– Só queria te agradecer e te entregar em primeira mão o último livro da série Nikki Heat. - ele falou enquanto pegava o embrulho que havia colocado na cadeira ao lado. Ela não sabia o que fazer, sentiu um nó se formar em sua garganta. A série de livros dele inspirada nela. O motivo pelo qual ele começou a segui-la. Um turbilhão de lembranças a invadiram.

– Obrigada. - disse, ao pegar o livro da mão dele - Se é só isso, eu preciso ir.

– Fica. Só mais um pouco.

– Eu não posso, Castle. - ela falou baixinho, já se levantando.

Kate pegou o livro que ele havia lhe dado e saiu tentando segurar as lágrimas. Era essa a razão de ter ido procurá-la: falar sobre o fim de Nikki Heat. Ele definitivamente a queria fora da sua vida. Mas o que ela achou que ele tinha para falar depois de tudo o que aconteceu entre eles? Que pensou em ligar, que a vida não tinha sido mais a mesma depois dela?

Beckett andou o mais rápido que pode até a sua casa. Seu passado tinha voltado com tudo e tinha lhe dado um murro no estômago. Por que raios Castle tinha que aparecer e fazer ela enfrentar todas as memórias e cicatrizes?

Sentou no sofá com a cabeça entre as pernas para tentar regular sua respiração. Estava para se render ao choro quando sentiu o celular vibrando no bolso. Não iria atender, mas quando viu quem era, rapidamente apertou o botão verde.

– O Castle está aqui. - falou antes de qualquer coisa.

– O seu Castle? Como assim, Kate? - Lanie perguntou assustada.

– Ele me encontrou e me chamou para conversar... - ela começou a explicar para a amiga, a voz entrecortada pelo nervosismo.

– E...

– Eu fui. Você sabe como ele é. Parece uma criança e iria voltar e insistir até eu aceitar.

– Sobre o que ele queria conversar?

– Era apenas sobre o último livro da Nikki Heat. – disse com um tom de magoa na voz, que não passou despercebido por Lanie.

– E o que ele falou para você estar tão abalada?

– Eu não sei direito, eu acho que...

– Que ainda o ama.

– Eu não sei, Lanie. Naquele dia ele foi embora. E nossa história morreu ali, pra nunca mais.

–Se você tem tanta certeza de que a história de vocês morreu, por que está tão abalada? E não me diga que é só por causa da Sofia, porque eu te conheço muito bem, Katherine Beckett.

–Olha, se quer mesmo saber a verdade... é que uma parte de mim acha que nossos caminhos ainda vão se cruzar. Uma partezinha de mim acha que qualquer dia desses eu esbarro com ele de novo, como aconteceu hoje. E que a gente vai se abraçar e esquecer tudo. Mas eu sei que tudo isso é meio impossível e que acima de tudo não pode acontecer, Lanie. Eu tenho que aceitar as escolhas que fiz... Eu escolhi vir para Londres, escolhi não contar para ele que temos uma filha. Eu escolhi realizar a vontade do Castle e sair da vida dele. Essas são as minhas escolhas. Elas são o que eu sou.

–Já se passaram quatro anos, Kate...Você poderia finalmente me explicar o motivo de nunca ter contado sobre a Sofia para ele? Tudo bem, eu sei que vocês tinham terminado e tudo, mas ninguém entendeu essa sua decisão de não contar para ele sobre a gravidez.

–Eu não queria que o coração dele ficasse partido de novo, em pedacinhos, como no dia em que a gente acabou. –Kate já não conseguia mais segurar o choro e deu uma breve pausa antes de continuar - Lanie, acho que é justamente por isso que eu nunca fui atrás dele: chega uma hora em que a gente não quer ver quem a gente gosta sofrendo.

–E o que te faz pensar que ele sofreria se soubesse sobre a filha de vocês?

–Eu sei o quanto o fim do nosso relacionamento foi doloroso para ele...Eu observei durante alguns dias depois daquela noite sem que ele percebesse... e doeu, doeu muito. Uma filha é algo que nos uniria para sempre. Ele seria obrigado a conviver com essa dor. Na época eu não suportei. Mas já agora eu não suporto a ideia de ver a Sofia crescendo longe dele. Apesar de ele ter sido um idiota comigo, é um homem maravilhoso... Estou cansada de me ver nessa dúvida apavorante de que se devo ou não contar para ele sobre a filha.

– Então, conta.

– Você sabe que não é assim tão simples... Nada nunca é simples entre nós dois.

– Pois então, simplifica, Kate. Você ainda o ama, nem tente negar. Está magoada com ele e construiu um muro tão forte ao redor de si mesma que ele nunca vai conseguir te alcançar. Mas vocês têm uma filha juntos. Ela tem que ser maior do que qualquer muro, obstáculo ou confusão. Ela é a prioridade. E você sabe que ele merece conhecer a filha. E a Sofia merece conhecer o pai.

– Olha, eu não sei o que fazer sobre isso agora... Eu tenho que ir pegar a Sofia na casa da Emily... Obrigada, Lanie. Obrigada por ter sempre me apoiado e também por abrir meus olhos.

– Você sabe que estou aqui para o que precisar... Me avisa quando se decidir, ok?

– Tudo bem.

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Se Castle tivesse uma única oportunidade de escolher uma só pessoa para ter de novo na sua vida, esse alguém seria Kate. Mesmo com todos os defeitos, com todos os tropeços e mancadas, com o tanto que ela partiu seu coração. Porque ainda é dela que ele lembra quando alguém fala de parceria. Ainda é seu nome que aparece na cabeça dele quando começa a escrever mais um capítulo de seus livros. Ainda é o som delicado da sua risada que invade o loft no sábado à noite, quando ele questiona todas as decisões que já tomou. Por mais que ele tenha tentado, de todas as formas possíveis e imagináveis, ainda é ela quem mexe com seus sentimentos.

Durante a breve conversa que tiveram, percebeu o quanto ela estava tentando se manter distante e indiferente a ele. Percebeu que Kate ainda estava magoada com tudo o que tinha acontecido entre eles.

Já era quase meio dia e o sol brilhava forte. Ele estava sentado no mesmo banco que a tinha visto sentada mais cedo. Observava o parquinho vazio à sua frente, nem de longe se parecia com o mesmo de meia hora atrás, cheio de crianças correndo de um lado para o outro.

Na sua cabeça, tentava montar esse quebra-cabeças enigmático: Kate estava ou não com uma família formada? Ele havia percebido que o garotinho que ela estava segurando no shopping não é seu filho, mas filho da loira que estava sentada do lado dela mais cedo. Também percebeu que Kate não tinha nenhuma aliança ou pelo menos a marca de uma. E essas observações o estavam deixando confuso.

Ele não tinha certeza se iria conseguir falar “eu te amo” para ela novamente e confessar seus sentimentos, mas tinha certeza que iria conseguir obter o máximo de informações possíveis sobre ela.

Castle foi em direção ao seu carro e digitou no GPS o endereço do escritório do seu antigo colega de quarto da faculdade. Até que ser um velho amigo do chefe da polícia de Londres tinha suas vantagens.