Cartas para Hope escrita por Skye Miller


Capítulo 9
Nine.


Notas iniciais do capítulo

OIIIIIIIIIIIIIIIIII.
Feliz ano novo, galerinha!
2015 chegou com tudo (Mentira, não mudou nada, talvez apenas a minha preguiça que aumentou) e assim, nesse ano eu completo dezesseis anos e por esse motivo eu estou D E S E S P E R A D A. Amigos, a adolescencia só dura cerca de três há quatro anos, começa mais ou menos nos quatorze e termina mais ou menos nos dezessete. ISSO É CHATO, porque friends, adolecencia é a melhor fase, sem duvidas. E EU TO GRITANDO PQ VOU FICAR VELHA.
Eu não quero envelhecer. Eu não quero morrer. Tenho medo de como vai ser como eu morrer, se eu vou pro céu ou pro inferno, TENHO MEDO DO QUE VAI ACONTECER COMIGO.
cacete.
Mas beleza, eu to desviando do assunto.
Calma Miller, respira, vamos lá, calma.
To calma agora.
ENTÃO, FELIZ ANO NOVO AMIGUINHOS.
E capitulo novinho aqui. Eu particurlamente gosto desse capitulo e revisei eles umas três vezes antes de postar, então creio que ele REALMENTE não contem nenhum erro ortográfico, espero que não.
É isso, eu passei a responder os comentários! aêêêê
Beijos.
Hello G!



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A sola do meu tênis vai se desgastando a medida que eu consigo alcançar e logo em seguida ultrapassar a ruiva do primeiro ano. Minhas amigas estão gritando na arquibancada e sei que se Sophia estivesse aqui, ela provavelmente estaria me xingando por conseguir correr mais que ela. O treinador apita mais uma vez, indicando que ainda temos duas voltas pela pista antes da corrida acabar. Continuo correndo, não sinto sede, nem cansaço e muito menos dor. Eu gosto de correr, é uma das atividades físicas que mais me chamam a atenção. Eu gosto da sensação de ter alguém me desafiando a correr uma quantidade exata de metros, sentindo meu sangue pulsar, o coração bater mais rápido, o corpo ficar mais rígido e a respiração irregular. São nesses momentos que eu penso em parar de fumar, são nesses momentos que as frases de Sophia ecoam pela minha cabeça, avisando-me que a qualquer momento, eu não poderei continuar a correr da mesma forma. Que a qualquer momento meus pulmões não vai mais aguentar.

Diminuo o passo por já ter ultrapassado todas as pessoas, mas ao olhar para trás me deparo com Ethan na minha cola, os olhos faiscando de excitação, como se gritasse “Você perdeu, Adams.” Mordo minha bochecha com força até sentir o gosto de sangue e volto a acelerar. Ethan sempre foi meu maior desafio, talvez por ser filho do professor de Educação Física, ter um porte atlético mais avançado e correr feito uma onça. Todas as vezes que perdi para ele, me senti péssima. Mas sempre sorri todas as vezes que ele perdeu para mim.

O grito eufórico de Jassie me incentiva a correr mais rápido e quando finalmente meus pés tocam a linha de chegada, solto uma gargalhada um tanto quanto escandalosa. Minhas pernas estão formigando e eu estou ensopada de suor, o treinador Alex se aproxima e dá palminhas em minhas costas.

– Boa garota! – Tenho vontade de rebater “Não me trate como uma égua” porém estou mais preocupada em não deixar minhas bochechas corarem tanto diante dos elogios. – Acha que está pronta para as seletivas?

As seletivas são uma das fases para ir para as regionais de atletismo, e caso passe pelas regionais, a chance de ir para as olímpiadas são enormes. Nos últimos três anos eu tenho fugido das maratonas que Alex tem indicado. Todos os anos ele põe Ethan e nossa escola já chegou a ficar duas vezes consecutivas em segundo lugar. Ethan sempre foi a segunda opção, já que eu nunca aceito. Não que eu não seja capaz ou algo do gênero, mas por não estar devidamente preparada, por medo.

Antes que eu possa responder me dou conta de que o treinador Alex e Ethan estão me encarando de maneira estranha.

– Você está bem? – Ethan pergunta com uma sobrancelha arqueada. Eu posso ver sua mente trabalhando tirando conclusões precipitadas sobre eu estar com falta de ar, por mais que eu tente desfaçar, ainda suspiro fortemente sem querer. Meus pulmões estão gritando por socorro. – Você está pálida. Você é asmática, Hope?

Traidor. Isso é o que ele é. O treinador Alex não pode nem ao menos sonhar com o fato de que eu fumo, há mais ou menos três meses Ethan me lança olhares desconfiados e eu tenho absoluta certeza que ele já me pegou no terraço fumando, sinto que ele vai me chantagear. Pode parecer que não, mas eu e Ethan já fomos bem próximos, ele era um segundo melhor amigo. Mas então, ele se afastou, se focou mais no atletismo e anda com uma turma diferente agora. Minha vontade é de socar seu rosto de tal forma que fique inchado e as pessoas não consigam nem ao menos ver o azul dos seus olhos.

Traidor de uma figa. Loiro oxigenado. Filho da puta.

– Não, está tudo bem. – Digo com tanta certeza que acabo conseguindo convencer a mim mesma de que meu treinador nunca perceberá algo errado. – Talvez próximo ano, senhor Smith. Enquanto isso, espero que seu filho consiga o primeiro lugar nas regionais.

Sorrio sarcasticamente na direção de Ethan antes de dar as costas, sair da pista de atletismo e ir em direção às minhas amigas. Depois do treino dos meninos é o delas. Todas as três jogam vôlei e são o orgulho feminino da escola, elas têm mais moral que as magrelas das líderes de torcida.

– Encontro vocês em dez minutos, tudo bem? Preciso de um banho.

Lília está ocupada conversando no telefone, Callie tenta de maneira desengonçada arrumar seu cabelo em um rabo de cavalo e Jassie balança a cabeça negativamente de lá para cá, fazendo-me soltar um muxoxo quando ela fala:

– Não. Não estou nem aí se você tá fedendo ou não, vai ficar com a gente na arquibancada esperando o treino começar.

– Mas...

– Nada de “mas” – Ela resmunga puxando meu braço e nós subimos mais alguns degraus da arquibancada, os garotos do futebol, basquete e handebol estão entrando na quadra. Ao longe, na pista de atletismo, ainda consigo ver a figura de Ethan correndo e seu pai fazendo anotações e brigando a todo segundo. – Quero ver esses brutamontes correndo, suando e brigando entre si. Não há coisa melhor.

Reviro os olhos. Jassie sempre gostou de assistir o treino dos garotos e fazer comentários maldosos. Seus piores desabafos são relacionados a Charlie, que apesar de ser nosso amigo, ela insiste em colocá-lo para baixo, alegando que ele é um imprestável. O sentimento que um tem pelo outro é recíproco.

Nossa escola é uma das maiores da região e temos a sorte de o diretor investir no esporte. Temos uma pista de atletismo, uma piscina olímpica, uma quadra de quase meio quarteirão com diversos equipamentos para devidas áreas de esportes e vários treinadores. Nós levamos o esporte a sério, como se fosse uma matéria importante. Educação Física é a matéria em que os alunos mais têm pontuação alta.

Durante meses os times de futebol, basquete e handebol têm discutido em relação ao espaço da quadra. Todos tem o mesmo horário de treino, o que faz com que gere brigas em relação a quem vai ocupar a quadra. Apesar de termos um campo de futebol, ele está em reforma depois que uma nevasca, ao derreter, levou consigo quase setenta porcento da grama sintética. Agora, eles são obrigados a treinar na quadra de futsal e viverem o mesmo dilema.

Recentemente eles entraram em um acordo de que o time de basquete ficaria com o lado direito da quadra, o de handebol o lado esquerdo e o time de futebol teria de ficar no centro. A única coisa que separa os times é uma linha imaginária, quando mesmo sem querer um invade o espaço do outro, a briga é armada.

São nesses dias que mais fico afoita a assistir os jogos. Quando eles faltam se atracar no meio da quadra.

– Se liguem na bundinha que o David tem. – Callie finalmente conseguiu ajeitar o cabelo de uma forma razoavelmente apresentável. Seu uniforme está um pouco justo, fazendo sua barriga ficar a mostra todas as vezes que ela levanta o braço. Vai ser hilário vê-la tentar puxar a blusa para baixo logo após fazer uma manchete ou socar a bola. – Dá vontade de apertar.

Em meio ao aglomerado de rapazes na quadra eu só consigo localizar David depois de vagar meus olhos por um bom tempo no lado direito, e só consigo reconhecê-lo por estar usando o mesmo gorro cinza de sempre, cobrindo seus cachos castanhos. Desço o olhar para suas nádegas e sorrio concordando com Callie. O uniforme amarelo e preto do Handebol deixa seu corpo totalmente evidente.

– Tarada. – Lília sussurra com as bochechas coradas tentando em vão não olhar na mesma direção que nós.

O treino se segue normalmente. Hora ou outra olho para David assumindo seu papel de goleiro, depois para Tyler fazendo gols consecutivos e em seguida Charlie e Henry sendo a dupla perfeita no basquete. Henry está no time desde o pré-mirim, mas nunca levou realmente a sério, faltava os treinos e raramente ia para os jogos, mas devido as reclamações do seu treinador, ele começou a frequentar mais os treinos de quinta e ir para os jogos. Sempre sou obrigada a ir com papai e Sophia, eles vibram todas as vezes que Henry ou Charlie fazem cestas. Eu não gosto de basquete, minha expressão de tédio sempre é notável quando estou assistindo a um jogo.

– O seu boy magia está olhando pra você. – Jassie diz provocativa. Ela sempre arma situações para que tenha algum clima estranho entre eu e Tyler. Pode parecer clichê, mas o formigamento em minhas mãos não me faz pensar direito quando estou perto dele, o que acaba me deixando com uma fama de tonta para ele. Tyler está realmente olhando para mim e quando percebe que estou olhando de volta, acena sorrindo. Retribuo o aceno. – Por favor, quando vocês forem se casar, eu quero ser a madrinha. Por favor, e que os filhos sejam parecidos com ele. Que tenham o sorrisinho de lado, o cabelo negro como plumas de corvos e os olhos verdes brilhantes. Se eles se parecerem com você, vai ser um desastre. Espero que o gene dele seja mais forte.

– Não viaja. – Resmungo quando ela e as meninas começam a rir. Tyler faz um gol, e depois outro e mais outro. As líderes de torcida estão ensaiando perto do vestiário, já que antes elas ensaiavam no campo de futebol, e eu posso ouvir seus gritinhos empolgados todas as vezes que o Paskin faz um gol, isso me deixa enjoada. – Eu odeio essas loiras platinadas. Odeio.

– Ciumenta. – Elas cantarolam ao mesmo tempo e depois tem um ataque de riso. Fecho a cara e volto a olhar para os meninos.

Nas últimas semanas, tenho observado cada garoto que se passa na minha frente. O fato do Sr. Confuso ter revelado certos aspectos em relação a sua aparência me deixou em uma tarefa difícil. Na minha turma, tem quase treze garotos com olhos e cabelos claros, e na escola quase metade deles são assim. Nunca vi lugar para ter tanta gente branca de olhos claros. É verde, azul, cinza. Uma mistura louca. Tem garotos de cabelo acaju claro e olhos verdes. Tem loiros de olhos azuis. Tem os oxigenados. Tem uma variedade que me deixa com dor de cabeça. Ultimamente até o diabo tem uma aparência assim: loiro, de olhos claros, alto e bonitinho.

Falando em diabo, ele está caminhando em minha direção agora. Ensopado de suor e com o mesmo sorrisinho cafajeste de sempre. Cruzo os braços e finjo estar mais interessada no treino das loiras platinadas do que nele.

– Eu não sei bem porque você me odeia. Ou talvez você não tenha ódio de mim, porque talvez seja birra sua por eu ter parado de falar contigo. Você sempre foi mimada mesmo. Mas eu to aqui para falar de algo sério.

– Desembucha.

– Educada como uma mula.

– Anda logo, Smith.

– Beleza. – Ethan começar a estralar os dedos olhando na mesma direção que eu: Tyler. Seu tom de voz muda um pouco a medida que ele continua: – Você só tem dezesseis anos e tá jogando metade da sua vida em uma caçamba de lixo. Qual é, Hope, qual a necessidade de você fumar? Porra, tu corre pra caralho, é uma das melhores no atletismo, e fiquei sabendo por aí que deu pra fazer balé agora. Mas e aí, você fuma no mínimo uns dois maços ou mais por dia e isso vai te matar. Você parecia que ia cair dura no chão depois que meu pai apitou, estava branca feito papel e respirava igual um porco fugindo do abate. Tá, talvez você não queira levar esse lance de correr a sério, mas diante das circunstancias, você vai acabar desenvolvendo um câncer de pulmão, ou vai acabar com a pele enrugada antes da hora, os dentes amarelos e bafo de cigarro. Então, depois disso, o gatinho ali goleador não vai nem ao menos olhar em sua direção. Você vai ter acabado com seu futuro e vai morrer sozinha em uma casa cheia de gatos com o quarto repleto de posters de Crepúsculo. Uma tiazinha rabugenta que fede a nicotina.

Ainda estou associando suas palavras. Minhas amigas estão olhando chocadas para ele, Lília começa a bater palmas e Jassie e Callie assente em minha direção em sincronia, como se Ethan tivesse acabado de me dizer algo que elas nunca tiveram coragem de falar para mim.

Apesar de suas palavras serem comoventes e ele estar falando a verdade, eu rio amargamente e digo, antes de puxar um cigarro do bolso:

– Acho que você deveria cuidar da sua vida. E se preocupar em não ficar em segundo lugar novamente, perdedor.

Ele puxa o cigarro da minha mão e amassa. Sinto vontade de batê-lo, mas apenas pego outro cigarro. Ele puxa novamente e me desafia com o olhar, eu apenas bufo e me afasto, com os braços cruzados.

– Pensa bem. As inscrições estão começando. Se você quer morrer por causa dessa droga de nicotina, vai em frente, mas antes disso traga pelo menos o prêmio de primeiro lugar para a Walter. Traga orgulho para seus pais. Faça algo produtivo, bonequinha de luxo.

A menção de meu apelido faz com que minha garganta feche e eu abaixe a cabeça. Antes dele ir, tenho vontade de perguntar porque se afastou, mas nada digo, apenas continuo encarando meus próprios pés. O treino dos meninos acabou, fazendo assim minhas amigas se levantarem e ir em direção a quadra, para ajudar as suas colegas do time a colocar a rede.

Ethan já se foi. Estou ocupada brincando com a barra da minha camisa quando uma gritaria no final das arquibancadas chama minha atenção. Tem dois garotos discutindo. É David e Louis, Louis está puxando o colarinho de David de forma bruta. Arregalo os olhos e começo a descer os degraus. Callie tenta falhamente separar os dois. Ainda tenho muito a descer e acabo me cansado, minha respiração fica pesada e eu sinto vontade de chorar. Chorar por estar com dificuldade para respirar, assim como Sophia e Ethan costumam falar, e chorar por meu melhor amigo estar brigando com Louis. Eu sei que eles estão brigando por causa da Callie.

Quando estou na metade do caminho, Callie se vira para Louis e grita com ele. Haynes solta David quando Charlie começa a se aproximar. Eu grito, mas eles não conseguem me ouvir devido a distancia. Acabo me sentando novamente quando o treinador de vôlei, Jake, se aproxima e leva os dois para a diretoria. Callie parece nervosa e olha em minha direção antes de voltar para a quadra.

Faltam poucos minutos para o treino delas acabar, por isso decido descer. Não estou mais tão cansada, mas minha cabeça ainda dói e a sensação de que meu peito vai explodir ainda predomina. Eu realmente tenho que parar de fumar.

Ao passar por uma lata de lixo, jogo meu recém-maço ali. Reprimo a vontade de voltar correndo e pegar novamente, mas continuo andando quando meu celular vibra.

“Meu pai disse para você voltar para casa agora. Reunião em família. Não demore sua otária. – Henry

Suspiro ao fechar a mensagem e responder: “Nosso pai, seu acéfalo” . Reuniões em famílias são, na maioria das vezes, uma catástrofe.

...

Eu demoro mais tempo que o necessário para chegar em casa, já que tive que banhar e trocar de roupa no ginásio antes de ir para o ponto de ônibus, porém ao chegar lá percebi que estava sem o dinheiro da passagem, obrigando-me a voltar para casa a pé. Isso resultou em diversas mensagens do Henry me xingando de todos os nomes possíveis, os Adams odeiam atrasos, mas eu realmente não tenho culpa se meu lado “Hope Stonem” é totalmente divergente e não consegue seguir as mesmas regras que eles. São nesses momentos que me pergunto qual a diferença entre meu lado Stonem e Adams. Talvez seja a preferencia pelo calor do quê pelo frio, ou minha cabeleira castanha ficar opaca perto das cabeleiras loiras dos meus familiares. Meus pais verdadeiros ambos eram morenos. Tenho poucas fotografias dos meus pais biológicos, aos quais não costumo fazer questão de ver. Sou egoísta demais para isso.

A expressão do meu pai é um pouco azeda quando ele me vê e eu estou me preparando mentalmente para uma briga ou algo do gênero. Mas, ao contrario do que eu esperava, ele sorri e abre um pouco os braços. Eu o abraço fortemente, meu pai cheira levemente a uva; vinho, e traz conforto para mim, fazendo-me esquecer das coisas absurdas que ele é capaz de fazer, como espancar o próprio filho e não me dar apoio moral em relação às aulas de balé.

– Temos uma boa noticia. – Minha mãe diz animada quando eu e Henry nos sentamos lado a lado no sofá. Nossos pais estão na nossa frente com sorrisos no rosto, percebo que algo realmente bom está por vir. – Já decidimos para onde iremos no final do mês.

– Nova Iorque? – Henry automaticamente pergunta com um sorriso Colgate, desde o ano passado ele pede uma passagem para ir conhecer Nova Iorque, mas meu pai diz que ele só vai ganhar o que deseja quando estiver na faculdade, fazendo-o assim esperar mais um ano.

– Amsterdã? – Pergunto cruzando os dedos, digam que sim, digam que sim, por favor.

– Melhor, minha querida. – A voz doce do meu pai me alerta de que é para algum lugar ao qual eu quero ir, já que meu aniversario está próximo. Ergo uma sobrancelha. – Califórnia, Santa Monica.

Eu grito como nunca gritei em toda a minha vida e ergo os braços para cima. Minha animação é visível a quilômetros de distância, ao meu lado Henry bufa e se levanta caminhando rapidamente em direção a cozinha, deve estar com inveja. Abraço meus pais e dou um beijo estalado na bochecha da minha mãe. Faz anos que não visitamos minha cidade natal e isso faz com que meu peito se estufe, só de imaginar o sol californiano sobre minha pele, o vento refrescante e as pessoas modestas de lá. Eu adoro aquele lugar.

– Certo, e quando nós vamos? – Henry pergunta depois do meu ataque eufórico. Ele já voltou da cozinha e está comendo calmamente uma maçã, encarando nossos pais como se estivesse aceitado bem a situação. Mas, ao olhar bem para seus olhos, posso notar que ele está inconformado, que ele quer gritar, birrar. Ele quer Nova Iorque, uma cidade urbana, a cidade dele, não a minha adorável Santa Monica, com o sol refrescante e praias. Sei que ele está se controlando e agradeço a Deus por pelo menos uma vez na vida, ele estar sendo compreensivo.

Quando ele olha para mim rapidamente sei o que ele está fazendo. Ele está tentando conquistar a confiança dos meus pais novamente. Indo para os treinos, fazendo as atividades extracurriculares, deixando de passar horas no vídeo game e dormindo mais cedo que o habitual. É isso. Mamãe me disse que ele havia levado uma advertência e que ao chegar em casa, chegou a pedir desculpas para meus pais. É isso. Ele tá querendo deixar de ser o rebelde para ganhar a viagem.

Egoísta. Mais egoísta do que eu e todos os egoístas do mundo juntos.

– No aniversário da Hope.

– Aê! – Exclamo batendo palminhas. Eu sabia que esse seria meu presente de aniversário, com certeza o melhor de todos. – Obrigada. Muito obrigada, amo vocês. Amo muito vocês.

Volto a abraçá-los e dou uns pulinhos animados. Isso faz todos rirem e eu fico constrangida diante disso, mas acabo me soltando e dando mais pulinhos enquanto bato palmas. Meus pais estão lado a lado sorrindo abobalhados para mim e meu irmão, Henry tenta em vão não sorrir enquanto come a maçã.

Apenas acho que, apesar de tudo, estamos nos tornando uma família mais firme. Percebi isso desde que Henry não tentou me expulsar quando deitei do seu lado no gramado, ou quando meu pai nunca mais encostou um dedo em Henry. As coisas estão se ajustando, depois de doze anos.

– Amanhã vamos à casa de campo, vocês querem ir?

Eu assinto com a cabeça e meio relutante Henry assente também. Eu falei que ele quer se dar bem com o papai e a mamãe novamente, não falei? É claro que ele iria, mesmo não querendo.

– Posso chamar a Lília?

– Posso chamar a Sophia?

Perguntamos juntos, o que faz nós nos encararmos estranhamente e depois olharmos para nossos pais novamente.

– Claro.

Eu tive a doce ilusão de que aquela viagem iria ser normal. Mas não foi.

...

Meus pais me obrigaram a sentar ao lado de Henry. Claro que nenhum de nós dois ficamos felizes por isso, e muito menos Lília e Sophia. Nosso carro pode transportar oito pessoas, por isso as vezes faço piadas o chamando de mine van, mas de mine van ele não tem nada, é luxuoso demais para ser comparado a isso. Meu pai quem dirige e minha mãe finge dormir no banco de passageiro, mas sei que ela está nos encarando pelo retrovisor, esperando que a qualquer momento eu e Henry começarmos a brigar.

Mas hoje, decidimos fazer uma trégua. Ele não me incomodaria e eu não o incomodaria, simples assim.

Ao contrario de nós, Lília e Sophia discutem baixinho no banco de trás. É sobre Sophia roubar as batatas de Lília, algo bem fútil, devo dizer, mas quando se trata de comida, até mesmo eu faço birra.

– Você poderia ter ao menos a decência de pedir, Lancaster. – Lília resmunga passando o cinto de segurança pelo corpo. A paisagem mudou, não estamos mais no lado urbano da cidade, agora tudo o que consigo ver é uma vasta vegetação verde, pinheiros e eucaliptos se misturando.

– Não seja tão radical, Albuquerque. Quando chegarmos lá, juro que vou pegar uma na minha mala para você. – Isso mesmo, todos nós trouxemos mochilas, mas Sophia, sempre exagerada, veio com uma mala. Algo me diz que, ao contrario de roupas, sua mala está entupida de comida. A voz de Sophia está um pouco anasalada, como se ela estivesse chorando. Isso atrai a atenção de Henry, que gira o corpo e sobe um pouco no assento para encará-la, assim como eu estou fazendo. – O que foi que vocês perderam aqui?

– Eu só estou tentando saber qual a necessidade de brigar por algo que não traz sustância ao estomago, apenas gordura. – Digo calmamente.

– E eu quero saber por que você andou chorando. – Henry rebate.

– Primeiramente gostaria de dizer que batatinha pode acabar com a fome de uma pessoa, é a melhor comida que já foi inventada. Por Deus, quem será que teve a brilhante ideia de fatiá-las e depois fritá-las? Seja lá quem for, ganhou um ponto enorme comigo. E segundo, eu não andei chorando.

– Mentirosa.

– Como você sabe que eu estou mentindo, Henrique?

Henry odeia ser chamado de Henrique. Pois, além de não ser seu nome, a pronuncia de um para outro não se assemelha em nada, só as quatro letras iniciais.

– Porque eu conheço você, Sopinha.

Isso faz com que Sophia se cale e engula em seco. Henry está certo, ele realmente a conhece, eles passam tanto tempo juntos que me pergunto se já nasceram um grudado no outro, eles sabem ler facilmente as expressões um do outro.

– O Gabriel me deu um chute. – Gabriel é aquele mesmo garoto do shopping, o super-homem.

– O Clark Kent? – Henry pergunta eufórico, como um gay que acaba de receber o maior babado da história. Eu começo a rir histericamente, minha mão está reclamando por estarmos na mesma posição há muito tempo: Debruçados sobre a poltrona, infringindo leis de transido. Mas não ligamos. – Rum, não me diga!

– Para de ser chato, seu boiola. Eu realmente achei que ele gostava de mim, entende? Então ele simplesmente recusa meu pedido pra ir ao cinema e passa a andar com a loira oxigenada da sala dele. Odeio aquela boca de lata, odeio, odeio, odeio.

– Coitada. – Digo entre risos, Lília também está rindo, ela deixou de conversar conosco para ler Cidades dos Ossos. – Ninguém te ama, que horror.

– Ninguém vírgula, o Henry me ama, né amor?

Henry para de sorrir. Seus olhos cor de caramelo ficam ainda mais escuros que o habitual. Ele meche a cabeça de lá para cá e eu noto que ao contrario dos nossos pais, seus cabelos não são totalmente loiros, é como uma folha seca no outono, aquele amarelo meio laranja, mas ainda sim, claro, um claro ressacado. Uma cor encantadora, devo dizer. Gostaria de ter um cabelo nessa tonalidade. Na verdade, sua cor varia a cada dia, às vezes ele fica mais loiro que a Xuxa Meneghel. É uma loucura.

– Existem dois tipos de pessoas: Aquelas que nasceram para amar e aquelas que nasceram para serem amadas. – Ele explica, olhando diretamente para Sophia. Agora, todos nós, até meus pais, estamos concentrados em suas palavras. – No livro que a Lily está lendo, diz que “Amar é destruir e ser amado é ser destruído”, então, eu presumo que eu não nasci para amar, eu nasci para destruir.

Nós encaramos Henry de boca aberta. Ele dá de ombros e volta a se sentar normalmente. Ainda estou na mesma opção, com os olhos arregalados olhando para o livro nas mãos de Lília, me lembrando mentalmente de lê-lo depois só para ver se o que Henry disse era verdade. Sophia ainda está associando as palavras, e depois de um tempo, berra:

– Eu não quero ser destruída. Que horror.

Nós caímos na gargalhada. Percebo que eu nasci para amar e ser amada. Não importa se irei destruir ou ser destruída. Não me importo mesmo.


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Notas finais do capítulo

Genteeeeeyyyyyyyy, Hope sem ar? eita perula, é isso aí amiguinha, continue fumando, vai fundo.
PESSOAL.
Eu assisti Mazer Runner esses dias e TO APAIXONADO POR UM GURI LÁ. Um loirinho, magrinho, baixinho, perfeitinho, metido a Gay sabe? EU NEM SEI O NOME DELE E JÁ QUERO CASAR COM ELE. PORRA.
Tá, to controlada, calma, isso é culpa do meu ano novo dentro de casa bebendo chá enquanto escrevia Arabella, choremos.
É isso aí, espero que tenham gostado E PUTA MERDA TEVE UMAS QUATRO MIL PALAVRAS. Carambolas, fazia tempo que não escrevia tanto assim.

Beijão.