QUATRO MESES E NOVE DIAS DEPOIS

Eu abri os olhos e a claridade me invadiu, eu estava deitada na minha cama, na faculdade, olhei para o lado, mas a minha colega não estava na sua cama. Eu estava suando frio, minha garganta doía, minha respiração estava irregular.

Era a terceira noite seguida que eu sonhava com Brian, só que dessa vez, o sonho era diferente, diferente do que o que eu tinha a quase mais de um ano, desde a morte dele, do terrível acidente.

Dessa vez eu estava fora do carro, na arquibancada, cercada de pessoas pulando e gritando animadas, o cheiro de cerveja era forte, havia alguns homens algumas filas para trás de mim, que estavam fumando. Scott ao meu lado, nós estávamos com sacos de pipoca na mão, e quando o carro de Brian capotava, ia para a outra pista e pegava fogo, eu e Scott riamos e comíamos mais pipoca. Pois é.... Sinistro.

Eu levantei devagar da minha cama e fui para o banheiro, fiquei um tempo encarando o meu reflexo no espelho, meus cabelos ruivos estavam mais curtos, eu mesma havia cortado na semana passada. Havia diversas olheiras embaixo dos meus olhos verdes, e eu estava um trapo, como se tivesse sido atropelada por um caminhão... Ou uma manada de bois.

Quando sai do banho, dei uma olhada na mini sala de estar que fica ao lado da mini cozinha, e vi Fernanda estava encolhida no sofá, com uma coberta fina puxada até o queixo. Quando eu abri totalmente a porta, a mesma rangeu, e ela se acordou com um pulo.

–Bom dia.... Por que você dormiu aqui? –eu perguntei para ela, enquanto pegava uma xicara de café e colocava o mesmo dentro de duas xicaras.

–Bem... É que você... Humm... Estava tendo mais um pesadelo, eu acho. –ela parecia sem graça, e me deu um sorriso fraco, eu e ela não nos odiávamos mais tanto, ela estava namorando Ryan, e agora não me tratava mais tão mal quanto antes. Eu alcanço a ela uma das xicaras e ela bebe rapidamente, sem nem se importar que ele estivesse super quente.

–Oh... Hãã... Tudo bem, eu sinto muito... Por.... Você sabe, você ter que dormir no sofá. –eu digo para ela que sorri verdadeiramente e vai até o banheiro tomar banho e se arrumar para a aula, Fernanda fazia fotografia e publicidade.

***

Quando eu saio do meu quarto encontro Paul e a secretária (também conhecida como Lauren) se agarrando no canto do corredor.

–Olha a pouca vergonha aqui... Meu Deus... Arrumem um quarto de uma vez... Assim vocês ferem os meus lindos olhos –digo eu com um sorriso torto e irônico e eles se separam, Lauren parecia uma pimenta de vermelha, ela empurrou os óculos mais para cima e olhava para o chão com um sorriso tímido.

–Ah! Maninha, é só você... Tudo na paz? –disse Paul limpando a boca, agora cheia de batom cor de cereja. Eu comecei a rir e nós fomos para a sala de aula. Lauren fazia faculdade de letras, ela queria ser escritora, mas nunca nos deixou ler nada que ela havia escrito.

Mas eu sabia que ela estava trabalhando em um romance, em forma de diário, como? Eu vi ela na biblioteca, escrevendo, mas quando ela viu que eu estava ali, parada atrás dela, fechou o caderno rapidamente e me deu um sorriso torto e tímido.

Nós seguimos para a sala e eu me joguei na minha mesa, estava com vontade de ficar o dia à toa, sem fazer nada de importante, ia ser ótimo dormir a tarde toda... Mas não seria possível... Não hoje.

***

Eu estava desenhando no meu caderno, uma banana pulando de um prédio com paraquedas, quando o professor entrou, mas eu nem ergui meus olhos, Paul me deu uma cutucada mas eu o ignorei, ouvi umas das garotas assoviar e rir. “Quem é o gatinho ali? ” Escutei ela cochichar para uma de suas amigas, que começaram a dar risadinhas e cutucar umas às outras. Patéticas.

–Bom dia turma! Hoje nós temos um novo aluno, ele veio transferido da faculdade de Naples, na Flórida. Você gostaria de falar algo para a turma? -O professor falou para o aluno novo, mas eu não queria saber de nada disso, por isso nem ergui a cabeça para ver quem era o tal aluno. Paul me cutucou novamente e eu olhei de canto para ele, que tinha um sorriso de orelha a orelha.

–Para com isso. –eu disse para ele em voz baixa, e voltei a desenhar a minha banana paraquedista, muito radical essa banana. Vi, com o canto do olho, Paul dar uma de ombros e olhar para frente, ainda sorrindo. “Idiota” pensei.

–Claro... Oi turma! –o novo aluno falou, a voz dele era familiar, mas eu não me lembrava de onde. –Bem... Como o professor disse eu estava estudando na faculdade de Naples, mas... Sabe, eu não estava feliz, e tudo por causa de uma garota. Uma garota que eu havia deixado para trás. Uma garota que eu havia deixado aqui. A garota que eu amo. E tomara que ela me ame também, porque eu viajei quase vinte horas só para ver ela. –Algumas garotas suspiraram e sorriram mais ainda, como eu disse: Patéticas. -E ela, essa garota, na verdade, está bem ali. Mas ela nem está prestando atenção no que eu estou dizendo aqui, já que ela está desenhando... Mas tudo bem. Sabe, eu só estou aqui me declarando para ela, não importa se ela não prestar atenção em mim... Não é, Alice? –eu senti toda a turma, cada misero aluno, se virar para mim.

Eu parei de desenhar, senti meu coração bater mais rápido e mais irregular, se eu morrer de uma parada cardíaca, a culpa é toda dele.

Meu lápis caiu no chão, fazendo eco pela sala, e eu lentamente ergui meus olhos para cima. Onde uma pessoa me olhava com incríveis olhos azuis, com um sorriso que eu havia sentido muita falta.

–Olá, meu amor. –Scott disse.