– Aquela ali não é a loirinha que caiu de para-quedas? – Duca perguntou.

– Asa – delta,você quer dizer. – O menino podia jurar que Bianca ainda não havia acreditado na história. – Vem,vamos falar com ela.

– Mas e o Edgar?

– Depois da aula eu falo com ele. – Agora já estavam próximos dela. – Karina! – E a abraçou.

A loira,que estava perdida em meio a tanta gente,deu graças quando viu os dois rostos conhecidos que tanto procurava.

– Pronta para o seu primeiro dia de aula?

– Você não imagina o quanto. – Respondeu. ''E pra mudar muita coisa por aqui também...’’ pensou.

Karina até tentou,mas não conseguiu evitar procurar por um certo guitarrista que saiu de sua casa a poucas horas. Tentou ser discreta e olhar ao redor enquanto conversava com os vizinhos,mas descobriu que discrição não era o seu forte,pois a irmã de Pedro notou a inquietação dela.

– Procurando o Pê? – Bianca soltou,e Karina não teve escolha a não ser concordar. – Ele deve estar em algum canto se atracando com aquela piranha oxigenada. Nós brigamos logo de manhã e eu saí de perto quando ela chegou.

Então eles tinham discutido? Seria pela noite em que ele passou ‘’fora’’? Ela achou que poderia evitar mais problemas o afastando por algumas horas,mas pelo o que pode ver,não adiantara muita coisa.

– E por quê vocês brigaram? – questionou Karina.

– Pelo mesmo motivo de sempre: as noites que ele passa fora. Não liga,não dá notícia....

– Mas vocês mulheres são muito difíceis mesmo. – Disse Duca,e Karina pode jurar que ela avançaria sobre Duca,tamanha a raiva com que olhou para ele.

– Como é que é?

– É isso mesmo,Bi. Nós homens precisamos de espaço,levamos a vida de uma forma diferente,mais solta. Não precisamos dessa super proteção. E ele tá namorando também,deixa o cara pô.

– Até poderia concordar,mas você sabe que não é só isso que me preocupa. – Respondeu Bianca com o semblante triste,se referindo ao estado alterado em que Pedro agora voltava para casa.

O sinal que dava início as aulas bateu,e os três foram para a sala.

– X –

– Karina....

Bianca tinham em mãos o papel com os meus horários. Eu nem sabia quais eram,mas sabia exatamente o que viria a seguir.

– Vocês tem os mesmos horários que eu! – Ela sorriu,e eu me esforcei para sorrir de volta.

A verdade é que eu estava feliz,mas fingir que não sabia disso era um pouco complicado. Sabia que ia ser difícil no começo,mas não imaginava que seria tanto.

– Que sorte a minha! Estava morrendo de medo de chegar aqui e cair numa sala onde não conheço ninguém.

– O Duca e o Pedro também fazem as mesmas aulas com a gente.....

Ela me explicou como funcionavam as coisas na Ribalta. De manhã,tínhamos aulas normais,e a tarde,as aulas extras,como canto,dança e teatro. Ela fazia aulas de teatro,enquanto Pedro participava das aulas de música,e tocava com a sua banda,a ‘’Galera da Ribalta’’,nome que o próprio professor deu.

Quando perguntei sobre Duca,ela apenas disse que ele não participava das aulas extras como todo mundo.

– Ele prefere ficar socando um saco de areaia em vez de cantar,acredita? – Disse Bianca,se referindo as aulas de Muay Thai que ele fazia numa academia ali perto.

As aulas seguiram normalmente. Quando chegou a última aula,todos se dirigiram até o refeitório,para almoçar e descansar para as oróximas aulas que viriam.

Conversava com Bianca durante o caminho quando uma mulher nos parou.

– Bianca,que bom que te achei!

– Oi,Lucrécia! Queria falar comigo?

Me lembrei do que Bianca tinha falado sobre as professoras de lá. Pelo o que eu me lembrava,essa tal Lucrécia era a professora de dança dela,ou algo assim.

– Preciso falar com você e a Jade um minutinho antes da aula,é sobre a peça.

Ela assentiu e virou-se pra mim.

– Se importa de ir na frente? É só seguir por esse caminho – e apontou para um corredor cheio de alunos. – Daqui a pouco eu te encontro lá.

Ela seguiu com a professora e eu fiz o caminho que ela apontou. Não parecia tão difícil. Quando cheguei mais perto,avistei Duca conversando com uma garota ruiva.

Tentei chama-lo,mas a minha voz não saiu. Senti alguém me puxar grosseiramente pelo braço.

– E aí,novata. – Ouvi um menino dizer,me olhando de cima a baixo.

Por algum motivo,senti que não era seguro estar ali com ele. Torci para que Duca me notasse ali e me levasse com ele,mas nada.

– Erm,oi. – Disse. Ser simpática no momento era a minha única saída.

– Fiquei sabendo que você é a mais nova vizinha da aspirante a atriz e do desafinado.

– É,cheguei faz poucos dias de São Paulo. – Eu precisava me conter e continuar com a história,mas a minha única vontade era sair dali enquanto ele sorria pra mim.

Notei que o movimento nos corredores havia diminuído,sinal de que todos agora estavam no refeitório.

– Boa sorte em aturar aquele tapado do Pedro. – Ele agora ria,enquanto eu não demonstrava nenhuma reação. – Escuta loirinha,aqui tá muito cheio,vem comigo para um canto mais sossegado...

Eu gelei. Olhei discretamente para o refeitório,e não vi mais Duca lá,nem sinal de Bianca. Como é que eu ia sair dali agora???

– Eu acho melhor não.... – comecei,mas desejei ter saído de lá quando tive a oportunidade quando ele se aproximou mais de mim. – Erm,a Bianca tá me esperando n....

– Ah não,linda. Vai se fazer de difícil,é?

– É melhor você ir. Daqui a pouco a Bi chega e...

– E enquanto ela não chega,a gente pode se divertir um pouquinho.

Eu ainda tentava processar suas palavras quando ele me puxou pra mais perto de si.

– Me solta! – Gritei. Consegui me soltar mas antes que eu pudesse correr,ele segurou meus pulsos novamente.

– Não faz assim. Vem cá. – Senti meu corpo ser jogado com força contra a parede. Agora nós estávamos a milímetros de distância,e eu não gostava nem um pouco da sensação de medo que tomara conta de mim. Tentei afastá-lo,mas ele era mais forte.

– ME SOLTA! – Gritei. Ele riu e colocou os braços na parede,ao lado do meu corpo.

– Calma,gatinha. Eu vou te soltar,mas só quando eu conseguir o que eu quero.

Medo era apenas um dos sentimentos que eu sentia no momento. Onde é que João se enfiava quando eu mais precisava dele? Ele aproximou sua boca da minha quando eu ouvi uma voz que me chamava na noite passada.

– Ela mandou soltar,Cobreloa. E eu acho bom você fazer isso agora.

– X –

Pedro e Priscila se afastaram das arquibancadas,indo em direção a algum local mais afastado na escola. O garoto percebeu que a namorada permaneceu o caminho calada,mas resolveu não questionar aquele silêncio.

– Onde você dormiu essa noite? – questionou a menina,sem rodeios.

– De onde você tirou isso? – retrucou,sem muita paciência para os chiliques dela logo de manhã.

– Eu ouvi muito bem quando a sua irmãzinha te perguntou onde você dormiu,não se faz de sonso. Fala,foi na casa daquela vagabunda da Yasmin,não foi?!

Ela já estava fora de si de tanta raiva com aquela possibilidade. Já Pedro desejava cada vez mais poder voltar no tempo,mais especificamente para a casa de uma certa loira que não saía de seus pensamentos.

– Ai meu saco,não torra minha paciência Priscila! – Ele se levantou de onde estava e sugurou a menina com brutalidade. – Não te interessa onde eu passei a noite,a minha vida não é da sua conta. Eu tô aqui com você,não tô? – Ela assentiu. – Então pronto. Não precisa desse encândalo.

A menina ainda o encarava com raiva quando ele a soltou e se virou de costas para ela. Pedro odiava perder a paciência com a namorada,mas nos últimos meses estava ficando cada vez mais difícil seguir com a relação deles.

– Pê..... – Ouviu a menina sussurrar,num tom quase inaudível. – me perdoa?

Ele se virou e assentiu apenas,sem dizer nada. Sentiu os braços da garota o envolver num abraço,que ele não se moveu para retribuir. Priscila insistiu,fazendo uma trilha de beijos por seu pescoço. Cansado daquilo,aproximou sua boca com a dela e a beijou. Um beijo com desejo,sem sombra de qualquer outro sentimento.

Ouviram o sinal tocar,anunciando o início das aulas. Pedro se desvencilhou de Priscila com uma facilidade que a meses atrás ele jamais conseguiria.

– Aonde você vai?

– Temos aula agora,você não vem? – Sem esperar resposta,despediu-se dela com um selinho e saiu.

Notou que ela não o seguia,e deu graças por isso. Andou por alguns corredores – que agora estavam vazios,devido as salas cheias -,e encontrou o lugar que queria.

Entrou na biblioteca,que parecia silenciosa demais até para um ambiente de leitura. Aproveitou a ausência da velha funcionária e se dirigiu para uma parte mais afastada,uma sala abandonada onde costumavam ficar livros velhos que iriam para doação.

Entrou e fechou a porta,sabia que ninguém o descobriria ali. Olhou em volta,o velho sofá ainda estava no mesmo lugar. Encostou a mochila num canto e deitou a cabeça no estofado,caindo em um sonho profundo com a mais nova dona de sua mente.

Quando acordou,viu na tela do celular que já se passava do meio dia. Agora o silêncio era preenchido por várias vozes,que rumavam para a cantina do colégio. Pegou sua mochila e saiu dali,entrando no meio dos alunos que fariam o mesmo caminho que ele,para não ser descoberto.

Pedro se sentia inquieto,mas não sabia dizer o porquê. Podia sentir que algo estava errado,disso ele tinha certeza. Tentou ignorar aquele sentimento de angústia por ora,mas foi uma tentativa falha.

Então ele a ouviu,e soube que estava certo.

– ME SOLTA! – Ouviu alguém dizer,perto daquele corredor.

Não,não era alguém. Era Karina que gritava por socorro.

– Calma,gatinha. Eu vou te soltar,mas só quando eu conseguir o que eu quero.

Ouviu a voz que só podia ser de uma pessoa. Seguiu o som da voz da menina e a encontrou pressionada na parede por Cobra,ele sorria para aquelas duas orbes cristalinas,que transmitiam o medo que ela tinha dele.

– Ela mandou solta,Cobreloa. E eu acho bom você fazer isso agora.