End of the World escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 1
Capítulo 1 – Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Olá! Tivemos a ideia dessa história há muito tempo, e esperamos terminar nossa outra fic para finalmente começar esse projeto. O resultado dela começa por aqui, nesse primeiro capítulo. Estamos muito animadas com essa ideia.O símbolo (⇤ ⇥) indica passagem temporal, e estará muito presente nos capítulos.Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/572203/chapter/1

Finalmente havia parado de nevar, depois de longos e gélidos dias. Tinha sido uma das maiores nevascas que a Geórgia presenciara, uma das poucas vezes em que esse fenômeno ocorrera em Dalton, e, apesar disso, não havia pessoas para notar o fato. As poucas que sobreviveram estavam ocupadas de mais para se preocupar com os simples flocos de gelo que cobriam o chão, formando um enorme tapete branco com cerca de oito centímetros de altura. A situação poderia ser diferente, contudo não havia quem estivesse disposto a limpar as estradas, aquilo não era prioridade.

A pista era um risco para qualquer tipo de veículo que passasse por lá, principalmente para o carro branco nada econômico em alta velocidade, uma caminhonete antiga com uma listra vermelha horizontal. O automóvel que Sarah Morris tinha encontrado na última cidade grande que visitara, uma semana atrás, precisava de uma reforma. Uma hora antes, ele tinha começado a apresentar os primeiros problemas, devido ao esgotamento gradual de sua bateria, por isso a mulher tratara de aumentar a velocidade, apesar de toda aquela neve.

A caminhonete derrapou por alguns metros antes de subir na calçada a finalmente parar. A bateria havia acabado, por fim. Caso Sarah precisasse de um transporte, deveria procurar por outro veículo, entretanto aquele não era seu objetivo. Nenhum empecilho importava mais, enfim ela havia chegado ao seu destino. Depois de meses na estrada, passando pelas rodovias 20 e 59, reformas não acabadas, manadas e outros problemas.

Nesse espaço de tempo, a mulher presenciara cenários desumanos, não provocados pelos mortos, e sim por pessoas vivas. Aquilo trouxera mudanças, o choque fizera com que algo dentro de Sarah mudasse, ela havia percebido que precisava ser forte. Se pretendia mesmo ficar sozinha, ela precisaria aprender a sobreviver, sem a ajuda do marido. Muitas vezes a médica pensara em parar, simplesmente desistir daquela missão suicida, entretanto a lembrança do motivo daquilo tudo, além do sacrifício que fizera para chegar até lá, sempre a ajudavam a seguir em frente.

Ela saiu do carro, só teria que andar alguns metros para alcançar o prédio onde seu irmão morava. Sarah ficou por alguns instantes apenas observando o céu de sua cidade natal, fazia algum tempo que ela não pisava lá. O pouco Sol que fazia fora capaz de derreter a neve acumulada nas copas das árvores, que haviam crescido muito depois de anos sem serem podadas.

A mulher interrompeu seus pensamentos, caminhando até a floricultura da rua. O prédio comercial possuía a loja no primeiro andar e, no superior, abrigava apartamentos para aluguel, principalmente de universitários, como o irmão dela. Sarah passou pela porta que levava ao segundo andar, sem se importar com o estabelecimento deteriorado, repleto de plantas murchas, muito menos com seu reflexo no vidro.

Se tivesse prestado atenção, teria visto uma mulher diferente do que era dois anos atrás, antes do alastramento da epidemia. Ela sempre fora esbelta, todavia, naquele momento, estava muito magra e com os braços ossudos. Os cabelos castanhos estavam opacos, assim como sua pele pálida, que necessitava de luz solar. Apesar disso, a aparência física não importava para ela, principalmente quando precisava lutar pela sua vida. Tudo o que lhe restara em sua face, além dos traços finos e delicados, era o brilho dos olhos azuis.

Ela subiu pelas escadas, empunhando sua arma, a única pistola que tinha. Era uma das poucas coisas que trouxera de Jackson, já que os mantimentos haviam acabado no ano anterior, e o único objeto de sua bagagem que não lhe pertencia. A arma, na verdade, pertencia a James Morris, advogado e marido de Sarah.

Antes da epidemia, o casal tivera uma boa vida, ela trabalhando no hospital, ele no tribunal. Nos primeiros dias, quando os caminhantes tinham tomado conta das ruas, os dois se estabeleceram na própria casa, estocando o maior número de mantimentos que podiam. A médica ficara muito assustada com a visão dos mortos e, principalmente, com o estado de seus parentes. Os telefonemas que recebera de seu irmão mais novo não haviam ajudado muito, principalmente quando o jovem dera a notícia da morte de seus pais. Depois de dois anos, o que a tirara do aparente conforto do lar fora a necessidade de encontrar seu irmão, ideia que contradizia James. Após uma terrível discussão, Sarah decidira ir embora de casa, levando consigo a pistola de seu marido.

Quando chegou ao andar superior do prédio comercial, ela pôde ouvir claramente os gemidos dos mordedores que vagavam no corredor perpendicular. Não havia sido de uma hora para outra que a mulher aprendera a matar aquelas criaturas e atirar, a solidão da estrada lhe ensinara isso. De fato, havia uma pequena aglomeração de errantes na porta da frente do apartamento de seu irmão, e, para não desperdiçar balas, a mulher resolveu evitá-los pelos fundos. Sarah rodou a maçaneta, mesmo sabendo que deveria estar trancada. Ela só esperava que seu irmão, ao contrário dos caminhantes, fosse capaz de ouvir aquele pequeno ruído.

Para sua surpresa, a porta se abriu automaticamente. A mulher entrou no local sem perder tempo, fechando a entrada atrás de si. Involuntariamente, a médica ficou parada observando o interior do apartamento, dando um pequeno sorriso de satisfação e se permitindo relaxar com a sensação de dever cumprido.

A cozinha era pequena, possuía apenas uma pia, uma mesa e uma geladeira pequena, assim como o fogão e o armário. Um pequeno corredor levava à sala, com um sofá, uma mesa, a televisão e uma bancada onde ficava a vitrola a corda do morador, além dos discos de vinil e alguns ornamentos.

Em cada canto, cada detalhe, Sarah podia enxergar o irmão. No móvel que suportava a televisão, havia uma parte de vidro onde o jovem guardava diversos tipos de câmeras fotográficas antigas, algumas não passavam de itens de colecionador, outras, porém, realmente eram utilizadas. No entanto, faltava uma, a Polaroid portátil e antiga de Frederick West, sua favorita.

– Fred.

Ela chamou pelo jovem, sem obter resposta. Em seguida, caminhou pelo apartamento de quatro cômodos, todos muito bem arrumados e vazios. Na última conversa que tiveram por rádio, os irmãos haviam combinado de se encontrar naquele lugar, por isso a médica estranhou a ausência dele. Pelas suas contas, chegara exatamente no último dia do prazo estabelecido pelos dois, portanto, Fred deveria estar lá.

Sarah se aproximou da bancada da cozinha, onde havia um calendário. Alguns dias estavam riscados com caneta vermelha, inclusive o último, também circulado na cor azul. Porém, se a médica chegara no dia certo, o jovem só poderia ter se enganado na contagem dos dias. Só depois de observar atentamente os pequenos quadrados preenchidos por números, que se localizavam na parte final do calendário do ano anterior, se deu conta de que seu irmão não errara a data, ela mesma o fizera. O prazo tinha acabado no dia anterior, por um dia havia chegado atrasada. Após refazer o cálculo dos dias que levara sua viagem de Jackson a Dalton, Sarah notou que sua conta não batia e que um dia fora esquecido.

Sentada no sofá da sala, com a pistola repousada ao lado, a mulher ficou estática fitando o chão. O único som presente no momento eram os insistentes gemidos emitidos pelos mordedores. Sarah não tinha mais um propósito, simplesmente não queria fazer mais nada da vida. Se pudesse, ficaria lá para sempre, apenas pensando em seu fracasso. Por um dia, apenas um, ela perdera seu irmão mais novo. A mulher cobriu o rosto com as mãos por alguns instantes, e, ao se erguer novamente, percebeu algo que não notara antes.

Sobre a mesa do cômodo havia um pequeno bloco de notas sobre um álbum grosso e pesado de fotografias, que tinha a capa marrom com detalhes dourados na bordas. O bloco estava aberto em uma folha aleatória, onde um recado estava anotado.

Sarah,

Se você está lendo isso, é porque finalmente chegou aqui. A cidade não é um lugar seguro, eu fiquei aqui até o dia em que combinamos, mas precisei ir embora para um lugar que tenha mais segurança. Ainda não sei como ele está depois de dois anos, porém da primeira vez que vi, percebi que tinha estrutura suficiente para esse tipo de coisa. Você também precisa se proteger, e eu quero muito te encontrar. Leve o meu álbum, ele pode te ajudar. Minha primeira parada é na Igreja St. Sarah, se você não tiver chegado muito tarde, eu posso estar lá. Boa sorte!

A médica já estava acostumada com aquele cenário de destruição, por isso não se incomodou durante seu trajeto até a igreja da cidade. Ela até iria de carro, se o mesmo não tivesse estragado. Por isso, a mulher só precisara retirar sua bolsa tiracolo do veículo e seguir pelas ruas que conhecia muito bem até o lugar onde poderia encontrar seu irmão. Além dos mantimentos e um kit bem equipado de primeiros socorros, Sarah só levava o álbum de Frederick e a pistola. Ela não havia entendido muito bem a serventia do livro de fotografias, entretanto estava o levando, assim como o bilhete que o jovem deixara, talvez como recordação de seu irmão mais novo.

Quando chegara à cidade, era possível ver a igreja local de longe. Apesar de tê-la frequentado semanalmente durante a infância e parte da adolescência, não conseguia recordar seu nome, por isso tinha julgado que aquela fosse a mencionada por seu irmão. Sarah apreciava a sua arquitetura, apesar de não entender do assunto, assim como Fred. O rapaz, mesmo sendo amador, costumava fazer fotografias da construção neogótica.

– Tem alguém aí? – ela perguntou após abrir a porta central dupla de madeira.

Como não obteve resposta, caminhou pelo interior escuro da igreja. A única entrada de luz era pelos vitrais cinzentos, reluzindo alguns feixes de luz. Apesar de parecer em ótimo estado e bem cuidada, era possível ver pequenos flocos de poeira flutuando através da luminosidade, o que dava um aspecto quase fantasmagórico ao local. De resto, só havia escuridão e silêncio.

Aquilo chegava a ser aterrorizante, a sensação de estar sozinha em um local tão grande. Sarah sentiu um calafrio, como se algo estivesse prestes a acontecer naquele momento. Mesmo com aquilo, prosseguiu. Apesar de só possuir uma pequena esperança, a mulher apostaria tudo naquela chance, assim como da outra vez, todavia não perderia seu irmão novamente, não depois de tudo que fizera.

A mulher chegou ao altar amplo, parando lá para observar todo o interior da igreja. Ao fitar atenciosamente as velas enfileiradas sobre a bancada, notou que todas haviam sido apagadas recentemente, pois pequenos filetes de fumaça deslizavam para cima. Ela apertou a arma com mais força na mão direita, ficando mais alerta com a possibilidade de estar acompanhada, não por um errante, e sim por uma pessoa. Poderia ser algo animador, já que fazia meses que a médica não via alguém vivo. Talvez fosse Fred, no entanto ela deveria estar preparada para uma possível ameaça.

Apesar da precaução, não teve tempo de reação quando algo atingiu sua cabeça. A pancada forte, vinda de trás, fez com que ela perdesse completamente os sentidos, tombando para frente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ficou um pouco curto, mas é apenas o prólogo. Deixamos um final meio enigmático e que abre muitas possibilidades. Esperamos que tenham gostado do capítulo!
Aos leitores de Born to Die que talvez não tenham entendido as notas da história, este é um UA (universo alternativo). Não estamos reescrevendo BTD, apenas utilizando algumas ideias que acabaram sendo descartadas.Deixem a sua opinião!