Percy sempre representou muito pra mim e agora finalmente consigo ver isso. Quer dizer, eu sempre soube, desde que começamos á sair por causa daquele bendito trabalho de história, que ele era uma parte de mim, uma parte irritante ás vezes, mas com certeza uma parte na qual eu não conseguiria viver sem.

Mas agora, livre de Charles, depois de cinco longos anos longe dele, percebi que minha vida sempre girou em torno daquele que me ganhara com os olhos penetrantes há muitos anos atrás e pelo qual sempre fui apaixonada. Desde á quarta série, desde que o conheci. Na infância, eu me perdia em pensamentos para saber se ele me notara naquele dia, na adolescência sofri e chorei pelo carinho, pelo amor dele e na universidade foi com ele que passei meus melhores dias, por causa dele fiz a maior burrada da minha vida e graças á ele eu não havia me casado com o cara errado.

Ele era o cara certo, Perseu Jackson. Por ele vivi minha vida toda e sem ele eu não sei o que seria de mim. Foi com esse pensamento que me libertei da indiferença que me afogava por todo esse tempo, desde que nos separamos e resolvi seguir minha vida como ela sempre foi: Totalmente voltada á Percy.

E agora eu sorria porque era o seu rosto piscando no celular que vibrava ao som de Spaces:

–Annabeth?

Who's gonna be the first one
To stop the fight?
Who's gonna be the first one
To fall asleep at night?

–Oi... -Sorri ao ouvir a voz dele. Terna, segura. Consegui ouvir sua respiração se acalmando quando atendi e ouvi também ele sorrindo entre as palavras.

–Oi...

O silêncio reinou.

Who's gonna be the last one
To drive away?
Who's gonna be the last one
To forget this place?

–Olha, eu sinto muito por ter agido daquele jeito. Eu não sei o que deu em mim, me perdoa. Você não precisa largar tudo o que sempre sonhou por um otário como eu, eu não mereço que faça isso por mim. Eu não mereço voltar do nada e me achar no direito de tentar lutar por você. Eu sei que o que fiz foi errado, que eu devia ter te deixado explicar, que eu não devia ter ficado com outra pessoa, que eu devia ter ido atrás de você, assim como fiz agora. Estou cinco anos atrasado e sei disso.

Ele falou tudo de uma só vez, sem tomar folego, sem gaguejar, sem pensar nas palavras, como se tivesse treinado a tarde toda para me dizer aquilo. Desvio minha atenção do silêncio do telefone enquanto ele aguarda que eu diga alguma coisa para a estrada.

Eu estava indo ao encontro do homem da minha vida e não conseguia parar de sorrir por nem um segundo sequer. A rodovia estava vazia. A lua mostrava toda sua grandeza iluminando a floresta ás margens da estrada. O motor do Audi rugia no vazio da noite.

We keep taking turns

Will we ever learn?

–Annie, me desculpe, mas eu não posso viver sem você. Eu não consigo, tá legal? -As palavras dele ecoavam na minha cabeça e eu ia me lembrando de tudo pelo que passamos.

Me lembrei de quando Percy soube que eu tinha uma queda por ele, de quando tirei meu primeiro oito e de quando soube que nosso relacionamento não passava de uma mentira no início. Essa parte me magoava bastante, assim como quando me lembrava da cena terrível que era ter o meu namorado nos braços da minha até então melhor amiga. Me lembrei de quando ele chorou por mim e de quando se humilhou fazendo uma declaração melosa na frente de uma enorme plateia na chuva.

Sorri.

–Percy... -Eu sussurrei.

Oh, the spaces between us
Keep getting deeper
It's harder to reach her, even though I try

–Sim?

A voz dele me confortava de uma maneira inacreditável. O silêncio reinava dentro do carro e eu podia escutar a respiração ofegante de Perseu do outro lado da linha. Podia ouvir o coração dele batendo, desesperado por uma resposta minha. Podia "ouvir as engrenagens de seu cérebro" assim como ele dizia fazer quando eu estava concentrada em algo importante que precisasse de um pouco mais de atenção.

Assim como eu pude sentir a dor.

–Annabeth!

A voz dele era tão atraente. Podia ver seu rosto, ele estava sorrindo, as sobrancelhas unidas como costumavam ficar quando ele estava preocupado. Ficava lindo assim. Mas agora não era mais o silêncio.

Um barulho horrível, uma dor horrível.

Spaces between us

Hold all our secrets

Leaving us speechless, and I don't know why

Luz. Era tudo o que eu conseguia ver através dos estilhaços do para-brisas que caiam e se esparramavam no ar frio da noite.

Who's gonna be the first to say goodbye?

–PERCY! -Ouvi alguém gritar ao longe.

Um grito sufocado, assim como eu me sentia agora. Distante, mas que ia se aproximando, até eu me dar conta de que era a minha voz. Os meus pulmões ardiam na tentativa falha de respirar normalmente. Eu podia sentir o sangue se esvaindo lentamente do meu corpo e eu só conseguia me concentrar no nome dele.

–Meu Deus, moça! -Pude ouvir o motorista da carreta que atingira em cheio a lateral do carro. -Acalme-se! Oh, meu Deus, você vai ficar bem!

–PERCY! -Eu voltava a gritar.

–Vou chamá-lo, ele está vindo. -Eu sabia que era uma mentira, mas inconscientemente eu preferi acreditar que ele estava ali, do meu lado, segurando minha mão, me dizendo que eu ia ficar bem. -Alô? Por favor, eu estou no Quilômetro 19 da 21, saída para Manhattan! Ela está muito ferida, não sei se vai resistir. Falava ao telefone e não me viu no cruzamento. Mande qualquer um, agora! Meu nome é...

Eu não consegui terminar de ouvir.

Percy estava ali. Ele estava comigo, me abraçava com força, me dizia que tudo estava bem, que eu estava indo pra casa agora e que logo estaria comigo. Eu via nosso primeiro beijo, via nossa formatura, via ele correndo pela praia comigo nos ombros. Me lembro do vento bagunçando meu cabelo.

Vi o dia em que ele foi conhecer meus pais, como me contava, rindo, como ele teve que cobrir dois turnos no café para pagar o aluguel do blaser para aquele jantar. Como ele penteou os cabelos rebeldes e como disse que passou os três dias anteriores á esse encontro lendo sobre arquitetura e economia para agradar o senhor e senhora Chase. Me lembrei de como aquele dia foi desastroso e de como meus pais insistiram para que eu o deixasse.

Who's gonna be the last one
To drive away?
Forgetting every single promise we ever made

As luzes iam se apagando devagar. O último ruído que consegui ouvir vinha das sirenes da ambulância e as vozes na minha cabeça se foram, dando espaço para as vozes dos enfermeiros que conversavam comigo na tentativa de me manter acordada.

–Me diga, qual o seu nome?

–Ann... -Murmurei. -Annabeth.

–Annabeth Chase, não é? -Assenti devagar e ele imobilizou meu pescoço para que eu não me mexesse. -É o que diz nos seus documentos. Não se preocupe, você vai ficar bem. Já ligamos para Charles, seu noivo, e ele está vindo.

–Não! -Gritei. As lágrimas pareciam fazer um esforço enorme para rolar leo meu rosto e machucava bastante. -Percy...

–Percy? Era com quem conversava?

–Percy...

–Ele parece ser importante pra você. -O homem loiro sorriu e passou a mão pelos meus cabelos. -Infelizmente seu celular foi perdido nas ferragens. Mas, sabe, eu posso dar um jeito, querida. Percy estará te esperando assim que terminarmos e você ficar boa.

Pensei ter visto sua forma tremeluzir e brilhar, com a intensidade de uma supernova, mas então me dei conta de que estava apenas delirando. Ouvi uma voz feminina dentro da minha cabeça e primeiramente pensei ser de minha mãe, mas então ela se identificou:

Oh, the spaces between us
Keep getting deeper
It's harder to reach her, even though I try

Spaces between us
Hold all our secrets
Leaving us speechless, and I don't know why

Who's gonna be the first to say goodbye?

"O amor de vocês vai sobreviver, querida. Desde Romeu e Julieta que não gosto tanto de um casal como gosto de vocês. Foi um bom romance, não acha? Me desculpe por tantas confusões, prometo que a partir de agora vão ficar juntos, sem empecilhos, pra sempre, ou não sou a Deusa do Amor."

CONTINUA