Uma aventura do doutor: a ladra de palavras escrita por Tisa Fireno


Capítulo 3
Os criminosos do espaço


Notas iniciais do capítulo

Demorou um pouco, mas acho que ficou bacana, assim, pelos padrões...



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Logo depois que eu sai de onde eu estava (uma rua sem saída, que, por sinal, tinha casas habitadas já que uma senhora idosa ficou me olhando estranho pela fresta da cortina) me arrastando, a primeira coisa que eu fiz foi pedir ajuda e depois de algumas tentativas, já que a maioria das pessoas desconfiou de uma garota de pijama com a perna enfaixada se arrastando por ai, uma senhora me deu carona até um hospital e de lá eles ligaram para a minha família.

Sim, eu sou maior de idade e não, isso não é relevante para a minha mãe.

–Tisa Fireno!- todo mundo sabe que já está ferrado quando a mãe fala o nome completo- No que diabos você estava pensando ao pular da janela?! E como você foi parar do outro lado da cidade?! Não acredito que você consegue fazer essa merda toda em menos de uma hora, mas não consegue arrumar sua casa direito, arrumar um emprego descente! E isso tudo por causa de um homem! Não faça essa cara de desentendida que seu vizinho já me falou tudo!

–Espera ai. – eu disse cortando a minha mãe- Como você conhece meu vizinho? Quero disser, você passou na minha casa antes de vir aqui só pra saber disso? Como você pensou nisso, pra começar? Que mãe pensa: “Nossa, minha filha pulou da janela, vou conversar com o vizinho dela.”

–Não mude de assunto!

E a discussão (ou o monólogo da minha mãe) seguiu por um bom tempo. O médico disse que eu não tinha quebrado nenhum osso, mas que eu tinha torcido meu tornozelo bem feio e que eu teria que ficar com uma coisa no pé por um mês. E me recomendou um psicólogo e disse que não é muito seguro pular de janelas. Eu quase respondi: “Obrigado, doutor, mas eu acho que sei disso agora, não acha?”.

Eu resolvi não contar a ninguém sobre o doutor. Também porque como eu iria explicar? “Um estranho invadiu minha casa, eu pulei da janela e ele me levou magicamente para o outro lado da cidade em uma cabine azul, que, a propósito, é maior do lado de dentro.”.

Além disso, tudo ele disse que nos encontraríamos novamente. Não sei como eu me sentia sobre isso, afinal, desse primeiro encontro eu sai com o tornozelo torcido. Mas, ainda sim, foi tudo tão estranho e louco... Será que eu ansiava por um segundo encontro com aquela figura?

Não precisei ansiar. Uma semana depois, minha campainha tocou e quando eu abri já fui ouvindo o seguinte pedido:

–Oi, Tisa, você tem vinagre?

Um segundo, dois segundos.

– Que?!

– Por que quase toda vez que nos encontramos você fala ”que”? Eu não falo assim tão baixo. Rápido, eu preciso de vinagre, tem dois raxacoricofallapatorians me perseguindo.

–Jesus... Como você fala isso tão rápido? Não, melhor, o que é isso?

– Você não sabe o que é um raxacoricofallapatorian? Que nup.

– Ei! Eu acabei de te conhecer. Não é culpa minha não saber essas...

De repente, fomos interrompidos por um barulho estranho. Como se tudo já não estivesse estranho antes, mas isso foi uma exceção de uma maluquice maior que as outras. Uma coisa, por ausência de palavra melhor, verde tinha acabado de sair do meu elevador. E era grande, aparentemente furiosa e vindo na nossa direção. O doutor disse:

–Corra.

E, curiosamente, eu obedeci.

Entramos correndo dentro da minha casa quando as coisas estavam quase nos pegando. Ele tirou do bolso a chave de fenda sônica que realmente não podia ser uma chave de fenda e trancou a minha porta.

– Tisa, vinagre, cozinha, agora!

Eu corri para a cozinha quase caindo na virada do corredor e fui procurar o vinagre. Porém, eu não tinha comprado vinagre por que eu não gostava de vinagre.

– Não tem vinagre!- eu gritei para o doutor.

– Que?! Quem não tem vinagre em casa?! Até eu tenho vinagre!

– Desculpe, eu não esperava um maluco na minha porta pedindo vinagre!

– Dê um jeito! Não posso segura-los por mais muito tempo!

O que substitui vinagre? Por que vinagre?

– Ei, doutor, por que vinagre?

– Serio? Agora? Eles são feitos de cálcio. Cálcio e vinagre...

– Não precisa explicar o resto. Você acha que sou burra? É claro que eu sei por que...

Uma batida forte.

– Rápido!

Certo, certo. O que substitui vinagre para acabar como o cálcio?

–Já sei!- eu gritei.

Abriu a geladeira correndo e peguei meu litrão de coca-cola pela metade e fui correndo até a porta.

–Coca-cola? Acho que agora não é hora pra isso, Tisa.

– Só abra a porcaria da porta!

Ele nem precisou. As coisas arrombaram a porta. Só tive tempo de abrir a tampa e jogar coca-cola neles. No instante que eu fiz isso eles pararam, nos encararam e explodiram, jogando uma gosma verde para todo lado.

– Merda! Vai demorar uma eternidade para limpar isso.

– A coca-cola também acaba com o cálcio. - o doutor disse com aquele sorriso estúpido e aquele olhar de surpresa e admiração que às vezes deixa-me com raiva, mas também feliz.

–Não precisa explicar querido, eu sei.

–Brilhante!

–Eu sei. Coca-cola é a solução para quase tudo. - eu disse, matando o último gole.


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Notas finais do capítulo

Desculpem por fazer o Doutor parecer meio inútil. Eu queria que a Tisa parecesse pelo menos um pouco inteligente depois de pular da janela e tal. Prometo que ele vai ter o destaque merecido, ok? Não me matem, por favor, eu só queria justificar o fato dela aparecer na vida dele, afinal, por ele só passam pessoas fantásticas.



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