Havia uma neblina densa demais para que ele conseguisse enxergar qualquer coisa além do chão brilhante de ouro. Ele andara por dias daquele jeito, mas não podia parar, tinha que chegar até o final daquilo.

Continuava pensando no que poderia ter acontecido com eles, se haviam conseguido sair, quando algo chamou a sua atenção. No final daquela parte da trilha havia um pequeno vulto através da neblina, não parecia estar olhando para ele e sim estar ali por acaso, como se estivesse perdido.

"Oi! Quem está aí? Pode me ajudar a chegar ao final desta trilha?"

O vulto o percebeu e se virou, só agora percebera que ele estava de costas.

"É exatamente para isso que eu estou aqui. Apesar de eu não entender o porque de me mandarem ajudar um recém chegado se eu ainda posso ser considerado um."

"Quem te mandou?"

Ele falava enquanto andava na direção do vulto que percebera não estar longe, e sim ser de uma criança.

"Os anjos. Eles são os mensageiros Dele. E você, quem é?"

"Você não me disse seu nome e eu te perguntei primeiro."

Ele já estava praticamente em frente a criança.

"Meu nome? É..."

Então ele viu o rosto do garoto, tinha cabelos negros, usava óculos na frente de seus olhos azuis, o que ele achou estranho-óculos no céu?- e não passava dos nove anos.

"Max..."

"Como você...? Quem é? Você é da minha família? O que houve?"

Então Max pareceu perceber seu rosto, pois uma mistura de surpresa, raiva e tristeza passou por seus olhos enquanto ele dava um passo para trás.

"Sebastian... O que você está fazendo aqui?"

"Max, me escute..."

Ele deu um passo para frente e o garoto outro para trás, recuando sempre que ele avançava.

"Não. Você me matou. Não era para você estar aqui!"

"Aquele não era eu, Max. Por favor, você tem que me escutar, eu vou te explicar..."

"Não! Como você chegou aqui, Sebastian? Era para você estar no Inferno!"

"Max, eu sou Jonathan... Por favor, me desculpe, me deixe explicar o que houve depois que..."

Depois que eu te matei.

"Depois da sua morte... Aconteceu muita coisa..."

"Não! Eu nunca vou te ouvir! Nunca vou te perdoar! Você é um monstro!"

Com essa última fala, o jovem caçador de sombras saiu correndo. E Jonathan foi atrás, afinal tinha que explicá-lo e não podia continuar perdido.

"Max! Por favor!"

Mas, quando saiu da neblina, o garoto já tinha sumido.

Ele estava em um tipo de cidade com casas pequenas e alinhadas. Ele tinha que achar Max, tinha que se desculpar, tinha que explicar, tinha, mesmo que não fosse desculpado. Entrou em um dos caminhos que levavam a entrada das casas, sempre olhando para os lados caso Max estivesse escondido. Até que percebeu que as casas tinham nomes nas portas e que uma delas tinha o seu.

Parou em frente aquela casa, encarando a pequena placa com o seu nome. Colocou a mão na maçaneta e girou, a porta se abrindo ao seu toque.

Não havia muito para perceber no interior. Tudo era branco, dourado ou prata. Tinha apenas um andar e parecia extremamente pequena por fora, mas por dentro era surpreendentemente grande, tudo era acomodado de modo a precisar, realmente, somente de um andar.

Jonathan foi em direção a cama posicionada em uma das paredes, sentou-se com o rosto entre as mãos.

"Pelo anjo! Como vou explicar tudo que aconteceu para o Max? Como? Ele não vai acreditar em mim..."

Envolto em seus pensamentos, mal percebeu quando a porta foi levemente aberta, dando espaço para apenas um olhinho azul curioso.

"Como eu vou explicar para ele tudo o que Valentim fez? Comigo... Com Jace... Com Clary... Como?"

"O que ele fez?"

O maior olhou na direção da voz. Max já tinha aberto boa parte da porta e o encarava com olhos acusadores. Ele começou a se levantar.

"Max, eu..."

"Não...chegue perto de mim. Não até explicar tudo que houve. Foi por isso que eu vim. Não para te perdoar."

"Está bem. Vou te explicar tudo."

E assim o fez. Desde o começo, do ciclo, do sangue de anjo e de demônio, até chegar ao Edom.

"E então eu não sei se eles saíram de lá. Mas eu acho que conseguiram, eles sempre conseguem escapar do que Sebastian faz."

"Isso... Isso tudo é verdade?"

"É, Max. Eu não tenho nenhum motivo para mentir e, se não fosse, acho que eu não estaria aqui."

O pequeno Lightwood, ainda em pé perto da porta, começou a andar na direção da cama enquanto falava.

"E...você, Jonathan, não me matou."

"Não."

"Então...durante todos esses anos você ficou como se estivesse preso dentro do seu próprio corpo enquanto alguém, que não era você, fazia coisas horríveis e você não podia fazer nada..."

"Mais ou menos isso...é."

No próximo momento o pequeno caçador de sombras surpreendeu o maior, quando avançou em direção ao seu pescoço, abraçando-o.

"Então você sofreu muito mais do que eu. E eu só estava te fazendo sofrer mais. Me desculpe."

"Não. Você é quem tem que me desculpar."

"Está bem. Está desculpado."

Max apertou mais ao terminar essa frase. E as lágrimas que Jonathan segurara desde o reencontro na neblina vieram para fora.