Rony e Hermione na Terra dos Cangurus escrita por FireboltVioleta


Capítulo 6
Questões do Coração




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HERMIONE

Assim que o dia amanheceu, eu, Rony e Darel nos aprontamos para a viagem.

Rony me perguntou se eu tinha alguma ideia sobre onde meus pais estavam, enquanto eu embalava outra vez todos os nossos pertences.

– Olha - indiquei a ele um mapa da Austrália geográfica, com as rotas entre as cidades - papai e mamãe sempre falaram muito sobre Darwin, que fica ao norte - indiquei o caminho com o dedo até a ponta de cima do mapa - eu não tenho dúvidas de que provavelmente vão estar lá, mas de qualquer forma ainda vamos procurar informações sobre eles nas cidades pelas quais vamos passar. Se eles realmente se mudaram para Darwin, alguém nestas cidades vai ter alguma informação.

– Então o plano é pegar a rota de Sydney para Melbourne, de lá para Adelaide, atravessar a Austrália do Sul e chegar à Darwin - ele murmurou - sem sermos encontrados por nenhum bendito bruxo inglês, sem chamar a atenção de nenhum cara do Ministério da Magia australiano por enquanto, e rezando para que Darel não caguete sobre nós para ninguém. É isso ou estou errado?

Revirei os olhos.

– Tirando a parte de Darel dar com a língua nos dentes, é isso mesmo.

Rony abriu uma expressão estranha quando balancei a a cabeça. Por um segundo, pareceu quase malicioso, embora seu semblante estivesse sério.

– Você tem alguma ideia - ele sussurrou - do que eu tenho vontade de fazer quando você revira os olhos?

– Ahn, não sei - ergui a sobrancelha, risonha - o quê?

Rony sorriu de um jeito adoravelmente maldoso.

– Te dar um motivo de verdade para revirar os olhos.

Meu corpo deu um solavanco com o que Rony dissera. Minha mente recentemente pervertida já imaginou o que cargas d' água ele quisera dizer com aquilo.

Para meu alívio - ou tristeza - Darel escolheu aquele momento para abrir a porta.

Me lembrei, contente, do como os dois haviam se dado tão bem quando eu os apresentei. Rony, aquele boboca ciumento, acabou gostando tanto de Darel quanto eu. Será que Harry ficaria enciumado se soubesse? Ri mentalmente ao pensar nisso.

– Ah, desculpe - Darel olhou de mim para Rony - estou atrapalhando alguma coisa?

– Não, imagina... - Rony respondeu, sorrindo. Para quem acabara de ser interrompido durante um bizarro jogo de sedução, Rony estava completamente conformado - já vamos?

– Sim - Darel assentiu com a cabeça - tenho uma caminhonete que poderá nos levar até Melbourne em menos de cinco horas.

– Por que simplesmente não aparatamos?

– Ai, Rony, esqueci de dizer - falei, envergonhada - aqui na Austrália é impossível aparatar fora das áreas desérticas ou menos populosas... a Convenção Australiana de Bruxos, em 1845, decidiu lançar um feitiço latente e ampliado anti-aparatação em quase todo o território nacional australiano, por causa de várias aparições de gente do nosso povo no meio dos trouxas por aqui. Só povoados bruxos ou extensões do deserto possibilitam aparatar aqui.

– Nossa - Rony bufou - então, quase todo o caminho vai ser feito na marra mesmo?

– Vai - olhei para Darel, que estava com uma expressão quase entediada gerada por meu pequeno monólogo - estamos prontos.

– Então vamos - Darel riu, indo à frente de nós em direção às escadas.

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A caminhonete de Darel era um Ford Ranger preto que me deixou simplesmente babando.

– Caramba, que belezinha - murmurei, passando a mão pelos faróis do monstro lindinho em que íamos viajar.

– Também acho uma lindeza - Darel falou, com um carinho indisfarçável pelo carro - eu o comprei com um bocado de suor, lágrimas e conversas com o maldito bruxo do câmbio, que não sabe a diferença entre focinho de porco e tomada, que dirá do dólar australiano para o Kilwa.

Rony riu, fazendo coro às minhas risadas. Estava mais que na cara que Darel era um clássico piadista.

– Pode entrar, madame - Rony brincou, abrindo a porta do carro para mim e se curvando piadamente.

– Rony, você não é um cavalheiro - entrei no banco traseiro, dando uma acotovelada de brincadeira nele e ajeitando o cinto de segurança - nem aqui, nem na China.

– E nem em Londres - ele completou, se sentando ao meu lado e afivelando o cinto.

Darel nos olhava com uma expressão que beirava à uma tristeza reprimida. Estranhei... o que será que Darel estava sentindo ao nos observar? Será que estava se lembrando de alguém que talvez ele não visse à algum tempo?

De qualquer forma, ele pareceu reparar em minha análise e virou para a frente, ligando o Ranger. O motor do carro rosnou como uma fera, chacoalhando as portas. Os pneus gemeram e o carro entrou em movimento, nos afastando do hotel aos poucos.

– O que é um Kilwa? - indagou Rony, após algum tempo de viagem, enquanto remexia a bolsa que eu enfeitiçara com um Feitiço Indetectável de Extensão.

– A moeda bruxa das tribos maoris - respondi, bufando - o que você quer aí, caçamba?

– Meu pulôver verde - Rony estremeceu - está entrando um vento frio aqui. Você não disse que a temperatura aqui era absurdamente quente?

– Sim. Mas não disse que não tinha um ventinhos gelados - mostrei o beiço, fingindo chateação.

Darel deu uma olhadinha para trás, parecendo curioso, mas não disse nada.

– Fala, Darel...

– O quê? - ele indagou, mantendo os olhos na estrada.

– Você quer perguntar alguma coisa. desembucha - sorri, incentivando-o.

– Bom... à quanto tempo... vocês estão juntos?

Olhei para Rony, que parara de remexer na bolsa para me encarar atônito.

– Sete anos.

Com essa Rony soltou todo o ar que estava segurando.

– Bom, "juntos" de convivência - corrigi, rindo com o choque de Rony - de namoro, ahn... faz umas duas semanas.

Darel pareceu se surpreender, pois arfou.

– Parecia mais - ele riu - vocês parecem se gostar tanto...

Minhas bochechas ficaram da cor das orelhas de Rony com o comentário de Darel.

– Você tem... alguém? - murmurei, curiosa também.

Darel ficou muito queto por alguns minutos. Porém, respondeu com a voz um pouco tensa.

– Acho que sim... tem uma garota na tribo maori onde eu cresci, chamada Nyree, que eu sempre gostei muito... mas ela já estava namorando quando deixei a tribo... - Darel suspirou - eu nunca mais a vi... até agora. Eu... nem sei se ela se lembra de mim... ou se ao menos gostaria de, sabe... ficar comigo - ele deu de ombros, e ficou muito calado outra vez.

Aos poucos, eu estava começando a elaborar uma teoria para toda a disposição de Darel em nos guiar e nos ajudar à atravessar o país. Será que Darel tinha esperança de reencontrar essa menina ao longo do caminho até Darwin?

– Você podia tentar encontra-la outra vez - comentei, tímida.

– É, cara - Rony resolveu se juntar à conversa - se tiver chance de se encontrar com ela, aproveite... fale pra ela o que você sente... você não pode saber se outra chance de acha-la vai ocorrer. Se tem uma coisa que eu aprendi - Rony virou-se para mim, e pude ler em seus olhos que já não estava falando mais sobre Darel - é que nunca se sabe quanto tempo... podemos ficar com quem amamos.

Engoli em seco. Sabia de quem ele estava falando.

– Bom, se eu tiver chance... - Darel murmurou, indeciso - acho que vou aproveita-la durante a viagem. Primeiro, vamos chegar a Melbourne.

Rony olhou para baixo, parecendo se detestar por lembrar de algo tão doloroso no meio de uma simples conversa. Abracei-o, acariciando suas costas. Ele apertou minha mão, fungando baixinho.

Até certo ponto, Harry tinha razão. Precisávamos daquele tempo a sós...

Mas parecia que o nosso segundo objetivo na viagem em busca de meus pais eram simples e puras questões do coração.


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