Quando o Scott pergunta se eu quero fazer uma coisa louca, penso que ele se refere a nadar dentro de um tanque com tubarões e piranhas ou pular de paraquedas do topo do monte Evereste ... Mas não... O que ele tem que querer é fugir da escola... Isso não é loucura. Isso é idiotice e falta total de miolos! Ou seja, é claro que eu aceito.

–Okay... O plano é passar o final de semana fora e depois voltar, já que eu acho que você não quer cartazes seus, escrito “Procurada” pendurados por ai certo? –disse ele enquanto se esparramava na sua cama, era o meu primeiro final de semana aqui e eu não tinha a minha ideia do que iria fazer, e quando ele disse: “Tá afim de fazer algo louco? ” Eu não penso duas vezes. Coisas loucas combinam comigo, fazer o que? Está no meu sangue.

Acho que ele estava fazendo isso mais pelo o que aconteceu na noite passada, seu nariz ainda estava meio machucado (culpada!) E ele me olhava com um ar triste, eu queria gritar “Não quero que sinta pena de mim! ” Mas daí sim que eu ia dar uma de louca e em vez de pena o que eu ia receber é um convite para um manicômio.

–Okay... Mas como nós vamos sair? –pergunto eu, lembrando dos guardas e dos zeladores que ficavam nos portões da escola, a maioria era velhos, mas havia uns que mais pareciam uns lutadores de Sumô também.

–Pulando o muro ora! –disse ele revirando os olhos, eu bufei. Pegamos nossas mochilas e fomos em direção a entrada, e como sempre, tudo tem que dar errado, caso contrário não teria graça certo? Enquanto nós pulávamos e eu reclamava, dois guardas nos esperavam do lado de fora. Até parece uma prisão isso aqui.

Os seguranças nos trouxeram de volta para dentro da escola e Scott teve outra brilhante ideia, serio, aquele cara não bate nem um pouco bem... Quem é que tem uma fantasia de velha na mala? Pessoas normais? Não! Scott? Sim!

Enquanto eu colocava a peruca e as roupas, ele tentava me convencer que ele poderia ir de Batman.

–Eu poderia dizer: “O Mundo precisa de mim e sair correndo! –ele disse pela vigésima quinta vez.

–Mas essa é a frase do Super Homem! E eu? Vou correndo de atrás fingindo ter que ir para o hospital por que estou tendo um ataque cardíaco? –disse eu balançando a cabeça e erguendo as sobrancelhas. No final, ficou decidido que ele ia colocar óculos escuros e uma bengala, e eu seria uma pobre velinha ajudando um cego que veio visitar seu filho que estava no internato. Sim, nós somos uma dupla de loucos...

Quando nós saímos do quarto demos de cara com Carol, que arregalou os olhos e eu levei um dedo a boca.

–Shhhh! –fiz eu e ela concordou com a cabeça atordoada... Também... Não é todo dia que você encontra seus colegas de quarto vestidos de velhinha e de cego... Continuamos indo em direção aos portões e quando chegamos bem perto, eu prendi a respiração, e só soltei depois de estarmos a três metros dali.

Scott olhou para trás, para ver se éramos observados ou seguidos e deu um sorriso vitorioso. Continuamos andando e fomos para um supermercado no centro da cidadezinha. Entramos nos banheiros para nos trocarmos e no banheiro feminino havia fila. Agora imagina a cara que a mulher atrás de mim fez quando uma idosa entra em uma cabine e sai como uma adolescente ruiva? Imaginou? Pois é.... Tenho que dizer que não é nada bonita.

Encontrei Scott do lado de fora já, com sus roupas normais, mas ainda com os óculos escuros.

–E ai! Para onde vamos? –perguntei enquanto nós andávamos pela calçada.

–Primeiro nós vamos alugar um carro e depois vamos para outra cidade. –disse ele simplesmente, sem me dar o trabalho de me explicar mais nada.

–Outra cidade? Por que?

–Você vai ver. –ele me deu um sorriso diabólico. Continuamos andando até a loja para alugar veículos, e pegamos um carro simples, mas bem espaçoso e Scott pagou, me peguei pensando aonde ele conseguiu tanto dinheiro, vendendo drogas? Da mesma maneira que conseguiu as cicatrizes?

Entramos no carro e ele começou a dirigir em direção a saída da cidade, ele estava falando sério então... Em relação a ir para outro lugar.

–Aonde vamos?

–Você vai ver.

–Aonde conseguiu o dinheiro?

–Não interessa.

Pois é. Essa foi a nossa animadora conversa. Eu estava entediada. Reformulando: Eu estava MUITO entediada. Comecei a passar pelas estações de rádio aleatoriamente e rapidamente. Até que Scott se manifesta:

–Se você trocar de estação mais uma vez eu arranco esse rádio e o jogo para fora da janela. –ele me encarou com uma cara determinada. Só para testa-lo eu troquei de estação de novo. E como eu pensei, ele não “arrancou o rádio e o jogou janela afora” então quando eu ouvi a música que estava tocando sorri e comecei a cantar junto, depois de alguns segundos Scott se juntou a mim.

–Você conhece essa música? –pergunto eu pasma para ele que tamborilava os dedos no volante, no ritmo da música e cantava junto.

–Claro que sim, quem não conhece? –ele disse, sorriu e voltou a cantar, a voz dele era grossa e rouca, e combinava muito com essa música. E escutando Scott cantar, eu adormeci. E comecei a sonhar.

“Eu estava correndo e um gatinho corria atrás de mim, ele era fofo, e eu não sabia por que estava correndo de uma fofura como aquela, até que eu dou de cara com um beco sem saída e o gatinho olha para mim se aproximando. “Miau? ” Diz ele, e eu me ajoelho, mas nesse instante, uma fumaça preta invade o meu sonho e eu não enxergo mais nada “Merda! ” Diz o gatinho e eu me surpreendo”

–Merda! –escuto a voz de Scott e ele puxa o freio de mão, e sai do carro, eu sigo ele para fora, e vejo que do capo do carro, saia muita, mas muita fumaça.