O Príncipe dos Sonhos escrita por Lisie


Capítulo 4
a Lua foi admirada dessa vez


Notas iniciais do capítulo

Tenha uma boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/538730/chapter/4

“– Está muito nervosa, senhorita Chase?

– É claro, né, o que você estava esperando? – ela disse despojadamente.

– O príncipe está rindo, senhorita – ele sorriu – acho você uma forte candidata. ”

O Jornal Oficial foi fortemente ignorado pelo príncipe Chris. Nunca gostou do apresentador Gary Wilde, sempre o achou fútil, e também odeia as perguntas tolas que ele sempre faz como “Você está gostando da comida no palácio real?” ou “Os vestidos são realmente confortáveis?”. Total perda de tempo.

As meninas se apresentaram normalmente, receberam sempre as mesmas perguntas e respondiam sempre da mesma forma. Rachel Chase, de rosto meio arredondado e nariz um pouco grande, foi o diferencial da noite. Ela respondia ao apresentador de forma ou irônica ou palhaça, mas ambas fazem rir. Christopher não se segurou e riu muitas vezes também com respostas como “Gosto tanto da comida que vou ficar gorda com certeza” ou “Estou na dúvida se são confortáveis; talvez eu deva ficar pelada agora!” e muitas vezes deu sustos em todos ao redor, principalmente na Rainha, que mesmo sendo despojada para uma rainha, ainda é uma pessoa normal como todos os outros e se assusta quando alguém ameaça fazer striptease em plena rede nacional.

**

“Jennifer, que tal fazermos um piquenique hoje à noite? Espere-me na porta de seu quarto, depois de meia-noite.

Abraços, Christopher.”

Jennifer não para de pensar em Alex. Em como sentia falta da sua voz macia e aconchegante, perfeita para momentos de nervosismo como esse. Não é grande coisa ser a primeira menina a ter um encontro a sós com príncipe; tudo bem, talvez até seja, mas não é isso que a deixa preocupada. Tem um grande segredo escondido logo embaixo de sua garganta e uma ânsia enorme de gritar para um mundo inteiro por pouco não a faz resistir. Mas ela tem. E o povo dela depende disso.

– Sinceramente, estou surpreso por ter recebido meu bilhete – o príncipe sorriu.

– As criadas só aparecem para me vestir e perguntar se quero alguma coisa. Entregaram-me de forma tão silenciosa que fiquei até com medo de abrir! - Jennifer exclamou em sussurros, ninguém poderia ouvir. Fechou a porta com bastante cuidado e falou para Chris ir à frente com a cesta de piquenique. Um lanche pela madrugada, eu mereço, ela pensou e lembrou-se de como fazia tempo que ela não tinha insônia.

Seu roupão prendeu na porta; graças a Deus que podia usar um short de malha pelo menos senão não estaria completamente vestida. Quando abriu a porta e fechou-a novamente, ouviu um barulho bem distante no corredor. Primeiro de uma porta se abrindo e fechando, depois de passos pesados arrastados por uma respiração pesada. A menina que estava de roupão e braços cruzados, caminhando rapidamente para as escadas dos criados não tinha reparado em Jennifer. Mas com certeza Jennifer reparou nela.

Decidindo se contava a Chris ou não, preferiu que não. Talvez pudesse descobrir depois quem era daquele quarto e assim quem havia saído de lá para ir aos fundos do castelo, onde Jennifer uma vez ouvira em uma conversa de faxineiros. Não importa; o que importa realmente era que Chris já tinha sentado no chão lá na frente e que parecia não aguentar mais esperar.

– Duvido que você saiba para onde estamos indo – ele abriu a porta que dava numa sala enorme, repleta de estantes de livros.

– Me deixe adivinhar – ela fingiu estar analisando ao redor – vamos fazer piquenique numa biblioteca?

– Errou, bobinha – ele chegou perto de uma estante com uma estátua de um importante professor (estava escrito ali embaixo) e puxou um livro de capa completamente preta, grosso e para a maioria das outras pessoas, incomum, mas não para Jennifer. Ela sentiu uma familiaridade com aquele objeto, jurava que já tinha o visto antes. Perdida em seus pensamentos, nem tinha percebido que dentro do livro estava recortado uma caixa roxa com detalhes dourados. – Faça as honras.

– O que... eu... devo – foi interrompida com um olhar de tédio de Chris. Abriu a caixinha e pegou uma chave dourada lá de dentro – o que ela abre?

– Aquela porta atrás de você – Chris riu. Adorava ver como ela parecia perdida e como ele já havia feito isso antes com sua irmã, só que no caso Zoey que brincava com a ignorância dele e ele que segurava a chave com as mãos de um menininho de 10 anos.

Atrás da estátua daquele professor importante, a porta parecia dar numa escada bem antiga, com um pouco de iluminação pela luz da Lua. Subiram em silêncio, tomando cuidado com os degraus quebrados ou ausentes e deram num lugar bem iluminado pela noite: o telhado.

– Tchanrám! – ele parecia estar realmente curtindo aquilo tudo – comida a lá luz das estrelas. O que acha?

Chris também não sabia o quanto Jennifer estava maravilhada. O céu estava completamente limpo, sem nuvens, e o palácio era absurdamente alto... dando espaço para uma vista também absurda da cidade. As luzes, as torres, as casas... era tudo tão perfeito e pacífico. Algo que Jennifer não via a muito tempo.

– Isso é muito bonito, Chris – sua cabeça estava erguida, olhando para o céu, depois ela abaixava e olhava para a cidade: tudo isso com uma expressão explícita de felicidade no rosto – eu não sabia que você é um cara que sabe admirar esse tipo de coisa.

– Tenho os meus mistérios, sabe? – ele começou a abrir com bastante cuidado a cesta de piquenique, mas nem tanto assim; estavam num lugar não muito íngreme. – Mas não sabia que eu parecia ser alguém que não admira as estrelas. Sério que me faço de insensível sem saber?

– Eu apenas não sabia – ela respondeu quase num sussurro. Ainda olhava para o céu.

– Bem, pegue uma maçã – Chris ofereceu a Jennifer – e me conte de onde você veio.

Jennifer não esperava que ele a perguntaria já de cara. Bem, estava bastante agradecida por não ter que começar o assunto:

– Venho de uma vila chamada Toca dos Refugiados. Não fica muito longe daqui.

– Você sente saudades de lá? Não estou te pressionando, se quiser mudar de assunto é só falar.

– Na verdade, me sinto mais confortável falando de lá – Por que você está mentindo? , uma voz sussurrou na sua cabeça. Porque é necessário, Jennifer respondeu a si mesma. – O que você quer saber de lá?

– Por que se chama “Toca dos Refugiados”?

Ela riu e, botando a maçã cuidadosamente de lado, respirou fundo e começou:

– Há muito tempo atrás, existia um povo que vivia aqui nessas terras. Um povo veio antes dos Europeus colonizarem este lugar. Antes disso tudo se chamar Ilhéia, ou Estados Unidos, ou qualquer coisa do tipo. Antes de essa terra ter um nome.

“Chamavam-se indígenas. Os verdadeiros donos, os nativos. Por muito tempo sofremos com o preconceito, com guerras, fomos dizimados até que de milhares, sobraram poucos. Muitos sobreviveram à guerra que deu origem a esse novo país, o nosso lar, mas o que poucos sabiam é como os de origem indígena conseguiram tal feito. Afinal de contas, eles foram um dos alvos para quem tinha uma arma e vontade de matar.

“Não éramos muitos, mas o suficiente. Foi erguida uma cidade embaixo de outra, para abrigar aqueles que tiveram sua casa tomada milhares de vezes, para que a história não acabasse. Uma cidade subterrânea nasceu para refugiar o meu povo. Não nos chamamos mais de indígenas por causa disso, e sim de refugiados. Eu sou uma refugiada.

– Não acredito que sou príncipe desse país e não sabia disso – Chris estava realmente surpreso. Não conseguia pensar no fato de que nenhum dos seus tutores havia o ensinado, ou ao menos mencionado, que existia uma cidade embaixo de outra a apenas 2 horas de distância.

– Não se culpe – ela riu, sorrindo para ele – só estamos nos revelando porque eu estou aqui. Se não estivesse, vocês nunca saberiam.

– Como viveram por tanto tempo lá embaixo? Vocês nunca veem a luz do Sol? Onde conseguem água, comida? Para onde vai o esgoto de vocês? – Ainda haviam milhares de perguntas que ele queria fazer, mas foi interrompido por Jennifer.

– Existe um bairro com esse mesmo nome. Vivemos na parte de cima também. Nossas crianças vão ao colégio, os adultos vão trabalhar, os velhinhos vão ao médico. Mas passamos nosso tempo livre lá embaixo. As crianças fazem os deveres de casa lá embaixo, os adultos descansam lá embaixo, os velhinhos contam suas histórias. Quase todos da cidade sabem disso, pelo menos os guardas, os vizinhos, etc. Porém ninguém entra lá, a menos que tenha sangue de refugiado. Mecânicos, babás, independente de quem seja, só entram se tiver ancestrais indígenas.

– Vocês são bem seletivos hein? – Chris pegou um sanduiche e ofereceu a Jennifer, mas ela recusou – Seu povo deveria poder admirar mais o céu. A Lua está divina essa noite.

**

Zoey estava aliviada por ver que os machucados de Tommy estavam sarando. Ela e Max não ficaram muito tempo com o menino, pois alguns guardas já tinham avidado que ouviram um barulho em algum lugar perto, e que a princesa poderia ser descoberta.

Eles dois caminharam juntos até o palácio, e Max se mostrou muito agitado. Não paravam de trocar olhares desde que descobriram que Tommy estava bem. Quando entraram no casarão da família real, Zoey conduziu Max pela mão até o quarto individual dele e parou bem na porta. Ele a beijou com bastante força e os dois adentraram no quarto.

Não sairiam de lá nem tão cedo.

**

Chris e Jennifer conversaram por bastante tempo. Falaram de comida, infância, ar-condicionado, natureza, ela ameaçou até dar ovada no aniversário dele! Riram, comeram e morreram de sono até dar umas 3 horas da manhã no relógio de Chris.

– Talvez seja melhor irmos. A Rainha quer que a gente acorde cedo e vá tomar café com ela – disse Jennifer, ajudando Chris a guardar as coisas – Espere que se lembre do caminho de volta porque...

– Fique quieta. – ele a parou bruscamente e se fez de estátua. Jennifer suspeitou que fosse uma brincadeira e quando abriu a boca para falar... – Não fale nada. Escutou isso? – Sua voz estava mais baixa que um sussurro, e ela obedeceu calmamente.

Um som de pessoas rindo lá fora era bem baixo, mas audível o suficiente. Jennifer lembrou imediatamente da menina que tinha saído antes dela ir para o telhado. Chris botou as coisas na escada sorrateiramente e na ponta dos pés, caminhou com muito cuidado até o lado esquerdo do telhado. Não tinha percebido que Jennifer o estava seguindo, o imitando de uma forma surpreendentemente baixa. Talvez o príncipe só estivesse concentrado demais nos barulhos lá embaixo.

Os dois avistaram cerca de cinco pessoas com roupas que pareciam em farrapos, meio rasgadas, mas depois eles perceberam que na verdade estavam eram cheios de camadas de proteção e aos poucos Jennifer foi ficando mais assustada, mais assustada... começaram a aparecer um bando deles, pulando o muro, descendo das árvores. Chris engoliu um seco:

– Estão carregando armas – aos poucos ele estava empurrando Jennifer para trás, começando a ficar com a respiração acelerada – mas não são guardas.

Não, não eram guardas. Eram rebeldes. E Chris e Jennifer estavam observando abismados. O palácio estava sofrendo um ataque.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comente!