Capítulo 17 – Amando

TUDO O QUE EU SENTIA NAQUELE MOMENTO era como Jamie me beijava com fervor. Tudo o que eu queria era continuar ali em seus braços. Eu senti falta disso - de nós - por todos esses meses e não queria que nada me impedisse de continuar ali.

Exceto que Lua me impediu.

Como um impulso involuntário, segurei nos braços de Jamie que envolviam minha cintura e o empurrei para trás. Não muito, mas apenas o suficiente para que eu me soltasse dele e eu caísse sentada na ponta da cama.

— Melody? - ele caiu de joelhos no chão à minha frente, os olhos cheio de preocupação. - O que aconteceu? Você está bem?

Eu não conseguia pensar direito e responder ele devidamente. Meus sentimentos pareciam entrelaçados aos de Lua e precisei fazer um esforço para conseguir formular uma frase.

— Eu estou, a Lua que não está. Ela que me afastou de você. - franzi o cenho, tentando colocar meus pensamentos em ordem. Apoiei os cotovelos nos joelhos e cobri o rosto com as mãos. - Pode me dar um minuto para conversar com ela?

— Claro. - ele disse, colocando as mãos em meus pulsos e fazendo movimentos circulares em minha pele com os polegares.

Usei o conforto dele para conseguir me concentrar e falar com Lua.

Lua? — chamei. - Lua, por favor, me responda.

Ela fungou, como se estivesse a ponto de chorar.

Me desculpa, Melody, me desculpa mesmo! - ela disse, apressada e nervosa. - Eu não queria atrapalhar seu momento com Jamie, não queria mesmo. Mas eu... Eu só... Eu...

Você gosta do Brandt.

Ela não respondeu nada e eu sabia que tinha acertado.

Tudo bem, Lua. Eu desconfiei quando você ficou esquisita sempre que ficávamos perto dele.

Desculpe se eu fiz você se sentir estranha com seu próprio irmão.

Não fique, é compreensível.

Ficamos algum tempo em silêncio, cada uma contemplando os próprios pensamento e com Jamie tentando acalmar a nós duas.

Melody, posso pedir uma coisa?

Claro. Você é minha amiga e tentarei fazer qualquer para te ajudar.

Ela demorou um pouco para me responder. - Podemos pegar um criotanque nessa incursão e me mandar de volta para a minha célula de resistência? Já está na hora de eu voltar e deixar você e Jamie juntos, como deveria ter sido quando eu decidi te levar de volta.

Arfei. Eu não queria que ela fosse embora. Uma ideia começou a se formar na minha cabeça, mas eu fiz o possível para espantá-la e prendê-la no canto mais afastado da minha mente, longe do alcance de Lua. Ela estava tão vulnerável dentro do seu próprio turbilhão de sentimentos que nem se deu ao trabalho de ficar curiosa quando uma parede surgiu para no meu canto da mente.

Tudo bem, Lua, falarei com os outros.

Obrigada, Mely.

Abri os olhos e vi o azul dos olhos de Jamie me encarando preocupados de volta.

— E então? Ela está bem?

— Não. - suspirei. - Será que podemos conseguir um criotanque quando encontrarmos os outros?

Jamie arregalou os olhos e demorou alguns segundos para responder.

— Bem, sim, mas ela tem certeza? - assenti e ele continuou. - Brandt?

— Também. - respondi, meio sem saber se eu deveria ficar preocupada ou não de ele ter percebido. - E ela também não está muito confortável com a gente... Assim... - engoli em seco, um pouco envergonhada. - Com a gente mais íntimo.

— Oh. - foi tudo o que ele disse sobre isso. - Podemos pedir pro Jared e Peg nos ajudarem a pegar o criotanque quando encontrarmos eles amanhã.

Assenti e bocejei. Tudo aquilo estava me deixando cansada.

— Você precisa dormir, nosso dia foi intenso. - ele disse, levando sua mão até minha bochecha e a acariciando delicadamente. - Vem, deita.

Ele tirou as colchas da cama e me cobriu com elas quando eu deitei. Em um ato reflexo, eu segurei o pulso dele quando ele começou a se afastar da cama em direção ao sofá. Ele me olhou confuso e eu o puxei novamente.

— Deita comigo. - eu disse. - Não precisa ficar no sofá.

Eu percebi que ele estava um pouco nervoso. - E a Lua?

— Só vamos dormir, mais nada. - garanti.

Ele não disse nada, apenas se deitou ao meu lado debaixo das cobertas. Ele estava tenso ao meu lado, talvez por ser a primeira vez em meses que fazemos isso - a primeira desde que eu havia retornado às cavernas. Então eu tomei a iniciativa e me aproximei mais dele, deitando em seu peito e abraçando sua cintura contra mim. Ele relaxou aos poucos e me envolveu com seus braços, puxando-me para mais perto. Depositou um beijo em minha testa e apoiou a cabeça na minha. Suspirei, sentindo-me finalmente feliz, como eu queria ter sido quando encontrei as cavernas novamente depois de ter sido pega pelo Buscador. Lua nada disse sobre a proximidade entre eu e Jamie. Acho que ela entendia o quanto eu precisava disso.

Nós conseguimos pegar alguns criotanques depois que reencontramos Ian, Peg e Jared. Nem preciso dizer o quanto Peg ficou preocupada e quase deu um surto quando voltamos. Retornamos às cavernas sem mais problemas e eu conversei com todos que Lua pediu que fosse retirada. Quando Doc marcou o procedimento, eu fiz o possível para que a pequena ideia que eu tive não se desenvolvesse o suficiente para saísse da caixinha que eu deixava fora do alcance de Lua. A retirada foi marcada para o dia seguinte que chegamos da incursão. Aproximei-me da catre, com Jamie, Doc, Peg, Melanie, Ian, Jared e Brandt ao meu redor. Claro que nem todos ficariam ali durante todo o procedimento, mas queriam estar ao meu lado pelo menos enquanto eu ainda estava acordada.

— Acho que é isso. - disse Doc, depois de preparar os equipamentos ao lado da maca.

Virei-me para meus amigos então e eles sorriram em apoio a mim antes de se afastarem um pouco até perto da porta. Jamie e Brandt permaneceram próximos a mim. Jamie segurou minha mão firmemente enquanto depositava um beijo em minha testa.

— Você pode ficar aqui comigo? - pedi, minha voz baixa mas ele conseguiu ouvir.

Jamie assentiu e sorriu. - Claro que fico. Vai dar tudo certo e eu estarei aqui te esperando.

Não consegui não sorrir com suas palavras e sentir o coração acelerando. Jamie então deu espaço a Brandt, que parecia um pouco pesaroso.

— Se eu te der um abraço, Lua também vai sentir?

A pergunta dele fez Lua soltar um soluço em minha mente.

Lua, é a última oportunidade que você vai ter. - insisti.

Então faça isso por mim, Melody. Por favor.

— Ela sente sim, Brandt.

Ele não disse mais nada, apenas me abraçou forte contra si. Eu sabia que Lua estava aproveitando cada segundo dele como se fosse o último.

— Diga a ela que sentiremos falta dela. - ele sussurrou em meu ouvido e Lua estremeceu. Meu corpo sentiu um pouco disso, por causa de quão forte estavam as emoções dela. - Ela te trouxe de volta e se tornou parte da nossa família.

Eu não disse nada a Lua, sabendo como ela estava se sentindo. Já era emoção o suficiente para ela sem eu comentar sobre isso. Brandt me soltou e também depositou um beijo em minha testa antes de se afastar um pouco com Jamie. Ambos ficariam ali no hospital comigo durante o procedimento. Doc indicou que eu deitasse na maca e assim o fiz. Ele retornou com um Corta Dor e um pano que pelo cheiro eu percebia que era clorofórmio. Coloquei primeiro o quadradinho de papel de seda do Corta Dor na minha língua e esperei dissolver. Não senti nenhum efeito físico instantâneo porque eu não estava sentindo nenhuma dor. Pelo menos não física. Enquanto Doc se aproximava para me apagar com o clorofórmio, decidi finalmente fazer a minha despedida.

Lua? - chamei.

Melody. - ela disse serenamente. Acho que ela já estava em paz com seu destino. Assim como eu estava com o meu.

Eu te amo, Lua. Você é a melhor amiga que eu poderia ter.

Eu também te amo, Mely. Não vou esquecer de você e nem de nada que passei aqui.

Claro que não vai, eu não vou deixar. - eu disse, mas logo acrescentei. - Sentirei sua falta. Adeus, minha irmã.

Adeus, irmã.

E então eu apaguei.