- Parece que você realmente preocupou a princesa...
-Ahn?
- Quando ela chegou aqui...
- Espera aí, o que você está dizendo? Aquela garota...?
- Nunca tinha ouvido falar da princesa Sakura?
- Aquela garota é uma princesa?!... Mas, mas... o que ela fazia aqui sem uma escolta?
O outro deu uma risada.
- Pelo visto, você não sabe nada mesmo sobre a princesa... é estrangeiro?
Syaoran ficou calado com a cara emburrada, não gostava nem um pouco que rissem dele. Percebendo isso, Kotaru continuou, mais sério:
- Bem, digamos apenas que a princesa Sakura é diferente. Se ficar aqui por algum tempo vai saber o que eu digo.
Bom, que ela era diferente ele já estava sabendo, achou que aquilo tudo era muito estranho, percebeu que tinha sido muito rude com a tal princesa, “Quem manda ela não explicar direito quem é?”.
- Você está se sentindo melhor?
- Eu...eu acho que sim.
- Não quer descer para conhecer os outros?
- Não, acho melhor ficar aqui – Ele encostou a cabeça nos travesseiros, querendo que o deixassem sozinho de novo.
- Tudo bem, se precisar de alguma coisa pode me dizer, tá?
O príncipe apenas fechou os olhos e tentou dormir de novo. Quando acordou já estava escuro do lado de fora, estava com muita fome, devagar, ele se levantou e foi até a porta que dava para um corredor iluminado por velas, ouvia algumas vozes vindas do andar de baixo, ele desceu as escadas e chegou até uma sala pequena onde a tal D. Hoshido tricotava junto com uma senhora no sofá e se levantou assim que o viu.
- Que bom que você apareceu. Está com fome?
- Ahn... sim.
- Espere um pouco, vou preparar algo para você, nós todos já jantamos.
Todos que também estavam na sala tinham parado o que faziam para olha-lo. Além da senhora que estivera tricotando com a D. Hoshido, havia uma mulher que era até bem jovem e lia uma história para duas meninas que se sentavam uma de cada lado dela no outro sofá,uma delas aparentava uns sete anos e a outra não parecia ter mais de quatro. No chão à frente delas, um menino de uns dez anos montava um quebra-cabeça. Numa poltrona perto da lareira, Kotaru lia um livro, quando Syaoran chegou, ele tirou os óculos, levantou-se e disse:
- Olá, é ele pessoal, o Syaoran.
Todos sorriram inclinando a cabeça para frente em cumprimento exceto a senhora na sofá que parecia meio alienada à situação.
- Deixe-me apresenta-los... Essa é Asuka – Ele apontou a mulher no sofá que era ruiva e tinha olhos quase da mesma cor dos cabelos. – As pequenas Satsuki e Amaya e este Sora. – O garoto se levantou e chegou perto dele analisando-o de alto à baixo – Você é meio estranho...
- Sora! – A menina mais velha exclamou.
- Querido, venha brincar. – A mulher chamada Asuka disse gentilmente para a criança e, dirigindo-se ao senhor: - Seja bem-vindo. Pode contar conosco para qualquer coisa que precisar... se pudermos ajudar.
“Não podem”, Syaoran já ia dar uma resposta bem malcriada quando D. Hoshido voltou, chamando-o para o outro aposento. Era uma sala de jantar com uma mesa de muitas cadeiras, à frente de uma delas, havia um prato com espaguete.
- Quer que o ajude a comer?
- Posso muito bem comer sozinho.
- Tudo bem, se precisar de alguma coisa, me chame. – Daí ela se retirou.
A mão direita dele estava enfaixada, pela dor que ele sentiu ao segurar o garfo, devia ter torcido. Acabou tendo de usar a mão esquerda, não estava acostumado a comer aquele tipo de coisa no palácio, mas acabou gostando e pediu para repetir, quando voltou à sala para pedir isso, teve a impressão de que estavam cochichando sobre ele, uma vez que pararam imediatamente de falar ao ouvi-lo se aproximar. “Como se eu fosse me importar com o que eles pensam de mim”.
Depois que terminou de comer, subiu para o quarto sem dizer nada a ninguém e nem percebeu que estava sendo mal-educado. Quando Kotaru foi para o quarto, ele fingiu que já estava dormido, mas vendo-o rolar de um lado para o outro sem parar, Kotaru falou:
- Está com frio?
Depois de hesitar um pouco, o outro respondeu contrariado, sem virar o rosto:
- Sim.
Ele ouviu o guarda-roupa ser aberto e sentiu algo macio ser depositado ao lado dele.
- Tome, vivendo aqui todo mundo se acostuma com o frio.
Sem dizer palavra, Syaoran pegou a coberta grossa de lã e se cobriu, sentindo-se muito melhor. “Mas eu não pretendo me acostumar a viver aqui...” (Nota rápida: Só para esclarecer que o país de Clow eu não imaginei igual ao de Tsubasa na hora de escrever a fic, pra mim é mais algo tipo séc. XIX europeu, enquanto o país de Syaoran seria algo como a China antiga, devia ter arranjado um nome chinês, né?... Ah, foi mal, desculpa atrapalhar a história).
- Você causou uma impressão bem forte em todos.
Syaoran continuou sem falar nada e de olhos fechados.
- Tudo bem, boa-noite, então.
No dia seguinte, Kotaru entregou a Syaoran umas mudas de roupas.
- D. Hoshido mandou entregar isso a você. Eram de um irmão dela, ela acha que vão servir melhor em você do que esse pijama que eu te emprestei, já que você é mais magro.
“Mas que droga”.
- Tá bom.
D. Hoshido tinha razão, a roupa se ajustava melhor a ele. Depois de tomar banho, ele gritou bastante enquanto a responsável pelo abrigo trocava alguns curativos.
- AI, não dá pra ser mais cuidadosa?
- Um médico virá vê-lo logo, mas confie em mim, minha mãe me ensinou a fazer esses extratos de ervas, essas feridas logo estarão curadas e os hematomas também vão sumir.
Depois, ele desceu para o café, todos estavam reunidos na sala de jantar, Asuka terminava de trazer alguns pratos. Quase tudo ali, o príncipe nunca tinha sequer visto, não eram comidas comuns em seu país.
Depois disso, ele voltou ao seu quarto, como sempre sem falar nada com ninguém. A cada hora que passava ele ficava mais irritado consigo mesmo e com os outros por não conseguir uma solução para seu problema. Uma batida leve na porta o acordou para o mundo, queria fingir que não estava, mas acabou mandando entrar.
- Ah, não está dormindo? – Era o garoto que se chamava Sora, ele vinha segurando uma espécie de “quadrado” fino de madeira e uma sacola de pano.
- Eu estou sim.
O garoto deu uma risadinha sincera.
- Você é engraçado.
- O quê que você quer aqui afinal?
- Brinca comigo?
- O quê?
- É que Kotaru saiu, a srta. Asuka e a D. Hoshido estão ocupadas e é muito chato brincar com meninas.
- E você acha que eu não tenho nada melhor pra fazer?
- Você não está fazendo nada. Vamos!
Ele pegou um banco ao lado do guarda roupa e depositou a “quadrado”, sentando-se no chão à frente dele. Percebendo o que era, o príncipe arregalou os olhos se inclinando para olhar melhor.
- Isso é um tabuleiro de xadrez...
- Isso. – O garoto abriu a sacola e foi tirando uma por uma as peças pretas e brancas, posicionando-as no tabuleiro. – Vai querer as brancas ou as pretas?
- Você não vai querer brincar comigo, não tem a menor chance de ganhar.
- Só pra você ficar sabendo, ninguém nunca ganhou de mim... quer dizer, só a princesa... é muito estranho, ela diz que não sabe jogar, mas ganha todas as partidas.
- Hum, você é que deve ser muito lerdo.
- Eu não sou lerdo.
- Me mostre, então. – Syaoran virou o tabuleiro pra ficar com as peças pretas, olhando seu oponente com um olhar desafiador. Eles perderam completamente a noção do tempo. Sora começou ganhando a primeira partida, o que deixou Syaoran muito irritado, se não tivesse ganhado a segunda, teria jogado tudo pelos ares, o que felizmente não aconteceu, sendo ele o vencedor. Na terceira, no entanto, Sora estava bem determinado e logo encurralou o rei de Syaoran.
- Cheque Mate.
- O quê??? Isso não está certo, você está trapaceando, seu monstrinho.
- Ainda sou lerdo?
- Só passou a ser um lerdo com um pouco de sorte.
- Mais uma vez?
- Com certeza. Vou acabar com você.
- Quero só ver.
Alguém voltou a bater na porta, sem esperar resposta, a pessoa entrou, era Asuka.
- Sora, que susto você me deu! Achei que você tinha saído.
- Estive aqui o tempo todo.
- Estão jogando? – Ela pareceu muito intrigada com a cena. – Desculpe, ele deve ter incomodado o senhor.
- Eh... não. – Syaoran se surpreendeu dizendo aquilo.
- Bem, o almoço está pronto, vamos!
Sora se preparava para guardar tudo quando foi interrompido.
- Nada disso. Não vai escapar tão fácil. Depois do almoço, minha revanche!
- Tá bom – Sora sorriu e os três desceram para o almoço.
Continua...