– Cinema. É uma boa escolha pra uma segunda. E um segundo encontro. - apontou Katniss.
– Espero que sim. E então, que filme quer assistir?
– Hm, Guardiões da Galáxia. - Não demora muito para responder.
– Ok. Vou comprar nossos ingressos. - Aviso.
– Tudo bem. - Ela ficou olhando os cartazes e as sinopses dos filmes.
Comprei os ingressos, a pipoca, o refrigerante e o chocolate. Eu sabia que Kat gostava do branco com pequenos pedaços de cookies.
– Acho que você precisa de uma ajudinha, né? - ela pega o balde de pipoca.
– Tudo bem, obrigado. A sessão vai começar às nove. - Digo.
– Vamos sentar e esperar um pouco, então. - Sugere. Nós sentamos em uma pequena mesa redonda ali perto.
Ficamos falando por uns quinze minutos, e faltava mais quinze para o filme começar.
Nós entramos em poucos e esperamos.
Durante o mesmo, percebi Katniss acompanhando as falas dos personagens.
O filme era realmente engraçado e um dos melhores da Marvel. Por ser segunda, eram pouquíssimas pessoas que tinham vindo no cinema, e menos ainda assistir o filme. Honestamente, eu prefiro o cinema assim.
– Você não me disse que já tinha assistido o filme. - Comento. Ela riu e deu uma mordida no chocolate.
– Se eu falasse, seria sem graça. E eu queria assistir de novo. - Deu de ombros.
– Como foi seu dia? - pergunto.
– Hm, surpreendentemente tranquilo. E o seu?
– Acho que normal. Nada de novo. Ainda tenho um lugar pra te levar. - Digo.
– Aonde? - pergunta animada.
– Uma lanchonete que tenho certeza que você vai gostar.
– Hm, ok.
Saímos do cinema e atravessamos a rua, andando por mais dois quarteirões.
Empurrei a porta de vidro e a segurei para Katniss entrar. Ela olhou tudo em volta maravilhada.
– Uau. Esse lugar é incrível! - exclamou.
– É sim. Sabia que você ia gostar. - Sorrio.
– É óbvio que gostei. Olha só pra isso! - ela se sentou numa das mesas ao lado da janela.
A lanchonete era uma réplica perfeita daquelas dos anos 50 ou 60. Igual à Mel's Diner.
– Boa noite. O que desejam? - Uma garçonete sobre patins vem até nós. Olho para Kat esperando ela pedir primeiro.
– Hm, eu quero um Sundae de chocolate.
– E eu um de morango. - Peço.
– Já tragos os pedidos. Com licença. - Ela saiu.
– Não acredito que também não conhecia esse lugar. - Apoiou a cabeça sobre a mão. - É muito legal! Hm, deixa eu fazer uma brincadeira contigo. - Ela pegou minha mão. - Moça, você tem uma caneta? - Perguntou para a garçonete que passava.
– Ah, claro. Aqui. - Ela entregou uma azul.
– Obrigada. - Ela soltou minha mão por um segundo, depois pegou de novo. - Olhe aqui. - Ela desenhou uma bolinha no dorso. - E agora... - ela virou, me mostrando minha palma com a bolinha no mesmo lugar. Comecei a rir.
– Bom truque. - Digo e pego seu dedo, que também estava desenhado.
– Sem graça. - Acusou brincando. No mesmo instante, as duas taças com os Sundaes foram postas à nossa frente pela garçonete.
– Obrigado. - Digo.
– Hm, esse Sundae é tão bom.
– Muito bom. - Concordo. Ela leva sua colher para a minha taça, pegando um pouco com bastante calda. - Ei! - ela riu e colocou na boca.
Quase não falamos enquanto tomávamos o sorvete, de tão gostoso que estava. Tinham poucas pessoas sentadas na lanchonete, comendo e conversando.
– Vamos embora? - Pergunto, dando o dinheiro para a garçonete. Ela agradeceu e sumiu.
– Vamos. - Abri a porta e saímos andando pelas calçadas.
– Acho que vai chover. - comento olhando o céu sem estrelas, mas cheio de nuvens carregadas.
– É, também acho. - Concordou despreocupada.
E começou a chover mesmo, quando atravessamos uma quadra. Faltavam seis para chegarmos em casa.
– Profecia cumprida. - Disse divertida. Sorri.
– É melhor irmos logo, então, ou vamos acabar doentes.
– Verdade. Espera um pouco. - Estancou no lugar. Ela abriu o zíper dos saltos e os tirou. - Não vou correr de saltos, ainda mais na chuva. - Deu de ombros sob meu olhar confuso.
– Correr? - Pergunto.
– Sim. - A chuva começou a cair mais forte. - Vamos! - Ela exclamou e começou a correr.
Todas vezes que encontrávamos alguma parte coberta, parávamos um pouco sob ela. Tirei minha jaqueta e tentei fazer uma proteção para nós enquanto corríamos, mesmo não resolvendo muita coisa.
Quando paramos mais uma vez na frente de uma loja fechada, Katniss começou a rir.
– Esse segundo encontro realmente está sendo mais divertido que pensei. - sorri junto dela. Seu cabelo e suas roupas já estavam parcialmente molhados, como eu.
– É, correr na chuva pode ser divertido. Já dá pra atravessar. Um, dois, vai! - Corremos para o outro lado, parando debaixo de algum estabelecimento.
– Quer saber? Já estamos ensopados mesmo. Quem está na chuva é pra se molhar. Literalmente. - Ela me puxou pela mão e começamos a passar pelos quarteirões sem parar, claro que esperando os carros passarem, se tivesse algum.
Chegamos na varanda de sua casa rindo. Mesmo com nosso estado, tinha sido divertido.
– Já dançou na chuva? - Pergunta. Nego com a cabeça. - Eu fazia isso quando criança. Era divertido. Minha mãe sempre me dava uma bronca porque eu podia ficar doente. - Riu por um tempo. - Ei, vamos fazer isso! - Ela mais mandou que sugeriu, pois me empurrou para o quintal. - Ah, isso é tão bom! - abriu os braços e girou, com os olhos fechados e a cabeça levantada, um sorriso adornando os lábios. - Tenta. - parou e me olhou por um instante.
Aceitei sua mão e brincamos na chuva.
A noite não tinha terminado, mas foi assim que parecemos crianças no meio dela.
Admito que foi divertido. Eu nunca tinha feito isso e gostei.
Katniss era uma garota de espírito livre. Não gostava de carregar mágoas ou tristezas, mas sim alegria e paixão. Ela conseguia realmente ser apaixonada pela vida. Eu admirava isso. E vê-la ali, dançando enquanto a água caía e a encharcava, fez algo se remexer dentro de mim. Uma sensação diferente e desconhecida. Uma sensação gostosa.
Parei meus movimentos e olhei o céu mais uma vez. É como se os pingos de água tivessem se congelado, e não conseguiam cair ou molhar meu rosto.
Abaixei a cabeça para ver Katniss puxando os cabelos para trás, sorrindo para o nada, ainda sem abrir os olhos.
Peguei sua mão e a girei, sorrindo, e no mesmo instante ela me deixeu ver os orbes cinza.
Eu não conseguia resistir. Katniss era meu ponto fraco, que eu demorara a achar. Eu me sentia como uma versão mais fria do Superman, e ela a kryptonita.
Em segundos, avancei em sua direção, me aproximando e segurando seu rosto, finalmente juntando meus lábios aos seus. Há quanto tempo eu esperava por aquele momento e não havia percebido?
Sua boca ainda estava com gosto de calda de chocolate, além de se misturar com a chuva. Seus lábios eram macios e gentis, além de suaves.
Katniss cedeu minha passagem e aprofundei o beijo.
Eu não sei quanto tempo se passou, não mesmo. Eu só queria aproveitar cada minuto daquele beijo.
Desci minhas mãos para sua cintura e a abracei, levantando Katniss até a mesma ficar da minha altura. Ela rapidamente colocou as suas em meu rosto, acariciando os cabelos da minha nuca com as unhas compridas.
Seu beijo era... Talvez indescritível. Ou talvez não tivessem palavras propriamente para fazer tal coisa. Ou até mesmo não existia uma só palavra que pudesse reproduzir como era.
Quando meus pulmões começaram a queimar, escorreguei. Quer dizer, nós escorregamos, porque acabei levando Katniss ao chão comigo. Pelo choque, rapidamente nos separamos, e ela começou a rir. Mas ainda assim ficamos no chão.
– Isso foi meio clichê. - comentou depois de um tempo.
– O quê?
– O beijo na chuva.
– Ah, é. Foi mesmo. - Concordo - Mas escorregar no meio dele, acredito que não é clichê.
– Não mesmo. Por isso falei meio clichê. - Aponta.
– É melhor você entrar. Pode ficar doente se não for tomar um banho quente nesse momento. - Me levantei e lhe estendi a mão. A chuva já estava mais fraca. Fala sério, deveria ser brincadeira, não é?
– Está parecendo a minha mãe. - Riu e também se levantou. - O mesmo pra você, Peeta. - Me olhou docemente.
– Não se esqueça de tomar um remédio também. - Pisco brincando e ela revira os olhos. - Eu colocaria minha jaqueta sobre os seus ombros agora, se ela não estivesse encharcada. - digo sincero. Ela sorriu.
– Claro. Fico lisonjeada mesmo assim. Então... Tchau. - disse baixo. Ela se virou, mas a puxei antes para lhe dar um último beijo casto em seus lábios. Sorrimos um para o outro e ela correu para as portas dos fundos. Esperei Kat entrar para atravessar o gramado o mais rápido que podia e abrir a minha.
Desabotoei a camisa e a deixei ali na área mesmo, num balde perto da máquina de lavar, junto dos meus tênis e meias.
Enquanto tomava um banho morno, pensei em como isso não tinha volta.
Em como, aos poucos, eu estava fazendo algo que nunca tinha realmente feito.
Eu estava começando a nutrir algo sincero por alguém. Não um alguém qualquer. Por Katniss. Pela garota que havia prometido me fazer sorrir frequentemente.

E não algo sincero qualquer. Algo como... Bem, eu podia dizer que era mais que um simples afeto, carinho ou qualquer coisa do tipo. Não podia dizer amor, é um sentimento extremo demais. Um gostar, a mesma coisa.

É, mas eu tinha certeza que o estágio do apaixonar-se não demoraria a ser ultrapassado.