Ao chegar em casa, a primeira coisa que Karina fez foi ir ao banho. Estava cansada e imunda. Enquanto a água percorria seu corpo, não conseguia fazer nada a não ser ficar nervosa. Pensava em como Pedro reagiria quando ela contasse sobre o Ultimate Brawl. Mesmo com o garoto sabendo, era certo ela não ir ao festival para poder ir lutar? Esperaria ele chegar em casa para poderem falar sobre.

Saiu do banheiro e partiu a colocar deu pijama, já preparando-se para descansar. Enquanto o aguardava, ficou conversando com Bianca pela situação via mensagem.

– Amor, tá em casa? - perguntou Pedro, fechando a porta atrás de si.

– Tô sim, Pê, vem cá.

– Ai, que saudade da minha Esquentadinha. - disse o rapaz passando por cima do corpo da garota.

– Pedro, antes da gente... disso, eu acho que a gente tem que conversar.

– Sobre?

– Pê, sabe esse teu festival? No mesmo dia, vai ter um campeonato de muay thai. Eu quero muito ir. Você se importa?

– K, você sabe que eu não gosto de você lutando nesses lances. Você sai toda quebrada.

– É, Pedro, e por isso nesses 6 anos em que a gente tava junto eu nunca entrei em nenhum. Mas não é isso que eu quero pra mim.

– Nem é isso que você tá querendo impôr que eu quero. Poxa, meu amor, eu quero cuidar de você.

– Quer cuidar de mim? Pois saiba então que é esse campeonato que eu quero. Por favor, me apóia.

– Karina, não posso te apoiar em algo que não quero. Por favor, não faz isso.

– Pedro, eu fiquei 6 anos sem correr atrás do meu sonho de ser lutadora por sua causa. Sempre te acompanhei em TODO show que você fez e sempre respeitei essa sua opinião sobre campeonatos. Mas por favor, não implica, só dessa vez.

– K... eu te amo. Por te amar, quero sua felicidade sempre. Mas por te amar, eu também prezo por sua segurança. Por favor, promete pra mim que você não vai nesse campeonato. Por mim. Por nós.

A lutadora momentaneamente sensibilizou-se, fraquejou e disse:

– Tá bom, Pedro. Prometo. - disse a garota, aconchegando-se no peito do rapaz.

Por mais que tivesse prometido, sentia que aquela promessa era vazia. Sabia que na hora, ficaria na dúvida sobre o que fazer. Acabou dormindo nos braços do namorado e, no dia seguinte, decidiu faltar à faculdade, mas não disse a Pedro. Saiu de casa e decidiu ir à academia. Fazia tempo que não treinava intensamente e decidiu começar a partir daquele dia a voltar no ritmo.

Quando chegou, estavam Gael, Duca e a classe de manhã a qual Duca ensinava. Após cumprimentar todos, foi à escada, sentou-se e ligou para Cobreloa.

– Fala, Cobra. Beleza? - perguntou a garota.

– Caralho, Karina. Cê tá louca? Olha as horas. Por que que cê tá me ligando agora, porra? - reclamou o lutador.

– Dá um pulo aqui na academia. Bora treinar.

– Agora valorizei, hein. Ó, daqui a uma hora eu acho que tô por aí, já é?

– Tá bom, tô te esperando.

Ao desligar, Karina foi ao vestiário, trocou de roupa e começou um aquecimento. Enquanto desferia alguns socos de leve no saco percebeu Cobra entrando e cumprimentando a todos. Ele fez sinal de que ia se trocar e a garota subiu ao ringue, já preparando-se. O rapaz aqueceu-se, subiu ao ringue e os dois começaram uma troca franca de socos e chutes.

– Quer dizer, dona Karina, que você conseguiu dobrar o Pedro? - perguntou Cobra, desferindo na garota um de seus famosos chutes altos.

– Não, cara. Eu ainda não me decidi sobre o campeonato. Eu prometi ao Pedro que ia ao festival dele. Eu sempre cumpro minhas promessas.

– Convenhamos, K. Tá na cara que você vai pro Ultimate Brawl. Há quanto tempo que você não me chama pra treinar a sério assim, hein?

– Cobra, fica quieto. Isso é só um treinamento e nada mais que isso.

Por mais que quisesse negar, Karina sabia que no fundo, Cobra estava certo. O prazo até o festival e o campeonato estava chegando e, apesar de não ter diminuído sua rotina de treinos, ainda mantinha na cabeça que não iria ao campeonato, querendo manter sua palavra com Pedro. Acordou no dia que seria cheio para todos. Como era um dia importante, o guitarrista acordou junto de K e preparava o café da manhã enquanto a lutadora tomava banho. Ao sair, encontrou o rapaz à mesa, a aguardando.

– E aí, K, ansiosa pro show?

– Tô sim, Pê. Demais.

– Desculpa sobre o lance do campeonato. Mas eu quero muito que você venha me ver tocando.

– Pode deixar que hoje eu vou.

– Ok. Agora beijos, que eu tenho que ir arrumar as coisas com a banda. Te vejo mais tarde, linda. - disse o rapaz, despedindo-se com um beijo.

Ao entrar no carro, a mente de Pedro vagava. Pensava em como queria que a hora passasse logo e no quanto estava ansioso, mas pensava principalmente em Karina. Apesar de não gostar de vê-la lutando, sabia que ela amava isso e queria vê-la feliz. Mas ainda assim achava melhor tanto para o bem-estar físico de K quanto para o bem-estar mental de si mesmo que a garota não lutasse. Ao chegar no Perfeitão, lugar que se tornou praticamente uma sede da Galera da Ribalta, surpreendeu-se de ser o primeiro a chegar. Depois de Sol, o rapaz era conhecido como o preguiçoso que sempre chegava atrasado.

O tempo passou e, aos poucos, todos os integrantes da banda reuniram-se. Rominho chegou com a van da banda e todos começaram a discutir quais músicas iriam cantar de acordo com a posição deles. Supuseram que chegariam à final e ficaram na dúvida se cantariam Definição de Perfeição ou Garota dos meus sonhos. Decidiram deixar isso à critério da situação, de acordo com qual adversário enfrentariam. Pedro constantemente ligava para sua Esquentadinha, mas nada dela o atender. O lugar devia estar agitado. Depois de um certo plano armado, a banda decidiu ir logo para poder ficar à vontade no espaço que os organizadores do evento armaram para eles.

Ao chegarem na casa de shows, Pedro constatou que estava correto. O lugar estava lotado. Após serem assediados por diversos fãs, foram à porta, mostraram as devidas credenciais e foram ao camarim.

– Cês acham que esse lance vai ser difícil? - perguntou Luca.

– Ah, sei lá. Tem bastante gente talentosa aqui. A Kickass também tá por aqui. - disse Rominho.

– Sossega o facho aí, Brasil, que hoje quem vai brilhar vai ser a gente, ok? - disse Sol.

– Aí, galera, achei esse papel aqui com a lista de regras. Saca só. - chamou Paula. - Toda banda tem o direito a tocar qualquer música, desde que não repita uma canção previamente executada por um adversário. Playbacks são estritamente proibidos e o uso de tal irá gerar desclassificação. Grupos meramente instrumentais ou à capella são proibidos, sendo requeridos no mínimo uma voz e um instrumento. O julgamento da performance será feita mediante notas dadas pelos nossos jurados.

– Caramba, quanta regra. - reclamou Pedro. - Bom, agora é esperar sermos chamados.

Bastou que o guitarrista dissesse essas palavras que o nome da Galera da Ribalta foi convocado. Ao subir no palco, encaravam uma banda que intitulava-se Otto Maniacs. O apresentador lhes deu a opção entre cara ou coroa. Otto ficaram com cara e Galera coroa. Enquanto a moeda era lançada, porém, havia apenas uma coisa que Pedro prestava atenção, ou tentava, pelo menos. Não importava em que lugar procurasse, não conseguia ver Karina em lugar algum.