Hinan escrita por Hakiny


Capítulo 42
Entre a Vida e a Morte: A escolha de Vallery




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— o que… O que é isso?
Com dificuldades Bisco lutava para tirar o enorme peso que tinha sobre seu corpo.
Após muito trabalho o garoto conseguiu se libertar e só depois notou que o que estava sobre ele era um corpo.
— Marius…
Bisco sussurrava enquanto se aproximava do amigo gravemente ferido.
— meu corpo é bem resistente.
Com os olhos fechados Marius murmurava com dificuldades.
— Marius!
As primeiras lágrimas brotaram no rosto do shikõ ileso.
— salve as pessoas que restaram Bisco, conclua a missão.
— por que fez isso? Por que me protegeu?
Bisco observava todas as queimaduras que o amigo havia adquirido.
— porque eu sou líder dessa missão, porque eu seria atingido de qualquer jeito…
Uma crise de tosse interrompeu a fala do shikõ —… porque eu quis.
— você vai se curar, logo vai estar bom, vai ver!
Bisco forçava um sorriso — ninguém derruba Marius a grande muralha!
— é…
Marius aos poucos perdia a consciência.
— ei! Ei!
Bisco chacoalhava o companheiro — você precisa se manter acordado! Se você resistir até que as feridas se fechem você…
Bisco sentiu sua garganta secar — Marius?
Marius…
Em meio aos gritos de desesperos na Hinan destruída, o choro de Bisco debruçado sobre o corpo de seu velho amigo morto, passava quase despercebido.
**
— o que está fazendo?
Dragon observava Lily posicionar o corpo de Vallery em seu colo.
— é magia de cura.
Lily respirou fundo — preciso me concentrar.
Sentiu o corpo desacordado se mover de seu domínio.
— Erii o que está fazendo?
A pequena maga se irritava ao ver o shikõ interferi mais uma vez.
— seja lá o que for fazer, faça em um local seguro!
Erii dizia enquanto erguia o corpo de Vallery no colo. Se virou para Dragon.
— cuidem dela, eu vou ganhar tempo.
Erii acenou e juntamente com Lily voltaram para junto do grupo.
— mestre! Acabe de uma vez com esses terráqueos!
Taiko reclamava.
— querido amigo, não seja antiquado. Vê o que acontece? Eu ainda não me diverti! Qual o sentido de estar aqui nesse planeta se eu nem posso me divertir?
Céverus reclamava como uma criança mimada.
— o senhor sabe o sentido…
Taiko acrescentava.
— verdade.
Céverus parecia pensativo — RAQUE!
O inimigo gritava eufórico.
Raque deu alguns passos para trás e logo em seguida teve sua frente tomada por Butcher.
— eu vou te proteger fique tranquila.
Raque apenas assentiu ciente de que aquelas palavras não traziam nem um pouco de segurança, não quando se tratava de Céverus.
— precisamos tratar de assuntos…
Céverus teve suas palavras interrompidas por um furacão de fogo. Um pequeno campo de força impedia que as labaredas o alcançassem.
— seu campo de força é imune a calor?
Dragon desafiava enquanto fazia com que as chamas ficassem mais intensas.
Céverus acenou negativamente com a cabeça.
— odeio que me interrompam.
Com apenas um sinal de mãos o inimigo reduziu o campo a poeira e em seguida avançou contra o fogo que o cercava, tão veloz que Dragon nem ao menos pode perceber que ele já havia deixado o campo de batalha.
Com os olhos arregalados, Raque sentiu uma dor que não poderia descrever em palavras. Lentamente voltou seus olhos para baixo e viu que a mão de Céverus havia penetrado seu abdômen. Após alguns segundos de confusão a garota teve um espasmo e em seguida deixou que uma significativa quantidade de sangue vazasse de sua boca.
Ainda apática, Raque usava os ombros de Céverus como apoio, pois sentia que lentamente suas forças estavam se esvaindo.
— aqui!
Céverus sorria enquanto retirava sua mão ensanguentada de dentro da garota, junto com ela veio uma esfera de energia cor-de-rosa.
— Mizuno, Mizusha lhes apresento “O Bem”.
O inimigo dizia enquanto erguia a esfera.
As duas gêmeas permaneceram em silêncio enquanto olhavam admiradas para a relíquia sagrada.
— a grande esfera de bondade que arrancou vocês de seus lares e as obrigou a vigiar uma sala vazia por anos! Para que? Distração! Com todas as atenções voltadas para a sala sagrada, quem imaginaria que o bem mais precioso do planeta seria escondido dentro da sementinha do mal?
— o que… o que é isso?
Raque agonizava diante do inimigo.
— nem você sabia. Provavelmente foi colocada dentro de você quando ainda era um bebê. Meu irmão era muito esperto.
Céverus sorria admirado.
— quer saber como eu descobri sobrinha?
O miraniano encarava a garota.
**
— Erii você não pode fazer isso! Erii a Raque ta em perigo!
Lily socava descontroladamente a parede de pedra erguida pelo shikõ no momento em que notou a presença de Céverus.
— e você pretendia fazer algo em relação a isso, não pretendia?
— claro que sim! É a Raque! A nossa Raque!
A pequena maga demonstrava revolta em sua voz.
— então a parede permanece.
Sayo e Lucy permaneciam em silêncio também escondidas atrás da proteção.
— ERII VOCÊ É UM IDIOTA!
— Lily.
Sayo sussurrava.
Lily voltou sua atenção para a companheira — a Val…
— mas a Raque…
— a Val também pode morrer Lily.
Lucy completava.
A garota permaneceu em silêncio por alguns segundos.
— Jon…
Lily sussurrou — faça valer as esperanças que foram depositadas em você.
Uma pequena lágrima de angústia regava as orações da jovem maga.
**
— acho injusto que o seu pai tenha todo esse preconceito em pôr você no trono!
Uma bela garota de longos cabelos castanhos questionava enquanto enrolava uma mecha de seus fios nos dedos.
— talvez eu não seja a pessoa mais indicada para lidar com essas questões de governo.
Com a mão atrás da cabeça, deitado na grama, Jon observava o sol matutino.
— mas você é forte, corajoso e determinado!
A menina dizia com um tom de voz esperançoso.
— também sou teimoso, egoísta e individualista.
Jon rebatia.
— coragem é a maior virtude de um homem Jon.
— Jordy a maior virtude de um homem é a força.
Jordy o encarou.
— você é forte.
— não é desse tipo de força que falo.
— quem não tem medo é forte.
A garota dizia com um sorriso.
**
— eu tenho medo amor… eu tenho medo.
Deitado em uma montanha de rochas fragmentadas Jon chorava como uma criança.
Aquelas lembranças dolorosas eram como toneladas em cima de seus ombros. Talvez o velho Kannot estivesse certo, talvez soubesse o tempo inteiro que no momento certo ele falharia.
— eles precisam de você.
Uma voz familiar fez o shikõ tremer.
— Layla?
O shikõ se sentava na tentativa de encontrar a origem da voz.
— você não tem tempo pra soneca maninho.
A jovem garota de pele pálida e longos cabelos negros estava ali diante do shikõ, trajando seu belo vestido branco, feito sob medida, o mesmo que ela usava no dia de sua morte.
Jon sentiu seu corpo gelar, não era uma lembrança, ele estava acordado, estava de olhos bem abertos.
— oh droga! Devo estar gravemente ferido, tenho até alucinações.
Jon dizia enquanto se jogava novamente no chão.
— pode ser…
Layla se aproximava — mas não é motivo pra você ficar aí deitado.
— se estar gravemente ferido não é motivo para estar deitado…
— ahh você entendeu!
Layla carregava revolta em sua voz.
Jon sorriu ao ver que sua irmã havia caído em suas provocações, lembrou-se o quanto essas discussões eram comuns e divertidas.
— idiota.
Layla dizia enquanto chutava a perna do irmão.
Jon gritou.
— já está curada Jon! Você é um shikõ, não precisa de tanto tempo pra se curar.
Layla questionava.
Jon suspirou e mais uma vez deitou sua cabeça no chão duro.
— eu não quero voltar pra lá Layla… não quero.
Talvez o desesperou fizesse com que Jon desabafasse com o fantasma imaginário de sua irmã, ele não sabia bem, mas as palavras apenas fluíam tão naturalmente que ele não se importava.
— o papai sabia bem o porquê havia te escolhido.
Layla se sentava ao lado de Jon.
— me escolhido…
Jon bufava — só assumi o comando quando ele morreu porque o resto tinha medo de mim. O velho não tinha fé em mim Layla, nunca teve. E eu não o culpo.
— você é burro.
Layla encara o irmão cinicamente. Jon se calou — ele sempre soube que seria você. Ele nunca te disse isso porque você não estava pronto, mas ele sabia que um dia estaria, e quando esse dia chegasse seria um líder tão bom quanto ele. A vida te capacitou Jon, e você sempre provou ao nosso pai que era merecedor de assumir o império que ele havia construído. Nunca foi o Dragon. Ser pacífico não o impediu de abandonar a sociedade inúmeras vezes. Mas você sempre permaneceu, mesmo do seu jeito torto você nunca abandou os seus companheiros. A maior virtude de um homem não é a coragem, muito menos a força! A maior virtude de um homem é a lealdade! O resto se acrescenta na necessidade. Se para ser fiel aos seus companheiros você precisa lutar, você luta! Mesmo que o medo lhe faça tremer a espinha. Se é da força que você precisa, a fidelidade lhe fará encontrá-la a qualquer custo! Pois enquanto alguém precisar de você, seu coração não vai parar.
As palavras de Layla fizeram Jon sorrir.
Vagarosamente a menina se pôs diante do shikõ e beijou sua testa — eu confio em você.
— eu te amo.
Jon sussurrava de olhos fechados.
— eu te amo.
Jon nunca soube se Layla se incomodou de vir do mundo dos mortos para o despertar de seus medos ou se aquilo havia sido apenas fruto de um delírio qualquer. Mas assim que abriu os olhos ela não estava mais ali.
**
O sangue quente escorria pelo corpo de Raque e aos poucos ela se sentia mais pesada. As palavras venenosas que Céverus pronunciava não passavam de sons estranhos para a garota ferida que nem sequer entendia o que se passava ao seu redor.
Confusa ela buscava por seus amigos, ao seu lado Allk estava desacordado, um pouco mais a frente Butcher se encontrava da mesma forma. Ela não entendia como tudo havia acontecido tão depressa. Aos poucos a garota se deixava levar pela sonolência que a tomava por completo. Talvez fosse mais fácil se deixar ir, já havia doído tanto. Talvez fosse mais adequado se juntar aos seus pais no mundo dos mortos e ao Kannot.
— ainda não!
Céverus gritava enquanto balançava a garota bruscamente — não quer saber como eu descobri?
O miraniano sorria diabolicamente diante da menina indefesa em suas mãos.
— me deixe em paz…
Sem forças Raque tentava se livrar.
— Ally.
Os olhos de Raque se arregalaram. Já fazia tanto tempo que não ouvia aquele nome.
— o que tem meu irmão?
A garota perguntava temendo a resposta.
— depois de alguns anos de tortura ele finalmente desembuchou. Mas devo admitir que ele era um garoto forte! Ossos quebrados, minutos submerso, choques…
Céverus contava com empolgação — ele se mantinha fiel aos segredos da família! Fiel a você. Quando ele morreu…
Raque sentiu seu corpo desabar, mas Céverus a segurou em pé.
— opa!
O inimigo sorria — escute seu tio até o final!
— maldito! Desgraçado!
Raque mais uma vez tentava se livrar, em vão.
— isso! É disso que eu estou falando! Chega de brincar de casinha! Chega de brincar de família feliz! Você não nasceu pra ser uma boa menina. Você é nada mais nada menos do que a minha sucessora.
Céverus agarrava firme os ombros de Raque, que chorava desesperadamente.
— deixe esse ódio fluir, alivie a dor, faça com que os outros sintam a sua dor.
Os olhos demoníacos de Céverus pareciam querer penetrar a alma da jovem maga.
— eu não te odeio.
Raque havia cessado seus movimentos, sua voz agora era serena.
— não?
Céverus carregava em sua expressão uma mistura de surpresa e cinismo.
— sinto pena.
Raque o encarava. O inimigo agora estava sério — pena de alguém que nunca conheceu afeto, carinho. Que trilhará seu caminho só e quando cair, porque você vai cair Céverus todos caem… quando você cair ninguém vai te ajudar. Provável que façam fila para cuspir no que sobrar de sua existência que você julga tão colossal.
— eu não preciso de compaixão.
Céverus carregava ódio em sua voz.
— e nunca terá.
Raque sorria cinicamente. A garota respirou fundo, juntando o pouco de força que ainda lhe restava — acaba comigo Céverus! A morte parece mais agradável do que seguir os passos de um ser tão deplorável e digno de pena.
A expressão dura de Céverus foi substituída por um sorriso de satisfação.
— não.
O inimigo se aproximou do ouvido da garota — eu vou matar todos os seus amigos, humanos e shikõs… Todos os habitantes desse planeta. Mas você não, você eu vou deixar viva, desfrutando as bênçãos da flor de Miran. Depois de alguns anos cercada de culpa, solidão e autopiedade, junte forças o suficiente, dessa que você tanto despreza e venha me procurar.
Uma lágrima de desespero escorreu do rosto da jovem garota. Que destino cruel a aguardava. A flor de Miran não era mais bênção e sim uma maldição que a condenaria ao sofrimento e ao destino que ela mais temia, mas desde o nascimento foi destinada. Destino. Sempre tão irônico.
— Raque…
Uma voz fraca quase inaudível ecoava de uma direção qualquer. Raque não se importava. Nada mais importava. Uma explosão seguida de várias outras abalavam o solo. Raque mais uma vez sentiu seu corpo sendo agarrado com força. Abriu seus olhos com dificuldades, lá estava Butcher, prestativo e fiel como sempre. Carregava um ferimento grave no braço, mas isso não o impediu de erguer a garota com segurança. Raque sentiu seu corpo pousar delicadamente no chão e logo em seguida ouviu alguém gritar seu nome. Provavelmente aquilo foi a última coisa que a garota ouviu antes de ser tomada por outros braços. Dessa vez os braços frios da morte.
**
— ela não ta respirando!
Lily gritava desesperada enquanto checava a pulsação de Raque.
— Lily acalme-se! Ela vai voltar.
Erii tentava acalmar a garota.
Lily respirou fundo e acenou positivamente com a cabeça na tentativa de manter a calma. Levantou-se depressa e voltou sua atenção novamente para Vallery.
Todos permaneciam em silêncio enquanto do outro lado do muro uma verdadeira guerra acontecia.
Lily pronunciava palavras em um idioma desconhecido pelos demais, uma energia clara cercava o corpo inconsciente da guerreira.
— vamos lá Val!
Lily sussurrava em meio a lágrimas desesperadas — você precisa colaborar.
Por mais distantes que estivessem aquelas palavras foram ouvidas.
Aos poucos a guerreira abria os olhos.
— não imaginei te ver aqui tão cedo.
Uma voz masculina fez a guerreira se levantar rapidamente.
Diante de seus olhos estava o inacreditável.
— pai…
Algumas lágrimas brotavam dos olhos de Vallery.
— como você cresceu.
Ela não sabia se era real, e na verdade não fazia diferença, instintivamente correu em direção a Zaikki e o abraçou com todas as forças que tinha.
— eu… eu senti tanto a sua falta!
Vallery chorava como uma criança, enquanto sentia o afago do pai em seus cabelos.
— eu estava com você o tempo inteiro.
Um sorriso emocionado surgia nos labios da guerreira.
— eu sinto muito…
Vallery chorava enquanto mais uma vez o abraçava.
— por que está se desculpando?
— eu não fui capaz de vingar a sua morte, eu… eu não consegui ser forte o suficiente, mas eu juro que treinei todos os dias eu…
— shiii
Carinhosamente Zaikki pressionava seu dedo indicado contra os lábios de sua filha — eu é que peço perdão. Por causar tanto alvoroço em seu coração. Tudo o que seu velho pai queria era que você crescesse, estudasse, se apaixonasse, se casasse e fosse feliz ao seu modo.
Aquelas palavras já haviam sido ditas, mas recebidas com ódio. Tantos erros, tantos arrependimentos. Mas nada importava agora.
— eu estou morta?
Vallery olhava ao seu redor. Ela estava exatamente no mesmo lugar porém o ar era tomado por uma cor azul escura.
— ainda não.
Zaikki apontava para um fino fio prateado que estava amarrado no pulso de Vallery. Curiosa Vallery seguiu o fio com os olhos e logo encontrou seu corpo, a imagem de Lily ao seu lado estava meio apagada, porém visível.
— eu vou morrer?
A garota usava seus braços para se proteger do frio que aquele lugar fazia.
— se depender da sua amiga, não. Mas não depende só dela, depende de você.
Vallery voltou seus olhos para os de seu pai.
— como assim?
— Lily está mantendo uma abertura entre essa dimensão e a outra. Está dando a chance de sua alma voltar. Esse fio prateado é a sua guia para seu corpo.
— eu estou bem aqui.
Vallery dizia com firmeza na voz.
Zaikki riu por alguns segundos.
— bem…
A garota o encarava confusa — você sabe ao menos aonde está?
Vallery pensou por alguns segundos, nenhuma resposta vinha em sua cabeça. Já havia ouvido falar do céu e do inferno, mas nada naquele lugar se parecia com o que diziam.
— o mundo dos mortos.
Vallery arriscou.
— não.
Zaikki a encarou.
— vê ali seus companheiros.
O soldado apontava para o grupo — eles parecem mortos pra você?
Val negou com a cabeça — exato. Estamos no mundo dos vivos, milhões de nós! Há mais de 300 anos ninguém passa daqui. Aqui não é nem de longe o céu, é um intervalo eterno entre a morte e a vida.
Talvez esteja mais próximo do inferno. Pois somos torturado diariamente.
Vallery arregalou os olhos, aquelas palavras não faziam o menor sentido para ela.
Zaikki continuou — todos os dias, quando o sol se põem, revivemos nossas mortes! E ressuscitamos quando a noite aparece. Todos os dias, sem falta.
— mas… por que?
Vallery estava antônita.
— uma maldição talvez. O ódio dos mortos não os deixa descansar. A maldição do filho mais novo afeta tudo Vallery. Tudo. Há muitos anos pessoas ignorantes mexeram com o equilíbrio do universo. Não se pode mudar a alma das pessoas, nem o mais poderoso dos feitiços pode fazer isso. Não sem consequências.
— e como faz isso parar?
A guerreira dizia com angústia na voz.
— acabando com a maldição.
— matando o Céverus…
Vallery sussurrava.
— e a Raque.
Os olhos de Vallery se arregalaram.
— mas ela…
— ela é a última da linhagem de amaldiçoados.
Zaikki estava sério.
— ela é boa. Não somos muito chegadas, mas ela é importante pra Lily!
— por quanto tempo? E mesmo que ela permaneça assim para sempre, poderá ter filhos, netos e a linhagem continuará! Em algum momento o mal será despertado.
— ela não tem culpa de ter nascido assim…
A guerreira desviava o olhar.
De repente Vallery sentiu seu corpo sendo arrastado e antes que pudesse piscar estava diante de um cenário de destruição.
— Hinan…
Ela dizia em voz baixa enquanto contemplava o inferno.
— algumas centenas de pessoas sobreviveram, milhares de mortos. E bom, os kotonarus vão terminar o trabalho.
Zaikki dizia com um tom de voz calmo.
— NÃO!
Vallery se alterava — pai como pode falar isso com tanta naturalidade? A gente ta falando da morte de pessoas… pais de família, filhos, esposas…
— pra que você entenda que isso não vai acabar! Até que a maldição seja extinta!
— eu não vou matar uma criança!
— moça…
Uma voz delicada surgia de trás de Vallery. Virando-se vagarosamente Vallery então reconheceu aqueles belos olhos azuis, cercado pelos cabelos negros e ondulados da bela garotinha de 8 anos.
— E-Emily…
Vallery tentava entender o que se passava.
— moça eu estou perdida! Você viu minha mãe, moça?
A garotinha parecia confusa. Diferente de Lily, Lucy e Sayo, Emily estava tão nítida quanto Zaikki. Tão nítida quanto qualquer outro morto.
— ela… ela está…
Vallery buscava respostas no rosto de Zaikki. Sem pronunciar nenhuma palavra, o homem apenas acenou positivamente com a cabeça.
Lágrimas escorriam pelo rosto de Vallery, que desesperadamente abraçou a garotinha.
— Vallery o que você tem?
Emily parecia confusa.
— Emily como você se perdeu da sua mãe?
Vallery dizia com uma voz de choro, seu coração batia forte, a resposta poderia tornar tudo aquilo mais doloroso do que já estava.
— eu e a mamãe estávamos em um abrigo cheio de gente, aí veio um barulho alto e depois tudo começou a cair.
A menina explicava gesticulando como qualquer criança de sua idade — eu tenho certeza que não soltei a mão da minha mãe…
Vallery tinha a sensação de que seu corpo desmoronaria a qualquer segundo. A explosão havia ceifado a vida de Emily. Havia atingido a área segura da cidade. Ou pelo menos deveria ser segura.
— eu vou te levar pra sua mãe.
Vallery encarava a garotinha — eu prometo. Cuide dela.
Vallery se virava para seu pai.
— aonde vai?
Zaikki a encarava.
— cumprir algumas promessas.
— vingança?
— justiça.
**
Um estrondo denunciava o choque de um corpo contra o muro de pedra.
— quem será que foi?
Sayo sussurrava.
— com certeza não foi Céverus.
Lucy encarava a barreira sólida que já apresentava algumas rachaduras.
— Butcher…
A guerreira pressionava suas mãos contra o peito, visivelmente preocupada. Em silêncio, Lucy apenas suspirou.
— quanto tempo vamos ficar aqui? Paradas… ele vai matar aqueles três e depois nós seremos os próximos!
Sayo se mostrava impaciente.
— que diferença faríamos no campo de batalha? Somos apenas humanas Say… nesse momentos, somos impotentes.
— uma diferença maior do que a que fazemos de trás dessa droga de muro de covardes!
— Sayo!
Lucy puxava o braço da guerreira que se dirigia ao campo de batalha.
— eu fui criada por duas mulheres fortes Lucy.
Sayo dizia em voz baixa enquanto balançava delicadamente sua shuriken.
— duvido que elas tenham enfrentado um inimigo alienígena, com forças extraordinárias.
— pior que isso. Elas enfrentaram a dura e impiedosa vida.
Sayo sorriu para a amiga, que sem mais esforços soltou seu braço.
— proteja a Lily.
A voz firme de Erii fez com que as duas garotas se assustassem.
— Erii…
Lily sussurrava enquanto observava o companheiro contornar o muro de proteção — eu confio em você.
Um pequeno sorriso surgia no rosto da garota.
**
— vocês são muito resistentes.
Céverus sorria entusiasmado enquanto.observava os três shikõs exaustos e cobertos de feridas — já faz quatro anos que não me divirto tanto!
Uma cratera se abriu debaixo dos pés de Céverus. Habilmente o miraniano saltou para uma distância segura, mas antes que pudesse aterrissar teve sua perna envolvida por várias raízes e foi arremessado violentamente contra o solo, causando uma pequena explosão.
— rápido…
Céverus se levantava tranquilamente. Antes que pudesse se por de pé foi atacado por uma chuva de pedras gigantes, todas resumidas a poeira pelo fio de sua espada afiada.
— Erii…
Céverus guardava a espada — ouvi falar muito bem de você. Humano, resistiu a transformação, resistiu a lavagem cerebral, resistiu a força de um guardião…
— matei seu soldado mais poderoso, retomei controle sob meu corpo…
Erii o encarava.
— Eize.
Céverus lamentava — agora devo buscar por vingança certo? É o costume desse planetinha.
Erii tremeu. Céverus sorriu. Uma forte ventania tomou conta do local, uma onda de energia envolvia o corpo do inimigo. Uma pequena liberação de poder fez com que todos caíssem de joelhos e destruiu o muro.
— Lily!
Erii buscava pela garota.
— eu estou bem!
A voz fina de Lily fez o shikõ se acalmar.
— foque na batalha.
Céverus dizia enquanto acertava um soco em cheio no estômago do shikõ, o fazendo rolar várias vezes no chão até chocar-se contra algumas rochas.
— precisamos ajudá-lo.
Allk dizia em meio a sua respiração ofegante.
— não! Vocês dois precisam se curar. Eu vou ajudá-lo.
Dragon dizia enquanto ía em direção ao inimigo.
— desculpe a demora.
Dragon sentiu uma mão em seu ombro e logo foi ultrapassado por uma imagem familiar.
— pensei que tinha amarelado.
Dragon dizia com um sorriso.
— descansar antes de uma batalha é essencial não acha?
Jon piscou para o irmão mais velho.
Dragon cessou os seus passos. Havia entendido o recado, era hora de revezar.
— Céverus! Querido Céverus!
Jon fez o inimigo parar sua caminhada ameaçadora rumo à sua presa.
— líder dos shikõs!
Céverus abria um sorriso amigável para o recém chegado.
— peço desculpas por subestimar suas capacidades.
Jon também se mantinha pacífico diante do inimigo.
— não se preocupe é a reação natural de qualquer um que não me conheça.
— bom.
Jon retirou sua espada da bainha.
— ainda tem uma?
Céverus observava a arma do adversário.
— eu sempre tenho uma lâmina de reserva.
Jon sorria.
— vamos retomar então?
Céverus o encarava.
— mas é claro.
Jon retribuiu o gesto.
O ar estava pesado devido a liberação de poderes dos dois adversários.

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