A garota loura caminhava lentamente até o altar. Estava realmente bela com aquele vestido branco todo rendado. Um maravilhoso sorriso na face, a deixava ainda mais linda.

Peeta ainda não acreditava naquilo. Tudo era surreal demais. Delly se casando. A garota só tinha dezoito anos. No entanto, a pior parte era o noivo. Quem teria merda suficiente na cabeça para se casar com aquele imbecil? Delly era inteligente demais para isso. Não, realmente não podia acreditar no que seus olhos estavam vendo. Ela iria se casar com Gale? Por acaso o mundo iria acabar, e ele não sabia?

Havia muitos convidados no casamento. Os pais de Gale deviam ter gastado uma verdadeira fortuna naquilo. Os Hawthorne haviam feito questão de arcar com todas as despesas.

Diversas vezes tentara falar com Delly. Havia pedido desculpas mil e uma vezes. Havia tentado a alertar sobre o tipo de cretino que Gale era. Porém, Delly se recusava a falar com ele. Estava magoada demais com tudo o que acontecera. Já havia se passado um mês e meio desde a descoberta da aposta. Desde então, Delly nunca mais falara com ele. Preferia que a garota tivesse gritado com ele, o amaldiçoado, lhe desse um soco, menos aquele silêncio angustiante.

A notícia do casamento havia explodido como uma bomba em toda Panem. Mas ninguém ficara mais perplexo do que Peeta. Ele ainda não compreendera como Delly poderia se casar com aquele cretino. Suspirou.

Há apenas alguns metros, se encontrava Katniss. Lindíssima em um vestido verde, curto, que acentuava suas curvas. De seu lado, estava Prim e Annie. Era um tanto estranho ver Katniss naquele casamento. Mas se quase todos os alunos de Panem também estavam lá, isso não era uma coisa tão inusitada assim.

Katniss. Agora podia compreender um pouco mais dela. Tudo fazia sentindo. Ainda lembrava-se das palavras perturbadoras de Katniss, que proferira quando estava bêbada:

“Eu não sou alguém que mereça ser amada” ela dissera naquela noite em que estava completamente embriagada. Ela proferira aquelas palavras com tanta angústia e tristeza que nunca poderia esquecê-las. Talvez, era por isso que Katniss rejeitasse seu amor. Ela acreditava que não era alguém digno de ser amado.

Foi difícil deixar Katniss sozinha naquela noite. Queria que ela tivesse lhe pedido para ficar, já que não se atrevia a fazer tal coisa. Se ela tivesse pedido, seria o cara mais feliz do mundo. A manteve o quanto pode em seus braços, a apertava fortemente contra seu peito, sentindo cada centímetro do seu corpo. Não podia negar o quanto sentira falta do calor daquele corpo. Porém, no final reuniu forças e a deitou na cama, a cobriu gentilmente e saiu do quarto.

Passou a noite toda acordado pensando no que faria a partir daquele momento. Delly havia descoberto tudo. Esse era um grande problema. Vira o quanto a garota estava ferida, pudera sentir isso naquele olhar atormentado que ela lhe lançou no banheiro. Será que um dia ela o perdoaria? Delly era uma garota legal. Quando aceitara aquela aposta não pensara nela, e no quanto poderia feri-la. Não pensara em nada na verdade, apenas em ter Katniss em sua cama. No entanto, já não era mais assim. Ele amava Katniss e sofria por ela. Agora podia compreender também como era o sofrimento, a dor.

O que deveria fazer? A pergunta pairava em sua cabeça como uma sombra.

Não foi ao colégio naquele dia. Sabia que não conseguiria se concentrar em nenhuma aula.

Estava no jardim, quando escutou os miados do gato nos arbustos. Ele havia ficado preso lá novamente. Tentou retirar o gato e, como sempre, retribui sua ajuda com arranhões e miados ameaçadores.

Cansado de lutar contra o gato se sentou na grama.

― Buttercup! ― a pequena garotinha se aproximou do arbusto. ― Sai daí! Ah, você está preso! ― disse Prim e calmamente retirou o gato.

Peeta a olhou espantado.

― Como você consegue que este gato te obedeça?

Uma risada travessa saiu dos lábios da garotinha.

― Hum... Buttercup é um gato bonzinho é que ele se finge de durão na frente das pessoas. Mas, na verdade, tem o coração mais doce de todos os gatos. Ser durão é a arma de sobrevivência de Buttercup. Ele já foi ferido muitas e muitas vezes por causa de seu coração doce, e agora não deseja mais ser ferido, por isso finge-se de durão.

Peeta olhou para o gato. O analisou cuidadosamente. Os olhos do gato não eram nada ameaçadores. Eram dóceis. Talvez, Prim estivesse certa.

― Sabe, Peeta. Minha irmã e Buttercup são iguaizinhos. Eles fingem ter um coração de gelo. Mas o coração deles não é de gelo, é tão quente como o fogo. Só é preciso ter um pouco de paciência para descobri-los ― Prim sorriu para ele. ― Minha irmã sofreu muito... ela precisou cuidar de mim sozinha, quando tinha apenas onze anos. Quando alguém precisa enfrentar algo assim, acaba criando algumas defesas. Buttercup quando filhote também precisou sobreviver e por isso criou essas defesas.

Prim se aproximou dele.

― Não desista de minha irmã ― sorriu e lhe deu um rápido beijinho na bochecha.

Prim rapidamente sumiu de sua vista.

No outro dia, foi para o colégio. Procurou Katniss por todos os lados. Havia tomado uma decisão. A encontrou na biblioteca, folheando distraidamente alguns livros. Sorriu e caminhou até ela.

― Katniss ― chamou.

Ela o olhou.

― Sobre... Delly... andei pensando, acredito que devemos um pedido de desculpa a ela... Não sei se ela irá aceitar, acredito que não, mas pelo menos devemos tentar.

Katniss o encarava.

― Não acredito que ela irá querer ouvir... ― disse vagamente.

― Pelo menos devemos tentar ― insistiu. ― O que fizemos com ela não foi certo. Sei que o plano inicial era atingir Gale, mas Delly foi quem saiu ferida nessa aposta.

Katniss suspirou. Será que ela havia se arrependido da aposta? Ele sabia que entrar naquela aposta fora uma bela furada, mas... nem as consequências não foram de todo ruins. Ele se apaixonara por Katniss no final de tudo. Sofrera, era verdade, pensara que podia fugir daquele amor, se amaldiçoara centenas de vezes por isso, tentara fazer que tudo voltasse a ser como antes (falhando miseravelmente). E principalmente, aprendera que nunca poderia fugir daquele sentimento.

Olhou para Katniss. Prim tinha razão, Katniss era alguém que já se ferira muito. “Eu não sou alguém que mereça ser amada”, aquelas palavras eram consequências de toda a dor que Katniss sentira no passado. Sofrera tanto que chegara ao ponto de acreditar que ninguém deveria lhe amar. Era por isso que construíra aquela muralha em sua volta. Assim como o gato de Prim, Katniss iria ferir quem ousasse passar aquelas muralhas. Porém, ele não iria desistir. Ele iria transpor aquelas muralhas. Assim, como Katniss havia invadido as muralhas de seu coração e penetrado lentamente. Seria persistente. Dessa vez iria com calma. Mostraria para Katniss que ela merecia ser amada.

Voltou sua atenção para o casamento que ocorria em sua frente. Ainda não acreditava no que estava vendo. Gale sorria para Delly. Olhando assim até parecia o noivo mais apaixonado que já existira, porém conhecia a verdade.

Estava na hora de proferir os votos. Gale fez um discurso meloso e cheio de clichês.

Delly sorriu e tomou a palavra.

― Nesse dia tão especial, preparei uma surpresa para mostrar ao mundo o verdadeiro Gale ― disse cheia de doçura. ― Minhas palavras não seriam suficientes para descrever meus sentimentos, por isso coloquei tudo aqui ― pediu para uma das madrinhas o buquê e retirou um pen drive. Sorrindo pediu para alguém colocar o pen drive em um notebook que estava conectado ao imenso telão que ficava em um canto do salão.

O primeiro slide mostrava um enorme coração e uma frase nem no meio: o verdadeiro Gale.

No segundo slide surgiu uma imagem de Gale sorrindo e a frase: esse é o falso Gale.

Os convidados trocaram olhares confulsos.

Terceiro slide: Gale beijando uma garota.

Os convidados olharam espantados para aquilo. Gale fitava o slide com uma expressão de incredibilidade.

Quarto slide: Gale sem camisa em uma festinha particular cercado por quatro garotas nuas.

Gale estava sem palavras, tentava fazer parar a apresentação de slide.

Quinto slide: Isso ainda não é suficiente? Que tal um vídeo?

Um pequeno vídeo começou a rodar. Não era possível ver quem era a garota, mas claramente, não era Delly, já que a garota era ruiva. No vídeo Gale (ninguém poderia negar que não era ele no vídeo) e a garota transavam.

Finalmente, Gale conseguiu parar a apresentação de slides. Reinava um silêncio absoluto, todos estavam tão chocados que não conseguiam proferir uma única palavra. Delly sorriu.

― Sim, este é o verdadeiro Gale! Ele estava me traindo o tempo todo! ― riu. ― Mas agora, acredito que não irá mais rir de mim, não é mesmo, Gale? E, Gale, não existem garotas certinhas ― riu ainda mais alto.

Delly olhou para Katniss que sorria de uma maneira triunfal.

― Agora, eu vou me divertir em minha lua de mel em Paris por uns bons dias e totalmente sozinha. Obrigada senhores Hawthorne por bancarem a viagem. Saibam que vou me divertir muito! ― Delly olhou para os convidados. ― Aproveitem a festa!

Ela começou a caminhar pelo grande salão com a cabeça erguida e um belo sorriso na face.