Katniss observou Delly andando calmamente pelo corredor, enquanto todos os convidado olhavam com espanto, calados, para a cena ou começavam a cochichar entre si, primeiro em voz baixa, logo depois em voz alta o suficiente para saber que o tema era Gale. Aliás, este estava transtornado em um canto do salão gritando que não era verdade, que aquilo era montagem e nada mais. Seus familiares não sabiam o que fazer.

Aquilo fora uma bela vingança, planejada cuidadosamente.

Após Delly ter descoberto tudo, estranhamente as coisas estavam calmas. Delly não ia mais para o colégio. Disseram que ela estava doente. Gale ainda continuava pegando todas as garotas que podia. Nada havia mudado. Aquilo era um tanto perturbador e medonho de certa maneira, igual a calmaria antes da tempestade.

Uma semana depois, Delly apareceu em Panem. Ainda continuava a mesma garota doce de sempre. Mas, o que a deixou realmente surpresa, foi encontrar Delly na biblioteca certa manhã. Sentou-se em uma mesa bem distante da onde Delly se encontrava, abriu um livro qualquer e começou a folheá-lo ao acaso. Ouviu passos se aproximando, porém não levantou os olhos do livro.

― Katniss...

Não compreendeu por que ela a chamava, muito menos o fato de que não havia raiva alguma naquela voz. Ainda lembrava-se, perfeitamente, do seu último encontro com Delly. Levantou os olhos do livro calmamente, estudando o terreno.

― Posso me sentar? apontou para a cadeira em frente a Katniss.

Ela assentiu.

― Eu ainda estou com muito magoada com tudo o que aconteceu... ― começou a falar depois de alguns segundos de silêncio.

Peeta tinha razão, eles deviam um pedido de desculpa a Delly. Ela nunca quis ferir Delly, mas também nunca havia pensando nos sentimentos da garota.

― Delly ― suspirou. ― Você tem razão, eu sou egoísta e não pensei nas consequências dos meus atos... Só quero que saiba que... aquilo que fiz não foi pensando em te atingir... E... desculpa... apenas queria ferir Gale, nada mais... Mas meus atos acabaram ferindo outras pessoas... ― desviou o olhar de Delly.

― Katniss... o que você fez não foi certo. Mas... de certa maneira eu tenho que te agradecer, você me mostrou a verdadeira natureza de Gale. A verdade nem sempre é bonita, mas ela precisa ser conhecida. Nós duas fomos enganadas por Gale, fomos usadas por ele, somos vítimas. Não está certo eu continuar te odiando... eu não aprovo o que você e Peeta fizeram de forma alguma... Mas eu não posso te odiar, porque assim como eu, você também é uma vítima de Gale. Não quero que nenhuma outra garota seja vítima dele. Você pode me ajudar com isso? ― disse confiante.

Katniss olhou para a garota decidida que tinha em sua frente. Ela nunca suspeitou que por baixo da garota exemplo de Panem, queridinha de todos, existisse uma pessoa tão confiante.

― Sim, te ajudarei com todo prazer!

Delly lhe estendeu a mão, que Katniss imediatamente apertou com força. As duas sorriam uma para a outra, selando o pacto.

Elas planejaram cuidadosamente tudo. Delly era perfeita na execução dos seus planos. Ela, com certeza, era uma ótima atriz, já que em momento algum Gale desconfio que havia algo errado. Katniss e Delly reuniram todas as provas que puderam. Até mesmo pediram ajuda a garota ruiva do primeiro ano que haviam visto com Gale naquele dia. Quando a garota descobriu das mentiras de Gale, imediatamente concordou em ajudar, foi dela a ideia do videozinho, com a condição de que ninguém pudesse a identificar no vídeo.

Agora, Katniss sorria apreciando os resultados do plano. Tudo saíra perfeito, até mesmo mais perfeito do que havia planejado.

Discretamente saiu do salão. Delly estava arrancando o véu. Todos estavam tão chocados que nem haviam ido atrás dela.

― Jogue isso para mim no lixo ― disse Delly lhe entregando o véu.

Pegou o véu e sorriu.

― Pode deixar que eu jogarei!

― Somos ótimas nisso, não? ― falou Delly, enquanto sorria. ― Talvez, devêssemos fazer isso mais vezes... Você elaborando um plano e eu o executando...

Katniss assentiu. Delly estendeu a mão para ela. As duas deram um demorado aperto de mão. Haviam sido ótimas aliadas, haviam conseguido o que queriam.

Delly começou a andar em direção ao carro que a esperava. Ela iria direto para o aeroporto. Como dissera em seu discurso iria aproveitar sua lua de mel em Paris.

― Delly!

Ela parou e virou-se para Peeta que a olhava, um tanto perplexo.

― Sim? ― perguntou sorrindo.

― Você... ― parecia não saber o que dizer.

― Sim, eu e Katniss fizemos isso. Sim, eu sabia de tudo. Respondi suas perguntas?

― Eu... apenas queria pedir desculpas... Olha, o Peeta que aceitou a aposta não é o mesmo de agora... Eu realmente não pensei nas consequências. Não pensei o quanto eu poderia machucar outras pessoas...

― Peeta... ― os penetrantes olhos de Delly estavam na face de Peeta. ― Você brincou com os sentimentos de outras pessoas... ― sua voz era calma.

― Delly, me perdoa ― Peeta fitava o chão com uma expressão desajeitada.

― Só me prometa que não fará mais coisas como essas, sem pensar em suas consequências, certo? Não mais machucara nenhuma garota...

Peeta assentiu.

― Eu realmente gostei de você... Sabe, eu sempre tento ver o lado positivo de tudo... Acredito que tudo tem um lado bom... Até mesmo do que aconteceu... posso tirar uma lição... Aprendi muitas coisas por sua causa... E eu cresci. Crescer dói, mas é necessário ― Delly sorriu. ― Adeus, Katniss, minha aliada... Peeta... Espero que quando nos encontramos novamente, seja uma ocasião mais feliz.

Ela abriu a porta do carro e entrou. Ainda sorria quando fez isso.

Peeta e Katniss se olharam. Não disseram nada. O barulho dos convidados, um pouco recuperados do choque, chegou até eles. Prim correu até Peeta.

― Peeta!

― Prim! ― ele bagunçou um pouco os cabelos louros dela.

― Minha irmã não está linda hoje?

Peeta olhou para Katniss.

― Sim, lindíssima, Prim.

― Ela é a garota mais linda daqui, não é?

― Com certeza ― ele continuava olhando Katniss.

A risada de Prim soou.

― Você pensou no que eu te pedi? ― perguntou a irmã de Katniss, sorrindo para Peeta.

― Pensei e eu vou fazer o que me pediu ― piscou para Prim.

Um enorme sorriso iluminou a face corada da pequena Prim.

― Mesmo?

― Eu prometo!

― Promessa de mindinho?

Peeta se abaixou até ficar na altura de Prim e esticou o dedo mindinho para ela.

― Promessa de mindinho!

Os dois enlaçaram seus dedos mindinhos.

― Você tem que cumprir, viu? Não pode quebrar uma promessa de mindinho! ― disse com uma expressão séria.

― Não quebrarei ― afirmou Peeta com seriedade.

Katniss não estava compreendendo nenhum um pouco a cena. Entretanto, não se atrevia a perguntar qual era a promessa que aqueles dois estavam fazendo.

― Annie está me chamando ― disse, saindo de perto deles. Por alguma razão sentia como se estivesse diante de dois cúmplices de um crime.

Voltou para dentro do salão. Foi até onde Annie estava. Ela conversava com Stefan, a família Odair possuía negócios tanto com a família Hawthorne quanto com a família Cartwright. Porém, Finnick não estava lá.

Finnick não poderia estar lá. Não depois do que acontecera. Finnick não aguentara mais aquela situação. Ele adorava Stefan, e já não mais podia conviver com o irmão devido toda aquela culpa que carregava. Um dia Finnick explodiu e revelou tudo, que amava Annie, a noiva do irmão, desde os quinze anos e que não conseguia esquecê-la. Stefan compreendeu isso. No entanto, não conseguiu aceitar a parte do irmão o ter traído com sua noiva. Resultado: um noivado desfeito, três corações quebrados, dois irmãos sofrendo.

― Olá, Stefan! ― cumprimentou.

― Katniss! ― respondeu ao cumprimento. ― Acredito que devo trazer má sorte para qualquer casamento que participe ― havia certa tristeza naquela frase, mas disfarçada graças ao tom irônico.

Tentou sorrir, porém seu sorriso saiu um tanto artificial. Annie apenas tomou um gole do martini que tinhas mãos.

― Devemos aproveitar a festa, não? ― disse de um modo descontraído, uma tentativa de acabar com a tensão que pairava no ar.

― E que festa?! Uma noiva que foge no meio do casamento, mas antes revela os motivos... Isso é algo que não se vê todos os dias por aí ― Stefan tomou um grande trago de seu whisky.

Olhou em volta. Os pais de Delly ainda estavam em choque. A mãe de Delly tentava falar com a filha por meio do celular. O pai de Delly falava com um dos Hawthorne, parecia ser um tio de Gale, o senhor Cartwright gesticulava bastante. Não sabia o que ele falava, mas tinha uma certeza, não queria o estar ouvindo. Localizou a mãe de Gale em um canto do salão cercada por seus três filhos menores. Ela parecia ser uma mulher bastante simpática. A senhora Hawthorne tentava cuidar da bagunça que seu filho causava, conversando com alguns convidados. Não viu o pai de Gale em lugar nenhum. E também não encontrou Gale. A estas horas deveria estar em algum lugar, tentando de esconder da vergonha a que fora exporto perante toda sua família e os convidados. Ele teve o que mereceu. Agora não poderia enganar mais nenhuma garota, pelo menos nenhuma em Panem.

Sua missão estava comprida. Estava na hora de ir. Se despediu de Stefan e Annie. Foi procurar por sua irmã. A encontrou ainda junto com Peeta.

― Vamos, Prim!

― Não podemos ficar mais um pouquinho? ― pediu com seus grandes olhos azuis.

― Não, já está na hora de irmos...

Prim suspirou, mas assentiu.

― Katniss... talvez, amanhã, Prim, você e eu poderíamos ir ao cinema e depois tomar um sorvete, que tal? ― Peeta falava isso de uma maneira tímida que lembrava um garoto que pedia seu primeiro encontro.

― Sim! ― Prim respondeu imediatamente.

― Prim! ― repreendeu à irmã.

― Ah, por favor! Por favor! ― falou Prim usando sua voz mais doce.

Katniss suspirou.

― Tudo bem!

Prim e Peeta sorriram, cúmplices.

― Agora vamos!

Prim de despediu de Peeta com um beijinho na bochecha.

― Peeta estava tão bonito hoje! ― disse Prim no carro.

―...

― Estava parecendo um príncipe.

― ...

― Um príncipe mil vezes mais bonito que os do conto de fadas.

― Prim!

― O que foi? Só estava falando ― disse, fingindo que estava emburrada.

Katniss riu, não conseguia ficar zangada com a irmã por muito tempo.

Seu celular começou a tocar, o ignorou e continuou dirigindo. O celular voltou a tocar. Olhou para a tela. Gale. Agora que não atenderia o celular mesmo. Não queria ter mais nada a ver com Gale. Ele era passado em sua vida. O celular continuava a tocar.

Notou que um carro a seguia. Reconheceu imediatamente a BMW de Gale. O que ele estava pensando? Furiosa atendeu ao celular.

― Por que está me seguindo? Pare com isso!

― Vadia, você acabou com a minha vida! Eu vi você falando com Delly! Foi você, não foi? Foi você que contou tudo para Delly! ― sua voz soava raivosa e completamente descontrolada. A calma não era o ponto forte de Gale.

― Sim, fui! ― admitiu com certo orgulho. ― E espero que tenha acabado mesmo com sua vida! Adeus, Gale! Pare de me seguir, se continuar assim vou ligar para polícia! ― desligou o celular imediatamente e pisou no acelerador.

O celular começou a tocar novamente. Não atendeu e pisou ainda mais no acelerador. Notou que Gale continuava a seguir e cada vez mais perto. Quanto mais pisava no acelerador, mais ele se aproximava.

Não soube como. Nunca poderia entender aquilo. Gale a alcançou. Ele jogou seu carro para cima do dela.

Tudo ficou escuro. Katniss perdeu os sentidos