Convergente II escrita por Juliane


Capítulo 35
Ela




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Parada com a folha timbrada na mão penso em correr imediatamente ao centro de comando para me inscrever nos cursos e enfim pôr em prática meus planos, mas então me dou conta que esta tipoia pode ser um problema. Wes terá que me dar alta a qualquer custo.

Visto-me rapidamente e saio em busca de Wes com a consciência de que provavelmente devo estar descabelada ou com alguma peça de roupa pelo lado avesso, mas não ligo, afinal as coisas estão começando a fluir. Entro na recepção do hospital, o balcão da recepção está vazio, onde diabos está a recepcionista quando se precisa dela? Espero pelo que parece ser uns 15 minutos, então a minha paciência se esgota, contorno o balcão e com o corpo empurro as portas duplas que dão acesso a área restrita. Nesse momento a recepcionista que estava de papo com um enfermeiro bonitão corre na minha direção:

_ Ei! Você não pode entrar aqui.

Eu não paro, continuo andando e examinando as salas de portas abertas pelas quais eu vou passando enquanto respondo seca e objetivamente.

_ Estou procurando o Dr. Wes.

_ Você não tem permissão para entrar aqui. Por favor se dirija ao balcão da recepção que vou interfonar para a ala médica para saber onde ele está. - Ela responde cautelosamente.

Eu paro de frente para moça que está vestindo um uniforme azul composto por um colete muito bem cortado, uma camisa branca e uma calça reta... As cores, branco e azul e os óculos me remetem a Jeanine Matthews, embora a moça em questão não tenha nem de longe a aparência bem apanhada e altiva que Jeanine costumava ter. Do contrário, a moça é extremamente magra e alta o bastante para sustentar uma postura um tanto curvada, como se desejasse ser menor, os cabelos são castanhos lisos escorridos de tal maneira que suas orelhas proeminentes se sobressaem lhe conferindo uma aparência ainda mais estranha. Leio o nome no crachá: Andy Whaters.

_ Andy Whaters, recepcionista?!

_ Sim... - Ela responde, na defensiva.

_ Então Andy, esperei por mais de 15 minutos na recepção que por sinal estava vazia. - Digo, com o mau humor evidente na minha voz.

_ Eu só estava... Só estava. - Ela gagueja, tentando justificar mas eu a interrompo.

_ Não, na verdade não me interessa o que você estava fazendo ao invés de estar no posto de trabalho, apenas veja se consegue descobrir por onde anda Wes que prometo não sair daqui. - Ela cora, assente com a cabeça e desaparece em direção a recepção.

_ Beatrice Prior, certo? - Ouço a voz que vem na minha nas minhas costas.

Viro-me e vejo o enfermeiro bonitão e sorridente que estava com Andy ainda a pouco.

_ Sim. - Respondo sem entusiasmo algum.

_ Como vai o ombro?

_ Bem, obrigada.

Ele sorri sedutoramente esperando causar algum efeito sobre mim. Imagino se essa tática sempre funciona...

_ Prestei socorro a Alejandra no dia que você quebrou no nariz dela, e tenho que admitir pra uma garota pequena e magra você tem uma força e tanto.- Ele diz levantando as sobrancelhas e abrindo um sorriso de 100 mil watts.

_ Eu sei me defender. - Digo apática.

Neste momento a recepcionista surge postando-se entre nós e lança um olhar reprovativo na direção do enfermeiro. Então ele levanta as mãos em sinal de rendição e caminha na direção de onde deve ter saído.

_ Aproposito, Beatrice, meu nome é David Goldman.

Não tinha gostado dele e esse seu jeito presunçoso e deliberadamente sedutor e agora ao saber do nome... Gosto menos ainda.

_ Então Andy, sabe dizer onde posso encontrar Wes?

_ Sim, ele está com a Dr. Gail no laboratório de infectologia no 3º Nível. Vou levá-la até eles.

Eu concordo assentindo com a cabeça e a sigo. Atravessamos o corredor, ela aperta o botão de um elevador e fico me perguntando, vamos subir para onde se essa construção é térrea?! Então me dou conta de que esta base tem vários níveis abaixo do solo como os bunkers sobre os quais já li a respeito. O teclado ao lado da porta é diferente de todos os que eu já tenha visto em elevadores, são 8 andares subterrâneos verticais, mas o que me chama atenção são as numerações acompanhadas de letras na horizontal, quer dizer, pelo que presumo ele se move para baixo e para os lados...

A recepcionista Andy pressiona o botão de número 3 e em seguida o botão correspondente a letra D, imediatamente sinto a caixa de metal descer e parar com um leve solavanco seguido de uma guinada para esquerda e por fim paramos, as portas se abrem e me deparo com um logo corredor, muito bem iluminado por luzes por fluorescentes o corredor é ladeado por vitrines, salas de vidro, cada uma dela com diversas parafernalhas tecnológicas e científicas, das quais não faço ideia da utilidade. Vários grupos de pessoas vestidas com jalecos brancos conversam sobre o que imagino ser algum objeto de estudo, seus rostos concentrados e completamente estranhos para mim, nunca os vi no restaurante, ou nos corredores da Base, me pergunto de onde vem, onde vivem?...

Na última sala avisto através do vidro Wes e Gail, ela gesticula enquanto fala algo impossível de ser ouvido através do vidro enquanto ele a encara pensativo. Quando por fim paramos em frente a sala, percebo que não há portas, mas Andy inclina levemente a cabeça, se despedindo, gira os calcanhares e se vai antes que eu possa perguntar como farei para entrar. Então eu bato no vidro de leve, com o punho cerrado, na intenção de chamar a atenção dele. Wes levanta a cabeça e caminha em minha direção.

Ele toca com o indicador direito no vidro e um teclado surge iluminado por luzes azuis. Ele digita uma combinação numérica e então o vidro desliza lentamente para esquerda como se de fato estivesse perfurando a parede rochosa ao seu lado. O local tem um aspecto cavernoso, fora as paredes de vidro a estrutura toda parece ter sido entalhada na pedra...

_ Ual, que lugar é esse? - Pergunto impressionada com o que vejo.

_ Esse é o laboratório de infectologia e Virologia. Aqui são estudados vírus e bactérias naturais e sintéticas.

_ Interessante. Mas o que me traz aqui, indo direto ao ponto, porque vejo que você está ocupado, é que preciso que você assine a minha alta médica.

_ E por que eu faria isso, se você ainda não concluiu o seu tratamento?

_ Porque eu fui aceita no curso de pilotos e no treinamento militar e pretendo iniciar hoje! - Ele ignora deliberadamente a minha resposta e muda de assunto.

_ Onde está a sua tipoia?

_ Tirei para tomar banho e na pressa acabei esquecendo de colocá-la e de qualquer forma, não sinto dores e consigo movimentar meu braço sem grandes dificuldades - Minto um pouco mas não sei até que ponto colou, já que ele está me olhando desconfiado.

Wes põe uma mão em meu ombro dolorido e uma pequena pontada de dor me atinge instantaneamente. Com a outra mão ele segura o meu antebraço e tenho que me concentrar muito para que meu rosto não me denuncie. Forço um sorriso enquanto ele segura meu cotovelo e movimenta lentamente meu antebraço.

_ Beatrice, você sabe que eu sei que está mentindo, que ainda dói, não é mesmo?

_ Não dói nada! - Minha vos sai mais aguda do que gostaria, por causa da dor.

_ Além do fato de você ser uma péssima atriz, eu conheço todos os estágios de recuperação da sua lesão, então não adianta mentir...

_ Por favor Wes! - Eu suplico enquanto ele movimenta meu braço.

_ Beatrice, começamos hoje mesmo com as sessões de fisioterapia e até o final da semana você estará boa o bastante para dar segmento a seus planos.

_ Wes, eu já fui baleada no ombro! Já tive ferimentos muito piores. Preciso ir ao Comando para apresentar-me.

_ Eu conheço seu histórico médico... - Ele diz.

Eu fico parada com os olhos suplicantes esperando que ele mude de ideia, então ele põe as mãos na cintura, numa clara posição de advertência, solta o ar ruidosamente e diz:

_ Vou emitir uma autorização para que você possa apresentar-se junto ao comando. No entanto as aulas práticas só poderão ser liberadas a partir da semana que vem! - Ele enfatiza a última frase.

Num arroubo de contentamento, com o braço bom agarro o pescoço de Wes e lhe dou um beijo no rosto, ele cora um pouco e sorri satisfeito com a minha demonstração de afeto.

_ Sabia que Beatrice era uma paciente especial, mas não imagina o quanto estão íntimos. - Diz Gail enquanto nos olha com os olhos especulativos.

_ Bem, digamos que na ausência de sua família biológica e de seus amigos, eu sou o mais próximo de família que ela pode ter no momento. - Wes responde.

_ Está certo... - Ela diz de forma complacente, lançando um sorriso falso na minha direção.

_ Vamos voltar ao trabalho? - Ela sugere, agora dirigindo-se exclusivamente a ele.

_ Em 10 minutos. Agora preciso resolver uma questão com Beatrice. - Ele responde, conduzindo-me para fora da sala.

_ Até mais Dr.ª Gail. - Me despeço por cima do ombro, satisfeita por me ver livre dela.

Quando estamos longe o bastante para não sermos ouvidos eu o questiono:

_ Qual o lance entre vocês?

_ Lance? - Ele me olha meio confuso.

_ Sim, entre você e Dr.ª Gail.

_ Não tem lance nenhum. Somos colegas de profissão e pesquisadores.

_ Entendo...

_ O quê? - Ele pergunta aparentemente desconfortável com a ambiguidade no tom da minha resposta.

_ Nada não. Ela me pareceu interessada demais na sua vida pessoal. - Respondo casualmente, embora tencionasse dizer que acho ela falsa, dissimulada e não sei porque, mas algo me diz que ela é perigosa.

_ Gail é, digamos... As vezes, um tanto procaz.

_ O que significa?

_ Em outras palavras, intrometida.

_ Ah, tah. Mas você confia nela?

_ Em que sentido? - Ele quis saber.

_ Ora, você confia ou não...

_ Beatrice, profissionalmente ela é uma profissional impecável. Pessoalmente não tenho relações com ela. Então profissionalmente, confio sim.

_ Hum... Eu não confio. Não gosto dela.

_ Baseada em que você a julga.

_ Há uma empatia forçada e ensaiada em tudo que ela diz...

_ É impressão sua. Tem também o fato dela ser responsável pelo tratamento de Alejandra. Talvez a sua aversão provenha daí...

_ Não... Tem algo mais... Só não me pergunte o quê, mas eu vou descobrir!

_ Okay.

Entramos no elevador que nos levou de volta ao hospital, já em sua sala Wes escreveu de próprio punho com a sua caligrafia masculina particularmente desleixada e quase ininteligível a prescrição que me libera para iniciar as aulas teóricas. Eu pego o papel agradeço rapidamente e corro em direção ao Centro de Comando.

Chego um tanto ofegante, a recepcionista a Soldado James, está distraída de modo que não percebe a minha aproximação até que eu esteja em sua frente com uma mão apoiando o peso do meu corpo em seu balcão e respirando ruidosamente para tentar recuperar o fôlego e acalmar as batidas do meu coração. Definitivamente estou fora de forma.

_ Recebi isto. - Digo entregando a carta de aprovação.

_ Ah sim, o General Sparks pediu para ser avisado assim que a senhorita chegasse. - Ela me devolve a folha, põe o headphone digita um número no seu teclado e então depois do que calculo ser o terceiro toque ela diz:

_ General Sparks? A Senhorita Prior aguarda na recepção.

Então depois de alguns segundo ouvindo as instruções dele, ela responde:

_ Sim, senhor. - E por fim encerra a ligação.

Eu a olho com expectativa.

_ Ele pediu para que o aguarde na primeira sala a direita no corredor, ele irá encontrá-la em alguns minutos.

Assinto com a cabeça e atravesso as portas duplas do corredor e conforme as instruções entro na primeira sala a direita. O ambiente é pequeno, iluminado apenas por uma lâmpada incandescente que pende de uma luminária velha e castigada pelo tempo, o que confere ao ambiente uma aparência opressora. Tenho certeza de que é proposital.

Sento-me na cadeira que fica em frente a pequena escrivaninha e aguardo... Aguardo e aguardo, ansiosa mas não intimidada, pelo contrário, estou segura, sei muito bem o que quero e o que devo fazer para obtê-lo.

A tortura psicológica da espera, que diga-se de passagem é proposital, já passa de 30 minutos, mas não causa nenhum abalo na minha determinação, esse pensamento me diverte e um pequeno riso sarcástico começa a se formar em meus lábios. Ouço o ruido da porta se abrindo e não me dou o trabalho de virar-me para vê-lo até que ele chama a minha atenção:

_ Srtª Prior, boa noite! Me surpreende que tenha vindo ainda esta noite, esperava pela sua visita amanhã de manhã e na companhia do seu médico.

Eu levanto-me não em sinal de respeito como deveria, mas para que os meus olhos possam ficar quase que no mesmo nível dos seus.

_ Na verdade, estive entediada durante todo esse período de reclusão. O Dr. Wes insiste que eu ainda não estou totalmente recuperada, mas preciso ocupar a minha mente. - Digo lhe estendendo a folha de receituário que Wes me deu.

Ele examina a folha, por alguns instantes e então volta a me encarar.

_ Sente-se. - Ele diz enquanto toma seu posto atrás da escrivaninha e eu retomo meu lugar, ao passo que ele prossegue:

_ Pelo que está escrito aqui, o Dr. Paul Wes Shefield está liberando atividades teóricas.

_ Sim senhor.

_ Além dos cursos, a Senhorita tem obrigação de cumprir sua pena, quatro horas de serviços na manutenção e organização do centro de treinamento. A atividade geralmente é braçal, de modo que ainda lhe é vetado. Mas penso que poderemos aproveitar os seus serviços na sala de registros e no arquivo morto, pelo menos até a senhorita ter recebido alta médica.

_ Sim senhor, posso começar quando quiser.

_ Evidentemente. - Responde secamente, sua arrogância não me incomoda... Não mais.

_ Quanto aos seus cursos, hoje mesmo a senhorita deverá deixar o seu dormitório para juntar-se ao sua turma no alojamento dos recrutas. Todos os seus atuais pertences deverão ser deixados para traz.

_ Sim senhor.

_ O toque de recolher do alojamento é as 22 horas. Qualquer recruta que desobedecer o toque de recolher, independente do motivo será punido por deserção.

Eu assinto com a cabeça, então ele abre a gaveta da escrivaninha tira de dentro dela uma pasta de papel em L na cor verde militar, abre e expõe seu conteúdo na mesa.

_ Esta é sua ficha, todo seu histórico conosco fica aqui dentro, todas a deserções, méritos, prontuários e informações médicas, suas origens, absolutamente tudo sobre Beatrice Prior ficam registrados aqui.

Eu observo os papéis em cima da mesa, vejo que na parte superior interna da pasta há uma foto minha colada. A imagem é tão recente que me pergunto onde é que fui fotografada, já que isso passou despercebido por mim.

_ O seu treinamento militar inicia as 6 horas da manhã, as 11 horas será servido o almoço. Os recrutas não utilizam o restaurante principal. Há um pequeno refeitório anexo ao alojamento. As 13 horas inicia os curso de pilotagem até as 16 horas. Após esse horário o grupo ganha dispensa para estudar para os exames ou fazer alguma outra atividade do seu interesse. O que não será seu caso Senhorita Prior. As 16 horas e dez minutos a senhorita deverá apresentar-se ao Centro de Comando para que eu lhe acompanhe até a sala de registros para dar início ao cumprimento de sua pena. As 20 horas a Senhorita deverá estar limpa e no refeitório para o jantar, caso contrário não terá direito a alimentar-se.

_ Entendido senhor.

_ Somos muito rígidos em relação ao cumprimento de horários Senhorita Prior.

Mais uma vez eu assinto com a cabeça.

_ E mais uma coisa... - Ele faz uma pausa enquanto avaliando-me, os olhos serpentinos medindo minhas reações.

_ A partir de agora, sendo recruta desta base, o seu tratamento médico ficará a cargo no Tenente Michael Keaton, ele é o médico responsável. - Ele diz, presunçoso e com um ar de contentamento.

Não me surpreende o fato dele dar um jeito de me afastar de Wes. Imagino que ele o vê como meu protetor.

Receio que Wes ficará furioso com a notícia. Confiro no relógio de pulso: são 20 horas. Preciso contar a ele, passar por cima do meu orgulho e ultraje sobre o ocorrido de hoje cedo e falar com Enrico, aliás, provavelmente ele já deve ter passado no dormitório e visto que não estou mais lá.

Mil coisas passam pela minha cabeça e então me dou conta de que o General Sparks aguarda minha resposta.

_ Certo, compreendido Senhor.

_ A partir de agora, Recruta Prior.

_ Obrigada Senhor! Há algo mais que eu deva fazer?

_ Não, está dispensada.

_ Boa noite senhor.

_ Boa noite Recruta Prior e não esqueça que seu prazo para apresentação no alojamento encerra as 22 horas.

_ Sim senhor. - Respondo e saio fechando a porta atrás de mim.

Atravesso a recepção rapidamente, decidida a resolver o que me é mais fácil no momento, o plano com Enrico. Retorno ao dormitório o mais rápido possível e encontro Enrico sentando na poltrona com o olhar fixo na porta.

_ Tris, onde você esteve?

_ Resolvendo algumas coisas.

_ Cadê a tipoia?

_ Ah, você também não, né!

_ Tudo bem. Precisamos conversar. - Ele responde, num tom preocupado.

_ Sim, precisamos. - Respondo me sentando na cama buscando uma posição confortável.

_ Será que você conseguiu me perdoar? - Ele pergunta com a voz mansa e cautelosa.

_ Vamos esquecer o que aconteceu aqui. Desde que você compreenda que não haverá ninguém além de Tobias. - Enfatizo cada letra da palavra ninguém para que ele possa compreender de uma vez por todas.

_ Sim. - Ele diz e abaixa a cabeça.

Depois de alguns segundos ele se recompõe e volta a me olhar, não mais de maneira triste ou culpada, mas do mesmo modo amistoso e brincalhão de sempre.

_ Olha só, preciso conversar com você sobre outro assunto, não teremos muito tempo, pois tenho que apresentar-me no alojamento dos recrutas hoje até as 22 horas.

_ Como assim? Eu fico fora por algumas horas e você se torna recruta?.

_ É isso, o General Sparks em pessoa, me passou as coordenadas ainda a pouco.

_ Legal! Isso quer dizer que você foi aceita.

_ Sim, mas não é sobre isso que eu quero falar. Bom tem a ver... Mas é algo parte do plano.

_ Sou todo ouvidos. - E fala em expectativa apoiando os cotovelos nas pernas e sustentando o rosto com as mãos.

_ Bem... Já havia lhe dito o motivo pelo qual entrei para o treinamento militar e para o curso de piloto. - Eu o encaro buscando confirmação, ele retribui meu olhar e assente com a cabeça.

_ Já que você sabe os fins, deixa eu explicar os meios... Precisamos descobrir quem é o Presidente, quem são seus aliados, os membros do conselho. Provavelmente deve haver algum ponto vulnerável, uma brecha em sua segurança, sempre há. E munidos dessas informações poderemos aniquilar o atual governo e assim libertar todos os experimentos e livrar as pessoas da tirania sob a qual vivem....

_ E assim você vai poder voltar para os braços do Tobias... - Enrico interrompe, de forma um tanto amarga.

_ Achei que já tivéssemos superado esse assunto. - Repreendo.

_ Tudo bem, desculpe.- Ele fala, nitidamente envergonhado.

_ Não se desculpe, apenas se concentre no objetivo. Se bem me lembro, logo que nos conhecemos você deixou claro que estava do meu lado, você e os outros, aliás, nunca soube quem são "outros".

_ Antes de você chegar eu tinha o hábito de me reunir com os imigrantes que atualmente moram na vila. Apesar do toque de recolher para as pessoas que trabalham durante o dia ser as 22 horas, costumávamos nos reunir no subsolo da casa de José. O pai dele é carpinteiro, no nosso Vilarejo ele é responsável pela manutenção estrutural do local, de modo que com os materiais que tinha a disposição ele fez algumas reformas na sua própria casa, claro que por baixo dos panos, ninguém tem autorização para fazer melhorias nas suas casa. Mas enfim, essa reforma foi feita com o intuito de criar um local secreto dentro da casa que pudesse servir de esconderijo em algum momento de crise, ou para reuniões sigilosas. Foi praticamente um ano todo de trabalho. Toda noite ele se dedicava a empreitada, escavando o solo, cimentando vigas de sustentação e hoje está tudo pronto e se houver algum tipo de vistoria no local, ninguém além de nós poderá imaginar ou reconhecer alguma diferença na casa. A entrada é através de uma alçapão que fica estrategicamente embaixo da mesa da cozinha, as emendas na madeira ficaram tão perfeitas, que mesmo eu tendo ido lá um milhão de vezes, nunca sei ao certo onde começa e onde termina o assoalho falso.

_ Uau! Vocês se reuniam para discutir o quê?

_ Boa parte do grupo são representantes de núcleos familiares, umas 15 pessoas, elas se reúnem para debater e encontrar uma forma de reivindicar nossa liberdade. As pessoas têm o que comer, onde dormir, não existe fome, doença... Mas não tem liberdade. Pode parecer loucura, mas nada substitui a liberdade, é como manter um animal selvagem numa jaula, você pode alimentá-lo, cuidar de sua saúde, mas ele ainda estará sempre buscando uma brecha, uma oportunidade para poder fugir. Outro agravante, motivo de revolta é chacina que aconteceu em experimentos que não deram certo. As pessoas capturadas ou viraram cobaias nos laboratórios da Base, ou foram submetidas ao soro da memória e aqueles como você, que são resistentes a esses procedimentos e negaram-se a cooperar, ou a se integrar nessa sociedade, foram mortos.

_ Pelo que você me conta, percebo que todos temos o mesmo objetivo. Precisamos unir forças para derrubar o Presidente e seu conselho e desta forma possibilitar a essas pessoas e todas aquelas que estão em total ignorância nos experimentos a oportunidade de escolher o seu destino, escolher seus representantes.

_ Sim, mas o que podemos fazer, somos grãos de areia no meio do deserto Tris!

_ Para um confronto armado sim. Mas não é isso que queremos, precisamos eliminar as peças certas. Um conflito armado nesse momento resultaria em muitas mortes. Por isso o que estou prestes a lhe pedir poderá lhe parecer absurdo, mas precisamos de você. É um trabalho que não há outra pessoa a quem delegar.

_ Você sabe que pode contar comigo. O que quer que eu faça?

_ Não sei como dizer da maneira correta, então vou ser objetiva.... - Paro por um instante para retomar o folego, sustento o olhar curioso dele da forma mais solene possível e então solto a bomba.

_ Preciso que você reate o relacionamento com Alejandra.

_ Madre de Dios! O quê??? Você só pode estar brincando comigo! - Ele fala ultrajando, irritado e completamente descrente de que o meu pedido é de fato, sério.

_ Não é brincadeira. Você é a única pessoa que poderá exercer alguma influência sobre ela.

_ Sim, e daí? Qual é a vantagem em ter o controle sobre Alejandra?

_ Precisamos descobrir se ela é neta do Presidente ou não e se ela for, tenho certeza que você arrancará todos os detalhes sobre a vida familiar deles.

_ As vezes você me assusta. - Enrico diz e dessa vez percebo que não tem aquele tom de brincadeira como de costume.

_ Enrico, você precisa decidir se você está nessa ou não, você precisa pensar qual mundo você pretende deixar como legado para seus irmãos. Independente dos seus sentimentos em relação a mim ou a Alejandra. Chegou a hora de você ser altruísta, em nome daqueles que você ama e precisam de você e para honrar a memória daqueles que se foram lutando pela sua liberdade.- Digo, sinceramente, sem intenção de usar estas palavras para manipulá-lo, embora eu o queira do meu lado, e tenha a consciência do quanto será importante a participação dele nesse plano, ele precisa decidir por conta própria e se a responta for sim, tem que ser pelos motivos certos.

Sua expressão é seria, os olhos perdidos em alguma cena que lhe é exibida de forma íntima, tão particular. E me pego imaginando o que ele está vendo, os irmãos, os pais, todas as atrocidades da qual ele deve ter sido expectador. Enrico pondera por alguns minutos e eu concedo-lhe todo espaço necessário para absorver a seriedade deste momento decisivo e todas as consequências com as quais ele terá que lidar. Então sua resposta sai quase como um sussurro.

_ Sim. - Mais um minuto de silêncio e então ele completa:

_ Vou participar do seu plano.

_ Nosso plano. - Eu o corrijo.

_ Que seja. Mas o que exatamente você quer que eu faça?

_ Primeiro, vamos descobrir onde podemos cruzar acidentalmente com Alejandra, de preferência ainda hoje. Encenamos uma discussão, caso ela morda a isca, imagino que talvez ela se aproxime de você por conta própria.

_ Eu duvido, você viu como ela reagiu no dia do julgamento? - Ele contrapõe.

_ Sim, ela me pareceu acuada. Se por acaso nas 48 seguintes ela não for até você, lembrando que é importante que ocorram muitos encontros casuais entre vocês, então você deverá ir até ela e se desculpar, dizer que está arrependido, que eu não passo de uma aproveitadora... E blá, blá, blá.

_ Não sei se consigo ser assim tão bom ator. - Ele diz, obviamente desmotivado pelo seu papel no plano envolver Alejandra.

_ Ela gosta de você, vai acreditar, porque infelizmente a maioria das pessoas enxerga as coisas como gostaria que elas fossem e não como realmente são. Então relaxa, vai dar tudo certo.

_ É, você tem razão. - Ele fala de forma triste e resignada, como se estivesse se identificando com o que acabei de dizer.

_ Posso contar com você?

_ Pode. - Ele responde com um fraco sorriso no rosto.

_ Certo. Olha só agora vou ter que procurar Wes e lhe dar a boa nova. E a partir de amanhã vai ficar difícil de nos encontrarmos, parece que estarei ocupada o dia todo entre os cursos e a o cumprimento da minha pena. Mas você acha que consegue me mandar algum recado? Há alguém de confiança que possa me entregar algum bilhete?

_ Creio que sim.

_ Ótimo, preciso que marque uma reunião no porão secreto da casa de José. Me dê uns dois dias para que eu possa descobrir como sair do alojamento sem ser notada.

_ Okay.

_ Agora eu vou procurar Wes e você descubra onde Alejandra está. Nos encontramos daqui a meia hora em frente ao carvalho no jardim.

_ Combinado.

*******

_ É inadmissível que o General Sparks passe por cima da minha autoridade médica e delegue o seu tratamento a outro médico! - Wes fala entredentes, completamente transtornado com a notícia que acabo de lhe dar.

_ Wes, já sabíamos que ele providenciaria para que você não pudesse mais me proteger.

_ Você precisa de cuidados!

_ Eu vou ficar bem. Você precisa confiar em mim.

Ele está completamente exasperado, passa as mãos pelos cabelos, os olhos torturados e preocupação me fitam impotentes, porque ele sabe que não vou voltar atrás.

_ Beatrice, você está se precipitando. - Ele tenta argumentar, mas sabe que é em vão.

_ Não, Wes. Já está mais do que na hora de começar a agir, eu estou morta para todos aqueles que amo há o que? Nove meses?!

_ Pra ser mais exato, fazem 12 meses, você esteve desacordada por três meses. - Ele responde, vagamente distraído, provavelmente recordando daqueles momentos em que eu mesma não posso me recordar, embora eu os tenha protagonizado.

_ Um ano Wes! E quem me garante que o Presidente vai cumprir o trato? E se no menor deslise, numa briga coletiva, por algum motivo torpe e muito humano como poder, ele resolva voltar atrás e reinicializar todos. E as outras pessoas, aquelas que estão vivendo na Margem, ou em algum outro experimento? Preciso fazer alguma coisa!

_ Beatrice, você não entende.

_ Não Wes, é você quem não entende.

_ Essa discussão será infindável. E pelo que pude perceber inútil, já que você é essa força da natureza, que age de acordo com suas convicções doa a quem doer. Gostaria de sua coragem e seu desprendimento. - Ele diz visivelmente chateado diante da sua impotência nessa situação.

Eu me aproximo, fico na ponta dos pés e dou-lhe um abraço ele corresponde, me envolvendo com os braços protetores, como certamente um pai faria. Ainda dentro do seu abraço eu digo com a cabeça encostada em seu peito:

_ Eu sinto muito. Não quero magoar você.

_ Então não vá! Não se exponha a um perigo desnecessário. - Ele diz, sem a menor intenção de me soltar.

_ Sou uma sobrevivente, lembra? - Digo enquanto me afasto para poder olhar em seus olhos de esmeralda e lhe transmitir um alguma segurança.

_ Eu sei. - Ele diz me oferecendo um sorriso fraco em retribuição.

_ Agora eu preciso ir, tenho o mundo para salvar! - Digo em tom de brincadeira, mas ele não ri, toca a minha bochecha com as costas da mão enquanto diz:

_ Eu vou continuar cuidando de você, eu prometo.

_ Eu não duvido. - Eu digo sorrindo, deliciada por ter essa sensação de ter alguém que se preocupa, cuida e ama incondicionalmente, a sensação de ter uma família.

_ Agora vai de uma vez, antes que eu mude de ideia e prenda você numa camisa de força. - Ele diz gesticulado com as mãos para que eu me afaste e eu obedeço de imediato, já que tenho consciência de que estou atrasada e Enrico deve estar me esperando há pelo menos uns 15 minutos.

*********

_ Poxa! Você demorou! - Enrico me repreende e confiro no meu relógio de pulso, são 21:30. Preciso estar no Alojamento as 22. Droga!

_ Descobriu alguma coisa?

_ Sim. Ela está no centro de convivência com Daphne e Georgia, as amigas...

_ Ótimo. Você vai na frente procura algum amigo próximo de onde ela está de deixa o resto comigo.

_ Espera, tem mais, parece que ela e as amigas estão inscritas para o treinamento militar e o curso de pilotagem.

_ Você não poderia ter me dado melhor notícia!

_ Você só pode ser louca! Não sabe o que isso significa?

_ Que ela vai me perseguir e vai tentar seduzir você?

_ Significa confusão Tris! Ela reuniu suas discípulas, aspirantes a bruxas porque tem um plano. Se eu fosse você ficaria de olhos bem abertos.

_ Não tenho medo dela Enrico!

_ Ela joga sujo, principalmente agora que sabe que não consegue te derrubar no braço.

_ Você diz que me conhece, então deve saber que saberei me defender a altura.

_ Okay, você quem sabe.

_ Então, agora vai lá, não temos muito tempo.

********

O centro de convivência fica há uns 100 metros da Base no caminho para a vila. É um amplo pavilhão do qual posso ouvir os ruídos das conversas animadas vazando através das enormes basculantes que circundam toda a construção. Paro na porta observando o interior do local, repleto de gente, há mesas de jogos ocupadas em sua maioria por jovens animados, vários pequenos ambientes particulares com sofás e poltronas e uma parede repleta de estantes com livros onde não há ninguém por perto. Não me surpreende, já que o barulho é tamanho, que ler aqui dentro seria uma tarefa quase que impossível.

Meus olhos atentos já sabem o que procurar, de modo que não é difícil encontrar as três garotas conversando animadamente num dos ambientes com sofás e poltronas. Enrico conversa com outros dois rapazes que não conheço há uns dois metros de distância de onde elas estão, está de costas. Percebo que Alejandra olha com frequência na direção dele.

Então tá, é agora! Encho meus pulmões de ar, transformo minha expressão numa carranca séria e irritada. A boca uma linha fina os olhos estreitos e odiosos. É assim que me sinto enquanto atravesso a sala a passos largos e pesados na direção de Enrico. Eu toco o seu ombro com violência ele se vira imediatamente, os olhos confusos procuram por Alejandra, então encontram os meus e se não tivéssemos combinado eu nem teria percebido o leve aceno de cabeça, confirmando que nossa platéia estava prestigiando nosso pequeno espetáculo.

Nesse momento, para empregar a cena um pouco de veracidade e causar alguma reação em Enrico, eu lhe desfiro um forte bofetão no rosto, por reflexo ele toca o local com a marca vermelha dos meus 5 dedos e grita:

_ Você está louca?! - Os olhos flamejando de raiva, acho que consegui.

_ Devo estar, por ter confiando num babaca feito você.

_ Vai pro inferno sua idiota presunçosa! Já estou farto de você esse blá, blá, blá, de Tobias isso, Tobias aquilo. Vai lá continuar chorando e se lamentando por aquele babaca idiota! Você está morta pra ele!

As palavras dele me atingiram feito um soco na boca do estômago, por reflexo cruzo os braços tentando me proteger de alguma forma. Então me lembro, é encenação, só encenação...

_ Seu idiota! Nunca mais fale comigo! - Saio correndo em direção a porta, meus olhos cheios de lágrimas, sou mesmo uma grande idiota, não foi real! Foi uma briga ensaiada!

Só diminuo o ritmo quando estou dentro do complexo me dirigindo para o alojamento, então seco os olhos com as costas das mãos, respiro fundo e tento ritmar minha respiração. No caminho tive de pedir informação, já que havia esquecido completamente de que não fazia ideia de onde fica o tal alojamento. Seguindo as recomendações que recebi, estou abaixo do centro de comando diante de uma enorme porta dupla feita em metal pintada de verde musco com uma pequena placa com a palavra Alojamento e um com um par de guardas na porta.

Que legal... Vai ser bem complicado fugir daqui para a reunião na vila! - Penso amargamente

_ Recruta Beatrice Prior.- Apresento-me.

Um deles confere o relógio de pulso, só então eles abrem as portas ruidosamente para que eu possa entrar e me deparo com uma imensa sala que pelo visto fora entalhada nas rochas, pois as paredes são rústicas disformes e em alguns pontos parecem úmidas. A iluminação fica a cargo de pelo menos uma centena de lâmpadas fluorescentes. Vários beliches idênticos estão dispostos lado a lado. Há alguns recrutas organizando seus pertences, alguns conversando. Outros quietos, sozinhos com o olhar distante. Todos ele vestem calça cargo camuflada coturnos pretos brilhantes e uma camiseta marrom escura, eu sou a única destoando no ambiente e no entanto parecem nem terem notado a minha presença.

Estou distraída observando tudo a meu redor quando sou surpreendida por uma voz grave:

_ Recruta Prior! Seja bem vinda!

_ Capitão Cameron!

Ele é sério e impassível, mas seus olhos entregam o seu contentamento por me ver aqui.

_ Imaginei que se apresentaria ainda hoje.

_ Acertou! Estava ansiosa por preencher meu tempo ocioso de forma produtiva.

_ Bom você vai ter muito o que fazer por aqui. Me acompanhe vou lhe entregar seus pertences e lhe mostrar como funcionam as coisas por aqui.

Eu o sigo pelo tour no alojamento ele indica os vestiários, que para meu alívio são dois, feminino e masculino, a minha cama, um beliche cuja a parte superior está ocupada por uma garota que cumprimenta com um leve aceno de cabeça e meu armário, onde encontro duas calças cargo camufladas, três camisetas marrons, um coturno preto, um cinto, três shorts de corrida e três regatas, um pequeno saco de tecido que pelo que vejo contém roupas íntimas e ainda há duas toalhas de banho, uma toalha de rosto e um kit de higiene, presilhas e rede de cabelo.

_ Recruta Prior, amanhã as 6 horas todos devem estar prontos no refeitório, o uniforme padrão é composto pela calça, camiseta marrom, coturno e cinto, as demais peças disponibilizadas só serão utilizadas quando solicitadas. Entendido?

_ Sim senhor.

_ Depois do café espero por você no meu gabinete para lhe passar o programa completo.

_ Okay. Muito obrigada senhor!

_ Agora, vá preparar-se para dormir, as luzes serão apagadas em 10 minutos.

_ Boa noite senhor.

Ele acena com a cabeça e se retira, eu me dirijo ao armário, pego o kit de higiene a toalha e me dirijo para o vestiário. Fico confusa com o que devo vestir de modo que decido dormir com a camiseta e o abrigo que estou usando. Há um chuveiro desocupado, outras 6 garotas tomam banho enquanto uma porção delas está se vestindo, penso que talvez seria interessante puxar assunto, mas as rodas de conversas estão fechadas e elas não parecem assim tão amistosas. Tomo uma chuveirada rápida tendo em mente que a qualquer momento ficarei no escuro, quando saio para área de uso comum para vestir-me percebo que há uma garota desajeitada engatinhando no chão a procura de algo.

_ Alguém viu meu óculos? Alguém viu meu óculos? - Ela pergunta freneticamente.

Ninguém se dá ao trabalho de responder, duas garotas cochicham olhando na direção dela, dando risadinhas, obviamente devem ter algo a ver com o sumiço dos óculos da garota.

_ Ei vocês? Onde estão os óculos da garota? - Pergunto.

Elas me olham incrédulas.

_ Está falando conosco? - Um delas responde de forma petulante.

_ É, estou! - Digo secamente.

_ Maggie, você por acaso viu os óculos de Celina? - Ela pergunta para colega de forma desdenhosamente debochada.

A outra responde entre risadinhas:

_ Não Lizzie, ela deve ter comido por engano no jantar. - Então ambas caem na gargalhada.

_ Eu estou pedindo que me devolvam os óculos agora!

_ Se não? O que você vai fazer?

_ Vou informar ao Capitão Cameron! E tenho certeza de que ele não vai gostar!

Elas se entreolham na dúvida, então Lizzie joga o óculos na minha direção e elas saem rindo do vestiário. Ouço Maggie dizendo: " Ah, que maravilha, temos uma defensora dos fracos e oprimidos!" Mas eu as ignoro. Vou até a garota e lhe entrego os óculos, ela me agradece fervorosamente.

_ Obrigada! Obrigada! É a segunda vez essa semana!

_ Da próxima vez, sugiro que você não o perca de vista.

_ Pode deixar.

_ A propósito, eu sou Celina.

_ Tris.

_ Fico te devendo uma! - Ela diz.

_ Vou cobrar! - Respondo

Ela sorri e deixa o vestiário.

Bem, todo o modo não foi tão ruim assim, conheci alguém que talvez possa me atualizar sobre tudo por aqui. Dirijo-me a minha cama, por sorte deu tempo de encontrá-la antes que as luzes se apagassem. Deitada de costas, deixo meus olhos bem abertos para que eu possa me acostumar a escuridão do local e no silêncio do dormitório ouço a respiração dos meus colegas enquanto penso no dia de hoje...

As palavras de Enrico ainda provocam espasmos no meu estômago, me permito analisar o que de fato me magoou no que ele disse, já que era para ser uma simples encenação. Sei que talvez aquilo que ele disse é reflexo do que verdadeiramente deve sentir... Então me dou conta de que não como ele se sente, mas o fato dele estar absolutamente certo sobre pelo menos uma coisa foi o que me feriu profundamente... Estou morta para o Tobias.


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