Ficamos acampados aquela noite, conversamos por um grande período e, pude conhecer um pouco mais aquele homem interessante. Ele tinha vinte e cinco anos, três a mais do que eu, vivia sozinho e, como meu pai, procurava um lugar tranquilo e seguro para morar. Há dois anos, tinha encontrado o Gordo ainda filhote, estava doente e, apesar de nós termos um medo patológico de gatos, decidiu cuidar dele e, hoje, além de seu melhor amigo, também era seu protetor.

Na manhã seguinte, me ajudou a subir no nosso transporte nada convencional, foi estranho no começo mas, em pouco tempo, comecei a me acostumar com a sensação de liberdade que ele proporcionava, além de ter os braços dele ao redor da minha cintura. Castle estava procurando uma jovem feiticeira que ele conheceu em uma viagem, talvez ela pudesse nos ajudar a encontrar Arrietty.

— Você tem certeza que pode confiar nela? – fiquei totalmente apavorada quando ele me disse que a tal feiticeira, era humana.

— Totalmente. Te garanto que se ela fosse para Arrietty, poderia nos ver sem problema algum. – seu sorriso solto dizia que ele confiava totalmente nela eu, por outro lado, ainda tinha minhas dúvidas.

Bem no meio da floresta, paramos em frente a uma velha cabana. Ele me segurou mais forte e fez um sinal para Gordo que, se levantou um pouco e tocou uma sineta. Após alguns minutos, surge uma jovem ruiva de olhos azuis, aparenta ter uns dezoito anos, talvez menos.

— Alexis! Está mais linda a cada dia que passa. – a jovem sorriu com o elogio.

— Richard Castle! Sempre galanteador. Já disse a você que não daria certo entre nós. – foi quando ela percebeu minha presença. — Mas, vejo que já tem companhia. – ela abriu um pouco mais a porta, nos dando livre acesso.

— Olá, meu nome é Kate Beckett e, nós não somos... – apontava para Castle e para mim, não queria que ela pensasse besteiras.

— Um casal? Que pena, vocês são bonitinhos juntos. Mas, o que os trazem aqui? – ela se ajoelhou, assim ficava mais fácil conversarmos.

— Estamos procurando um lugar, Arrietty. Já ouviu falar? Sabe onde fica? – Castle desmontou e, me ajudou a descer.

— A terra dos Minimoys. Já ouvi falar sim mas, eu pensei que fosse apenas uma lenda? – sei que meu pai iria detestar isso mas, até que eu gosto dessa humana.

— Eu também pensava assim mas, parece que o pai dela encontrou um mapa. – então Alexis olhou para mim.

— Um mapa? E onde ele está? – ela estava eufórica.

— Com os meus pais, que estão a caminho da cidade agora. Eu tive um probleminha aéreo e, acabei me perdendo deles. – da euforia a decepção em apenas um segundo.

— Será que você não pode fazer um feitiço ou, quem sabe existe algo em algum livro seu? – agora eu entendi qual é o plano de Castle.

— Só poderia fazer um feitiço de localização se, tivesse algum pedaço do mapa. – quando ela disse isso, eu me lembrei.

— Espere um segundo. – comecei a revirar a minha mochila. — Está aqui!! – e estendi o pedaço do mapa que se rasgou quando o pássaro me pegou. Na mão da Alexis, parecia um pequeno confete.

— Isso deve servir, vou começar o feitiço agora mas, ele demora um pouco para ficar pronto. Enquanto isso, descansem. Tenho certeza que a viagem até aqui foi cansativa e, pelo que vejo, você está machucada. Castle acomode a Beckett, vou preparar uma poção de cura, assim que estiver pronta eu chamo vocês. – ela se levantou e saiu.

— Poção de cura? Será que é seguro? – estava assustada, não conhecia esse negócio de feitiçaria.

— Totalmente, eu já tomei. Não é instantâneo mas, você se cura cinco vezes mais rápido. Até amanhã, estará andando sem muitas dificuldades. – ele me acompanhou até um cômodo especial, era tudo do nosso tamanho.

— Ela recebe muitas visitas da nossa gente aqui? – me acomodei na cama, que era mais macia que a minha.

— Não sei mas, ela é bem conhecida pelo nosso povo. Por isso fica isolada aqui na floresta, ela já teve grandes problemas por nos defender. – nossa, eu nunca imaginei conhecer uma humana que luta por nós, meus pais não iriam acreditar.

— Será que meus pais estão bem, Castle? – ele se sentou ao meu lado na cama e, segurou minha mão.

— Não vou mentir para você, eles enfrentarão muitos perigos pelo caminho mas, eu tenho certeza que vão conseguir.

— Como você pode saber? – encarava aqueles olhos azuis, queria ter a mesma certeza que ele.

— Porque eu vi como enfrentou aquele corvo e, você é uma mulher muito forte, Kate. Tenho certeza que puxou essa coragem dos seus pais então, sei que ficarão bem e, quando chegarmos em Arrietty, tenho certeza que eles estarão te esperando. – ele beijou minha mão, me fazendo sentir um arrepio e, se levantou. — Você precisa descansar, quando a poção estiver pronta, eu te aviso.

— Castle! – o chamei antes que saísse. Ele se virou para mim. — Obrigada.

— Pelo quê?

— Por me acompanhar e cuidar de mim. - como ele conseguia sorrir com os olhos?

— Sempre. – de novo aquela palavra que me fazia sentir... não saberia explicar mas, não pude evitar o sorriso. Ele saiu e, como a viagem tinha sido cansativa, adormeci rapidamente.

Não sei por quanto tempo eu dormi mas, o sonho que eu tive me fez acordar em um sobressalto. Ele estava do meu lado, acho que devo ter gritado durante o pesadelo.

— Está tudo bem, Kate. Foi só um pesadelo. – ele ajeitou uma mecha do meu cabelo, colocando-a atrás da minha orelha.

— Foi tão real, nunca tive um pesadelo assim. – eu ainda tremia.

— Quer falar sobre isso? Às vezes ajuda. – ele olhava diretamente para mim, me passando confiança.

— Estava em um lugar escuro, não dava para ver nada. Você estava lá comigo estávamos presos, o ar começou a acabar e, quando você adormeceu, eu entrei em desespero. – ele fazia movimentos circulares com o dedão em minha mão e, comecei a me acalmar.

— Isso explica porque você me chamou. Mas, não se preocupe. Foi apenas um sonho. – ele poderia dizer isso o dia inteiro mas, dentro de mim, alguma coisa me dizia que não era apenas um sonho.

— Tomara que sim.

— Tome, a Alexis terminou a poção de cura. A de localização só ficará pronta amanhã de manhã. Se quiser dormir um pouco mais, eu fico aqui com você. Pode ficar tranquila, eu protejo você. – tomei a poção, que tinha um gosto horrível e, sem falar nada, nos acomodamos na cama. Ele passou os braços em minha cintura e, sentindo o calor do seu corpo em minhas costas, adormeci num sono sem sonhos.

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