— Isso é impossível! — sibilei totalmente raivosa, abrindo os olhos de repente e correndo para longe dele, que revirou os olhos e se sentou mais confortavelmente onde eu estava antes.

— Não acredita em seus próprios olhos, Clairemont? — perguntou sorrindo, atento a qualquer movimento que eu fazia.

— Não é questão de acreditar ou não, Loki! — chiei irritada, encostada na cabeceira da minha cama, ainda com os olhos arregalados. Ele suspirou entediado.

— Quer uma prova melhor do que seus próprios olhos já viram? — perguntou, e ele levou meu silencioso como um sim. Pegou alguma coisa em um bolso escondido naquela sua roupa esquisita, que eu ainda achava que ele estava de saia, e tirou uma pequena coisa dourada de lá. Eu arfei quando reconheci o que era — Prova o suficiente?

— Você está mentindo! Isso é impossível! Impossível! – eu berrava igual louca, passando as mãos pelo cabelo e ficando em pé na cama, andando de um lado para o outro igual barata tonta — Qual é a sua, Loki?!

— Eu já lhe disse, pela primeira vez, eu não estou mentindo! — reclamou entediado, olhando para o teto agora, esperando o meu pequeno chilique acabar.

— Então quer dizer que dás outras vezes você estava? — desafiei exasperada, tropeçando no lençol e caindo sentada na cama.

— Você entendeu o que eu falei — ignorou a pergunta, e eu agarrei o lençol, apertando o pano nas minhas mãos, como se fosse o pescoço daquele idiota — Agora acredita em mim? — perguntou, jogando o objeto do meu lado. Eu não o peguei, só fiquei encarando ele, o dourado brilhando com o vermelho escuro do lençol — Não vai pega-lo?

— Como você conseguiu isso? — sussurrei, meus olhos grudados no dourado.

— Então quer dizer que você acredita em mim? — ele sorriu com a notícia, mas eu não conseguia me mexer, muito menos falar. Se antes minha cabeça estava confusa, agora sim ela tinha dado pane. Quebrado. Bugado. Estragado. O caralho a quatro que fosse! — Vou levar isso como um sim.

O maldito conseguiu pela primeira vez me deixar de sem nada para dizer, e uma parte de mim estava enfurecida com isso. A outra... Bem, essa estava confusa demais para pensar qualquer coisa além de “Fodeu!”. Uma prova de que eu estava distraída é que nem ouvi Loki se aproximando, e só percebi sua presença quando ele tocou meu pulso, me fazendo pular para longe automaticamente por causa do susto. Ele me olhou com a cara emburrada.

— Sério? Ainda isso? — perguntou entediado, e, eu não faço a mínima ideia do porquê, mas me aproximei novamente, só que bem lentamente.

— Desculpe, eu estava distraída — ouvi as palavras saírem da minha boca, e a parte raivosa de mim me perguntou o que diabos eu estava fazendo, enquanto a outra continuava no estado catatônico de antes.

— Então — começou, depois de alguns segundos em silêncio. Eu encarando o objeto, e Loki me encarando — Pronta para ouvir a minha proposta?

Eu não respondi imediatamente. Não conseguia. Mas a resposta deslizou saiu facilmente dos meus lábios — O que eu tenho que fazer? — sussurrei tão baixo, que achei que ele não havia ouvido, mas pelo canto do olho eu vi um sorriso enorme se abrir no seu rosto, e seus olhos brilharem com alguma coisa que eu não estava em condições de tentar decifrar o que era agora, mas o sorriso era fácil. Um sorriso vitorioso não era muito difícil de se diferenciar dos outros, afinal de contas.

— Boa decisão, senhorita Clairemont — elogiou, e apesar da vontade, não revirei os olhos. Não conseguia. Ele finalmente conseguiu o que queria: minha guarda não abaixada, mas totalmente destruída. Me doía admitir, mas Loki finalmente tinha conseguido ficar na minha frente, e eu não sabia o que teria que fazer para inverter o jogo novamente — Mas, por enquanto, eu não quero nada com você — foi com essa frase que ele finalmente ganhou minha atenção, e minha cabeça se virou automaticamente para ele, que continuava com aquele sorriso no rosto e o brilho misterioso nos olhos — Quando eu precisar — começou, colocando sua mão em meu queixo, seus olhos focados nos meus, que continuavam levemente arregalados. Se eu estivesse em um estado normal, eu nunca deixaria ele fazer isso, mas era como se eu não tivesse controle sobre o meu próprio corpo —, você vai ficar sabendo.

— Então para que tudo isso? — me peguei perguntando, e eu pude sentir ele acariciando levemente meu queixo, fazendo um arrepio subir pela minha espinha até minha nuca.

— Todos precisamos de motivações, não é? — retrucou a pergunta no mesmo tom baixo que eu estava falando, sua respiração batendo no meu rosto — As suas mal começaram.

— BOM DIA, FLOR DO DIA! — ouvi um grito, e pulei na cama, abrindo meus olhos mas gritando de dor quando o sol bateu direto neles. Cameron terminou de abrir as cortinas e se virou para mim com um sorriso enorme na cara, mas fez uma careta quando olhou para o meu rosto — Nossa, que cara é essa? Parece que foi você que encheu a cara ontem, não a Chloe — ele dizia, mas eu só olhava em volta igual retardada, tentando ter a certeza de que nada daquilo tinha sido real — Tudo bem, você está em greve de silêncio hoje. De qualquer maneira, Sarah, Chloe e o resto do pessoal está lá em baixo te esperando para o almoço — falou e saiu do quarto, fechando a porta atrás de si.

— Almoço? — sussurrei, me virando na cama e olhando o relógio no criado-mudo. Meio dia e cinquenta e cinco. Eu dormi tanto assim?! Passei as mãos pelo meu rosto e respirei fundo, tentando acalmar as batidas do meu coração que continuavam aceleradas. Fiquei mais uns dois minutos na cama e tirei o lençol de cima de mim, mas quando fui levantar um brilho dourado me chamou a atenção na beirada da cama. Eu abri a boca em choque e fiquei encarando aquilo como se fosse uma cobra prestes a dar o bote. Engatinhei lentamente até ele e o peguei nas minhas mãos, levando-o até a altura do meu olhar. Aquilo tinha sido um sonho, não era possível. Mas se... — Oh Deus, o que eu fiz? — sussurrei, deixando minha mão cair na cama.