Everything Is Wrong escrita por Miranda Thompson


Capítulo 3
Can We Make Peace?




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/529235/chapter/3

—Tem aula de que agora? – Pergunto.

—Química e você? – Diz Melissa.

—Química também, vamos?

Dois corredores antes de alcançarmos a sala trombamos com Tobias. Ótimo. Depois da noite anterior ele era a última pessoa que eu queria encontrar.

—Oi Melissa, - depois de uma pausa ele conclui: — Miranda...

—Oi – Diz Melissa se abaixando para pegar minha mochila que havia caído.

—Nos vemos no almoço? – Ele perguntou. Mas não esperou resposta. Simplesmente foi embora.

◄►

Perto do fim da segunda aula, Melissa me cutuca e aponta para o meu celular. Olho o visor e tem uma mensagem dela.

O que ele tem?

Olho para ela confusa e digo baixinho.

— Quem?

Ela digita mais alguma coisa no celular.

Tobias.

Ah, então ela percebeu. Viro novamente para ela e dou de ombros, fingindo não saber do que ela estava falando.

As aulas seguintes arrastam mais lentamente que o normal. Quando finalmente chega a hora do almoço percebo que não estou tão animada. Teria de aguentar Tobias, e para falar a verdade, não queria reencontrá-lo.

Ele estava sentado à mesa que costumávamos sentar juntos antigamente, a mesma mesa que me sentei por dois anos, e por todo esse tempo, era a primeira vez em que o via ali.

Decido ignorar tal fato e me sento, logo após Melissa.

—Como foi seu primeiro dia? – Ele perguntou, obviamente dirigindo-se à Melissa.

—Fantástico – ela respondeu. – Senti tanta falta desse lugar.

—Senti sua falta também.

—Então... Como foram esses dois anos sem mim? Aposto que se divertiram muito, certo?

—É. Eu, pelo menos me diverti. Não tanto quanto com você, é claro, imagino como devia ser na Europa, mas enfim, me diverti. Talvez não possa dizer o mesmo de Miranda.

Cínico.

—Como assim?

—Não temos saído muito ultimamente - ele dá de ombros.

—E porque não? — Melissa pergunta confusa.

—Pra falar a verdade, não sei. Depois que você foi para a Europa, Miranda se afastou de mim.

—Eu me afastei de você? Tem certeza Tobias? – Perguntei em um tom de voz desafiador.

—É. Você sim, Miranda. Depois que Melissa foi embora você nunca mais foi a mesma.

Não aguentei. Aquilo era demais.

—Você me abandonou Tobias. Eu corri atrás, fiz tudo o que era possível, mas você tinha outras prioridades. Tinha outro grupo de amigos, que pelo que vi, eram mais importantes que eu. Depois que Melissa foi embora você agiu como se nunca tivéssemos sido amigos. E você continuou assim depois que ela voltou. Saímos ontem e você mal olhou na minha cara. Então não venha dizer que eu me afastei de você quando na verdade, você é o único culpado.

Mal consegui notar sua expressão, pois nos segundos que se seguiram, eu levantei da mesa num salto e saí. Não queria ver Tobias, não queria ver ninguém. Pra falar a verdade, não queria ver nem ao menos Melissa.

Após sair do refeitório, avisto o gramado do outro lado da porta e estou pronta pra ir lá pra fora e não voltar, pelo menos não hoje. Quando ouço alguém me chamar. Eu não iria olhar para trás, não queria mais ouvir nem Melissa e muito menos Tobias. Mas a voz que me chamou não era nem de um nem de outro.

— Ei, você está me ignorando? - Diz Nicolas se aproximando de mim.

— Você notou? - Digo e ele para por um momento. - Estou brincando - concluo.

— Ufa – ele diz e solta uma risada. - Você já está indo embora?

Eu assinto.

— Não tenho mais aulas hoje – minto.

— Se importa se eu te acompanhar? Não aguento mais duas aulas com a Sra. Prior.

Eu solto uma risada. A Sra. Prior é uma mulher de terceira idade com uma verruga no  pescoço que nunca se casou. Ela vive em um apartamento de dois quartos com a mãe já idosa e cinco gatos, Miau, Bolacha, Síndico, Aroldo e Bola, que ela nomeou carinhosamente. Síndico é o favorito dela, ela fala dele o tempo todo. Sra. Prior ensina álgebra, mas não é por isso que não gostamos das aulas dela e sim porque álgebra só ocupa 10% do tempo total de aula, no resto do tempo ela fala sobre a vida dela e como um dia, quando sua mãe já não estiver entre nós, vai comprar um trailer móvel e usar para viajar o mundo.

— Estou indo para casa — digo. — Pode me acompanhar, se quiser.

Nicolas me acompanhou até em casa. Eu havia ido de carona com Melissa, então isso significava 45 minutos de caminhada. Nesse tempo, ele me contou que morava com os pais, mas que trabalhava meio período e estava juntando dinheiro para ano que vem, quando houvesse se formado, comprar um carro e ir fazer faculdade no estado vizinho. Além disso ele me contou sobre seus dois irmãos caçulas, Alice e Tony, os gêmeos, e como eles eram apegados a ele.

— Isso me faz pensar se quero mesmo ir para a faculdade. Meus pais são muito distantes, eu sou tudo o que eles têm. Quando eu for embora eles ficarão sozinhos.

Ele continua falando sobre os planos para o futuro por algum tempo antes de interromper a si mesmo.

— Certo, eu já falei muito de mim. Me fala um pouco sobre você, eu a vi algumas vezes com aquela garota nova e o Tobias, vocês são amigos?

Não sei. Somos?

— Aham. Vocês se conhecem? – Digo me referindo ao fato de que ele se referiu ao Tobias pelo nome.

— Nos falamos algumas vezes. Por conta de amigos em comum.

Eu assinto.

— Minha casa é logo ali — digo. — Mas acabei de lembrar que papai ainda está no trabalho e eu não trouxe a minha chave — minto.

Por que inventei isso? Não sei ao certo. No fundo eu sabia que em pouco tempo Melissa estaria ali para conversar e tentar entender o que houve na escola e eu não estava nem um pouco interessada em explicar.

— Bom, eu não tenho exatamente algo importante pra fazer — diz Nicolas. — Onde quer ir?

◄►

Me abaixo para tirar o tênis e dobrar a barra da calça antes de colocar o pé na areia. O barulho do mar e a sensação da areia entre os dedos do pé sempre me acalmam, sem dúvidas a praia é o meu lugar favorito no mundo. Nicolas se recusa a tirar o tênis.

— Os grãos de areia entre os dedos não te incomodam? — Ele pergunta.

— Tá brincando? É a melhor sensação do mundo — eu digo afundando mais os pés na areia quente e ele faz uma careta, mas depois balança os ombros e sorri.

— Se você diz...

Passamos o resto da tarde intercalando entre caminhadas na areia, uma ida rápida ao mar para molhar os pés e pausas em alguma rocha para descansar. Senti meu celular vibrando algumas vezes durante o dia, mas provavelmente deveria ser Melissa, então não me incomodei em olhar, eu não queria respondê-la agora.

— Você quer conversar sobre o que aconteceu? — Nicolas pergunta. Finjo que não entendi o que ele quis dizer. — Com os seus amigos. Eu não sou idiota, vi como saiu do refeitório. Mas se não quiser responder, eu não vou insistir.

Não sei bem porquê, mas contei tudo à ele. Geralmente quando algo desse tipo acontecia, a pessoa a quem eu recorria era Melissa, mas eu não podia falar com ela agora.

—Ele é um imbecil – ele disse por fim.

—Talvez eu seja uma imbecil – respondi.

—Não quero que diga isso. Você está longe de ser uma imbecil.

Achei graça.

—Você mal me conhece.

—Eu raramente me engano sobre alguém.

—Ah, é? Já que é tão seguro de sua intuição me diga: o que acha de mim?

—Acho que é linda. E que gostaria de sair comigo amanhã novamente.

—Está me chamando para sair? — Pergunto.

—Interprete como quiser, contanto que a resposta seja sim.

— Acho que posso considerar essa possibilidade — dei um beijo em sua bochecha antes de me levantar. — Eu preciso ir. Obrigada por hoje.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Everything Is Wrong" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.