– Lily nessa velocidade você seria um alvo fácil no campo de batalha! Vamos garota, mais rápido!

Um homem alto de cabelos negros e olhos castanhos gritava para Lily.

– calma Gui eu estou dando o melhor de mim!

– não é Gui! É comandante Gui!

– tsc! Que convencido.

Sayo resmungava em voz baixa, enquanto observava o treinamento de Lily.

– o que você disse Sayo?

Gui perguntava irritado.

– nada não Ave Maria que estresse.

Sayo dizia, demonstrando um certo medo.

Na mesma sala de treinos, porém um pouco distante, Vallery socava ferozmente um saco de pancadas. Seu desejo de ficar mais forte era gigantesco! As 6 horas de treinamento diário não eram suficiente para ela! E era por esse motivo que ela treinava todos os dias escondida durante a madrugada.

Um pouco distante dali, Lucy treinava com seu arco e flecha. Sua mira era precisa e seus erros eram raríssimos.

Parando um pouco devido ao cansaço, Vallery passou a observa-la.

– perdeu alguma coisa?

Lucy perguntou, incomodada com a situação. Assustada Vallery deu alguns passos para trás.

– bom eu... é que... bem...

Naquele momento a sirene tocou. Seguindo as normas da I.O.S todos correram em direção ao pátio principal.

“Salva pelo gongo ou melhor, pela sirene” Vallery pensou.

Já no pátio principal Blade aguardava. Seu rosto estava sério, parecia preocupado.

– recebemos uma chamada de emergência da Hinan do Sul! Ouve uma explosão e grande parte do muro foi destruído e uma enorme quantidade de Kotonarus invadiu a cidade. Como essa notícia chegou de repente os I.O.S não estão com uma quantidade de soldados disponíveis para essa missão no momento. Porque foram chamados aqui? Aqueles que estão preparados serão mandados para essa missão.

Naquele momento, todos ali presentes ficaram surpresos. Blade continuou:

– lembrem-se, ser membro da I.O.S é saber lidar com qualquer situação, isso inclui uma missão inesperada. Aqueles que se sentirem preparados para essa missão, deem um passo à frente. Qualquer um aqui dentro que não tomar essa decisão, não será culpado! Vocês são jovens... e inexperientes! Façam só aqueles que estiverem confiantes!

Começa então um alvoroço no pátio principal os 40 participantes restantes se entreolharam, alguns assustados, outros duvidosos...

– vamos! Façam logo sua escolha.

Blade gritou.

Todos se silenciaram... No meio de toda aquela agitação Vallery também sentia medo. Pensou em todos aqueles Kotonarus, e de como eles eram perigosos, ela sabia que ano que vem teria outra oportunidade então pra quê se arriscar dessa maneira. Foi então que uma pessoa saiu do meio de todas as outras. Seus cabelos negros, se movimentavam a cada passo que dava. Lentamente ela levou a mão ao rosto ajeitando seus óculos.

– eu vou!

Todos estavam olhando para ela. Naquele momento Vallery se sentiu pressionada, será que os motivos da Lucy eram mais importantes do que os delas? E se não forem? Mesmo assim ela se arriscou! Ela tem a coragem que Vallery não tinha! Sentindo suas pernas tremerem Vallery, ainda estava indecisa, o que fazer? Foi quando ela sentiu alguém esbarrar em seu braço.

– Lily?

Ela disse assustada. Sorrindo Lily apenas piscou.

– a minha família está lá, eles precisam de mim.

Em passos rápidos Sayo aproximou-se de Lily e tocou seus ombros.

– e eu vou te ajudar amiga!

– Sayo...

Lily exclamava animada.

Cada um tinha seu objetivo, algo pelo que seria capaz de lutar até o fim.

– eu também tenho!

Com essas palavras Vallery seguiu as três garotas.

Blade observava tudo em silêncio:

– o tempo acabou. Alguém mais?

Ninguém disse uma palavra sequer.

– então são apenas oito? Que vergonha! Fico feliz que o treinamento não tenha sido concluído! Se não no fim, teríamos talvez 10 covardes na I.O.S! Ser um soldado não é simplesmente ter força e habilidade, mas sim ser corajoso e estar disposto a ajudar os outros a qualquer custo.

Parando por alguns segundos ele observou atentamente todos aqueles meninos e meninas envergonhados.

– todos estão dispensados, com exceção dos oito soldados de verdade!

Depois que todos se retiram, Blade fez um sinal para os oito restantes o seguissem.

Eles se dirigiram então a uma espécie de sala de reuniões.

– sentem-se.

Seguindo as ordens de Blade todos se sentaram.

– como eu já havia explicado, a Hinan do Sul está correndo grave perigo!

Ao ouvir essas palavras Lily sentiu seu coração apertar.

– ainda restam sobreviventes?

Blade a observou por um tempo.

– Lily você teve muita sorte, o ataque aconteceu um dia após a saída da caravana dos jovens que se alistaram na I.O.S.

– Não sei se isso é sorte.

Lily dizia enquanto tirava uma mecha de cabelo do rosto.

– se você estivesse lá não poderia ajuda-los.

Blade disse na tentativa de acalmar a garota.

– talvez sim, mas me pergunto como poderei ajudar agora?

– agora você terá o armamento certo.

Blade dizia passado confiança para a garota. Lily sorriu, demonstrando estar mais aliviada.

Muito longe dali, Kannot convocou todos os Shikõs para uma reunião:

– recebi uma ligação da I.O.S.

– e daí?

Jon dizia demonstrando total falta de interesse. Ignorando o comentário de Jon, Kannot continuou:

– a Hinan do Sul foi atacada, e seus habitantes estão correndo grave perigo. Ao receber a notícia, imaginei que fosse o Jon...

– o que?

Jon gritava irritado.

– como eu estava dizendo... enviaremos uma tropa de 7 soldados no auxílio da I.O.S.

– pode me explicar quando nós viramos babá dos humanos?

Jon mais uma vez interrompia Kannot. Irritado, Kannot levantou sua mão esquerda e usando uma de suas técnicas especiais, lançou Jon para fora da sala e fechou a porta.

– eu não vi nenhuma necessidade de você tomar esse tipo de atitude.

Jon gritava do lado de fora da sala.

Raque ria muito daquela situação.

– eu estou te ouvindo pirralha.

Raque se silenciou demonstrando estar assustada.

– fique tranquila Raque, eu não vou deixar que ele te machuque.

Butcher dizia enquanto tocava os ombros de Raque.

– até parece que você vai ser algum tipo de obstáculo.

Jon ironizava ainda estando do lado de fora da sala.

– já chega Jon!

Kannot dizia mostrando estar estressado. Jon ficou em silêncio. Foi possível depois ouvir os passos dele se distanciando.

Kannot então respirou aliviado.

– continuando... A principal regra para os soldados que serão enviados é: não se aproximem dos humanos! A missão de vocês será apenas matar quantos Kotonarus conseguirem! Os humanos não devem saber dessa aliança em hipótese alguma, isso é para própria segurança deles!

Todos ficaram em posição de sentido.

– a demanda de Kotonarus é grande, mas não enviarei muitos soldados. Para essa missão enviarei os mais capacitados. Butcher, Jack, Allk, Andy, Nael e Marius.

Do fundo da sala um homem, tão alto quanto Butcher, magro e com pele morena, mantinha uma expressão séria e assustadora.

– cara feia é fome Marius!

Nael dizia enquanto observava o amigo.

– mas o senhor falou apenas 5 mestre Kannot.

Kannot olhou fixamente para Butcher e demostrando certa preocupação respondeu:

– a quantidade de Kotonarus é muito grande essa missão é perigosa até para vocês. O Jon e Dragon também irão para garantir que ninguém saia ferido.

– sair ferido? Mestre Kannot, os Kotonarus nunca foram problema pra nós.

– sim Jack, nunca foram... mas algo estranho aconteceu! Haviam três shikõs nas proximidades da Hinan do Sul. E eles desapareceram sem deixar vestígios! Não fomos avisados da aproximação desses Kotonarus, e essa era a missão daqueles shikõs!

– o senhor acha que eles podem ter sidos devorados pelos Kotonarus?

Allk perguntava assustado.

– só saberemos depois da missão.

Encostado em uma das paredes da sala um pouco afastado do grupo, Cute demonstrava estar triste. Percebendo o estado dele Butcher se aproximou.

– até o Nael foi chamado! E ele não faz nada além de folhear revista de mulher pelada!

Cute dizia mostrando uma certa revolta.

– não fique triste por não ter sido escolhido Cute, cada um tem uma função. Você é o cara dos recados.

– você não está ajudando...

– eu sei. Não era minha intenção mesmo.

Butcher dizia essas palavras seguindo com uma gargalhada.

– tsc, com tantas pessoas no mundo você tinha que ser meu irmão.

– vamos tropa! Partiremos agora!

Dragon dizia com voz autoritária.

Jon aguardava na porta encostado na parede. Pouco a pouco cada soldado passava por ele.

– ui, porque você não tenta pagar de líder durão agora que o Dragon está aqui?

Ignorando o comentário de Jon, Butcher continuou andando.

E assim os sete soldados shikõs, saíram em uma velocidade surpreendente em direção a Hinan do Sul.

Na Hinan do Norte todos os soldados estavam prontos e devidamente armados.

– vamos soldados!

Gui gritou alto. Todos os soldados ficaram em posição de sentido e cada um se posicionou em seus carros de combate. Após o sinal de Gui os carros aceleraram em alta velocidade.

Nas proximidades da Hinan do Sul a equipe Shikõ foi atacada por um grupo de Kotonarus. Distanciando os braços do corpo, Jack fez com que deles surgissem duas grandes armas e em um movimento rápido ela explodiu quantos Kotonarus seu campo de visão podia cobrir.

– tome cuidado Jack!

Allk gritava irritado, após proteger Jack de um ataque vindo dos Kotonarus.

Um pouco mais afastado Marius esmurrava e destruía inúmeros Kotonarus com os seus punhos, as mordidas dos Kotonarus não o afetava, sua pele era dura e resistente como uma espécie de armadura.

Ao lado dele Andy fuzilava os inimigos com apenas o movimentos dos dedos, seus poderes de mago eram surpreendentes.

Distante do campo de batalha Nael estava sentado em uma rocha, distraído com uma de suas revistas. Vários Kotonarus se aproximaram dele, com um movimento rápido ele sacou sua espada:

– lerigou!

Com apenas um golpe congelou todos os Kotonarus que o rodeavam.

Afastados dali, Butcher, Jon e Dragon observava a batalha.

– olhem aquilo! Tem mais um bando de Kotonarus se aproximando.

Butcher dizia apontando para um enorme grupo de Kotonarus que vinham em uma velocidade surpreendente.

– isso é muito estranho, tantos reunidos próximos a uma Hinan... Jon, você e Butcher vão agora para dentro da Hinan! Lá deve estar repleto de Kotonarus, mantenha a situação sobre controle até a chegada da I.O.S!

Jon apenas a acenou positivamente e junto com Butcher correu em direção a Hinan do Sul.

Alguns minutos depois os carros da I.O.S chegaram ao local.

– dividam-se em duplas e achem sobreviventes!

– vem Val!

Lily dizia puxando o braço da amiga.

Andando em passos vagarosos Lily e Val analisavam cautelosamente todas as direções. Lily sentia seu coração apertar, a visão da cidade estava completamente diferente. A cidade que antes era o centro tecnológico de toda a civilização humana, agora não passava de uma grande montanha de destroços.

– ai meu Deus!

Lily sussurrava ao se deparar com uma grande quantidade de corpos espalhados.

Vallery não disse nada, sabia que naquele momento nenhuma palavra seria capaz de consolar a amiga.

De trás de alguns destroços um Kotonaru espreitava as duas garotas. Notando a presença dele, Vallery empunhou sua espada. Ela estava com medo, suas pernas tremiam, mas ela sabia que aquele não era o momento de fraquejar.

O coração de Vallery estava acelerado ela podia ver a sombra da besta se aproximando... correr não valeria a pena! Com seus 3 metros e meio, na distância que ele estava, alcança-las seria questão de tempo, pouquíssimo tempo.

Foi então que o monstro se mostrou por completo, uma baba espessa e misturada com sangue escorria de sua boca, Vallery não conseguia falar, seu medo era muito grande. Atrás dela Lily estava de costas, chorava incessantemente, distraída não notou toda a situação.

Foi então que o Kotonaru avançou em uma velocidade surpreendente. Sem pensar duas vezes Vallery empurrou Lily para o lado e em um movimento rápido se abaixou com a espada em punho cortando assim um braço da criatura.

O sangue do Kotonaru cobria grande parte dos cabelos dourados de Vallery.

Assustada Lily estava imóvel no chão.

O inimigo estava ferido, mas não morto. Olhou então para Lily e rugindo avançou em direção a ela. Lily não conseguia se mover, estava aterrorizada.

– ei eu estou aqui!

Vallery gritava na tentativa de chamar a atenção do inimigo. Irracionalmente o Kotonaru foi atraído pela movimentação dos braços de Vallery. Percebendo que seu plano havia funcionado, Vallery então começou a correr desesperadamente a procura de um refúgio.

– ali.

Ela sussurrava para si mesmo ao ver o resto de uma casa que poderia servir como uma espécie de abrigo. Ela então correu mais rápido o Kotonaru estava se aproximando, rapidamente Vallery entrou na casa e fechou a porta. Um segundo após concluir esse movimento, o impacto gigantesco fez que toda a casa tremesse.

– meu Deus isso não vai aguentar por muito tempo!

Vallery dizia desesperada.

Em uma abertura pequena nas paredes da casa Vallery pode então avistar Lily.

– Lily pegue a arma e atire!

Vallery gritava, ao ver que Lily ainda estava sentada no chão, em choque.

– LILY SE VOCÊ NÃO FIZER ISSO, NÓS DUAS VAMOS MORRER.

Lily mal conseguia ouvir a amiga, a imagem do Kotonaru tentando derrubar a porta a deixou aterrorizada.

Dentro da casa, notando as primeiras rachaduras na porta, Vallery correu em direção a ela e de costas forçava seu peso contra a porta, na tentativa de reforça-la. Com lágrimas nos olhos e completamente desesperada Vallery gritava ainda mais alto.

– ATIRA! ATIRA! ATIRA! PELO AMOR DE DEUS LILY, ATIRA!

Ainda assustada Lily então sacou a arma e mirou no Kotonaru. Em um ato de desespero ela fechou os olhos e começou a atirar.

– Lily é para atirar nele não em mim, abra os olhos!

Vallery dizia ao ver os buracos de bala na parede próxima a sua perna. Notando então a presença de Lily o Kotonaru se virou e rosnando correu em direção a ela.

Percebendo o distanciamento do mostro Vallery abriu a porta da casa e correu em alta velocidade com a espada em mãos. Usando os destroços para ganhar impulso, Vallery saltou sobre o monstro e com apenas um golpe decepou a cabeça do Kotonaru que caiu em frente Lily.

Desesperada Lily atirou descontroladamente na cabeça sem vida.

– fica calma Lily.

Vallery dizia enquanto tocava o ombro da amiga. – você ainda vai precisar muito dessas balas.