End of the World escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo já estava pronto, e como uma leitora pediu, resolvemos postar hoje.
Muito obrigada por todos os comentários, ficamos felizes com eles e isso nos ajudou bastante.
Sobre o capítulo, esse será um pouco maior, mesmo assim ainda estamos no começo. Aqui teremos algumas respostas sobre a igreja e a pessoa que pegou a Sarah.
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/572203/chapter/2

Após abrir os olhos com imensa dificuldade, ela observou o ambiente que a cercava, o que acabou a deixando mais confusa. O quarto em que se encontrava era claro, possuía grande incidência de raios solares vindos da janela à sua direita, as paredes eram de tijolos, os móveis de madeira tinham um aspecto antigo, como o guarda-roupa, a mesinha retangular e o pequeno criado-mudo. No alto das paredes, havia algumas cruzes com a imagem de Jesus Cristo.

Sarah tentou se lembrar do que acontecera para chegar até lá, entretanto esse esforço só fazia com que sua cabeça doesse ainda mais. Não recordava a sua entrada naquele cômodo desconhecido, também não imaginava por que estava naquela cama ou o motivo da sua perda de consciência. Sua visão finalmente começou a ter mais foco, o que lhe permitiu enxergar um livro grosso aberto sobre o criado-mudo e, à sua frente, uma mulher sentada em uma cadeira, que mantinha os dedos entrelaçados, os olhos fechados e mexia um pouco a boca, como se falasse consigo mesma.

A ruiva rezava pedindo perdão pelo que fizera e implorava para que Deus não levasse a mulher que ela havia acertado. Nunca fora intenção de Johanna matar ninguém, muito menos os mortos que tinham se levantado repentinamente. Todavia, o medo a dominara naquele momento, o que levara seu caminho a se cruzar com o da médica. Ao ouvir passos no interior da igreja, ela tivera a certeza de que seria mais uma daquelas criaturas expulsas do Inferno e, com a única arma que sabia usar e possuía no momento, uma de suas panelas da cozinha, havia acertado a médica, certa de que era apenas um errante. Contudo, ao perceber seu erro, fizera de tudo para salvar a mulher.

– Graças a Deus você acordou! – Johanna exclamou aliviada. Sarah avaliou a ruiva por alguns instantes, procurando qualquer sinal de ameaça. Ainda não sabia onde estava, nem o que ocorrera, por isso deveria tomar cuidado. A mulher à sua frente aparentava ser inofensiva, exceto por seus olhos azuis cor de gelo, que, apesar de indicarem frieza, transmitiam afetuosidade. As íris faziam um belo contraste com os cabelos cor de fogo que ultrapassavam os ombros. As mechas da frente estavam presas para trás, dando um aspecto mais sério à ruiva. Ela parecia excessivamente bem para o apocalipse, possuía um ar bastante vivo.

– Onde eu estou? – a médica perguntou ainda confusa.

– No meu quarto, que fica na parte de trás da igreja.

– Quem é você?

– Irmã Johanna, mas se continua desconfiada, eu não mudei meu nome, só tirei o sobrenome Hill – a freira explicou se referindo a um hábito comum no convento, de trocar o nome ao se tornar noviça. Sarah avaliou a mulher de cima a baixo, sua última fala trouxera mais desconfiança. Ela não usava o hábito de freira, apenas uma saia, blusa social, suéter por cima e, o único elemento religioso, um crucifixo.

– Você é uma freira e não usa hábito?

– Bem, é uma longa história e – a mulher fez uma pausa, olhou para o lado e se aproximou, com tom de confidencialidade – fica muito quente lá dentro.

A fala trouxera até certo alívio, Sarah estava preparada para escutar qualquer tipo de coisa ruim, no entanto ouviu justamente o oposto, e ela até se permitiu sorrir um pouco, se livrando da tensão. A médica percebeu que não havia motivos para desconfiar de Johanna. Além de ter respondido todas as perguntas sem pensar duas vezes, ela falava mais do que o necessário. Isso ainda não esclarecia a dúvida de como chegara até lá, mesmo assim, a freira parecia ser totalmente inocente.

– Mas, se você quiser, posso mostrar meu armário, ele está cheio de hábitos e... Cristo crucificado! Como eu sou inconveniente! Você está se sentindo bem?

– Eu estava um pouco tonta, mas está passando. Como eu vim parar aqui? – a pergunta fez com que a expressão de Johanna Hill mudasse, ela pareceu um pouco embaraçada. Antes de responder, respirou fundo, como se buscasse coragem.

– Então... Quando você chegou na igreja, eu poderia jurar que você era uma daquelas coisas – a ruiva fez uma careta ao mencionar aquilo, ela ainda não tinha uma posição certa sobre a epidemia, rezava todas as noites pelos mordedores que matara. – E foi aí que eu te acertei com uma frigideira. Mas eu realmente não faria isso se soubesse que você é... você. Aliás, quem é você?

– Eu me chamo Sarah... – a mulher se interrompeu, na dúvida entre dar o sobrenome de sua família ou de seu marido. Eles não haviam se separado oficialmente, além disso, ela ainda gostava dele, do James de antes. Acabou se convencendo de que aquilo não importava muito, um sobrenome não poderia alterar nada no momento. No apocalipse, sobrenomes não significavam mais nada, seriam apenas palavras sem qualquer valor. – Eu era médica.

– Médica? Eu devia ter desconfiado por causa do kit de primeiros-socorros na sua bolsa...

– Você mexeu na minha bolsa? – Sarah questionou. Não estava com raiva, apenas surpresa pela informação. Imediatamente a face de Johanna enrubesceu, denunciando que ela havia feito algo que não deveria. Nesse momento tudo que ela desejava era um buraco para esconder o rosto, mesmo que fosse por um assunto tão simples e sem importância.

– Me desculpa! Eu sou muito inconveniente, todas as freiras do convento diziam isso, a Madre Superiora, o Padre Ethan... Eu não pude deixar de reparar nas suas coisas quando te trouxe até aqui... Mas está tudo no lugar!

– Está tudo bem, Johanna.

– Sério?

– Sim, eu te perdoo – Sarah usou palavras mais fortes para convencer a mulher. Depois disso, a médica percebeu que realmente poderia confiar na ruiva.

– Você é uma boa pessoa. Adoraria saber a sua história... – ela fez uma pausa, notando sua indiscrição e suas falas excessivas. A verdade era que, após a morte do Padre Ethan, tivera que passar vários meses sozinha, sem ninguém para conversar. – Deve estar com muita fome, eu preparei sopa de avelã para você.

Sarah não se lembrava da última fez que tinha comido algo tão bom, talvez fosse pelo fato de ter passado o último ano na base de enlatados e alimentos sem tempero. Mesmo tentando ser educada, a forma que comera deixava claro que estivera passando por períodos de fome. A médica notou que duas tigelas de sopa haviam sido capazes de repor suas energias e trazer uma sensação de cansaço, provavelmente por suas propriedades calóricas. Por isso, a refeição era muito apropriada para o apocalipse, uma vez que as pessoas se movimentavam muito e não eram capazes de repor essas energias.

A mulher se voltou para o lado, encontrando o olhar atencioso e cordial de Johanna. Ela sorria e, o tempo todo, havia tratado Sarah da melhor maneira possível. Ao se dar conta daquilo, a médica experimentou uma sensação de remorso. A freira contara tudo sobre sua vida, sem se importar com a possibilidade de Sarah oferecer algum risco. Enquanto isso, a outra mantivera suas informações extremamente reservadas, sempre avaliando a mulher que lhe oferecera abrigo. A freira sem dúvida não merecia o tratamento que Sarah estava lhe dando, mesmo que a médica fosse o mais discreta possível e a ruiva nem havia prestado atenção no seu comportamento.

– Como estava a sopa? – Johanna perguntou para quebrar o silêncio.

– Estava deliciosa, faz muito tempo que eu não tenho uma refeição tão boa. Obrigada.

– Não é nada de mais, a receita é muito simples. Eu até te passaria, mas perdi o caderno de receitas da minha mãe. Ela costumava nos ensinar a cozinhar, mas meu irmão era um desastre. Acho que homens não sabem fazer isso direito...

– Você tem um irmão?

– Sim, ele é mais novo. Faz muito tempo que não o vejo, rezo todos os dias para que ele fique bem. Também tenho um sobrinho de dez anos. E você? Não pode estar sozinha por aí, isso é terrível!

– Eu tenho uma família, mas todos eles se foram e eu só tenho o meu irmão – ao terminar, Sarah desviou o olhar e começou a mexer no pano rendado que cobria a cama, evitando fazer contato visual. Aquilo ainda era um assunto difícil para ela, a perda dos pais e, mais recentemente, de seu irmão. Pensar naquilo a fazia se sentir incapaz e culpada, enquanto sua família precisava dela, a médica havia se escondido. E Sarah não gostava de se sentir fraca ou dependente. Ela não seria assim mais, sempre que alguém que ela amava precisasse dela, Sarah estaria pronta para ajudar e seria assim com a última pessoa que lhe restara, seu irmão, Frederick.

– É casada? – a freira apontou para o anel que a mulher usava, tentando desviar o assunto ao notar a mudança drástica na expressão da companheira.

– Sou... Ou era, eu não sei.

– Como assim, não sabe?

– Nos separamos há alguns meses, nunca mais o vi desde então.

– Isso é horrível! Esses meses longe da pessoa que você ama devem ter sido péssimos! Vou rezar por ele também, espero que possam se reencontrar um dia.

– Johanna – ela chamou assim que a ruiva começou a falar algo sobre o amor verdadeiro, entretanto não obteve êxito. – Nós não nos amamos – a mulher se arrependeu assim que tais palavras saíram de sua boca, percebendo que eram duras e fortes de mais para aquele caso, além de terem surpreendido a freira. – Quer dizer, nós nos amávamos, antes disso tudo começar, mas agora eu não sei mais. Tivemos uma briga terrível, por isso eu saí de casa. Acho que James não é mais a pessoa por quem eu me apaixonei.

– Que horror! Por que vocês brigaram?

– Morávamos no Mississipi quando o fim do mundo começou, eu sempre quis ir atrás da minha família, mas James dizia que era muito arriscado. Quando descobri que meus pais tinham morrido, decidi ir atrás do meu irmão, aqui na cidade. Meu marido não queria vir, muito menos que eu viajasse sozinha, então acabamos tendo uma grande discussão, e eu o deixei.

– Sinto muito... E o seu irmão?

– Quando entrei no apartamento dele, Fred já tinha saído de lá. Ele deixou um bilhete, disse que ia procurar um lugar seguro... – ao mencionar o bilhete, foi como se a mente de Sarah tivesse se aberto. Ela finalmente conseguiu se lembrar de tudo, inclusive do motivo da sua entrada na igreja. – Sabe se ele passou por aqui?

– No começo muitas pessoas vieram até a igreja em busca de abrigo, mas já faz quase um ano que ninguém entra. Como ele era? Talvez eu tenha visto seu irmão por aqui nos primeiros dias.

– Não, ele deve ter saído de casa hoje de manhã. Fred disse que passaria pela Igreja St. Sarah, isso não faz sentido...

– Mas essa é a Igreja St. George. A que seu irmão falou fica mais ao norte. Eu já fui lá com a congregação, na época do Natal. Padre Gabriel é um ótimo homem, o mundo precisa de mais pessoas bondosas e acolhedoras como ele, tenho certeza que o Padre abrigaria qualquer um que passasse por lá...

– Espera, está me dizendo que essa não é a Igreja St. Sarah e que você sabe como ir até lá?

– Claro que sim! É uma caminhada de alguns quilômetros, dá pra chegar lá em mais ou menos um dia. De carro com certeza é mais rápido, mas eu aconselho ir a pé, a estrada tem uma paisagem ótima, não sei como está agora, mas dá para caminhar pelo parque, escutar os pássaros cantando e o cheiro dos pinheiros e outras árvores, é muito agradável.

– Johanna, você falando é música para os meus ouvidos! – Sarah exclamou feliz, sentindo suas esperanças serem renovadas com aquilo. Ela estava tão animada que desejava poder se levantar naquele momento e ir até seu irmão, no entanto sabia que precisaria de ajuda para seguir pelo caminho certo. Porém, não seria justo tirar a freira de sua casa, onde estava segura, e arriscar sua vida do lado de fora, principalmente porque a ruiva não parecia ter muita experiência em sobreviver. – Você pode desenhar um mapa ou me explicar como eu chego na igreja?

– Eu posso te levar até lá, é muito mais fácil.

– Não precisa fazer isso, não posso te tirar daqui. Sabe, lá fora é muito arriscado e a sua vida é servir a Deus. Não seria certo.

– Não se preocupe, seria um prazer te ajudar. Eu não sou tão experiente, mas sei me virar. Acho que não vou correr tanto risco assim com você por perto – Johanna disse pensando que a mulher de cabelos castanhos à sua frente fosse bastante experiente em sobreviver lá fora, principalmente por possuir uma arma de fogo e um equipado kit de primeiros socorros. – Minha vida é e sempre será servir ao Senhor, mas Ele te enviou aqui por algum motivo. Agora eu preciso cumprir minha missão, mesmo que ela seja tão simples como levá-la até o Padre Gabriel. Esta igreja não recebe pessoas há muito tempo, tenho certeza que ela vai ficar bem sozinha.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Johanna: https://38.media.tumblr.com/dd496f68639591e4c9379a52be7db48e/tumblr_neyg30nG8E1txro7no1_400.png
Demos algumas pistas no capítulo, alguém faz ideia de quem ela seja? A personagem tem parentesco com alguém de BTD.
Deixem a sua opinião, estamos adorando os comentários!
Até mais!