não ficou nada satisfeito com o encantamento da filha e tentou cortar o “mal” pela raiz, sem sucesso.

Ali estavam todas críticas que a mãe havia recebido, além de várias fotos - cada qual em um dia de apresentação diferente. No inicío, ela imaginou que Ana tivesse organizado aquele álbum, mas a medida que mudava de página, ela percebeu que aquilo era obra do pai, que tinha registrado tudo.

Haviam fotos de Ana no palco, no camarim, nos ensaios, com Gael, com Edgar e com Lucrécia. No entanto, Bianca tinha duas favoritas. Na primeira, Ana estava vestida de Julieta, amamentando a filha, e na segunda – que era a mesma que ocupava a cabeceira de Karina - Gael e Bianca estavam beijando a barriga avantajada de Ana.

A atriz limpou as lágrimas que molhavam o seu rosto, quando ouviu o telefone tocar.

–Conseguiu encontrar, filha? –O pai perguntou.

–Consegui sim.

–Graças a Deus! Antes de ir pra Ribalta, deixa ele na academia pra mim?

–Tudo bem.

–Obrigado, filhota. Beijos!

Depois de desligar, Bianca voltou a olhar o álbum. Só de ver as fotos da mãe, ela já se sentia mais calma, se lembrando de quando era pequena e o sorriso de Ana parecia resolver todos os problemas do mundo – desde arranhados, até dor de barriga.

–Talvez tudo fosse mais fácil se você estivesse aqui. –Ela suspirou. –Se pelo menos a gente pudesse conversar...

Antes que se atrasasse pra aula, Bianca guardou o álbum e pegou o documento do pai. Ela se despediu de Bete e caminhou até a Fábrica, tentando imaginar como seria a sua vida se Ana não tivesse morrido no parto.

–Oi, linda. –Duca a cumprimentou com um selinho assim que ela entrou academia.

–Oi, Du.

–Você está indo pra Ribalta?

–Eu... Não. –Ela responde, tendo uma ideia. –Eu acho que não vou pra lá hoje.

–Por quê? Está tudo bem, Bi? –Ele perguntou preocupado.

–Eu só preciso conversar com uma pessoa. –Ela respondeu com o olhar perdido. –Mais tarde a gente se fala, tá?!

Ela deu um selinho no namorado e já estava indo embora quando se lembrou do que tinha ido fazer ali.

–Ah, Du, entrega esse documento pro meu pai, por favor?

–Claro. Tem certeza que você está bem, Bianca?

A atriz não respondeu, apenas saiu decidida em busca do primeiro táxi que passasse. Ela precisava fazer uma visita.

–----- x ------

–Karina, por favor, me escuta. –Pedro suplicava.

Enquanto a irmã mais velha estava tendo a sua epifania, a lutadora estava tendo problemas para chegar até o colégio. O ex-namorado a tinha encurralado na praça e estava grudado na perna dela, implorando por uma conversa.

–Cacete, será que dá pra me soltar? –Ela estava irritada, tentando disfarçar que a presença do guitarrista ainda a afetava.

–Eu juro que se você me escutar, eu te deixo ir. –Ele disse decidido. –Por favor, Karina.

–Nada do que você tem a dizer, me interessa. Eu acho que já deixei isso bem claro. –Ela foi ríspida na resposta.

Pedro soltou a perna dela, se levantando para olhá-la nos olhos.

–Karina, -Ele começou sério, decidido a apostar todas as suas fichas. –me dá cinco minutos e eu prometo que vou parar de perseguir. Eu paro com os emails, com as mensagens, com as cartas, com tudo. Eu só preciso de cinco minutos.

A esquentadinha analisou o ex percebeu que ele falava sério. Era uma das poucas situações em que ela o via sem o sorriso brincalhão e sem as piadinhas.

–Você tem dois minutos. –Ela cedeu, ainda mantendo a pose.

Ele respirou fundo reunindo a coragem para falar.

–E-eu já tentei me justificar várias vezes, mas eu percebi que nada vai justificar o que eu e a Bianca fizemos. Eu sei que a nossa história começou do jeito mais errado possível, mas ela foi real. –Ele disse com a voz embargada. –Eu não tenho vergonha de dizer que fui um moleque fazendo aquela proposta idiota pra sua irmã, e que eu fui muito estúpido por levar isso adiante. Você era um desafio pra mim, uma fera que eu estava louco pra domar, mas essa vontade passou no momento em que você baixou a guarda e me deixou te conhecer. –Ele disse firme. -Você é uma das pessoas mais incríveis que eu conheci na minha vida. E antes que eu percebesse, eu já estava totalmente apaixonado por você. Eu não sei quando, nem como, mas, de repente, você era tudo o que eu conseguia pensar. Sempre que eu tentava compor uma música, era o seu rosto que minha vinha em mente; sempre que eu queria lembrar de algo bonito, eu me lembrava dos seus olhos quase fechados no meio de uma gargalhada; sempre que eu queria me sentir bem, a única coisa que eu conseguia ver era você. Eu sei que fui muito estúpido, que fiz tudo errado desde o princípio, mas eu preciso que você saiba que todos os meus sentimentos por você foram reais. Porque eu percebi que se você quiser me ignorar, eu vou sobreviver, mas eu não consigo suportar a ideia de que você duvide dos meus sentimentos. –Ele fez uma pausa, buscando o olhar da esquentadinha. -Eu te amo, Karina. Provavelmente vou te amar pra sempre, porque você foi a coisa mais bonita que já aconteceu na minha vida.

Pedro limpou as lágrimas que tinham escorrido durante a fala e tentou forçar um sorriso.

–Eu devia ter vergonha de chorar na sua frente, mas eu nunca fui um exemplo de virilidade, mesmo. –Ele brincou. –Bom, eu vou te deixar ir pro colégio agora. Como eu prometi, não vou mais te importunar.

–Obrigada. –Ela agradeceu com a voz falhando.

Antes que Karina pudesse reagir, o guitarrista já estava a abraçando.

–Eu espero que um dia você possa me perdoar. –Ele sussurrou. –Eu te amo.

A lutadora não retribuiu o abraço e também não disse uma palavra. Ele a soltou, pegando a sua mochila que estava no chão e indo para a Ribalta.

–Ah! –Ela o escutou, mas não se virou para olhá-lo. –Feliz aniversário, Karina.

E então ele já tinha ido.

A esquentadinha viu o seu ônibus se aproximar, mas não moveu um músculo. As lágrimas que ela tinha conseguido segurar, agora escorriam livremente.

–Karina, está tudo bem? Eu vi aquele moleque conversando com você. –Um Cobra preocupado apareceu na sua frente. –O que aquele babaca te disse? Eu vou quebrar a cara dele agora!

–Não, Cobra. Está tudo bem. –Ela garantiu limpando as lágrimas. –Na verdade, ele acabou de me dar o melhor presente de aniversário.

–Como assim? –O lutador estava confuso.

–Ele finalmente vai me deixar em paz. –Ela contou, abrindo o seu melhor sorriso forçado.

O amigo conhecia Karina bem o suficiente para ver por trás da máscara. A dor que ela sentia estava clara nos olhos azuis.

–Por que você não fica no QG comigo? A gente pode treinar um pouco. –Ele sugeriu.

–Você está trabalhando, não?! –Ela perguntou confusa.

–Estou, mas isso não faz muita diferença. O meu muquifo está com saudade de você. –Ele disse e ela abriu um sorriso sincero.

–Me convidando pra matar aula... Você está sempre me levando pro mau caminho, Cobreloa.

–Considere isso o meu presente, Duarte. –Ele disse. –Não é todos os dias que você tem a honra de treinar com um lutador tão foda como eu por tanto tempo.

–Você está se achando a última bolacha do pacote, né?! –Ela disse dando um soquinho no ombro dele.

–Admita loirinha, eu sou a última bolacha. –Ele piscou pra ela.

Karina gargalhou seguindo o amigo.

Ela sabia o que o Cobra estava fazendo. Aquele era o jeito torto dele de garantir que ela ficaria bem. E por incrível que pareça, funcionava.


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Notas finais do capítulo

Oi gente, tudo bem? Então, eu já agradeci lá no inicio, mas vou agradecer mais uma vez: OBRIGADA POR LEREM A FIC!
E voltando ao que interessa, vocês devem estar se perguntando quantos capítulos vão ter essa short, né?! Eu até tenho um esqueleto pra definir o que vai acontecer em cada capítulo, mas isso não é muito certo. Até ontem eu diria que a fic teria cinco capítulos, mas esse ficou tão longo que hoje eu já digo que serão seis. Mas não se preocupem, eu aviso com certeza quando chegar no penúltimo capítulo.
E é isso. Se tiver algum erro no texto, por favor, me informem!

Ps: A música que Bianca e Dandara estavam cantando se chama 'Tatame' e é de uma banda chamada 5 à seco. O título da fic eu tirei de lá, embora a música não tenha uma grande relação com a história em si.