Heimkehr escrita por Rocker


Capítulo 9
Capítulo 8 – Escondendo


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que demorei bastante, mas minha vida está mais complicada nos últimos tempos. Quase não tenho tempo nem para pensar em escrever, mas farei o possível para fanfic não entrar em um hiatus tão prolongado!
Nesse meio tempo acabei postando uma one shot aqui e ali, passem no perfil e deem uma lida ;)



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Capítulo 8 – Escondendo

Ian surpreendeu-me com um abraço. Ainda um pouco nervosa e receosa, eu envolvi meus braços ao redor de sua cintura, sentindo o conforto de um abraço familiar. Ian era dono de um dos melhores abraços, e senti-lo naquele momento me fez sentir em casa.

— Como isso aconteceu? – ele perguntou quando nos separamos, observando o arco prateado ao redor da minha íris.

— Bem... – eu pigarreei para tentar desfazer o nó em minha garganta. – A Alma que está aqui é de um grupo rebelde que recupera humanos, mas quando ela teve acesso às minhas memórias, ela decidiu me devolver o controle do corpo para voltar. – resumi em poucas palavras. Ter que ficar sempre explicando seria cansativo demais.

Ian franziu o cenho e ficou em silêncio. Peg e Melanie não trocaram uma palavra sequer, assim como Lua em minha cabeça. O silêncio interno e externo começava a me incomodar, mas eu sabia que Ian estava tentando compreender minhas palavras. Ele trocou olhares com as garotas e voltou a observar meu rosto. E então simplesmente balançou a cabeça negativamente.

— Acho que depois de Peg ter aparecido aqui eu sou capaz de acreditar em qualquer coisa. – ele murmurou, acho que mais para si mesmo do que para nós.

Isso quer dizer que ele acreditou?, perguntou Lua dentro de minha mente.

Acredito que sim, eu respondi-lhe, tentando acreditar em minhas próprias palavras.

— Isso quer dizer que...? – insinuei.

— Que acredito em você, Mely. – Ian disse com um sorriso no rosto. – Bem-vinda de volta! – exclama, dando-me mais um abraço. – E qual o nome da Alma?

Lua... Qual seu nome inteiro mesmo?, perguntei, levemente envergonhada.

Quase pude ouvir um riso dentro de minha mente. Brilho Prateado do Luar.

— Brilho Prateado do Luar, mas eu a chamo de Lua. – repassei a informação.

— Diga a ela que é um prazer conhecê-la. – ele disse, com um sorriso aberto.

Ouviu, né?

Agradeça a ele, Lua respondeu.

— Ela mandou agradecer. – repassei novamente.

— Ian, você pode levá-la para tomar um banho? – perguntou Peg, pegando a sacola de minhas mãos. – Ela sabe o caminho, mas você tem que evitar que a descubram.

— Ah, claro. – ele assentiu prontamente.

— E leve-a a Doc depois, ele precisa ver se não há nada errado. – ela completou.

— E quanto aos outros? Quando vou vê-los? – perguntei, mas eu sabia que todos entenderiam a pergunta implícita em minha voz. Quando eu poderia ver Jamie?

Melody, vá com calma, sussurrou Lua em minha mente. Não se precipite, Jamie pode não ser tão compreensível já que ele havia sido o mais atingido pela sua suposta morte.

Eu odiava admitir, mas Lua estava certa.

Eu sempre estou certa, Lua se gabou, de brincadeira.

Revirei os olhos mentalmente.

— Vamos com calma, Melody. – disse Melanie, colocando a mão em meu ombro. – Vamos comunicar a Jeb primeiro e o levaremos até você. Espere até amanhã, até prepararmos o terreno para Jamie. Apesar de várias Almas terem chegado até aqui, nunca antes uma Alma havia cedido o corpo para o hospedeiro.

Assenti, sentindo o desânimo me atingindo. Eu sentia praticamente em minha pele o fato de que Jamie não estava mais que um quilômetro longe de mim. Ele estava perto, extremamente perto, mas mesmo assim eu ainda não poderia vê-lo. Tentei dizer a meu coração que eu conseguiria esperar mais algumas horas, mas será que eu realmente conseguiria?

Consegue sim, Lua disse em minha mente com convicção. Você é forte, Melody, e precisa estar bem para vê-lo de novo. E lembre-se também que será mais difícil convencer a ele do que a qualquer outra pessoa por aqui.

Você tem razão, admiti. Eu não sei nem se ele vai acreditar em mim.

— Tudo bem. – disse em voz alta para Melanie, Peg e Ian. – Acho que estou mesmo precisando de um banho. – eu disse, fazendo uma careta para minhas roupas sujas e com cheiro de suor.

As meninas riram.

— Leve-a logo, Ian, vou buscar algumas roupas. – disse Melanie.

— Vamos então, nojentinha. – disse Ian, meneando com a cabeça e indicando que o seguisse.

Balancei a cabeça, com um sorriso incrédulo nos lábios, enquanto eu o seguia pelo labirinto de corredores. Depois de certo tempo, o piso começou a descer em um ângulo mais acentuado. O terreno era irregular, mas seguro o suficiente. Eu conhecia aquele lugar com a palma da minha mão, e eu sabia que estávamos chegando ao cômodo dos banhos. Conforme descíamos mais e mais para baixo, o calor e a umidade aumentavam. Um arco, vasto, brilhava com luz em movimento. Era pura e branca, mas brilhava em um ritmo dançante estranho. Senti o calor, a umidade; como uma parede de vapor, ar pesado passava por minha pele. Minha boca se abriu automaticamente e eu tentei puxar o ar denso. O cheiro era mais forte do que antes – o mesmo sabor metálico que ficava na garganta e que a água possuía.

As vozes que muitas vezes vinham aos sussurros não estavam ali naquele momento e fiquei confusa entre agradecer ou desconfiar.

— Onde estão todos? – sussurrei a Ian, sabendo que qualquer tom de voz mais alto que o necessário chamaria a atenção se houvesse alguém por perto.

— Já está de noite, Melody. Tarde, na verdade. – Ian murmurou de volta.

— E por quê você estava acordado ainda então? – perguntei, ainda confusa.

— Peg estava demorando para chegar, então fui procurá-la. – ele assumiu, parecendo um pouco envergonhado enquanto coçava a nuca. Olhei-o maliciosamente pelo canto do olho. Ian pigarreou antes de continuar. – De qualquer maneira, devem estar todos dormindo. Então não precisa se preocupar, não deve ter ninguém por aí.

Dei de ombros, seguindo à frente. O teto era brilhante como no grande salão, só que mais baixo. A luz dançava no vapor, criando uma cortina brilhante que quase me cegava. Como eu estava acostumada, porém, minha visão logo se normalizou. O cômodo se abriu diante dos meus olhos numa visão familiar. Dois rios corriam pelo espaço escuro. Era esse o barulho murmurante que eu ouvia- a água passando pelas rochas vulcânicas roxas. Era na verdade nó um rio e um pequeno riacho. O riacho era mais próximo, um fio raso corria prateado pela iluminação do teto.

O rio era negro, submergido por baixo do piso da caverna, exposto por erosões largas que havia na caverna. Os buracos tinham uma aparência escura e perigosa, o rio mal era visível e corria violentamente para um destino invisível e imaginável. A água parecia borbulhar, tanto era o calor e vapor produzido por ele. O som, também era de água fervendo. No teto várias estalactites pingando nas estalagmites abaixo de nós. Três deles haviam se encontrado formando uma coluna fina e negra entre os dois rios.

Era um lugar lindo, e Lua via através dos meus olhos com uma surpresa incrédula.

Nossa!, ela exclamou em minha mente. Esse lugar é magico!

Você ainda não viu nada, respondi-lhe, sorrindo por dentro e por fora.

— Aqui, Mely. – Ian estendeu-me um sabonete antes que eu seguisse em frente. – Tem sorte que eu estava voltando do meu banho quando fui atrás de Peg.

Peguei o sabonete de sua mão, sorrindo em agradecimento.

— Obrigada, Ian. – eu disse, e fui em direção à piscina de água escura que servia como banheira de banhos.

Tirei as roupas com cuidado, dobrando-as juntas e as colocando no canto, logo à beirada da banheira. Fiz uma trança lateral em meus cabelos para não os molhar.

Toma cuidado, não quero que nos machuquemos, advertiu Lua.

Sorri com o tom de preocupação em sua voz. Não se preocupe, Lua, fiz isso milhares de outras vezes.

Nua e com certo desconforto, entrei devagar na banheira. Sentindo a corrente nos tornozelos, eu mergulhei na água fresca. Esfreguei minha pele, cada centímetro e por vezes necessárias para limpá-la completamente. Ardia onde encostava em minha pele, talvez por não estar mais acostumada. Depois eu peguei minhas roupas, usando a oportunidade para limpá-las. Sorte que estavam apenas suas, e não rasgadas. Mergulhei várias vezes na água, para tirar a sensação de ardência, e fiz o mesmo com as roupas. Quando percebi que não tinha roupas secas, eu arregalei os olhos.

E agora?, perguntou Lua em minha mente, parecendo também preocupada.

— Mely? – ouvi a voz de Melanie se aproximando e suspirei em alívio.

Ela havia ido buscar roupas secas para mim.

— Melody, aqui suas roupas. – uma lanterna foi acesa próxima a mim, e eu fechei rapidamente meus olhos pela ardência.

— Ah, obrigada, Melanie. – agradeci, enquanto saia da água, me secava rapidamente e vestia as roupas secas.

Saímos da caverna em silêncio e não vi mais Ian nos esperando.

— Ian foi atrás de Jeb. – afirmou Melanie, antes mesmo que eu tivesse a oportunidade de responder. – Ele já deve estar esperando no hospital. Não podemos nos demorar.

E não demoramos. O que pareceram milhares de corredores depois estava a sala não tão grande quanto a cozinha e nem tão pequena quanto alguns dos quartos que tinham por ali. Sem muita decoração a não ser pelas macas, pela pequena escrivaninha e prateleira, o hospital não era utilizado há muito tempo e apenas para tirar Almas do corpo de humanos.

Do mesmo jeito que tiramos no nosso grupo?, perguntou Lua.

Não sei, talvez seja, respondi-lhe, sem dar muita importância. De qualquer maneira, eu nunca vi o procedimento mesmo. Jamie nunca deixou.

Não queira, ainda bem que ele nunca deixou. Lua falou, com certo pesar no tom de voz. É desconfortável para ambas as partes.

— Então é você mesma?! – exclamou uma voz conhecida.

Levantei meu olhar e percebi que haviam dois homens ali. Jeb - com a barba igual a de Papai Noel, o nariz grande na ponta e as rugas ao redor dos olhos plantados bem fundo - e Doc - alto e magro, com cabelo de um castanho tão claro que parecia loiro. Abri um sorriso ao vê-los. Resisti à vontade de abraçá-los como eu queria.

— Oi, tio Jeb, oi, Doc! – exclamei.

Sempre tive a mania de chamar Jeb de tio. A convivência com Jamie fizera isso.

Jeb abriu um sorriso ainda maior que o seu comum.

— Então quer dizer que nossa pestinha está de volta com uma Alma presa dentro de si?!

Olhei em volta e para mim mesma, e dei de ombros. – É, parece que sim.

— Ian já explicou? – perguntou Melanie a seu tio e ao doutor.

— Ele e Peg. – respondeu Doc, vindo até mim e analisando-me atentamente.

Estou me sentindo desconfortável, murmurou Lua dentro de minha mente.

Não sinta, tentei acalmá-la. Eles são os mais confiáveis aqui dentro. Eu deixaria minha vida nas mãos deles.

Espero que esteja certa, disse ela de volta quando Doc me rodeou, ainda com um olhar cauteloso.

Também espero.

O silêncio incômodo teve seu fim quando Doc sorriu.

— É a Melody, claro. – ele disse, balançando a cabeça como se ainda estivesse incrédulo.

— Como teve tanta certeza apenas a observando? – perguntou Melanie, franzindo o cenho.

— O cabelo. – Jeb respondeu no lugar de Doc. – Ela sempre faz uma trança lateral para tomar banho e só a desfaz no dia seguinte.

Uma lembrança escorregou por minha mente com tais palavras, mas preferi não a acessar naquele instante. Seria possivelmente uma das que mais doeriam de analisar, principalmente pelo fato de Jamie não estar tão longe.

— E duvido muito que a Alma me chamaria de tio assim que me visse. – ele completou, lançando-me um sorriso maroto.

Eu ri. Claro que ele não deixaria passar um detalhe como aqueles. Era Jeb afinal.

Ainda bem, disse Lua.

É, ainda bem.

— Você deve ter tido um longo mês. – disse Doc, colocando a mão sobre meu ombro compreensivamente. – Melhor deixarmos ela descansar.

Melanie assentiu e sorriu para mim antes de se retirar.

— Boa noite, criança. – Jeb deu um beijo sobre minha cabeça quando passou por mim. – Amanhã seu dia será ainda mais longo, espero que esteja preparada.

— Estarei. – garanti. – Boa noite, Jeb.

Ele se retirou e Doc logo apareceu à minha frente com um cobertor em mãos.

— Pode ficar em qualquer maca. Use o cobertor, aqui no hospital é mais frio do que nos quartos.

Assenti para ele e nos despedimos. Quando as lanternas do hospital se apagaram, eu deitei na maca mais próxima. Olhando para o teto daquela caverna, mordi o lábio para evitar que a lembrança de mais cedo surgisse em minha mente. Eu não queria lembrar. Ao menos de momentos como aquele.

Você precisa se lembrar, Melody, disse Lua em minha mente, sentindo minha tristeza. Precisa sentir a dor para poder se libertar.

Eu não sei se consigo, admiti, tentando não chorar.

Consegue sim, ela falou com convicção. Foi a humana resistente mais forte que já tive o prazer de encontrar. E sei que tem algo a ver com a trança que Jeb disse.

Eu respirei fundo e audivelmente, agradecendo por estar apenas eu naquele cômodo – e Lua na minha cabeça.

Quer mesmo ver a lembrança?, perguntei, por fim.

Quero que você a reveja, disse Lua.

Ela tinha razão. Eu precisava rever essa lembrança em específico.

Fechei os olhos e esperei que a memória tomasse minha mente – e a de Lua.

 


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