–Garota, você não podia ter falado isso! -Sol queria ir atrás da amiga, mas não podia deixar a Dona Dalva sozinha. Pensou em ligar pra Bianca, mas, além de estar em aula, ela ia querer assassinar Jade.

Karina foi pra academia. Com a raiva que sentia, nem percebeu que esquecera a luva. Depois de algum tempo socando o saco de pancadas, suas mãos estavam machucadas. Pedro chegou e viu a loira socando o saco com vontade.

–Esquentadinha? O que você tá fazendo? Tá se machucando toda. –Pedro a abraçou. –A Sol me contou. Não liga pra Jade, ela não presta.

–Mas é verdade. Eu matei a minha mãe.

–Escuta, isso não é verdade, tá. Seu pai e sua irmã te adoram, eu te adoro. Vem cá, deixa eu limpar isso. -ele cuidou dos machucados nas mão dela e a levou para sua casa. Os pais e Tomtom estavam no Perfeitão. Ele deitou com ela no sofá. Era a melhor sensação do mundo senti-la aninhada em seu peito, sentir que podia protegê-la. Karina, por sua vez, se acalmou ao ouvir o ritmo acelerado do coração de Pedro. Ele a fez sentir-se cuidada e protegida.

–Por que você se importa com que aquela garota fala?

–Porque, Pê, é verdade. Toda vez que eu vejo meu pai olhar pras fotos da minha mãe, ou quando eu vejo a Bia triste por saudades dela, eu sei que é minha culpa. Meu pai sempre preferiu a Bia, sabe... Eu sei que sem mim, eles seriam bem mais felizes. Meu pai, eu sei que ele tá com a Dandara, mas minha mãe era amor da vida dele e eu tirei isso dele. E a Bia, a mamãe era tudo pra ela, eu tirei isso dela também.

–Karina, teu pai te adora. Ele é todo protetor. Até expulsou o Alan da academia na base da porrada por tua causa. E dá pra ver que sua irmão te ama muito. Você já conversou com eles sobre isso?

–Não, mas, uma vez eu briguei com a Bia, nem lembro direito o porquê, e ela falou que queria ser filha única, e que assim a mãe dela ia estar viva. Depois disso, ela correu pra me pedir desculpas, disse que não era minha culpa, mas... –sua voz falhou.

–Às vezes, as pessoas falam coisas ruins quando estão com raiva, eu mesmo já falei que queria ser filho único, mas isso não é verdade... E, outra coisa, não dá pra você lidar com as coisas assim, olha o estado da sua mão!

–Eu tô bem, moleque, me deixa ir pra casa.

–Não, você não tá bem e eu não vou te deixar assim. Eu não vou me afastar de você enquanto você estiver precisando, nem que me expulse.

–Você não vai desistir de mim? Mesmo? –Karina perguntou parecendo uma criança.

–Nunca. –sorriu Pedro.

Depois de algum tempo ela adormeceu. Pedro tentou ligar para Gael, mas seu celular estava desligado. Bianca ainda estava na aula, então decidiu ligar pra Dandara, que logo veio buscar a enteada.

–K, acorda, sou eu. –chamou com carinho.

–Madrinha...

–Vamos, eu vou te levar pra casa. Pedrinho, obrigada por cuidar dela.

–Sempre, tia.

–--*---

–O que aconteceu? –perguntou Dandara assim que entraram no carro.

–Madrinha, eu não quer falar sobre isso. Só quero ir pro meu quarto, por favor. –pediu Karina.

–Tá bom. Seu pai foi pra São Paulo com a sua tia, amanhã ele tá de volta.

Assim que Karina chegou em casa, foi direto pro quaro, se deitou cama e voltou a chorar.

–--*---

Bianca estava no carro de Duca, quando recebeu uma mensagem de Sol: “Bia, vem aqui pra casa do Duca, preciso falar com você. É sobre a K. Antes que tenha um treco, ela não tá machucada. Te explico quando chegar.”

–O que foi, amor? -perguntou Duca ao ver a preocupação no rosto da namorada.

–A Sol me mandou uma mensagem, aconteceu alguma coisa com a K.

–Fica calma. -disse tentando conforta-la. Assim que chegaram à casa do lutador, ela correu para junto de Sol.

–O que aconteceu? -perguntou Bianca aflita.

–A idiota da Jade. Elas discutiram e ela falou da morte da Ana, que era culpa da K e que você o Gael deviam odiar ela.

–Ai, eu vou matar aquela garota! Quem ela pensa que é?! Eu vou ver minha irmã. Amanhã mesmo eu acabo com a raça daquela invejosa!

–Menina, se acalma, que desse jeito não vai ajudar a tua irmã. -argumentou Dona Dalva.

–Bia, a minha vó tá certa.

–Eu liguei pro Pedro, ele cuidou dela. Dandara foi buscar a K agora pouco na casa dele. –disse Sol. Duca deu um copo de água para namorada.

–Eu vou te levar pra casa. -falou Duca, vendo que a namorada já estava mais calma.

Assim que chegou em casa, Bianca correu para o quarto.

(Bianca POV)

Eu vou matar a Jade! Quem ela pensa que é pra fazer isso com a minha irmã?! Só de pensar que eu fui idiota o suficiente pra falar isso uma vez pra K... Ai, que ódio.

–Calma, Bianca, agora você tem que cuidar da K. Amanhã você pensa em espancar a Jade. –disse pra si mesma.

–--*---

Karina ainda estava acordada. A morena foi ate a irmã e a abraçou.

–Isso é tudo mentira. –disse Bianca.

–Aquela dedo duro... –murmurou Karina contra os cabelos da irmã.

–Ela contou porque quer seu bem. K, a gente não te culpa. Eu te amo demais e o papai também. Eu sei que eu falei aquilo naquele dia, mas eu estava com raiva. E você sabe que quando eu tô assim, falo besteira. A Jade só falou isso pra me atingir, ela me odeia, e, além de me sabotar, agora ela quer mexer com as pessoas amo.

–Como você não me culpa, Bianca? Como você pode amar a pessoa responsável pala morte da sua mãe? Ela decidiu morrer para eu viver. Como você pode não me odiar? –Bianca abraçou a irmã mais forte, fazendo com que ela encostasse a cabeça em seu ombro.

–Ka, olha pra mim. –ela afastou Karina, fazendo-a olhar em seus olhos. –Você não teve culpa nenhuma, a mamãe fez isso porque é o que as mães fazem. Isso só me faz ama-la ainda mais. Naquele dia, eu estava tão ansiosa pra conhecer minha irmãzinha... Eu não imaginava que eu iria perder a mamãe e eu fiquei tão triste... Acho que nem entendia direito o que era a morte, eu só sabia que eu nunca mais ia vê-la. Era como se o meu mundo tivesse desabado. Apesar de tudo isso, quando o papai falou que você estava bem, eu fiquei tão feliz... E quando ele te trouxe pra casa e eu te vi pela primeira vez, você era tão pequena e tão linda, eu queria te pegar no colo, mas ele ficou com medo de eu te derrubar. Ele pôs você bem perto de mim e você segurou o meu dedo com a sua mãozinha. Mesmo com toda a tristeza, acho que foi o momento mais feliz da minha vida. Depois daquele momento, eu lembro que, toda a vez que eu sentia muita saudade dela, eu ia ficar perto de ti. Então, nunca mais repete uma coisa dessas, K. Você é minha irmãzinha e eu te amo mais que tudo no mundo. Eu sei que a gente ainda vai brigar muito e eu posso acabar te magoando de novo, mas, quando eu fizer isso, lembra do quando eu te amo. Eu devo ser uma péssima irmã pra você não saber disso...

–Eu também te amo. E você não e uma péssima irmã, tá. Não é sua culpa. Eu que não consigo deixar de me culpar, acho que por isso espero que você me culpe também, que me odeie... Para de consertar as coisas errado na minha vida.

–K, eu não consigo. Toda vez que eu te vejo sofrer, eu quero consertar de alguma forma. Eu queria poder te proteger de todos os males do mundo, só pra não ter que te ver sofrer. Se eu pudesse pegaria sua dor pra mim, só pra te ver sorrir.

–Bia, para de falar essas coisas, eu nem sei o que te dizer.

–E só você não duvidar do quanto eu te amo, mesmo que a gente brigue, que eu fale besteira. Não importa o que eu diga na hora da raiva, no fundo você é a pessoa mais importante no mundo pra mim. K, essa culpa toda te faz tão mal. Acho que você deveria, sei lá, procurar um psicólogo...

–Bia, sem essa, tá. Eu não sou doida.

–K...

–Bia, eu tô cansada, quero dormir. -Bianca fez menção de se levantar.

–Fica. Eu só não quero mais falar sobre isso.

–Tudo bem.

Em pouco tempo, Karina adormeceu no colo da irmã. Mais tarde, Dandara entrou no quatro e encontrou Bianca acordada velando o sono da irmã.

–Bia, o que aconteceu? -sussurrou Dandara.

–A Jade disse pra ela que eu a culpo pela morte da mamãe e a odeio.

–A K estar assim não é culpa tua, você é uma ótima irmã, Bia. Mas é compreensível que ela se culpe.

–Mas, madrinha, eu só posso estar fazendo alguma coisa de muito errado pra K duvidar do meu amor por ela.

–Meu amor, sua irmã só é muito insegura. Para de tentar carregar toda essa história nos seus ombros. Você é só uma menina, não precisa se sentir tão responsável assim pela sua irmã.

–Marinha, eu sei que a K tem o papai, que fez de tudo pra ser pai e mãe pra gente, a Bete, que cuida de nós tão bem desde que a mamãe morreu e a senhora, que um anjo nas nossas vidas, mas mesmo assim, eu tenho uma necessidade de proteger a minha irmã de tudo, sabe? E ver ela sofrer e não poder fazer nada é tão ruim...

–Bia, sofrer é coisa natural. Deixa a tua irmã aprender com a vida, com os erros...

–Eu vou tentar, madrinha. Eu sei que a senhora tá certa. Mas é difícil pra mim.

–Eu vou pro quarto, mas se precisar de mim, é só me chamar. -disse dando um beijo na testa da afilhada.