Everything Has Changed escrita por Anne Atten


Capítulo 19
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

Seguinte: semana de provas, tirei duas horas pra escrever esse capítulo. Eu sei que tá faltando Thodya, maaas prometo que no próximo eles se acertam. Eu ia fazer nesse, mas quando vi, já tinha colocado muita coisa kkkk Quero agradecer a Always Perfect, a Luisa Couto, a Giulia e a Charlotte por terem favoritado a história! Boa leitura.



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Minhas palmas das mãos começam a soar e seco-as na saia, tentando parecer controlada. Dou uma olhadinha para trás e vejo Katherin, que faz sinal de positivo com o dedo como sinal de encorajamento. Meus olhos pousam em Thomas, ele não faz nada. Só fica parado me observando e logo desvia o olhar. Já estou ficando cansada disso.
Volto-me para o professor mais uma vez e começo a recitar um poema da Clarice Lispector. É um poema que uma vez minha avó leu para mim e gostei muito. Até hoje é um dos meus favoritos e eu o decorei. Atuo enquanto o recito.
–Clarice Lispector. – falo antes de tudo. -Sou como você me vê... Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,depende de quando e como você me vê passar. Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato... Tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras, sou irritável e firo facilmente. Também sou muito calma e perdoo logo. – respiro fundo. -Não esqueço nunca. Mas há poucas coisas de que eu me lembre...Tenho felicidade o bastante para ser doce,dificuldades para ser forte,tristeza para ser humana e esperança suficiente para ser feliz. Não me deem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. - faço gestos com a mão, expressões faciais, olho para o professor, para o alto, para os lados. Nunca para o chão. -Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma para sempre... – faço uma pausa significativa. -Sou uma filha da natureza: quero pegar, sentir, tocar, ser. E tudo isso já faz parte de um todo, de um mistério. Sou uma só... Sou um ser... a única verdade é que vivo. Sinceramente, eu vivo.
Agora sim eu olho para o chão, envergonhada por conta desse silêncio absoluto. Devo ter feito a pior coisa da minha vida, porque o silêncio se prossegue. Então uma palma. Outra palma. Mais uma palma. E de repente um salmo de palmas. Não sei descrever o que eu sinto. Se é felicidade ou surpresa, porque sinceramente eu não estava esperando que me aplaudissem desse jeito, muito menos o próprio professor. Começo a sorrir e levanto a cabeça.
–Meus parabéns. – diz o professor.
–Obrigada. – falo e volto para o meu lugar.
Katie e Katherin sorriem para mim, vejo que Thomas está contendo um sorriso, eu só não entendo o por que disso. Se ele gostou, porque não demonstra isso? Porque não demonstra seu apoio? Ou será que ele está só rindo da minha cara?
Depois de mim parece que a coisa anda mais rápido, ainda estou tensa e com as palmas das mãos soando. Katherin e Kate já foram e agora só faltam umas seis pessoas. Me perco nos pensamentos e logo desperto quando ouço Thomas ser chamado.
–Eu gostaria de usar o piano. – diz ele.
Tem um piano na lateral do palco, acho que foi posicionado justamente para esse teste. E eu nem sabia que Thomas tocava piano.
–Por favor. – permite o professor apontando para o piano.
Thomas passa por mim e senta-se no piano. Todos nos viramos para ele, já que ele fica de frente para todos nós.
–Vou cantar Thinking Out Loud, Ed Sheeran. – diz ele.
Eu adoro essa música. Pobre Ed Sheeran, merecia que alguém melhor do que ele cantasse, sério mesmo. Não uma pessoa que fica sendo grosseiro com quem não fez nada.
Thomas começa o instrumental no piano, então ele começa a cantar.
When your legs don't look like they used to before
And I can't sweep you off of your feet
Will your mouth still remember the taste of my love
Will your eyes still smile from your cheeks

Então uma coisa muito estranha acontece: ele levanta a cabeça, sem parar de cantar, e nossos olhares se encontram. Ele volta a olhar para o piano.
I'm thinkin' bout how
People fall in love in mysterious ways
Maybe just the touch of a hand
Me, I fall in love with you every single day
I just wanna tell you i am
Tá, ele canta bem. Mas e daí? Ele ainda é idiota e por que ele voltou a me olhar de novo? Eu hein, ele não tava evitando qualquer contato visual comigo? Deve estar olhando pra parede atrás de mim, eu sei lá.
–That baby now (ooh)
Take me into your loving arms
Kiss me under the light of a thousand stars
Place your head on my beating heart
I'm thinking out loud
Maybe we found love right where we are
Ele continua cantando e finaliza. Todos aplaudem, menos eu.
–Muito bom, muito bom. – diz o professor ainda batendo palmas.
Reviro os olhos, agora o Thomas vai ficar se achando. O restante se apresenta e o silêncio se segue. Estou do lado de Katherin, ela me dá uma cotovelada leve.
–Que é? – sussurro.
–Você viu como o Thomas canta bem?
Dou de ombros, indiferente. Ela faz uma cara brava.
–Tá brincando né, Lydia? Ele cantou super bem.
–Não acho não... – resmungo.
Ela balança a cabeça em desaprovação.
–E outra coisa, ele não tirava os olhos de você.
–Bah, próxima piada por favor. – por algum motivo eu sinto as bochechas esquentarem.
–Não é piada, ele cantou pra...
Antes que ela complete a Katie aparece do meu lado.
–Vocês acham que fui bem?
Faço que sim com a cabeça sorrindo. Ela cantou. Katherin recitou. As duas foram ótimas, bem melhores do que eu, se querem saber.
De novo o silêncio cai e ficamos olhando para o professor, que está coma a cabeça baixa anotando alguma coisa nos papéis. Meu coração está acelerado, com a expectativa. O fato é que se eu não ganhar o papel, não vai ser surpresa nenhuma, eu realmente acho que tem gente aqui que foi bem melhor do que eu, mas é óbvio que eu vou ficar chateada.
–Bom, eu quero parabenizar todos vocês que comparecerão. Só de se apresentarem merecem um parabéns. – diz ele e batemos palma. Logo paramos. –Mas todos aqui sabiam que nem todos poderiam participar.
Assentimos.
–Então vamos lá. Separei vocês em dois elencos.
Mais uma chance de entrar. Katie está à minha direita, Katherin à minha esquerda, nós nos damos as mãos e fechamos os olhos.
–Thomas para Peter Pan do elenco um.
Quase grito um “mas o que?”, mas me contenho. Afinal não tenho motivos para gritar isso além de estar com raiva dele.
–Lydia para Wendy do elenco um.
Fico sem entender nada e sem ouvir nada por uns três segundos. Pera, ele disse mesmo meu nome? Pra Wendy?
–Mas o que? – dessa vez eu grito, rindo.
Todo mundo se vira pra mim como se eu fosse louca. Recebo um abraço de Katie e Katherin.
–Parabéns! – diz Katie.
Nos recuperamos quando ouvimos o nome de Katherin.
–Katherin para Sininho do elenco um.
Mais risadas nossas. A Katherin fica com a maior expressão de “não creio” na cara. Ele fala o nome dos meninos perdidos, do capitão gancho e do resto dos personagens.
–Meninas, parabéns. Eu estou feliz por vocês, mas triste por mim. – diz Katie chateada.
Eu também estaria no lugar dela. Quero dizer, foi ela quem nos apresentou o teste e ela nem vai poder participar? Isso é meio injustiça. Mas talvez ela possa participar.
–Ainda tem o elenco dois. – falo tentando animá-la.
Ela dá de ombros sem muita esperança.
–Agora o elenco dois. – diz o professor. –Daniel para Peter Pan.
Daniel é um garoto loiro, usa óculos e tem olhos azuis. Ele deve ter a idade de Katie e aparentou ser tímido, mas foi muito bem na audição. Papel merecido.
–Katie para Wendy.
A menina começa a saltitar, eu e Katherin fazemos uma cara de “não conhecemos essa garota” e rimos. Ele termina de falar os nomes e fala para aqueles que não irão se apresentar, se retirarem. Então um grupo bem menor fica no palco dessa vez.
–Seguinte, esse teatro irá estrear no fim de Setembro, temos pouco tempo. Será um teatro com algumas músicas, mas não inteiramente um musical.
Não entendi direito, mas tudo bem.
–Dividi em dois elencos porque acho que todos vocês merecem estar nessa peça. – diz ele e sorri. –Como vocês sabem , me chamo Ronaldo.
Seguro uma risada, porque sinceramente, eu não sabia.
–Os ensaios para o elenco um serão as terças e quintas.
Engulo em seco, se for de tarde eu não poderei fazer.
–Será as cinco e quarenta.
Eu saio cinco e meia do inglês. Como que eu vou chegar aqui em dez minutos? Obviamente eu não comento nada com ele.
–E irá até às oito horas.
Como que eu vou estudar e fazer tarefas? Mais uma vez, fico calada.
–Vocês podem trazer algo para comer, é claro. Teremos dois intervalos de quinze minutos.
É melhor eu já ir planejando o melhor discurso pra minha mãe, se não ela não vai deixar. Ela com certeza vai falar que isso vai atrapalhar meus estudos, que minhas notas vão cair. Eu sei que ela vai falar.
–O do segundo elenco será no mesmo horário, nas segundas e quartas. – diz Ronaldo. –Nos vemos semana que vem, então. Parabéns mais uma vez!
Eu, Katherin e Katie vamos juntas para fora do teatro, não há nem sinal de Thomas. Ligo para minha mãe e falo que consegui o papel principal.
Que peça é?
–É surpresa mãe.
Ela respira fundo.
–Tudo bem, mas parabéns! Hoje vamos na churrascaria pra comemorar.
Minha mãe é demais, eu sei.
–Isso é que é vida boa.
–Chame a Katherin também.
–Vou chamar.
–Oi. – diz Thomas para as duas irmãs.
Infelizmente, minha mãe ouve a voz dele.
O Thomas também foi?
–Infelizmente sim. – falo e abaixo o volume do celular, mesmo que ninguém além de mim seja capaz de ouvir a conversa.
–Chama ele também.
–Claro, que não!
–Ah, Lydia...
Interrompo-a.
–Mãe, o táxi já vai sair. Beijos, até depois.
Desligo o telefone antes que ela responda e arrasto Katherin para o carro. Não falo com aquela enxerido idiota. Só de pensar que eu vou estar na mesma peça que ele e que nós teremos várias falas um com o outro, tenho vontade de bater em alguém, de preferência nele.

Hoje é domingo, dia dos pais. Acordo com esse pensamento e já me sinto infeliz, porque meu pai não está aqui.
Sexta eu e minha mãe fomos naquela maravilhosa churrascaria do shopping, Katherin não podia ir então só fomos eu e minha mãe mesmo. Eu conversei com ela sobre os horários e como previsto, ela disse que a escola é mais importante e tudo mais.
–Se minhas notas caírem, eu saio do teatro. – falei para ela sexta. –Você pode me por de castigo, fazer o que você quiser. Mas minhas notas não vão cair. Eu prometo. – disse e juntei as mãos. –Por favor, deixa eu fazer, mãe!
No fim ela concordou, mas com essa condição: se minhas notas caírem, não importa que peça seja, nem que esteja tudo pronto, eu vou sair e não tem discussão.
Levanto da cama e espreguiço-me, são oito e meia da manhã. Vou até a cozinha, ela já está aqui.
–Bom dia, filha. – diz ela enquanto vira o café na xícara.
–Bom dia, mãe.
Abro a geladeira e sorrio. Meu toddynho está de volta. Tomo-o e como um pão puma com queijo e presunto.
–Escuta, eu sei que disse que não quero que você vá mal na escola por causa do teatro. Mas fala sério, Lydia, também não quero que você fique com a cabeça nos livros da escola o dia inteiro.
Franzo a testa.
–Mas eu não fiz isso.
Ela solta uma risada.
–Não? Ontem você passou a manhã inteira fazendo tarefas da semana, depois de tarde você começou a estudar pras provas da semana também.
–Nem foi tanto tempo assim. – falo dando de ombros.
–Você ficou das oito da manhã até às seis da tarde fazendo isso. Foi muito tempo sim.
Quase cuspo o toddynho. Caramba, eu fiquei todo esse tempo? Okay, eu parei um pouco pra comer, ir ao banheiro, tomar uma água, falar com a Kriss e Jane no celular, mas basicamente todo o meu dia foi estudo.
–Eu preciso sair imediatamente. – falo assustada.
Minha mãe ri.
–Tem uma piscina aquecida nesse prédio, por que não vai nadar?
Faço uma careta.
–Porque a preguiça comanda.
Ela tira o toddynho a minha mão.
–Para de ser sedentária. Coloca um biquíni e vai nadar.
Resmungo alguma coisa, mas vou para o meu quarto. Ela tá certa, eu preciso sair um pouco antes que eu fique louca. Coloco o biquíni e um short e blusa por cima, pego uma toalha também. Volto para a sala e pego o telefone. Antes de ir, eu quero ligar pro meu pai.
Deixe sua mensagem.
Bufo, mas então começo a falar.
–Bom dia, pai. Feliz dia dos pais! Sinto muito sua falta, você já sabe. Eu te amo, tenha um ótimo dia. Tenho muitas coisas para te contar, mais tarde nos falamos.
Coloco o telefone de volta no gancho e forço um sorriso. Faz tanto tempo que eu não o vejo. Tudo bem que ele irá vir me visitar, mas mesmo assim dói a saudade.
–Mãe, eu to indo. Não vou voltar muito tarde eu tenho que fazer um trabalho de...
Ela me interrompe.
–Hoje você não vai fazer nenhum trabalho, pelo menos não de manhã. – ela fala. -Distrai a cabeça um pouco, menina!
Reviro os olhos e então entro no elevador. Chego no térreo, dou “oi” pro porteiro e pergunto onde que é a piscina, porque eu ainda não tive interesse de aparecer por lá. Ele me indica o caminho, agradeço e vou.
As paredes são de vidro e a piscina é retangular e enorme. A porta está aberta e deixo-a assim. Alguém pode querer vir nadar também, sei lá.
Tiro o shorts e a blusa e coloco-os em um banquinho, a toalha em cima. Entro na piscina, que está quente, mas não muito, e molho o cabelo. Meu cabelo não vai ficar muito bom depois por conta do cloro, mas eu simplesmente não vejo a graça de entrar em uma piscina e não molhar os cabelos. É tipo pedir uma casquinha de sorvete e só comer a casquinha. Não faz sentido. Nado um pouco, sem fazer muito esforço e então, quando levanto a cabeça de um mergulho, vejo um cachorro, sim, um cachorro, correndo para a piscina.
–Não faz isso! – grito.
Se esse cachorro, que deve ser um filhote, cair na água, ele vai se afogar. Não posso deixar isso acontecer. A Lydia preguiçosa é substituída por uma atleta olímpica. Parece que tudo está em câmera lenta, o cachorro fica perto da beirada da piscina, então pula. Meu coração está acelerado. Quando o cachorro cai na água, eu consigo segurá-lo a tempo. Levanto-o para que ele não se molhe mais.
Saio da piscina e sento-me na beirada dela.
–De onde você veio? – pergunto para ele como se ele pudesse me responder.
Fecho os olhos, respirando pesadamente.
–Rex! – ouço um grito de uma voz familiar. –Rex!
O cachorro começa a latir e logo Thomas aparece, arfando.
–Ah, muito obrigado. É meu cachorro e...
Então ele parece perceber que a pessoa que está aqui sou eu e para de falar.
–É, parece que seu plano de me ignorar falhou. Sinto muito. – falo irônica.
Ele abre a boca pra falar alguma coisa, mas depois fecha-a, sem saber o que falar. Levanto-me e dou o cachorro pra ele.
–De nada. – falo e pego meu shorts e a blusa. Não vou mesmo ficar aqui agora que ele chegou. Levo tudo na mão mesmo e quando passo por ele pra sair, ele segura meu pulso.
Acabo ficando de frente para ele. Não muito perto, mas nós estamos nos encarando pela primeira vez em dias e minhas bochechas queimam.
–Tem alguma coisa pra falar? – pergunto irritada.
–Eu... – ele fala, mas para.
–Foi o que eu imaginei. – tiro a mão dele do meu pulso grosseiramente e saio da piscina.
Meu pequeno bom humor de domingo de manhã acabou de acabar. Coloco minhas roupas e me seco de qualquer jeito. Passo pelo porteiro e ele parece estar bravo por eu estar entrando no elevador molhada, mas no momento não estou nada afim de ficar discutindo com ele, por isso só entro no elevador e clico o botão do terceiro andar.
Abro a porta de casa e vejo minha mãe no sofá, vendo televisão. Fecho a porta e ela vira-se para mim, a testa franzida.
–Faz só meia hora que você foi pra lá. – diz ela.
–Ah, mãe, agora não.
Falo e vou para o banheiro tomar banho.


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