–Bom dia alunos – A diretora falou.

–Bom dia – Todos falaram em couro um pouco desanimados.

–Ah, o que é isso? Se animem pessoal.

–Preciso de férias. – Alguém falou.

–Acho que está meio cedo para isso, entendo que esteja sendo duro os últimos dias, ops, meses, claro, vocês vinheram de escola mais fáceis, mas passaram na prova, isso prova que tem potencial e merecem estar aqui, vocês desclassificaram outros 1.450 alunos, isso não é bom?

A sala pareceu concordar um pouco.

–Enfim... Vocês não acham que eu vim aqui por nada não é? Bom vocês vão ter um descanso, uma excursão para a praia.

–Qual trabalho teremos de fazer sobre isso? – Alanis perguntou.

–Nenhum, é só para vocês relaxarem ora – Ela disse rindo – Bom é isso, aqui estão as autorizações, vai ser tudo grátis, será um final de semana lá, esse final de semana aliás, podem levar lanche se quiserem mas não é necessário, lá vocês terão tudo o que precisam.

Ela passou distribuindo as autorizações nas carteiras, acho que assim como eu os outros alunos mal acreditava, o que foi meio engraçado para mim, parecia que eles estavam num jejum a dias e agora finalmente estavam saindo dele. Meus pais deixaram eu ir sem falar nada, adorava meus pais por serem tão liberais. No ônibus fiquei do lado da Drica.

–Ele fala de mim? – Ela perguntou

–Anh? – Voltei do mundo da lua.

–O Pietro, ele fala de mim?

–Ah sim, bom... Acho que não.

–Poxa, eu queria tanto que ele sentisse o mesmo por mim, o mesmo que eu sinto por ele.

–Nossa, ele pode sentir, sei lá.

–Miguel, ei, Miguel! – Alguém me chamou, coloquei minha cabeça no corredor e olhei para os acentos de trás, era o ruivo.

–Gosta de praia? – Assenti –Hum... Que bom, eu também, tava pensando que a gente podia ficar bem juntinhos lá, tipo é muito romântico sabe?

–Tava pensando que eu podia quebrar a sua cara, sabe? – Falei num tom irônico e voltei para Drica – Você quer que eu fale com ele?

–Como assim?

–Quer que eu pergunte se ele sente algo por você?

–Você faria isso?

–Claro.

–Mas ele vai perceber que eu queria que você perguntasse...

–Não vai não, deixa comigo.

–Ok, te amo amigo!

–Te amo também.

Ela apoiou seu ombro no meu e dormiu, fiquei pensando no que o ruivo disse, engraçado três meses e eu ainda não sabia o nome dele, o fato é que eu não queria de verdade dar um soco nele, a cena até passou pela minha cabeça mas não com ele e sim com... PIETRO! Tentei dormir mas não consegui, só queria que aquilo saísse da minha cabeça.

Chegamos no lugar onde deveríamos ficar, parecia uma pensão, cada quarto tinha uma varanda para a praia, os quatros abrigavam duas pessoas, e eu fiquei com o Pietro. O dia foi legal, fomos para a praia quando chegamos e depois podemos ir ao shopping todos juntos para comprar lembranças. Pela noite fomos avisados que teria uma festa na praia e que estávamos convidados, todos foram... Ao chegar lá fiquei com Drica, conversamos bastante e curtimos, como sempre fazíamos em festas, foi aí que notei que faltava meia dúzia de garotos, inclusive Pietro.

–Espera aí Drica, vou ver onde o Pietro tá.

–Pra que?

–Preciso conversar com ele sobre você esqueceu?

–Ah é mesmo, valeu!

Primeiro lugar que pensei foi o banheiro, tinha um grande do outro lado da praia onde haviam cabines, os cinco poderiam ficar ali tranquilamente. Fui andando devagar, depois de pensar em Pietro daquele jeito não sabia se seria a mesma coisa, podia ser paranoia minha... ou não. Quando entrei no banheiro, cada um dos cinco tinham uma garrafa de cerveja na mão, algumas jogadas no chão, isso era encrenca na certa, todos riam de não sei o que, Pietro não parecia sóbrio, ele cambaleava e dava uns tropeços. Peguei seu braço e puxei, nenhum dos garotos pareceu notar, ele segurou no meu ombro e começou a falar umas coisas sem noção para mim, peguei a garrafa que estava em sua mão e joguei no chão, eu não podia deixar que as pessoas notassem que ele estava nesse estado, acho que aquilo dava expulsão. Dei uns tapas de leve no Pietro para ele acordar e caminhei com ele até a margem do mar, sentei com ele ali e fiz ele levar o rosto, ele parecia com sono, ou que ia desmaiar, continuava a falar coisas sem noção, aos poucos ele foi apoiando seu ombro no meu, ele ria igual todos faziam no banheiro, levantei seu rosto dei mais uns tapas de leve, ele olhou pra mim, e falou a coisa mais sensata da noite; “Miguel”. E então a pior e melhor parte, ele me beijou, de surpresa, não tive reação, era meu primeiro beijo, e com um garoto, não foi a melhor sensação do mundo, mas também não foi a pior, não sei porque mas deixei que ele continuasse, por sorte ninguém viu, quando ele parou caiu num sono profundo sobre meu colo. Deitei ele na areia, e sai não sabia o que pensar do que tinha acabado de acontecer, sabia que ele podia acordar e ir pro mar, afinal ele estava bêbado mas ele estava dormindo de uma forma que duvido que ele ia acordar. Chamei um professor para ajudar e o professor acordou ele e conseguiu leva-lo para o quarto, o professor não devia estar muito ligado no mundo nessa hora, ou queria voltar logo para a festa porque não percebeu que ele estava bêbado, se é que isso é possível. A melhor forma de curar ressaca que eu me lembre é um banho gelado, então coloquei Pietro debaixo do chuveiro, ajudei ele a tirar a blusa e a calça e deixei que ele tomasse banho sozinho, como se não fosse o bastante o cara realmente tava muito bêbado tive que ajudar ele a se vestir, tudo isso em uma noite, não estava gostando nada disso, ainda naquela noite ele vomitou umas três vezes, quando conseguimos dormir já era bem tarde. Fiquei pensando se um amigo faria o que eu fiz, e no que ele fez e no motivo para isso, e porque eu me senti estranho com aquilo, e porque não senti nojo, foi uma noite dura para mim.

Acordei com batidas nas portas, era um professor nos mandando acordar para que fossemos para o café da manhã, acordei Pietro. Tomei banho e desci, Pietro desceu minutos depois, fiquei conversando com Alanis na mesa e Pietro com Drica do outro lado, mais tarde quando subimos para o quarto para pegar as coisas que deveríamos levar para a Praia Pietro veio falar comigo.

–O que aconteceu ontem a noite?

–Você bebeu.

–Só isso?

–Consegui tirar você de lá antes do diretor chegar.

–O que ele disse quando viu?

–Não sei, parece que ele vai falar com os garotos na escola terça-feira junto aos pais deles.

–Nossa obrigado cara.

–Por nada.

–Queria lembrar do resto mas não consigo.

–Poxa que pena.

–Quem me deu banho?

–Você conseguiu fazer isso sozinho.

–Ufa, bom, obrigado mais uma vez parceiro.

–Claro – Lembrei de Drica –O que você sente pela Drica?

–Ah, eu amo ela, vou pedir pra namorar com ela no por do sol.

–Você é romântico.

–Eu não, garotas são, se eu pedir no momento assim as chances dela aceitar são maiores.

–Haha, tá bom.

Ele pediu, ela aceitou, eu me senti estranho e triste com isso. Os alunos foram expulsos, Pietro teve sorte, ele parecia não se lembrar mesmo do beijo, ele e Drica pareciam felizes, contei para Alanis e ela disse para mim não criar esperanças. Ela falava como se eu estivesse apaixonado, mas eu tinha certeza que não, ou quase certeza...