Real Life escrita por RTSM


Capítulo 3
Capítulo 2




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Acordei algum tempo depois com um tremor no avião. Ao meu lado uma mulher ruiva se sentava totalmente relaxada. Tentei fazer o mesmo, eu tinha pavor de turbulências. A melhor forma agora seria me distrair, então decidi puxar assunto com minha vizinha.
- Oi! Meu nome e Ruby Manshell! - eu disse com o sorriso mais simpático que eu tinha.
A mulher me lançou um olhar confuso e eu logo entendi. Ela não falava português. Agora eu iria testar minhas aulas de inglês.[ N/A: As partes em inglês serão escritas em português mesmo, mas ela vai falar quando for falar em português ]
- Ola! Meu nome e Ruby Manshell! - Eu disse em um inglês empacado.
- Ah! Sim. Meu nome e Vitoria! - Ela respondeu retribuindo meu sorriso.
- Onde estamos? - Foi difícil a pronuncia, mas ela entendeu.
- Quase chegando. Estamos em cima da floresta, ja podemos ver a cidade! - Ela me informou
Quando eu fui responder, uma luz se ascendeu a nossa frente e uma voz nervosa saiu da caixinha ao seu lado.
- Por favor senhores passageiros, coloquem o cinto. Enfrentaremos uma turbulência.- A voz do piloto apontava nervosismo e isso me faz ficar com medo.
Eu ja estava com o cinto e logo a cabine começou a tremer. Eu fechei minhas mãos e meus olhos ao mesmo tempo. A alguns anos atrais eu tive muitos pesadelos como esse e isso so me deixou com mais medo. O tremor aumentou e agora todos, ate Vitoria, estavam assustados.
- Senhores. Suas mascaras cairão a sua frente, mas não entrem em pânico. Perdemos uma turbina, mas chegaremos ao aeroporto. - Acho que todos concordaram comigo. A voz do piloto era de desespero e não ajudou nem pouco.
Meus olhos permaneciam fechados e as mascaras cairão a nossa frente. Eu podia ouvir as pessoas desesperadas para pegar as mascaras, mas eu sabia que não adiantariam. Eu ja havia voado varias vezes e sabia que, se perdemos uma turbina, de nada adiantaria a mascara durante a colisão do avião com o chão. 
Eu nunca tive medo da morte. E continuava assim nesse momento. Eu não me sentia como as pessoas diziam se sentir quando nos deparamos com a morte. Minha vida definitivamente não passava diante dos meus olhos. A unica coisa que se passava pela minha cabeça, era se iria doer. E que não era justo eu morrer tão cedo.
Um barulho horrível invadiu a cabine e eu senti o avião se inclinar, indo de parafuso diretamente para o chão. Minhas pálpebras se apertaram com mais força quando uma luz forte entrou pela janela. Eu ouvia os gritos a minha volta. Alguns pediam piedade a algum Deus e outros pediam por suas familias. Nesse momento a imagem da minha familia acenando pra mim no aeroporto, enquanto eu seguia para o avião veio a minha cabeça.
"Eu não queria me livra do meu inferno assim. Com a morte." Era so isso que eu pensava agora."Adeus a todos. Mãe talvez eu te veja em breve, mas ainda espero que não."
Não tive tempo nem de pensar mais. Eu puxei o ar para os meus pulmões com força e senti a colisão. Meu corpo foi jogado com força para frente, o cinto prendeu minha barriga ate doer e minha cabeça bateu forte contra algo muito duro. Isso foi o suficiente para que eu perdesse a consciência.
Não sei por quanto tempo fiquei desacordada. Logo eu voltei a mim, voltei a ouvir e isso não me ajudou. Algumas pessoas gritavam desesperadamente e outras respiravam pesadamente, com dificuldade. Meu corpo, ate então entorpecido, foi votando vagarosamente. Foi so ai que percebi que meu corpo inteiro estava doendo, meu coração, que pouco dava sinais de vida, batia lentamente e minha cabeça ardia ferozmente. Não tive coragem de abrir os olhos e ver os corpos a minha volta. Os gritos foram diminuindo e eu sabia que era porque as pessoas que sobreviveram estavam gastando suas forças ao gritar e isso so fazia com que elas morressem mais rápido. 
Meu corpo inteiro estava fraco, agora, nem se eu quisesse, eu conseguiria abrir os olhos, mas também não tentei. A cada respiração era como se entrasse ácido ao invés de ar por minha narinas. Ficava mais difícil de respirar a cada segundo e logo eu perdi a consciência novamente.
Sei que fiquei ali inconsciente por um bom tempo. De repente eu escutei um barulho alto, como se o avião fosse partido, e um vento leve. Eu percebi a presença de duas pessoas, pois elas conversavam , praticamente, ao meu lado.
- Esta ouvindo? - Perguntou uma voz suave, feminina e muito bonita.
- Sim. Ainda tem um coração batendo. Mas qual? - Outra voz muito bonita, mas masculina, respondeu.
Eu precisava avisa-los que eu estava viva, mas eu não tinha forças para nada. Ouvi um pequeno resmungo de minha boca quando tentei inutilmente falar. Mas acho que foi o suficiente para que me escutassem.
Logo senti o cinto ser solto com um estalo alto e dois braços gelados me envolveram. Senti meu corpo ser erguido e as vozes continuaram, mas agora um pouco mais alto e batia um forte vente em mim.
- Onde você vai? - Perguntou a voz masculina
- Leva-la para Carlisle! - Disse a voz feminina um pouco acima da minha cabeça, agora tinha certeza que ela que me carregava.
O homem falou mais alguma coisa, mas eu não ouvi. Nos parecíamos estar muito longe dele.
Eu não entendia mais nada. Quem era Carlisle? O que ele faria comigo?
Eu sentia minha consciência fugindo de mim novamente, mas eu lutava para que ela ficasse comigo. Os braços gelados que me seguravam, de alguma forma, fizeram com que meu corpo não doesse mais. Era como se fosse um anestésico. Estava muito ruim de respirar e eu sentia gosto de sangue em minha boca as vezes. Eu estava com medo, muito medo. Ja havia lido muitos livros de medicina, e sabia que, com a força que fui arremessada, poderia muito bem estar com algo muito danificado em minha barriga ocasionando uma emorragia interna. Não sei ao certo se daria tempo de me salvar, mas minhas esperanças eram quase nulas.
Por incrível que pareça, minha consciência ainda permanecia comigo. Nos  entramos em algum lugar, pois uma porta se abriu e logo se fechou atras de nos. Varias vozes começaram a falar ao mesmo tempo, mas era rápido de mais para que eu entendesse. A unica voz que era possivel distinguir, era da mulher que me carregava e ela gritava, chamando Carlisle.
Depois de varias vozes juntas e sem eu entender absolutamente nada, me passaram para outro braço igualmente gelado. Em segundos eu sentia que estavam me colocando em uma cama, muito parecida com a de hospital.
- Ela ainda esta consciente! - Disse uma voz masculina que parecia veludo.
- Temos que agir rápido! - Outra voz, também masculina, so que mais próxima, disse.
Senti mãos geladas e ásperas mexendo em meu corpo, me virando e me ajeitando. Segundos depois eu tinha certeza que estava morrendo. Algo muito afiado rasgou a pele do meu pescoço, depois dos meus pulsos e por ultimo, algo que parecia uma agulha, invadiu meu peito indo diretamente ao meu coração que quase não batia. Uma queimação começou em meu pescoço, depois meus pulsos, mas meu coração ainda batia. Por um momento eu pensei ter imaginado tudo isso, e eu devia estar no avião ainda, mas com a colisão, o avião explodiu e por isso eu deveria estar sentido meu corpo queimar daquela maneira.
Eu não tenho medo da morte e, por isso, não passaria meu últimos instantes de vida gritando e nem me esperneando. Minha unica reação foi apertar mais minhas pálpebras para que eu não visse mais nada. Eu so queria que acabasse logo.
Para o meu inferno total, a queimação não passou. Cada vez queimava mais e mais. Meu coração que quase não batia, agora estava começando a acelerar seu ritmo. Eu não sabia o que estava acontecendo comigo. Não era como nada que eu ouvi falar. Não tinham túneis escuros e nem luzes me chamando. Minha vida não passava diante dos meus olho, pra falar a verdade, eu nem pensava na minha vida nesse momento. A unica coisa que tomava minha mete era essa queimação que não tinha fim e era insuportável.
Eu não sabia a quanto tempo meu corpo estava queimando, mas tinha certeza que ja era pra mim ter morrido. Não havia explicação para isso. Com o passar do tempo, não sei exatamente quanto, eu comecei a ouvir algumas vozes. Algumas conhecidas outras não. As vozes que eu mais escutava eram a da mulher que me salvou e uma masculina que eu ouvi quando me colocaram na cama. 
Eu não tinha noção alguma de tempo, mas sabia que estava ali a muito tempo. Eu não gritei em momento algum. A dor era muito forte, mas eu procurei ficar quieta, pensar em outras coisas. Cheguei a cogitar a hipótese de estar no inferno e por isso estava queimando assim, mas se fosse isso eu não estava dando a mínima. Eu não me importava se quando morresse seria mandada para o inferno ou paraíso, eu so sabia que minha vida infernal estava acabada e isso não me incomodava nem um pouco. Eu nunca fui uma menina de ter sonhos de casar e ter filhos, pra mim isso eram historias inúteis que as meninas fantasiavam para ter uma esperança na vida. Eu era muito apegada a livros. Desde de que meus pais se separaram, eu lia livros atras de livros. Alguns sobre medicina, outros romance e alguns de terror, e o livro sempre se tornava minha vida naquele momento. Eu esquecia do mundo real e me colocava dentro do livro como um espectador atento. Por vezes eu fiquei de castigo e briguei com meu pai por ler de mais. Ele sempre queria que eu fosse uma menina como as outras, influênciavel e que so pensava em coisas fúteis, mas eu nunca fui. Como meu pai so me via duas vezes por mês, era fácil fingir que eu era tudo que ele queria que eu fosse quando estava perto dele, mas longe dele, eu era quem eu queria ser. Nunca tive mais que duas amigas de verdade, o dinheiro do meu pai influenciava muito as pessoas, e eu vivia em um  mundo so meu, dentro do meu quarto, e assim eu sonhava em me tornar maior de idade e viver uma vida so minha, sem ter que fingir perto do meu pai. Mas agora minha vida estava acabada. Meu avião caiu e eu não sabia se estava viva ou morta. A unica coisa que eu vivi, foi em um mundo de fingimento, onde eu tinha a esperança de escapar em breve.
Eu nunca fui um exemplo de beleza. Ate alguns meses atras eu era gordinha, o que causava muitas brigas com meu pai. Agora eu tinha um peso normal, cabelo castanho bem claro e não era muito alta. Eu sou, ou era, uma típica menina brasileira no quesito físico. Nunca liguei para namorados ou coisa assim, mas agora eu estava arrependida de não ter aproveitado essa parte. Pra mim isso so viria no fim da faculdade ou ate depois dela. Ate porque mesmo que eu quisesse eu não tinha muitos pretendentes. Meu pai falou uma vez que eu era uma aberração e morria de vergonha de ser visto comigo em publico. No começo isso me deixava muito deprimida, mas agora eu nem fazia questão. E agora eu estava morrendo, se ja não estivesse morta, e meu pai não precisaria mais ter vergonha de mim. Na verdade isso me deixava muito satisfeita. So se da valor nas coisas quando se perde.

 


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