Uma aventura do doutor: a ladra de palavras escrita por Tisa Fireno


Capítulo 6
Uma história triste e um lugar lindo




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–Então...- eu disse, tentando puxar conversa- O que são eles?

O Doutor olhou para a mulher azul.

–É uma história bem interessante, na verdade. Meio longa.

–Perfeita para um caminho que parece longo.

Estávamos indo para algum tipo de metrópole de Shallana para analisar o corpo. Eu estava adorando tudo isso, menos a parte de andar. Ninguém nunca menciona essa parte no supernatural.

–Vocês, humanos, se espalharam pelo Universo muito rápido e em pouco tempo. Devo até dizer que vocês chocaram muitas espécies.

–Eu sei que sou chocante. O que você quer dizer é que fomos para o espaço e começamos a conhecer outras espécies melhor do que o esperado, certo?

–Exatamente. Como eu ia dizendo, nessa de conhecer outras espécies, surgiram híbridos entre humanos e alienígenas. Existe até um termo politicamente correto para humanos que gostam de alienígenas. Enfim, eles foram os primeiros que surgiram dessas relações com outras espécies. E os que mais sofreram com isso.

–Por que?

–Algum preconceito estúpido, provavelmente. Eles foram exilados nesse planeta e, por muito tempo, odiaram os humanos mais que tudo. Filhos costumam odiar os pais, você sabe. Algum tempo depois, quando os humanos começaram a criar outras espécies, eles notaram que isso era normal e que não tinha nada de errado. Mas ai Shallana já era uma sociedade organizada. Eles ainda não gostam muito dos humanos, mas aprenderam a perdoá-los.

Eu olhei para a mulher azul novamente. Eles deveriam ser crianças quando foram abandonados nesse planeta. Conseguiram se adaptar sozinhos, mesmo sem nenhuma ajuda. E ainda perdoaram. Olhei para eles com outros olhos a partir daquele momento.

–Isso é horrível.

Ele olhou para mim de novo.

–É, foi horrível. Eu gosto muito de vocês, os humanos, mas existem coisas tão tristes sobre a sua história...

–Chegamos!- gritou a mulher azul, interrompendo a conversa e meus pensamentos.

Olhei para frente. Logo antes da cidade havia um portão com colunas de granito branco no estilo romano. A grade era cor de ouro com os arabescos mais bem feitos que eu já vi. Eram como heras de ouro que subiam por toda a extensão da grade. Mais impressionante que isso foi a cidade. Ficava em uma montanha. As belas casas no estilo grego-romano subiam a montanha em um equilíbrio impecável. Todas feitas de granito de diversas cores que, juntas, pareciam uma obra de arte. As plantas também eram impressionantes, algumas eram as flores e o gramado comuns que eu vi a minha vida inteira, mas outras, somente formas estranhas que pareciam plantas, só que pretas. Em meio de toda essa paisagem clássica, ainda existiam aparelhos tecnológicos que se uniam as casas que pareciam tão antigas, criando, assim, um belo contraste.

O Doutor olhava para mim com aquele sorriso bonito de quem ganhou o presente que queria. E eu, só olhava para a cidade, boquiaberta, pensando em como o Universo poderia ser tão mais do que eu imaginava.

–Por que você não está olhando para a cidade? É tão linda.- eu disse, ainda pasma.

–Eu já vim aqui algumas vezes.- ele respondeu, simplesmente.

Olhei para ele, agora curiosa.

–Então, por que vir aqui de novo?

–Porque você ainda não tinha vindo, é claro.

–Obrigado, então.

–Vocês não vem?!- a mulher azul gritou, já dentro da cidade.

–Sim, estamos logo atrás!- gritou o Doutor em resposta.- Vamos?-ele disse se dirigindo a mim.

–Sim.

Nos entramos na cidade. De perto, a arquitetura era ainda mais fantástica. E o planejamento também. Chegamos ao necrotério depois de subir vários lances de escadas e fomos ver o corpo que estava dentro de um tronco oco. Tinham uma série deles.

–Os corpos estão dentro de troncos ocos por quê?

–É uma tradição. - a mulher azul respondeu.- Para cada pessoa que nasce aqui uma árvore é plantada. Eles crescem juntos e ficam conectados a vida toda. São como melhores amigos. Quando um morre, o outro morre também.

–Interessante.- o Doutor disse.- Podemos ver o corpo, senhora?

–É todo seu.- ela apontou para um tronco.

Nos abrimos juntos. O governador estava todo ressecado com a pele completamente enrugada. Seu cabelo também estava branco e tinha um pequeno corte em seu pé.

–Ele tinha quarenta e cinco anos. Não sabemos explicar a causa da morte.

–Parece com um dos nossos casos. -eu disse, citando supernatural.

O Doutor olhou para mim com cara de quem dizia "sério, Tisa, agora?".

O que?-respondi- Não posso nem citar mais?

Ele se virou para mulher azul.

–Perdoe a minha parceira, ela é novata. Essa era a árvore dele?

–Sim.

–Certo, obrigado.

–Estou ao seu dispor.-ela disse, e parecia ter mais de uma intenção nessa frase. O Doutor nem notou. Quando saímos, eu disse:

–Você é muito idiota, cara.

–Eu? Por que?

Virei os olhos.

–Ela estava te cantando.

–Eu não vi ela cantando.

Coloquei a mão na testa e bufei. Ele pareceu ainda mais confuso com isso.

–Eu vou ter que te ensinar tudo, é? É uma maneira de dizer que ela estava te paquerando.

–Ahhh... Eu acho que não.

–Isso é porque você não sabe de nada, Jon Snow.

–Citando de novo.

Dessa vez, ele que virou os olhos.

–Como você sabia que eu estava citando?

–Essa é sua cara de citação e meu nome não é Jon Snow.

–É claro que não. Ele é muito mais bonito que você.-sorri com a sua reação.- Então, o que você achou do corpo?

–Não sei ainda. Preciso descobrir um pouco mais sobre a situação.

Pensei um pouco antes de dizer:

–Eu tenho um plano.

O Doutor me olhou.

–Então não deve ser nada de bom.

E não era.


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