No café da manhã, Nico não conseguia parar de pensar em Will, nos beijos, e na sua promessa de espantar seus pesadelos. Ele cutucou os ovos mexidos, destraido, o sol causticante batia em suas costas e o calor era refletido em sua camisa escura com um desenho de uma caveira. Ele mal notou Hazel sentando no banco ao seu lado

–Oi

–Hum, oi

–Bonita camisa

–Obrigado

–Vamos conversar. Agora – ela segurou a mão de Nico e começou a arrasta-lo para fora do refeitório em direção a floresta. Parecia extremamente brava com ele. Batia os pés com força no chão e o cabelo cacheado balançava cada vez que ela pisava forte.

–Hazel, minha irmã, prazer em vê-la

–Prazer? - ela parou e se recostou em uma arvore. - Quando você ia me contar dos pesadelos

–Você veio de São Francisco pra saber de meus sonhos?

–Eu tenho amigos aqui, você não é o único do mundo. Mas vim por isso também

–São só sonhos, Hazel, nada de mais

–Nada de mais? Eu te contei dos meus malditos flashbacks, Nico! Eu te contei! - Hazel começou a falar rápido e gesticular – E você não me conta nada? - ela ergueu um dedo e cutucou o ombro de Nico

–Desculpa – ele sussurrou – Me desculpa

–Não me peça desculpas!

–Então o que eu devo fazer?

–Me conte – Nico sentou-se na grama e começou uma narração detalhada sobre os pesadelos, era cada um pior e mais apavorante que o outro, torturas no mundo inferior, ele próprio no lugar de Octavian, ele se transformando em um assassino insano... Mas sabia que se ele contasse, se ele expor o pior de seus sonhos, tiraria um grande peso do peito e se sentiria melhor. E realmente se sentiu

...

–Então... – Jason o cutucou com o cotovelo, Nico repudiou o toque imediatamente pelo fato de ele não ser Will e também por Jason estar coberto de suor, assim como ele mesmo – Então? - ele levantou as sobrancelhas

–Meus deuses, Jason. Cala a boca e me deixa treinar – ele experimentou alguns movimentos com a espada, mas sem acertar o boneco de palha realmente

–Vocês estão oficialmente...juntos?

–Cala a boca – ele enterrou a espada de ferro estígio no boneco, e como recompensa, um fluxo de palha começou a jorrar dele

–Isso é um sim?

–Se eu disser que sim, você cala a boca?

–De jeito nenhum - Nico girou a espada de modo que a ponta se projetasse sobre a garganta de Jason, obrigando-o a levantar o queixo, ele sorriu o mais amigavelmente quanto conseguia lembrar

–Como é? - ele levantou as mãos em sinal de rendição

–Tudo bem, eu calo a boca se você me responder. Estão juntos ou não?

–Talvez. Não tenho certeza - Nico girou nos calcanhares e marchou até o chalé de Hades , disposto a um banho antes do jantar, ouvindo Jason gritar algo sobre uma aposta com Leo

...

Nico ouviu uma batida suave na porta, estava deitado olhando para o teto, perdido em pensamentos.

–Entra – ele cruzou os braços atras da cabeça, nem parou para pensar em quem poderia ser, uma fresta da porta se abriu com um rangido

–Nico? - uma voz feminina conhecida. Ele se sentou, alerta.

–Hum... Piper?

–Sim. Posso entrar ou você tá seminu, e esperava que fosse o Will?

–Eu esperava que fosse qualquer um, menos você. Entra, eu estou devidamente vestido

–Certeza? Tem ideia do que é devidamente vestido, né? - Nico riu. E ela entrou, hesitante e caminhou até Nico

–Então. Jason me disse...

–Jason te disse – ele repetiu, fingindo inconformação apesar de saber que Jason ia contar a Piper de qualquer maneira

–Ele me disse que você está tendo dificuldades com... Will

–Hum, conte-me mais – ele se apoiou nos cotovelos, fingindo interesse. Piper deu um risinho

–Então eu vim aqui conversar com você. Já que eu sou filha da deusa do amor e tal...

–A deusa do amor deve estar muito acostumada com filhos de Hades com problemas de assumir sua homossexualidade com um filho de Apolo – ela riu

–Não, admito que isso é incomum, mas nada me impede de te dar conselhos. - Ela sentou-se na beira da cama

–Então, doutora – ele deixou a voz aguda e começou a enrolar o cabelo com o dedo indicador, curvando a cabeça suavemente para o lado – Eu venho tenho problemas com meu pai pra assumir meu namorado e... - Piper deu um tapa nele, gargalhando

–Nico, serio. Por que você não consegue simplesmente... assumi-lo?

–Eu... temo que me vejam menor, pela minha sexualidade. Que me vejam como mais fraco ou até mesmo um inútil

–Nós não estamos mais no seculo 19, ninguém mais pensa assim

–Eu sei... mas

–Mas o que?

–Me diga um herói...gay

–Muitos dos heróis da Grécia antiga admiravam tanto o físico “perfeito” - ela fez aspas com os dedos - masculino, que acabavam se apaixonando por outros homens.

–Ah, eu...

–Nico, ninguém liga pra sua sexualidade. Ela não diz nada a seu respeito. O que importa é se o que você sente por Will é verdadeiro. Você o ama mesmo? - Nico parou pra pensar alguns instantes

–Amo. Muito.

–Então, é só isso que importa – ela sorriu suavemente pra ele e afagou seu cabelo, bagunçando-o e saiu do chalé

...

Nico estava uma distancia considerável de Will, conversando suavemente sobre assuntos aleatórios, Leo deslizou para o banco e encaixou seu corpo magricelo entre Will e Nico

–Então... garotos?

–Ah, oi Leo – Will sorriu, sem graça. Leo espalmou uma mão atras da cabeça de cada um e os inclinou pra frente, de forma que ele se curvasse sobre a cabeça dos dois, como se quisesse dizer um segredo

–O tempo tá bonito, né? Ártemis caprichou na Lua hoje e... quando vão assumir esse relacionamento de vocês? - a pergunta pegou os dois desprevenidos e Leo aproveitou a oportunidade para juntar suas cabeças, e então os lábios de Will estavam pressionados contra os de Nico, as mãos de Leo os segurando. Nico sentiu Leo deslizar pra trás e sair do banco de madeira, e Will segurou seu queixo com delicadeza, se aproximando dele e aprofundando o beijo. Então um grito, seguido de mais gritos e quando Nico percebeu, eles estavam sendo levados por uma massa de semideuses que gritavam e marchavam em direção ao lago. Will ria e se encontrava completamente corado, Nico sabia que também estava muito vermelho. Então segurou a mão de Will enquanto caia na água gelada, sentindo ela invadir seus sapatos e roupas. Ele abriu os olhos de baixo da água, e viu Will. Ele sorriu pra ele e ele sorriu de volta. Naquele momento Nico pensou em como sentia uma felicidade quente, tenra e acolhedora cada vez que era beijado por Will, cada vez que ele sorria, cada vez que ele estava perto dele, se aquilo não era amor, ele não sabia o que era. Nico se sentia a pessoa mais feliz do mundo, e sabia que Will se sentia assim também. Não era necessário mais nada.