Rainha dos Corações escrita por Angie


Capítulo 82
Pai | Alexander


Notas iniciais do capítulo

HOJE É QUINTA, HOJE É DIA DE RDC! VOLTEI!

Depois de mais de dois meses lutando com minha própria mente para escrever esse capítulo, consegui terminá-lo. Sério, passei esse tempo todo pensando nisso. Primeiro, fiquei encalhada no planejamento. Não sabia como fazer, como passar a mensagem que eu queria. Depois, quando já tinha descoberto como tudo iria acontecer, não consequia propriamente escrever! Não sabia como fazer os diálogos, como descrever as cenas... Nada! A questão é: esse capítulo é extremamente importante, e eu não queria que ele ficasse desleixados. Esperei anos — literalmente hahah — por essas cenas e acho que vocês também. Então fiz de tudo para elas ficaram do jeitinho que eu queria.


No mais, continuo trancada em casa (minhas aulas - online - começam daqui uma semana e meia) e usei esse meu tempo de bloqueio com esse capítulo para continuar meu trabalho de revisão. Nesse meio tempo, revisei os capítulos 6 (o primeiro da Ophelia!) e 7 (o flashback da Juliane e do Christian). O 7, Coração Roubado, foi o que mais mudou. Para ser sincera, até me assustei com a falta de qualidade dele hahah Sério. Juntando minha escrita bem fraquinha, também tinha comentários bem machistas, que fiz questão de remover. Apesar de me sentir um pouco envergonhada ao ler o que eu escrevia aos 13/14 anos, estou adorando revisar! Espero poder fazer isso com todos os capítulos mais antigos.

Bom, vou parar de tagarelar e deixar vocês com o capítulo!
Espero que gostem!
xoxo ♥ ACE

PS: SEGUNDA É ANIVERSÁRIO DE RDC! Queria muito conseguir terminar a história bem no dia, mas, infelizmente, isso não será possível. Mas prometo que vou fazer de tudo para postar o capítulo final ainda esse ano.

PS2: Vide o título, esse capítulo era pra ser postado no dia dos pais. Claramente não deu certo, mas desejo aqui um feliz dia dos pais a todos aqueles que são pais, independente dos documentos oficiais.



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Para Alexander, tornar-se pai era uma possibilidade distante. Primeiro, teria de passar pela Seleção e escolher sua esposa entre as 35 competidoras. Em seguida, teria de se preocupar com o casamento, que gastaria todas as suas energias por alguns meses, já que este seria um dos maiores e mais importantes eventos da Família Real em anos. Só depois disso, com seu matrimônio já reconhecido pela Igreja e pelo Estado, começaria, com calma, a pensar em formar uma família e em gerar herdeiros para a Coroa. Isabella Aurora, porém, viera ao mundo para desafiar toda a linha do tempo que o Príncipe inicialmente imaginara para sua vida e para apresentar-lhe um amor tão forte que quase não cabia em seu peito.

Pouco mais de um mês antes, quando Isabella Aurora nascera tudo mudou na vida de Alexei.  A pequena menina — sua filha, mesmo que não de sangue — entrara  em seu mundo para provar que ele nunca poderia controlar seu destino. Assim como não pudera mudar o fato que sua irmã mais nova falecera havia alguns meses, não poderia mudar o fato que agora era pai alguns anos antes do que esperava. E a paternidade era, com certeza, era uma das mais difíceis funções que ele teria de exercer e o deixava, sem sombra de dúvidas, mais nervoso do que qualquer evento oficial.

Alexander crescera tendo Christian como seu modelo de homem e Rei. Desde pequeno, respeitava e admirava seu pai. Ele era seu herói. Respeitava a maneira que ele conduzia o país de maneira firme, mas sem deixar a compaixão de lado. Admirava o carinho com o qual tratava a família e toda a atenção que ele dava a ela, mesmo com tantos outros afazeres governamentais. Durante toda sua infância, Alexander não se lembrava de um momento sequer que o pai não estivesse presente, apoiando-o no sucesso e no fracasso e incentivando-o a continuar. Ao mesmo tempo, lembrava-se de todas as vezes que o pai tivera que se ausentar para cuidar de sua grande filha, como ele mesmo dizia, a Dinamarca. O Christian rei, porém, nunca ofuscava o Christian homem e pai. As duas figuras do monarca, a pública e a privada, sempre andavam em harmonia. Era um balanço perfeito que Alexander pensava jamais ser capaz de atingir.

Logo a sua frente, o homem que Alexander tanto admirava trabalhava com tranquilidade, lendo os diversos documentos cuidadosamente. Horas antes, quando os primeiros raios de sol começavam a iluminar aquela manhã morna de abril, o Príncipe Herdeiro solicitara uma reunião urgente com o Rei, que não hesitou em acomodar a conversa com o filho em sua agenda. Ao chegar no escritório, porém, o rapaz se viu tomado de inseguranças. Por mais que sempre tivesse tido uma boa relação com o pai,  os conselhos que estava prestes a pedir iam muito além dos assuntos sobre os quais os dois geralmente conversavam. Ele não iria tirar uma dúvida sobre a Política Externa da Dinamarca ou sobre a história do país, iria questionar toda a sua vida como pai. E não fazia ideia de como começar. Ou o que exatamente perguntar. Apenas sentia o ímpeto de tirar toda aquelas angústias e inseguranças de seu peito. Por sua sorte, Christian não o pressionou, continuando a prestar atenção em seu trabalho até que Alexander se sentisse pronto. 

— Como você conseguiu? — o mais jovem finalmente perguntou, fazendo com que o Rei levantasse os olhos da papelada. — Ser Rei e nos criar, digo. Nunca pareceu difícil para você.

Christian ficou em silêncio por alguns segundos, fazendo com que o filho questionasse a validade e a delicadeza de sua pergunta. Não era sua intenção, em nenhum momento, ofender o pai. Sua pergunta era genuína, e, de forma alguma, gostaria que outro sentido ficasse subentendido.

— Milhares de pessoas na Dinamarca e no mundo são pais ou mães e têm um emprego ao mesmo tempo, não é como se fosse algo tão extraordinário — ele respondeu simplesmente, entrelaçando as mãos sobre a mesa com muita calma, como se explicasse algo a uma criança. — Mas se me permite perguntar… De onde está vindo este questionamento? Você sempre me pareceu seguro em sua decisão de criar Isabella Aurora com Laryssa.

 — Eu… eu estou seguro e não me arrependo de minha decisão. Quando Laryssa me pediu para ser o pai de seu filho, eu não pensei duas vezes. — Alexander soltou o ar lentamente pela boca. — Naquele exato momento, soube que elas eram minha família e que eu jamais poderia abandoná-las. E eu não voltarei atrás.

— Mas… — O Rei fez um sinal com a mão para que o filho continuasse.

— Mas agora, com Isabella Aurora aqui, eu não sei se sou suficiente para elas — ele respondeu olhando para baixo, sem coragem de encarar o pai. — Eu deveria estar preocupado com Laryssa agora, afinal, foi ela quem se tornou mãe aos 16 anos depois de um acontecimento terrível. No entanto, ela tem lidado com tudo com graça, é incrível. Eu sei que é difícil para ela e tento ajudá-la… Ou melhor, eu devo ajudá-la, mas me sinto despreparado, como se, a cada segundo, estivesse na iminência de cometer um erro. Quero ser um bom pai para Isabella Aurora, porém não sei como.

— Ter uma vida que depende de você pode ser amedrontador. Por vezes, senti que não era suficiente para vocês cinco. — O Rei deu um sorriso triste. — Quando Saphira nasceu, por exemplo, nós não estávamos preparados, você deve lembrar. Em todas as outras gestações de sua mãe, até na das gêmeas, tudo ocorreu normalmente. Mas Phinny nos pegou de surpresa, dois meses antes do esperado. Eu não estava no hospital no momento em que ela nasceu, pois não foi possível me informar a tempo. Naquele dia, me senti um pai terrível. Eu não estava presente, não pude apoiar minha esposa e não vi minha filha nascer.

Alexander recordava-se exatamente do dia em que a irmã caçula nascera. Estava em uma de suas entediantes aulas de dinamarquês quando um dos militares entrou com pressa na sala, solicitando, com urgência, a presença do jovem Príncipe de 10 anos. Sentado com Ingrid, Isabella e Henrik na sala de espera do hospital, Alexei teve de segurar as lágrimas, tentando acalmar os mais novos. Por dentro, porém, estava desesperado. Pensava que tudo daria errado,  que perderia sua irmãzinha que nem tivera a oportunidade de conhecer e, o mais apavorante de todos, que nunca mais veria sua mãe com vida. O pai chegara algumas horas depois, abraçando seus filhos e afirmando que tudo ficaria bem. Ele parecia tranquilo, certo de que nada aconteceria a sua esposa e filha. E, para ser sincero, Alexander nunca pensara sobre o que ele estava sentindo.

— Quando segurei sua irmã pela primeira vez, eu estava apavorado. Ela era tão pequena, tão frágil, parecia que poderia quebrar a qualquer momento. Preciso ser franco, não imaginava que ela sobreviveria. Sua mãe, por outro lado, tentou ao máximo se manter forte, dizendo que estava tudo bem, que ela estava confiante que Phinny logo receberia alta, que tudo daria certo. Ela lidou com tudo muito melhor que eu, mas eu sabia que ela também estava com medo. E Laryssa deve estar assim também, apesar de não demonstrar. — Christian continuou. — Vocês dois são um time a partir de agora. Por isso, esteja sempre ao lado de Laryssa, nos momentos felizes ou tristes. Não se sinta incapaz, você é capaz. Não se afaste de Laryssa e de Isabella Aurora por conta de seus medos, será muito pior se você o fizer. Esteja presente. Ame-as.

Alexander encarou o pai por alguns instantes, refletindo sobre suas palavras. Nunca deixaria Laryssa e Isabella Aurora, disso estava certo.Mas será que conseguiria controlar suas inseguranças para que não se afastasse acidentalmente? Como poderia evitar que isso acontecesse? Seria capaz? Antes que pudesse fazer essas importantes perguntas ao pai, entretanto, alguém bateu à porta, quebrando o momento entre os dois.

— Entre, por favor — o Rei pediu, ainda observando o filho.

A porta se abriu lentamente, revelando a figura esguia de Elisabeth, que sorria constrangida. Desde que chegara em Amalienborg, era comum ver a jovem Germânica circulando entre os escritórios dos soberanos, atuando como assistente pessoal júnior da Rainha. Alexander não sabia muito sobre o passado da prima, já que ela fora afastada da família materna quando ambos os pais morreram tragicamente em um curto intervalo de tempo, mas tinha certeza de que Luther a treinara bem para a vida em corte. Apesar de ter apenas 16 anos, ela parecia conhecer todas as regras, portando-se melhor que muitos dos funcionários seniores da coroa. Juliane não poupava elogios à jovem sobrinha, adotando-a, ao mesmo tempo, como filha e como pupila. Toda a família, na verdade, acolhera  a menina muito bem, e Alexander estava feliz pela prima finalmente ter encontrado seu lugar.

— Eu posso voltar em outro momento… — ela afirmou, já pousando sua mão livre sobre a maçaneta. — Desculpem-me.

— Não, querida, venha — o Rei fez sinal para que a sobrinha se aproximasse.

— A Rainha solicitou que eu lhe entregasse alguns documentos referentes à volta de Ingrid e Henrik — a menina disse, olhando para os papéis que tinha em mãos. — Aqui estão as informações sobre o vôo de Henrik e a viagem de trem de Ingrid. Se tudo ocorrer como previsto, ambos devem chegar à Dinamarca na manhã do dia 27 de maio. Ingrid conseguiu permissão da escola para realizar as provas finais algumas semanas antes do programado, assim poderá estar aqui mais cedo.

Com graciosidade, ela se aproximou da mesa do Rei, esticando o braço para entregar-lhe os documentos. Alexander riu discretamente, achando graça das habilidades persuasivas da irmã mais nova. Por algum motivo, o fato de ela ter convencido a escola a mudar o calendário apenas para ela não o surpreendia. Em uma de suas cartas, semanas antes, ela comentava o quanto queria conhecer sua sobrinha o mais rápido possível. Por mais que gostasse de Oslo, ela afirmara, não via a hora de estar em Copenhague — em casa — novamente. Alexander, por sua vez, ficava feliz pela irmã, que parecia estar, aos poucos, se recuperando de toda a dor causada pela morte de Bella. Mas, ao mesmo tempo, temia que sua volta à capital dinamarquesa fosse dolorida. Talvez dolorida demais.

— Perfeito. Por favor, informe Iara sobre a chegada deles. — Christian sorriu para a nobre Germânica. — Alguma notícia da Grécia?

— Ariadne pensa que já é seguro suficiente para as meninas voltarem para Atenas, já que as tropas turcas recuaram após a deposição de Luther. Tia Juliane, porém, insiste que elas só poderão voltar quando um acordo de paz apropriado for assinado. A Rainha Viúva concorda. — Elisabeth levantou o queixo, tirando os olhos dos papéis e pronunciando todas as palavras com confiança. — Não há nada conclusivo nos documentos que tenho, apenas discussões e mais discussões entre essas três mulheres. Mas, se o senhor quer minha opinião sincera, creio que devemos nos preparar para hospedar Sybbie e Althea por mais alguns meses, pelo menos até julho, que é quando o Rei se reunirá com o governo turco.

— Concordo com Juliane e Sybil, devemos esperar até que Atenas esteja completamente segura para enviar as Princesas para casa. Por favor, informe Ariadne que nós acolheremos suas filhas com muito prazer, ela não precisa se preocupar. — O Rei balançou a cabeça positivamente, — Muito obrigado, Elisabeth. Mais alguma matéria a ser tratada comigo?

— Não, isso era tudo… Ah! — Ela olhou para o primo, entregando-lhe um pequeno papel. — Eu iria procurá-lo logo depois de passar por aqui, Alexander. Esse bilhete é para você.

Alexander pegou o bilhete — totalmente em branco do lado de fora, o que era incomum para recados oficiais — com receio. Ao abrí-lo, deparou-se com uma caligrafia familiar. 

 

Alexander,

Por favor, me encontre em seu escritório assim que puder.

 

Apesar de não haver nenhuma assinatura do remetente, o Príncipe sabia exatamente quem ele era. E esse conhecimento fazia suas mãos tremerem de nervosismo.

♕♕♕

Desde que o Príncipe entrara em seu  escritório — deparando-se com a criada já sentada tranquilamente em uma das poltronas no canto direito do recinto — ele e Ophelia não trocaram nenhuma palavra, nem mesmo os cordiais cumprimeitos com os quais estavam acostumados. Alexander encarava a criada com curiosidade. Assim como em todos os outros momentos que se encontraram, ela trajava seu uniforme branco de babá, uma lembrança constante de seu real lugar naquele Palácio. Vendo-a ali, depois de meses pensando que ela nunca mais estaria em sua vida, ele pensou em todos os momentos que passaram juntos. A preocupação comum por Saphira em suas inúmeras internações, o que os aproximara. As longas conversas ao leito da jovem Princesa. Mais tarde, os beijos carinhosos, mas cheios de adrenalina. As noites discutindo sobre o futuro, criando planos que ele sabia que jamais poderiam se realizar. 

Era dolorido tê-la ali, tão próxima, mas ao mesmo tempo tão distante. Depois de anos de cumplicidade, naquele momento, era como se eles fossem dois desconhecidos. Desde que ele mandara a carta de despedida para ela alguns meses antes — quando ele partira para Skagen — os dois não conversavam. Em sua ingenuidade, o Príncipe pensara que tudo estava resolvido entre eles. Ele se casaria com Laryssa em alguns meses, e ela seguiria sua vida como babá. Dessa maneira, quando recebeu o bilhete da antiga amante, não compreendeu o porquê de ela querer vê-lo com tanta pressa. 

— Nós temos uma filha — ela falou simplesmente, quebrando os intermináveis minutos de silêncio entre os dois jovens. — Ela completará 3 anos daqui a alguns meses. 

As palavras atingiram Alexander como um tiro, rápidas e dolorosas. O chão sob seus pés parecia desmoronar. Foi tudo tão inesperado que ele não soube como reagir. Ele tinha uma filha. Com Ophelia. 

Tudo girava.

— Sabia que uma filha bastarda, ainda mais no auge de sua adolescência, iria atrapalhá-lo, então resolvi fugir assim que descobri. Alicia me ajudou a acobertar a gravidez, me convidando para viver com ela por um ano em Madrid. — Ela continuou, encarando as mãos entrelaçadas sobre os joelhos. — Você deve se lembrar de quando fui para o Reino Ibérico com Alicia alguns anos atrás, com a desculpa que a ajudaria com seu novo posto na Embaixada. Mas isso não era verdade. Nossa filha nasceu lá e, quando ela estava com idade suficiente, voltei para Copenhague.

As palavras fugiam de Alexander. Era como se alguém as tivesse apagado de sua memória, deixando-o apenas com pensamentos incoerentes. Ele queria dizer algo a Ophelia, principalmente depois de ela ter compartilhado algo tão importante com ele. Mas simplesmente não conseguia. 

— O quê? Como…? — Foi o que foi capaz de dizer, depois de alguns segundos, ainda em choque.

— Acho que você sabe bem como — ela murmurou, ainda sem olhar diretamente para ele.

—  É claro que sei, mas...

— Olha, eu não quero nada de você, não quero títulos, não quero terras. Nada. Só queria que você soubesse. — Ela o interrompeu, já visivelmente irritada.  — Podemos ir embora amanhã mesmo, se você desejar.

Podemos…? — Alexander aos poucos voltava à realidade, percebendo a gravidade e a importância daquela informação. — Isso quer dizer… Que ela está aqui?

— Sim. — Ophelia soltou o ar pela boca com força. — Ela passou um tempo com Alicia na França quando vocês se refugiaram em Skagen. Não achei que seria prudente levá-la comigo a Bilbau naquele momento, mas agora tenho uma moradia garantida na casa de minha mãe. Não precisamos mais ficar em Copenhague.

— Não!  — Ele a interrompeu um tanto alto demais, logo repreendendo a si mesmo ao pousar a mão sobre a boca. — Quer dizer, não precisa. O lugar de vocês duas é aqui, se assim você desejar. Nunca poderia expulsá-las da Dinamarca.

— Eu nasci no Reino Ibérico, assim como minha filha.  — Ela cruzou os braços em frente ao corpo protetivamente. — Nosso lugar não é aqui. Nós somos intrusas.

— Ophelia... Lia... — Ele esticou o braço até encontrar os dela, ainda cruzados, logo segurando-os com firmeza, mas ela não o encarou nos olhos. — Eu não quero que vocês saiam daqui. Vocês não são intrusas, nunca serão. Eu amei você por muitos anos, ainda amo, na verdade, mesmo que de outra maneira. E essa menina é fruto de todo esse amor. Agora que sei que ela existe, serei o pai dela e não a abandonarei.

— Mas e sua mãe? Seu pai? A Dinamarca? Como você irá explicar tudo isso a eles? — ela perguntou, finalmente erguendo os olhos, que já  estavam cheios de água. — A última coisa que quero é acabar com sua reputação, afinal, você é o futuro Rei.

— Serei sincero, não sei. O fato de eu ter uma filha fora do casamento, de fato, causaria muitas controvérsias. Provavelmente, terei de esperar até que Laryssa e Isabella Aurora sejam apresentadas oficialmente ao público, já que essa situação também não será aceita tão facilmente, e não quero causar um alvoroço desnecessário. — Ele mordeu o lábio inferior. — Mas, quando for o momento propício, nós daremos um jeito. Essa menina é minha filha, e o certo a se fazer é assumi-la.

— Esmeralda — ela disse em um tom baixo, quase sussurrando. — O nome dela é Esmeralda.

— Esmeralda — ele repetiu o nome de sua filha com muito amor. — É lindo.

Ophelia descruzou os braços e entrelaçou seus dedos com os do Príncipe com força, assim como fizera em tantos outros momentos importantes de sua jornada juntos.  Era um toque de carinho, de cuidado e, sobretudo, de amor. Um amor que jamais poderia ser apagado da existência. Um amor que, por mais que mudasse ao longo dos anos, sempre faria parte deles, parte de sua história. Ao encarar Lia nos olhos, Alexander sentiu lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Sentia-se honrado por ter conhecido aquela mulher. Por tê-la amado. Por tê-la para sempre em sua vida como mãe de sua filha. 

Após longos instantes envoltos naquele momento de tamanha ternura, os dois jovens foram surpreendidos por batidas suaves na porta, fazendo com que eles soltassem as mãos com pressa. Antes mesmo de o Príncipe permitir, a porta foi aberta gentilmente, quase sem emitir sons. Atrás dela, uma figura sorridente de cabelos ruivos apareceu. Laryssa trajava um vestido azul-marinho largo, que escondiam o corpo ainda a recuperar-se da gestação, e seus madeixas cada vez mais longas brilhavam com a luz vinda das grandes janelas do corredor. 

— Estou atrapalhando? — ela perguntou sem deixar de sorrir.

Alexander voltou-se para Ophelia, que enxugava as lágrimas apressadamente. Ao perceber o olhar do Príncipe sobre ela, a jovem apenas sorriu, indicando que estava tudo bem, que o assunto já fora resolvido — por ora. 

— Pode entrar, nós já terminamos — Alexei sinalizou para que a futura esposa entrasse.

— Imaginei que a conversa de vocês dois não estaria completa sem um certo alguém. — Laryssa sorriu ainda mais, se é que isso era possível.

Lary, então, abriu a porta por completo, revelando não apenas o carrinho de Isabella Aurora — o qual a jovem mãe utilizava para passear com a filha pelos vastos corredores de Amalienborg — mas também uma pequena menina de cabelos escuros, que vestia um simples vestido amarelo com pequenas flores. Mesmo antes de ser apresentado à garotinha, Alexander sabia: era sua filha. Não havia como negar. Ele conseguia ver nela o seu eu de 3 anos em uma das inúmeras fotografias espalhadas pelo Palácio. Eles tinham o mesmo nariz e o mesmo formato de boca. E, por mais que não se considerasse tão belo na infância, para ele, Esmeralda era a criança mais linda do mundo — uma competição à altura para Isabella Aurora, não que ele quisesse compará-las.

Enquanto o Príncipe admirava a filha, ainda em choque, Ophelia se levantou, em direção à pequena. As duas se abraçaram, e o mundo pareceu parar. As emoções dominaram seu corpo. Ao mesmo tempo, tinha vontade de chorar copiosamente e rir. Por tanto tempo, sequer soubera da existência de Esmeralda, mas agora ela estava ali. E ele não conseguia tirar os olhos dela. Percebendo o estado do futuro marido, Laryssa apertou seu braço. Ainda atordoado, ele acordou de seu transe e trocou olhares com a ruiva. Ela sorria ao observar a cena em sua frente, como se estivesse esperando por ela há anos. Não havia nenhum sinal de ciúmes ou de raiva, ela estava genuinamente feliz. Sentindo-se ainda mais abençoado por ter duas mulheres incríveis como mães de suas filhas, Alexei voltou a focar em Ophelia, que agora passava a mão gentilmente pelo pequeno rosto da filha.

— Esmie, lembra-se do que eu falei sobre o papai? —  A menina balançou a cabeça positivamente, encarando o homem em sua frente com curiosidade. — Ele está aqui agora.

Ophelia sorriu para Alexander, se aproximando ainda mais dele.  Logo ao lado, Lary afagava o braço do futuro marido, encorajando-o. Incerto sobre a melhor maneira de falar com a filha, o Príncipe apenas sorriu, tentando conter o nervosismo. 

— Oi, Esmeralda — ele disse suavemente. — É um prazer enorme conhecê-la.

Para a surpresa de todos os adultos presentes, a menininha esticou os braços, se inclinando em direção ao pai. Ao pegá-la em seu colo, Alexander a abraçou com força — como se nunca mais fosse soltá-la. Por quase três anos, ela existia nesse mundo sem que ele soubesse, mas agora eles estavam juntos. E, se dependesse dele, ficariam para sempre assim. Todo o temor e a ansiedade que a paternidade causara e que o fizeram questionar sua vontade de realmente ser pai deixaram de existir naquele instante. Ele olhou em volta, vendo Isabella Aurora dormindo tranquilamente no carrinho, e Laryssa e Ophelia sorrindo uma para a outra. De fato, aquela não era a vida que ele planejara para si mesmo, ainda mais como futuro Rei, mas ele estava feliz. Apesar de todas as inseguranças, ele nunca poderia deixar de amar ou abandonar aquelas quatro mulheres. Aquela era sua família, e ele não a trocaria por nada.


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Notas finais do capítulo

Eu amo essa nova família com todo o meu coração e só desejo o bem a todos eles. Meu coração derrete toda vez que eu penso em todas as interações entre Isabella Aurora, Esmeralda e o pai delas. FOFINHOS DEMAIS!

Acho que já comentei aqui, mas questiono muito minha eu do passado por ter criado a Ophelia e a Esmeralda. Não me entendam mal: eu as amo. Muito. A questão é que, há quase 6 anos, me coloquei em uma situação muito difícil. Todos sabemos todos os problemas que monarcas do passado tiveram com essa história toda de bastardo (recado especial para meu amigo Dom Pedro I, já que agora estou muito investida na novela das 6). Então eu sempre me questionei: por que eu, em sã conciência, coloquei o meu amado Alexander nessa situação? Queria ferrar com a vida do menino, né? Esse questionamento todo foi um dos motivos pelos quais eu não consegui terminar esse capítulo antes. Eu simplesmente NÃO SABIA o que fazer com a Esmeralda. Tinha certeza que Alexander, como pessoa, amaria a filha no momento que soubesse de sua existência. Mas como príncipe? Não fazia ideia! Agora, entretanto, sei que o amor que ele sente por Esmeralda é suficiente. No fim, ele dará um jeito de resolver tudo. E nós veremos mais disso nos próximos capítulos, não se preocupem.

Tenho que admitir: estou viciada nessa dinâmica do Alexander com as quatro mulheres da vida dele. Ai, por mim eu escrevia sobre isso para sempre hahahaha

Espero de coração que vocês tenham gostado!
Até a próxima!
xoxo ♥ ACE



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