Dandara estava estupefata e ao mesmo tempo emocionada, seu menino sempre tão introvertido estava ali em cima do palco soltando a voz. Ela nem precisava pensar muito para saber quem seria a razão de tudo aquilo.

Bianca Duarte, sua "enteada" e possivelmente uma futura nora caso tudo desse certo. E daria se a garota não fosse tão orgulhosa e teimosa quanto o pai.

Assim que a musica parou, os aplausos ecoaram por todo o salão, todos os convidados estavam em pé eufóricos com a música. Claramente haviam adorado mas João só queria saber se ela gostara. Seus olhos verdes beiravam um certo pânico e a vontade de saber a opinião dela era absurda.

– Nossa "sinhora" hein moleque. Foi bem melhor do que prevíamos. - Pedro lhe deu um tapinhas nas costas assim que desciam do palco.

O gamer mal piscara e sentiu o aroma cítrico de sua melhor amiga o envolvendo em um abraço estuasismado. Jade estava simplesmente eufórica e não conseguiu parar de atropelar elogios para o amigo que ria.

Ao longe, Bianca observou a cena com um certo nó se instalando em seu coração. Primeiramente, veio uma certa mágoa cuja nem tinha direito de sentir e uma sensação de desilusão por ter pensado que a música era uma declaração do João para si.

E ver ele com Jade, felizes e com aqueles típicos brilhos nos olhos a abalou ainda mais. João Spinelli finalmente havia desistido dela e ela estava apaixonada por ele.

– Pai, não estou me sentindo bem. Acho que é cólicas, vou para casa ok? - se aproximou de leve aos noivos que de imediato lhe encararam preocupados.

– Cólica? Ah, certo tudo bem filhinha. Apenas pegue um táxi, ou tente arranjar uma carona. Você quer que eu te leve? - se atrapalhou Gael até que seu olhar se fixou á algo por trás de Bianca.

A atriz abriu a boca para responder mas antes que pudesse fazer, seu pai a ignorou e estendeu o braço chamando alguém.

– Esquisito.. Ai Dandara! João, leva a Bianca para casa agora viu? - o mestre resmungou de seu jeito mandão fazendo que o gamer revirasse os olhos enquanto se aproximava sem jeito e preocupado com a garota.

Bianca de imediato fechou a cara sem a menor vontade de encarar o pai, o garoto por quem estava apaixonada, tudo que queria era se atirar no sofá enrolada com uma coberta e se entupir de sorvete vendo filme de comédia romântica.

Estava sendo infantil mas não ligava.

– Ok vamos, só vou me despedir rapidão ali. - João em um ímpeto de coragem rapidamente depositou um beijo na bochecha da garota que o observou estática indo em direção á pequeno grupo em que se encontrava Pedro, Karina e...Jade.

– Vou esperar no carro. - resmungou desviando os olhos e abraçando o pai logo depois a madrasta.

João não sabia o que pensar naquele momento, estava irritado consigo mesmo, irritado com Bianca, irritado com a bipolaridade dela, irritado no fato que gostava daquela garota mesmo ela demostrar o contrário ou não.

– Ela ainda não caiu em seus encantos viciadinho? Bianca mais sonsa que eu imaginava. - reclamou sua amiga, Jade bufando exasperada e logo fazendo uma leve careta. – Foi mal, Bianquinha é um anjinho. Uma tonta mas um anjinho.

– Não chama ela de Bianquinha. - retorquiu João de imediato fazendo que os amigos rissem e começassem a debochar.

Ignorando todos os comentário, acenou e recebeu um abraço forte de Karina que lhe ameaçou carinhosamente caso ele não levasse Bianca em segurança para cara. Nem preciso pensar muito para saber que a garota já estava esperando no carro, pronta para o xingar muito pela demora.

– Ei, o que aconteceu? - o gamer entrou no carro de Gael colocando a chave pronto para dirigir ao Catete mas não sem antes encarar aqueles olhos castanhos que lhe fuzilaram como na grande maioria das vezes.

– Só me leva para casa João. - suspirou virando a cabeça de modo que seus olhos pudessem apenas focar a paisagem na janela.

Ele nada forçou e o silêncio predominou por todo o caminho que percorreram, que mesmo não sendo muito longe, a atriz havia adormecido e João não sabia se a acordava ou apenas ficava a observando.

– Chegamos linda. - murmurou o de olhos verdes reprimindo a vontade que tinha de se aproximar.

Bianca se moveu sonolentamente tentando retirar o cinto de segurança, sentia-se tão exausta que era desgastante até mesmo abrir os olhos. O gamer percebendo o estado dela, não só fez o trabalho como a retirou do carro lhe carregando nos braços com a cabeça dela encostada em seu ombro e as mãos no pescoço.

– Não sabia que era possível ficar tão cansada assim. - a voz da garota saiu rouca de sono como se forçasse as palavras para saírem de sua boca.

João não conseguiu resistir o sorriso.

– Não se preocupe, você só tá me devendo uns dois favores por ficar te carregando no colo. - brincou saindo do elevador enquanto ela erguia o queixo sem evitar a curiosidade no rosto.

– E posso saber o que você vai querer? - ergueu as sobrancelhas enquanto o via morder os lábios e parar de caminhar ficando em frente de uma porta já familiar.

– No momento preciso que você pegue as chaves que estão no meu bolso. - ele virou o rosto de modo que seus narizes se encostassem.

Bianca apertou ainda mais sua mão direita no pescoço dele de modo que as unhas cravassem na pele fazendo que o mesmo resmungasse baixinho, enquanto isso sua mão esquerda percorria o tecido da calça tentando encontrar o bolso que tivesse mais volume.

Assim que entrou em contato com o metal frio das chaves segurou com força acidentalmente apertando a bunda dele, gesto que o fez arregalar o olhos.

– O que você tem hein mulher? Quer meu corpo nu, é só pedir Bianquinha. - o sorriso malicioso se instalou na face enquanto pegava as chaves que lhe foram entregadas com o rosto da garota vermelho.

– Tarado! Não abusa João Spinelli. - tentou fazer uma cara indignada que só fez ele rir enquanto abria a porta.

– Você aperta meu popó e ainda o tarado sou eu. Reveja seus conceitos meu amor. - implicou risonho enquanto ela sentia seu coração se acelerar freneticamente. – Estamos s em casa madame, você precisa de meus serviços até o quarto?

– Me leve ao quarto que eu to com preguiça de andar, criado. - ela se aninhou na curva do pescoço dele se sentindo estranhamente feliz.

João gostava dessa sensação estranha que lhe percorreu, mesmo sabendo de o quão inconstante é Bianca e o fato que amanhã ela pode estar cheia de espinhos tanto quanto pode sorrir para ele, ele nunca deixaria ela.

– Boa noite Bianquinha. - a largou na cama onde a mesma rapidamente se enrolou nas cobertas, satisfeita por sentir o colchão macio da cama.

– Boa noite. Obrigada. - sorriu a garota dos olhos castanhos mais encantadores que ele já conheceu.

Assim que João fechou os olhos em sua cama, dormiu instantaneamente, sentindo uma urgência para chegar o dia seguinte. Embora as horas devessem levar milênios para chegar, se passou tão rapidamente quanto num piscar de olhos assim como a manhã.

João não conseguiu ver a garota pelo simples fato que acordou atrasado para a escola e saiu às pressas e enquanto isso ela tomava banho, se preparando para abrir a academia já que seu pai saiu de lua de mel com Dandara.

Tão logo, chegou a tarde onde foi impossível evitar que eles se encontrassem. Era finalmente o dia dos ensaios para a peça de Romeu e Julieta que seria apresentado daqui algumas semanas cujo os protagonistas seriam João e Jade.

– Então, para testar a química em cena de vocês, quero ver agora a cena do primeiro beijo de Romeu e Julieta. - Edgard expulsou os alunos que estavam no palco querendo deixar as atenções apenas nos protagonistas.

João e Jade de imediato se olharam um tentando fazer caras maliciosas para o outro. Recitaram a cena com primor mas na hora em que deviam se aproximar para o beijo técnico, não conseguiam evitar a risada.

– Caraca isso não dá. - o garoto coçou a nuca risonho enquanto a amiga ria ainda mais.

– Muito estranho estranho. Ed não posso beijar o João, ele é tipo meu irmão, não me faz cometer um incesto. - os dois se olharam novamente rindo histericamente e o professor apenas bufou irritado.

– Ou vocês se beijam ou arranjo outro casal protagonista. Peça de teatro é assim mesmo, você tem que deixar de lado as relações pessoais e focar no seu personagem. Jade você é a Julieta, João você é o Romeu e ambos estão perdidamente apaixonados um pelo outro, então tratem de mostrar esse amor antes que eu tire vocês da peça. - João e Jade assentiram de imediato e ambos morderam os lábios focando-se de ficarem serios.

Fecharam os olhos tentando arranjar coragem e quando abriram, viram as pessoas que queriam naquele momento e aquilo fez que se aproximassem se olhando do mesmo jeito que um casal apaixonado.

Não dá para esconder um olhar apaixonado.

Aquela frase nunca assombrou tanto Bianca que olhava para a cena gélida com a intensidade. Ou eles eram atores muito bons ou ela era idiota por ter pensado que João ainda gostava dela. E tudo apontava para a segunda opção.

– Você tá bem Bi? - ouviu a voz de Henrique fazendo que ela se virasse aliviada por ter algo a olhar invés de ter que ver a cena.

João hesitou enquanto sentia seu rosto se aproximando da garota em sua frente e de relance viu Bianca conversando com Henrique. Franziu o cenho irritado e puxou a cintura de Jade fazendo que seus lábios se tocassem iniciando um beijo.

E aquilo foi a coisa mais estranha que ele já fez em todos 18 anos de sua vida e Jade podia dizer o mesmo. Embora para quem visse de fora, não foi bem assim.

– Preciso ir. - interrompeu a breve conversa sentindo algo se incendiar dentro de si, algo bem familiar de raiva.

O ciúmes a corroía sempre que via João com Jade e ver os dois se beijando não era bem um passatempo que tinha o prazer de adquirir. Levantou-se com brusquidão querendo sair da sala o mais rápido possivel, ignorando a fuzilada de Edgard.

– Bianca Duarte! - exclamou exasperado o professor indignado com a falta de aviso da aluna.

A menção do nome da garota pareceu despertar João fazendo que ele se afastasse e interrompesse o beijo que deixara a amiga sem reação.

– Foi bizarro mas você beija bem. - ela deu os ombros erguendo a sobrancelha curiosa vendo que ele descia do palco afoito fazendo que Edgard bufasse.

– Olhem sinceramente, não estou disposto. Pausa para ensaiarem o texto. - o professor suspirou fundo e tentou se acalmar com o nervosismo que percorria em si.

Bianca estava quase chegando ao fim do corredor quando uma mão puxou seu braço com força fazendo que ela virasse o rosto indignada e se deparando com alguém ainda mais indignado que ela mesma.

Aqueles olhos verdes nunca foram tão faiscantes quanto aquele momento. E seu coração nunca saltou tanto de nervosismo, medo e raiva.

– O que você realmente quer afinal Bianca?