― O que você está dizendo, Roger? Está bêbado em plena seis da manhã ou algo do tipo? ― o imediato do Rei dos Piratas perguntava disfarçando o desespero em sua voz, numa tentativa de ser irônico.

― Não, Rayleigh. Estou lhe dizendo o que farei. Vou me entregar à marinha. ― repetiu de forma tranquila, como se não estivesse dizendo nada de mais. ― Vou esperar mais um ano para que todos vocês consigam escapar das mãos deles e então o farei.

― Mas por que isso? E por que assim de repente? A vida toda estivemos fugindo deles, por que irá dar esse gosto a eles agora? ― tentava persuadir o capitão, mas parecia que o outro estava decidido, e quando Gol D. Roger decidia algo, nem mesmo seu melhor amigo o faria mudar de ideia.

― Eu vou morrer. Apenas quero morrer com estilo. ― brincou, rindo em seguida.

― Ora, seu grande idiota. Não brinque assim depois de falar algo tão sério. ― Rayleigh não via graça alguma em ver seu capitão sendo decapitado por seus inimigos.

Contudo, a seriedade e convicção que havia nos olhos negros de Roger naquele momento o fez encará-lo preocupado. Ele não estava brincando.

― Eu não posso continuar com meus objetivos, mas pretendo fazer com que herdem meus propósitos.

Talvez agora, o imediato estivesse começando a entender do que falavam, mas preferiu confirmar com uma pergunta.

― Como assim? Do que está falando, seu bêbado imprestável? ― questionou, xingando o amigo, como sempre fizera em suas melhores conversas.

Roger, porém, não respondeu imediatamente. Silenciou-se por alguns minutos, apenas ouvindo o vento uivar sombrio pelos mares daquela manhã fria.

― Está ouvindo, Rayleigh? É a música que indica o início de uma nova era. ― um sorriso grandioso, embora enigmático surgiu nos lábios do Rei dos Piratas. ― Guarde o som dessa música, Rayleigh. Um dia, alguém continuará por mim e então você a ouvirá mais uma vez. Será o sinal daquele que virará esse mundo de cabeça para baixo.

E Gol D. Roger não poderia estar mais certo do futuro deste mundo...

― Shanks. Venha aqui. ― o capitão chamara o novato até sua cabine.

― O que foi, capitão Roger? ― perguntou curioso ao entrar no cômodo amadeirado.

― Quero que fique com isso. ― tomou um velho chapéu em mãos. Parecia não ser usado há muitos anos, mas ainda estava bem conservado.

― O que exatamente significa isso, capitão? ― voltou a questionar sem compreender bem as intenções do pirata.

Roger sorriu.

― Eu costumava usá-lo até resolver guardá-lo para que permanecesse conservado. É um grande tesouro para mim, porque esteve comigo desde o início da minha jornada por esses mares. Quero que fique com ele e quando encontrar alguém que mereça, também passe à frente.

― Passar à frente? Por que eu deveria?

― Você entenderá quando chegar a hora. ― sorriu abertamente, deixando seu tripulante novato sozinho na cabine, com seus próprios pensamentos e questionamentos.

Mal sabia Shanks que aquele chapéu se tornaria tão importante para a história do mundo...

17 anos e 8 meses antes dos dias atuais... Alguns dias antes da Grande Guerra.

― Luffy! Está tudo preparado, apenas esperando sua ordem. ― Franky anunciara ao capitão, que permanecia silencioso desde o início daquele dia.

O Thousand Sunny permanecia à frente da gigantesca frota de navios. Navios os quais pertenciam a todo o tipo de gente: piratas, revolucionários, exércitos reais e todo tipo mais de aliados que os Mugiwaras haviam conquistados pelos anos de navegação. Luffy estava de pé na proa do Sunny, com seus braços cruzados, perdido em seus próprios pensamentos, enquanto o vento forte fazia seus cabelos esvoaçarem sob o chapéu de palha.

Os navios que traziam Mokey D. Dragon e Shanks, o Ruivo, se encontravam um de cada lado do navio do Rei dos Piratas, e Silvers Rayleigh localizava-se ao lado do próprio. Por mais alguns minutos, Luffy permanecera em silêncio, apenas encarando a grande faixa continental de cor vermelha à sua frente. Nico Robin observava tudo atentamente, ao lado de seus companheiros, que estavam logo atrás do capitão, somente esperando as ordens. A morena trazia um sorriso singelo, mas extremamente orgulhoso e sincero nos lábios.

― Sente como se a missão estivesse cumprida, não é? ― Zoro perguntara em quase um sussurro, apenas para que a namorada ouvisse.

― Como nunca senti antes. ― ela, por sua vez,respondeu no mesmo tom, permitindo que uma única lágrima escorregasse por sua face, para logo em seguida ouvir a voz de seu capitão.

― Podem atacar.

Fora uma frase simples, baixa, convicta e determinada, mas não precisou de mais nada para que fosse obedecido. As duas Armas Antigas puseram em prática seus objetivos definidos séculos atrás: Luffy comandava todo o ataque, junto de Shanks e Dragon mais todas as pessoas as quais havia conquistado com seu jeito único de ser, como a Uranus fora predestinada a fazer; Pluton seguia em frente, pronta para atacar a Montanha Reversa, que se encontrava logo à frente, como também fora criada para agir.

Rayleigh apenas continuava a observar tudo em silêncio, ao lado de seu pupilo. O velho pirata prestava atenção no som do vento que batia contra seu rosto. Um sorriso molhado por duas solitárias lágrimas surgiu e a estrondosa explosão fora escutada.

“Guarde o som dessa música, Rayleigh. Um dia, alguém continuará por mim e então você a ouvirá mais uma vez. Será o sinal daquele que virará esse mundo de cabeça para baixo.”