A figura de uma mulher ficou cada vez mais delineada no meio da escuridão e eu pude reconhecer a Cleménce. Bom, elas não precisam me matar, eu já me mato pelo simples fato de ter sido tão idiota!

  - Olá querida.

  - Sua maldita desgraçada, eu não acredito que você fez isso comigo!

  - Você é tão ingênua né Rachel?

  - Como fez isso?

  - Segredos da profissão meu bem.

A dor de cabeça estava ficando cada vez mais insuportável, mas agora o ódio era como um remédio, curando tudo. Eu queria quebrar aquelas duas infelizes, fazendo-as pagar pela burrice que eu própria tinha cometido.

  - Quem é você?

  - Cleménce prazer. Uma feiticeira, assim como você. Mas olha, eu não quero brigar ok? Quero apenas dizer algumas coisas.

   - E eu também não quero brigar, quero apenas te matar sua loira idiota!

Inutilmente eu tentei avançar, mas as correntes me puxaram para trás fazendo minha cabeça bater no chão com o impacto. Tudo em minha volta rodava e minha visão foi ficando vermelha, cada vez mais vermelha e uma espécie de véu envolvia meu corpo fazendo minha alma sair aos poucos dele. Eu podia ver todas as coisas lá embaixo, a Cleménce olhando meu corpo sem reação, o céu nublado, a floresta... Taylor procurando desesperado por mim, correndo pelas árvores e todos os outros Cullen esperando por uma pista que fosse. Então tudo foi ficando mais rápido, mais rápido, até que eu comecei a cair, e vi o corpo de Liza no chão e Daniel gritando por socorro e minha alma entrou nele.

  - Liza?

Ele me abraçou, quer dizer, abraçou a Liza. E eu puxei minhas mãos tentando me afastar.

  - Daniel, não!

  - Liza, o que foi? O que aconteceu?

  - Não! Eu não sou a Liza. Sou a Rachel.

Suas mãos soltaram levemente o corpo da Liza no chão e ele olhou fixamente em meus olhos. O véu de sangue! Uma das lições que nossa avó contou para nós. Era uma mágica arriscada e talvez nós não poderíamos mais voltar para nossos respectivos corpos a não ser que a aurora resolvesse nos levar. E se não voltássemos? Ela morreria, no meu lugar. Isso é injusto, muito injusto.

  - Hein?

  - Daniel, sou eu a Rachel. Trocamos de corpos através de um feitiço.

  - O véu de sangue?

  - Isso!

  - Não acredito... você pode não voltar, e ela também!

  - Eu sei que você se importa realmente com o fato dela não voltar, mas não, isso não vai acontecer.

  - Mas o que aconteceu?

  - Você já sabe. Cai numa armadilha daquelas duas loiras idiotas da pensão. E estou presa agora.

  - Onde?

  - Então, é em uma caverna, acredito que mais para o centro da floresta, mais distante da cidade. Em frente a um lago, no meio das arvores. Não me pergunte mais detalhes entendeu? Porque eu estou acorrentada sem poder ver.

  - Mas estão todos procurando por você e porque não acharam até agora?

  - Você acha que eu tenho alguma idéia? Estou simplesmente presa, perdendo todo o sangue que eu tenho na minha cabeça e não é tão longe da casa dos Cullen. Afinal, meu acidente foi por lá.

  - Acidente?

  - Peça desculpa ao Jacob por eu ter quebrado a moto dele. Eu bati a cabeça na árvore e então as malditas me pegaram.

  - Rachel o que elas te disseram?

Uma luz colorida passou a me envolver e respirei aliviada pela aurora boreal ter resolvido nos levar de volta. Minha alma saiu do corpo da Liza me levando o mais rápido possível para o meu. Assim que meus olhos se abriram eu pude ver a raiva de Cleménce exposta em seu rosto e sua mão indo de encontro a minha fazendo com que meu rosto virasse. Ela havia acabado de me dar um tapa e minha cabeça estava mais dolorida. Ela ficou de joelhos ao meu lado e segurou o meu rosto fincando as unhas neles.

  - Agora somos eu e você garotinha ingênua.