Dimitri andava de um lado para o outro suando frio, eu estava totalmente divertida com o pânico dele, olhando-o por cima dos olhos eu tentava ao máximo reprimir minha risada.

— Ele vai me matar... Ele vai me matar. Por Deus, vou ter que desmaia-lo para que ele não atire em mim. Por que diabos eu não tenho um colete à prova de balas mesmo?! — Dimitri murmurava para si passando as mãos no cabelo nervosa e desesperadamente. Ele se sentou e literalmente começou a puxar os cabelos em desespero. Tirei meus olhos das minhas unhas e murmurei:

— Olha camarada, ser trucidado pelo Hans já deve ser ruim, ser trucidado pelo Hans careca deve ser ainda pior. Se eu fosse você, pararia de puxar os cabelos com tanta foça. — Ele me encarou e assentiu em concordância voltando a se levantar e andar desesperadamente.

— E pare de andar de um lado para o outro, você vai acabar abrindo um buraco no chão e despencado, e eu acho que você precisa de todos os seus ossos inteiros para quando Hans derrubar aquela porta. — Acrescentei e ele parou, congelado. Quem diria, Dimitri Belikov, um dos melhores lutadores que eu conheço, com medo de Hans. Dimitri facilmente acabaria com a raça do velhote, mas por algum motivo, acredito que ele não faria isso.

Ouvi passos apressados e uma forte pancada na porta, quando eu falei de Hans derrubar a porta, não acreditei que ele faria isso. Olhei para a porta branca do meu lar e ela ainda estava de pé.

— DIMITRI BELIKOV! MALDITO, DESGRAÇADO DE UMA FIGA. OU VOCÊ ABRE ESSA PORTA, OU EU DERRUBO ELA COM MINHAS PROPRIAS MÃOS! — Ouvi um grito estridente de Hans, me arrependi amargamente de ter esquecido de preparar um balde de pipoca, o show iria começar. Dimitri engoliu seco sem saber o que fazer, sorri, não custa nada jogar álcool na fogueira.

— A porta está aberta chefinho. E o Dimitri está louco por finalmente te encontrar! — Gritei do sofá e dei uma risada com meu sarcasmo. Dimitri me encarou, pálido de pânico. Uma pontada de arrependimento passou pelo meu peito, mas, da mesma velocidade que veio, foi-se.

Hans rodou a maçaneta lentamente, me senti como em um filme de terror, quando o Jack- O Estripador abre a porta onde sua próxima vítima está e entra lentamente aproveitando-se do pânico. Os passos de Hans eram calmos e pesados, avaliei-o e quis me esconder, ele estava vermelho, as veias dos olhos saltadas para fora em uma cor intensa, a boca aberta em uma respiração pesada e o nariz quase escorrendo como o de um touro em fúria. Oh, cabeças iriam rolar hoje.

— O que diabos deu em você, Belikov? Você tem se quer alguma noção do risco em que colocou minha Ellen? Agora ela é um possível alvo do Dashkov também. Se algo acontecesse com ela, eu ficaria louco, eu nem sei o que eu faria. Na verdade, eu já estou louco, pronto a te matar. Eu ainda não fiz isso porque talvez arrisque toda a missão. — Hans disse de olhos fechados respirando fundo. Dimitri estava com o olhar vazio, eu chuto que ele deveria estar pensando em um discurso de lamentação. Depois de alguns minutos ele voltou a si, não ousei dizer nenhuma palavra, essa era uma batalha que eu não tinha o direito de me meter. Hans estava de olhos fechados quando Dimitri começou:

— Olha, Hans, eu sinto muito pelo deslize. Eu sou adulto e tenho total consciência dos meus atos. E por isso me ofereço a fazer a guarda da Ellen. Se você quiser, eu abro mão de tudo para protege-la 24 horas por dia sem descanso algum. Eu realmente lamento pelo ocorrido, e aceito pagar por tudo. — As palavras soaram sinceras, eu quase fiquei emocionada com a devoção de Dimitri à sua honra, eu só não fiquei comovida pela pontada de ciúmes que me bateu. A ideia de Dimitri ficar 24 horas por dia ao lado de outra mulher não me agrada nem um pouco. Bufei e cruzei os braços, longos segundos se passaram, com certeza Hans estava em uma luta interna entre perdoar Dimitri e acertar uma bala nele. Antes de responder, altas batidas foram ouvidas na porta fechada de meu apartamento. Esse início de noite estava começando a ficar agitado.

— Eu abro! — Gritei pulando o sofá e correndo até a porta, Dimitri e Hans ficaram me encarando da sala de casa enquanto eu abria a porta. Olhei para trás e sorri com as expressões dos homens em minha sala. Quando voltei minha atenção para a porta, meu sorriso se desfez imediatamente. A figura loira a minha frente trouxe-me um arrepio frio pelo corpo todo.

— Angeline... — Sussurrei arregalando os olhos. Ela me olhava suplicando em um pedido silencioso para entrar. Saí da porta dando-lhe espaço para entrar e ela marchou pela minha casa sem cerimônia. Chegando à sala, joguei-me no sofá tentando entender o que estava acontecendo. Olhei ao redor e Hans e Dimitri compartilhavam os mesmos sentimentos que eu.

— Olha Rose, eu não tenho muito tempo. Não acho que ele saiba que eu estou aqui, mas logo ele vai descobrir e provavelmente vai tentar me matar. É o seguinte, o Joshua voltou, mais maluco que nunca. Ele não superou você, e desde que você o deixou, ele pirou. Se você tivesse ouvido os terríveis planos dele, Rose. Ele me contou todos, sem nenhum pudor, um pior que o outro. E ele está disposto a executar todos eles. Ele perdeu o discernimento do certo e errado, ele acha todas as suas ideias absurdas plausíveis e geniais. Rose, ele conseguiu porte legal de arma. Ele vai vir, disfarçado. E Deus, quando ele te ver casada, vai ser uma loucura! — Ela disse desesperada, suas palavras me atingiram como um tapa. Fiquei fitando o nada, pensando. Joshua, maluco, vindo atrás de mim. Eu não sabia o que fazer. Eu não estava preparada para vê-lo novamente, muito menos se ele estivesse assim tão louco.

Eu esqueci como respirar, como me mover, como falar. Minha cabeça estava girando e eu começava a ver pontos escuros nos meus olhos por falta do ar. Senti meu corpo doer e forcei-me a respirar de novo. Estava tudo tão abafado, eu estava desnorteada. Corri até a janela abrindo-a para sentir ar fresco. Fechei os olhos. Okay, Rose, agora se acalme e respire. O Hans e o Dimitri estão aqui por você. Inspire, espire. Inspire, espire. Com calma, muita calma. Falei à mim mesma tentando manter a calma, meu coração começou a bater mais levemente e minha respiração voltou ao normal. Abri os olhos e fitei a paisagem fora de minha janela. Agora estava tudo escuro. Carros com faróis ligados passavam pela rua rapidamente, os postes iluminavam alguns trechos das calçadas, pedestres passavam rapidamente tentando alcançar suas casas antes da escuridão completa. Em algumas árvores do outro lado da rua, animais noturnos começavam a sair. E lá no chão, vi um par de olhos me encarando. Entrei em pânico novamente me afastando da janela. Era ele, era o Joshua. Voltei à janela e não havia nada. Comecei a pensar, e se aquilo não tivesse sido real? Eu estava muito assustada, o cérebro pode pregar peças. Eu devo ter imaginado aquilo. Dei um sorriso de alívio pela minha imaginação ter me assustado tanto e voltei à sala.

Hans estava interrogando Angeline, ele parecia assustador. Tirava toda e qualquer informação possível, Dimitri estava ao lado dele. Foi absurdo ver os dois lado a lado trabalhando em harmonia. A poucos segundos atrás eles queriam matar um ao outro, bom, o Hans queria. Agora eles estavam agindo como uma equipe tática de primeira, um completava e entendia o outro, e eles faziam as perguntas certas nas horas certas. Depois de Hans ficar satisfeito com suas respostas ele sacou seu telefone.

— Ozera? Aqui é o Hans. Estou te solicitando. Defesa e proteção de agente. Amanhã de manhã. Não estou interessado se são suas férias. Dê seu jeito. Antes do meio-dia. Ótimo. Você é o melhor Ozera. — Hans debateu com alguém no telefone, não entendi muito bem a conversa, eu só ouvia as palavras de Hans, mas entendi que alguém estava vindo.

— Angeline, obrigado pela cooperação. Se quiser, podemos arranjar um quarto para você aqui. — Dimitri disse gentilmente e a garota loira negou freneticamente.

— NÃO! Não, obrigado pela oferta, mas quanto menos ligada à Rose eu estiver, mais segura nós estaremos. Eu vou embora agora, se eu tiver novas informações eu entro em contato. Até logo Rose, cuide-se. — Ela disse exasperada levantando-se. Pensei em protestar, mas ela tinha razão. Se eu era o alvo, e ela ficasse perto de mim, ela estaria em perigo também. Corri até ela e dei-lhe um abraço sussurrando um “obrigado” rápido. Abri à porta e ela correu, literalmente, até as escadas. Não entendi a pressa dela, mas me assustei. Se ela, a própria irmã do Joshua, tinha tanto medo, eu deveria estar em pânico.

Bati a porta e voltei para a sala. Joguei-me no sofá e fitei os dois homens perto de mim. Dimitri estava atento a tudo ao nosso redor, esperando por qualquer perigo, sempre vigiando. Tenho certeza que se uma equipe tática da S.W.A.T tentasse fazer uma surpresa, ele os surpreenderia derrubando todos. Sorri com o pensamento. Em minha mente, a cena era engraçada. Hans estava fitando o nada, preso em seus pensamentos, provavelmente planejando milhões de formas de me proteger. Ele, com toda certeza, é uma mente brilhante. Eu tinha sorte de ser afeiçoada a esses dois homens. Suspirei pesadamente, que dia longo! Primeiro Hans queria pedaços do Dimitri, e então Joshua quer pedaços de mim. Isso é informação demais para a minha mente. Quando eu ia fechar meus olhos ouvi batidas pesadas na porta. Fiz uma cara de desgosto intensa e Hans moveu-se para atender quem quer que fosse o nosso “visitante”. Ao abrir a porta, o ouvi ser empurrado e vi Dimitri entrar em choque. Virei-me para a entrada da sala e dei de cara com uma mulher morena furiosa. Ela encarava Dimitri intensamente e pude começar a notar pequenas semelhanças neles, cabelos, olhos. Oh ela é uma parente dele.

— Olena...? — Dimitri sussurrou incrédulo. A mulher o olhou por cima dos olhos respirando fundo.

— Cadê a minha filinha Dimitri? Cadê a sua irmã? Onde a minha Viktoria está?! — Ela gritou furiosa, lágrimas se formando em seus olhos. Irmã de Dimitri, filinha dela, Viktoria. As peças começaram a se juntar em minha cabeça e lembrei do dia que ele mencionou sua irmã. Olena Belikova, a mulher que trouxe o russo ao mundo acabara de entrar em nossa casa, e, tão rápido quanto entrou, se jogou nos braços do filho e se pôs a despejar suas lágrimas.