Olhei assustada em direção à elas, que me olhavam assustadas. Eu parecia pior. A neve que espiralava ao meu redor estava mais densa.

– Lauren, eu posso explicar - tentei começar, me aproximando, enquanto elas se afastavam

Ela tinha os olhos arregalados e Melissa parecia ter perdido a cor

Metade do caminho, por onde andei, havia sido congelado.

– O que é isso? - Lauren disse, apontando para o gelo - O que você é? Uma bruxa? Um monstro? - ela cuspia as palavras - Seus pais não foram capazes nem de produzir uma filha normal?

As palavras doíam. Tentei erguer minhas mãos, em sinal para que ela se acalmasse, mas estava tão nervosa, que acabei lançando um raio de gelo em direção à Melissa, que por pouco, não fora atingida

A expressão de horror aumentou nas duas

– Tentou atacar minha filha somente por ouvir a verdade? Como ousa? - Lauren questionou, esquecendo o espanto por um momento vindo até mim, com as mão levantadas.

Ela ia me bater.

Naquele momento, eu andei para trás, as mãos no rosto em modo de defesa, olhos fechados, implorando aos deuses que me ajudassem.

Ouvi um grunhido raivoso e quando os abri, arfei de surpresa.

Havia uma grande parede de gelo, impedindo Lauren de chegar até mim. Melissa gritou horrorizada.

Me aproximei do gelo e o toquei. Não era o meu gelo, era o mesmo que estava na janela minutos atrás.

Mas o que estava acontecendo aqui?

– Lauren, eu saio de trás da barreira, com uma condição - disse em voz alta

– E qual seria? - ela perguntou, batendo furiosamente no gelo

– Não me bater - encolhi os ombros - Foi um acidente, eu não queria...

Ela riu, uma risada sinistra

– E se eu ainda quiser te bater? - ela perguntou cínica

– Se você quiser ainda me bater, terei o maior prazer de congelar Melissa - disse simplesmente

Melissa pareceu ter perdido os movimentos e olhava vidrada para a mãe, que ainda olhava para mim

– Você vai para o seu quarto e não saíra de lá, nunca mais! - Lauren disse, dando minha sentença final

Após dizer isso, a parede começou a se rachar e partiu, espirrando diversos pedaços de gelo afiados e eu tive a leve impressão que estes foram em direção as duas

Ela veio até mim, agarrando-me tão forte pelos braços que não sentia mais as pontas dos meus dedos.

– Escute aqui garota. Uma gracinha com este, este.... gelo maldito e estará assinando tua sentença de morte. Passará o resto dos seus dias no seu quarto e se ameaçar uma de nós duas mais uma vez... - a interrompi

– Vai fazer o que? - perguntei, assustada

– Bom, garanto que seu reino não vai gostar nada, nada de saber o que a futura rainha esconde - ela disse, soltando-me com tanta brutalidade que caí no chão

Ela veio até mim novamente e pisou com força no meu estômago, fazendo meu ar sumir e uma dor insuportável se espalhar pela região

– É bom voltar para seu quarto querida. Está meio congelado por aqui! - ela finalmente tirou o pé do meu estômago e se afastou, levando minha prima junto.

Fiquei ainda um bom tempo lá, deitada, tentando recuperar o ar perdido, mas o espartilho do vestido infelizmente não ajudava

Era isso então.

Me entreguei de bandeja para Lauren e Melissa e agora teria que aguentar ameaças e, provavelmente chantagens. Elas poderiam até me matar, para ficarem com o trono de vez.

Não chorei, não havia mais ninguém para chorar e recusava-me chorar por elas.

Por fim, levantei-me com dificuldade, indo até o palácio. O baile continuava a todo vapor, mas simplesmente fui até a escadaria, ignorando a todos que me chamavam, dizendo que não me sentia muito bem e que iria deitar. Quando por fim cheguei aos corredores dos quartos, entrei no meu com certa relutância.

Elas viriam até aqui esta noite.

Só tive tempo de pegar a chave do meu quartinho de bebe, uma camisola, um travesseiro e sair, congelando o trinco da porta do meu quarto e me dirigindo até o meu antigo quartinho.

Chegando até lá, retirei o vestido, vestindo a camisola. Desmanchei o meio preso e senti os cabelos caindo em cascata pelas minhas costas. Foi quando lembrei que ainda tinha a corrente em meu pescoço e decidi não tirá-la.

Seja lá quem fosse que me deu, deveria gostar mesmo de mim.

Encostei minha cabeça na batente da janela, encarando a lua enquanto brincava com o pingente. Embora tudo aquilo tenha acontecido minutos atrás, deixando uma marca horrível em meus braços e uma dor bem desconfortável na região abdominal, somente aquela voz masculina e aquele olhos azuis estavam em minha mente

Sorri sozinha, imaginando se não estaria louca, o que era bem provável.

Me enrosquei no sofázinho que havia abaixo da janela, ainda encarando a lua e adormeci

Nessa noite, pela primeira vez, fui salva de pesadelos.