Like a Romance escrita por thysss


Capítulo 37
Trigésimo Sexto.




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As estrelas no céu pareciam mais próximas umas das outras naquela noite, mas não lhe importava, porque essa noite ela não sairia para observá-las pelas ruas, não poderia vê-las até a madrugada antes de voltar para casa. Nessa noite não havia sua liberdade, assim como na próxima também não teria.
Angelique abraçou a si mesma cobrindo-se melhor com o roupão de tecido tão suave quanto o próprio toque de suas mãos, mas eles eram frios, já suas mãos não.
Como dizem coração frio, mão quente. Então que essa lei se aplicasse a ela, que a julgasse e condenasse, porque seu coração encontrava-se inteiramente frio, e assim deveria permanecer.
Pelo menos naquela noite não haveria segredos, porque ao menos nas paredes de seu próprio quarto ela poderia confiar.
Sua mão, tão pálida quanto todo o resto de seu próprio corpo, tocou o pó de arroz sobre a mesa, que simbolicamente usava para disfarçar sua palidez. E ao lado, mergulhadas em algo liquido, as lentes que até então cobriam o topázio de seus olhos.
Angelique guardava mais segredos do que muitos, e ainda insistia em tentar desvendar os de Anthony, mas ela mal podia lidar com os seus próprios. 
Acariciou a pele descoberta de seus braços e se afastou, parada na janela podia ver a imensidão azul logo abaixo, o lago se estendia longamente e a lua podia se ver refletida ali. Era lua cheia, a sua preferida, e ela passaria a noite ali, trancada.
Virou-se para seu quarto e foi inevitável olhar para o espelho, Angelique deu um passo a frente e suspirou vendo seu reflexo – porque ao menos isso ela ainda possuía. Suas mãos tocaram seu rosto como se quisesse garantir que ele estava mesmo ali, que podia senti-lo entre seus dedos, e seus lábios abriram-se em um sorriso falso só por exercitar os músculos. Era ridículo o que fazia, mas simplesmente necessário para si.
Mil pensamentos passavam em sua mente só de pensar no que os outros diriam, se alguém pudesse vê-la assim, naquele instante, os olhos em seu tom natural, a pele ainda mais pálida. Um monstro. A falta de maquiagem, nem ao menos uma simples sombra ou blush a cobrir suas bochechas. Ninguém jamais imaginaria que Angelique Maxell era assim do “lado de fora”.

- Um monstro – murmurou ao se encarar.
Logo fechou os olhos começando a manear a cabeça, não, porque monstros são peludos e possuem aparências nauseantes. Não! Negava-se a acreditar que um dia chegaria a isso, porque seu rosto era perfeito, seus lábios formavam um adorável coração e seus olhos brilhavam. E certamente seu rosto não era desproporcional, não possuía três olhos um nariz disforme. Não. Angelique era bonita.
Mas beleza era o único que lhe restava.
E ela agarrava-se a isso de forma que ninguém, nunca, poderia dizer o contrário, porque seu corpo possuía o tamanho ideal e não havia nada fora do lugar. Então essa não seria a sua punição, porque ela visivelmente não era um monstro.
Mas o que distingue um monstro dos outros não é sua aparência – Angelique só não podia saber disso – e sim o modo como são tratados.
Porque monstros despertam o medo, a aflição... Maneou a cabeça negando-se a continuar pensando nisso. Porque ninguém sentia medo de quem era, nem aflição, talvez inveja, mas não há nada de errado nisso.
Então lhe resta os monstros psicológicos, aqueles de alma ruim, de humor mau... Um gene ruim poderia causar isso? Não, ela também podia escapar dessa, porque sua mãe havia sido a mulher mais doce e sorridente que alguém pudera conhecer e seu pai tinha um coração de ouro. Assim, Angelique era geneticamente impune a isso.
Doce ilusão.
Porque como duas pessoas normais podem gerar um monstro físico... Um monstro que cause medo... Também podem gerar um monstro psicológico.
Uma alteração em sua divisão e tudo podia ser mudado.
Ou então Angelique apenas gostara de ser má quando pequena, e isso não se muda do dia para a noite.
Uma mão foi, instintivamente, até onde costumava ter seu coração – o gelo interno podia tê-lo detonado – e seus olhos se fecharam, talvez exatamente ali estivesse seu problema, talvez Angelique só não possuísse um coração, e nunca tendo um não teria como sentir falta.
- Você continua sendo um monstro...
E não importava quantas hipóteses surgissem e fossem descartadas, tudo sempre a guiava, no final, para a verdade, querendo ou não, mesmo que apenas interiormente, Angelique era um monstro.

Lágrimas ameaçavam sair, mas não, ela não se renderia a isso, não iria tão baixo. Bastava apenas erguer o rosto para encarar, firmemente, o reflexo no espelho.
- Eu sou bonita...
Sim. Ela sabia que sim.
Mas então todo o mundo é um monstro, fechou os olhos, sua mente estava indo longe demais. Porque se um monstro é um monstro aos olhos dos normais, então os normais são um monstro aos olhos do monstruoso.
Não, voltou a manear com a cabeça mordendo o próprio lábio, não havia comparações, porque tecnicamente sua mente era insana, não havia como distinguir as normais, porque aos seus olhos todas as outras sim pareceriam insanas, não a sua própria.
Um papo muito louco de pura viagem. Sua mente estava tomando dimensões que até Angelique achava insanidade.
Não. Recusava-se a repetir essa palavra, começando a prender-se em sua própria loucura.
Tudo deu um giro de 360º para a direita, e depois, então, um giro de 360º para a esquerda. Tudo deveria voltar para o lugar, mas então porque tudo parecia ainda mais deslocado?

Afinal, para um monstro o normal é monstruoso.


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Notas finais do capítulo

n/a: nem tentem entender UAHSUHAUHSAUHSUASUHA
espero que gostem!

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beijos.
e não esqueçam os reviews



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