Desvenda-me escrita por Mariii
Notas iniciais do capítulo
É o penúltimo, pessoal! :)
– Sherlock... Será que não está na hora de você voltar a trabalhar? - Ele está em sua habitual poltrona e eu sento em seu colo, passando os braços pelo pescoço dele e o escuto suspirar.
– Você sabe que isso não é possível, Molly. Para que insistir? - Já estávamos algumas semanas ali e eu tinha tocado no assunto algumas vezes, mas ele sempre se esquivou. Como está fazendo agora.
– Não, eu não sei nada sobre o impossível. Você tem outros talentos além da visão, Sherlock. Olfato e tato são alguns deles. - Ignoro o resmungo de incredulidade que ele faz e continuo. - Talvez você tenha que agir como Hercule Poirot!
– O que raios os doze trabalhos de Hércules tem a ver comigo?
Solto uma gargalhada sem querer ao ouvir o que ele diz.
– Não esse Hércules, idiota. Hercule Poirot. O grande detetive que viveu por volta da década de trinta.
Sherlock me olha em dúvida sobre o que estou falando. É claro que ele não o conhece.
– Eu sou um grande detetive atual. Era. - Dor passa por ele ao dizer isso e seu corpo estremece, fazendo-o me abraçar ainda mais forte. - Qual a diferença? Se ele tivesse perdido a visão, estaria na mesma situação que eu.
– Não, porque Poirot usava as pequeninas células cinzentas. - Digo enquanto acaricio seus cabelos e dou pequenos toques com o dedo em sua cabeça. - Muitas vezes ele não precisava nem ao menos sair de casa para resolver um crime.
– Isso é besteira, Molly. Sem pistas? Sem pegadas? Sem nada? Besteira...
– Besteira é o que ele dizia sobre quem precisa caçar pistas. Como um perdigueiro... Não me olhe assim, eram as palavras dele. - Não dou bola para as tentativas dele de fazer sons de desprezo. - Você já fez isso antes, Sherlock. Com pequenos casos. Você os resolvia apenas lendo as descrições dos jornais.
– Casos minúsculos e sem emoção nenhuma, que até uma criança conseguiria resolver se prestasse atenção.
– Não, Sherlock. Você consegue resolver, não todo mundo. E você sabe disso também. Podemos começar com casos pequenos, ligar para Lestrade e até mesmo ir até algumas cenas de crimes, conversar com as testemunhas. Eu posso ser seus olhos...
Ele suspira novamente enquanto esconde o rosto na curva do meu pescoço.
– Meus olhos? - Sherlock pergunta depois de alguns segundos e sua voz sai abafada contra minha pele. - Como isso pode funcionar? Não vai dar certo, Molly...
– Posso tentar?
– Vai adiantar se eu disser não?
– Não. - Nós rimos enquanto eu continuo acariciando-o. E foi assim que começamos algumas experiências onde lia sobre algum crime e ele tentava deduzir o que havia acontecido. Em alguns casos eu pedi fotos para Lestrade de cenas de crimes já solucionados e as descrevia da melhor forma que podia. Sherlock, como previsto, não me decepcionou. Ele achava que precisava ver, mas seu cérebro trabalhava muito rápido do que o que ele imaginava.
Conforme nós evoluíamos, eu consegui algumas armas e itens das cenas e Sherlock as tocava, verificando detalhes que talvez antes passassem despercebidos.
Nós treinamos por várias semanas. Até eu já começava a deduzir algumas coisas sobre o que lia e via. Ele voltou a surpreender as pessoas deduzindo coisas absurdas através do som de seus passos, ou tom de sua voz. E nunca, nunca o deixe te tocar. É quase um mapeamento de emoções o que ele pode fazer ao entrar em contato com sua pele. Experiência própria.
Então, quando Lestrade adentrou à Baker Street parecendo desesperado com um crime sem solução que o consumia há dias, não me surpreendi quando Sherlock sorriu e aceitou ajudá-lo. Ele ouviu com atenção tudo que o inspetor tinha a dizer e fez apenas algumas perguntas ao final.
– Passe para Molly. Ela pode detalhar melhor. - Foi o único pedido que ele fez quando Lestrade começou a descrever as marcas nos corpos, através das fotos que tinha em mãos. Eu as peguei e "li" a imagem para Sherlock, de modo que sabia que ele entenderia.
Depois que Lestrade saiu, Sherlock se fechou em seu palácio mental, provavelmente analisando tudo que tinha ouvido até então e montando a cena em sua cabeça.
No dia seguinte, Greg enviou uma mensagem. Havia uma nova vítima. Eu não precisei dizer nada, Sherlock se levantou e apenas respondeu o que eu já imaginava.
– Sim, Molly, nós vamos até lá.
No local, eu descrevia tudo que eu via e Sherlock estava cada vez mais impaciente.
– Mais detalhes, Molly! – Ele soltava o ar exasperado. - Você vê, mas não observa!
– E você que não vê?
Ele sorri em minha direção quando digo isso e Lestrade nos encara chocado, acho que ele não está habituado com essa nossa troca de afeto. Esforço-me para dar mais detalhes e quando descrevo o tapete que parece estar fora de lugar na elegante sala da senhora que fora assassinada, Sherlock vem até a mim e me beija com paixão, deixando-me surpresa.
– Devo me lembrar de te irritar mais vezes quando você estiver olhando as cenas. - Ele diz quando se afasta de mim, começando uma rápida e longa explicação da solução do crime para Lestrade, da qual não entendo nem a metade, mas ao ouvir passos correndo para fora da casa e Lestrade falando com alguém no celular, posso deduzir - sim, isso eu posso - que Sherlock chegou ao criminoso.
Devo acrescentar que Sherlock me agradeceu pelos detalhes de forma bastante entusiasmada quando voltamos à Baker Street.
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– Ande mais devagar, Sherlock!
– Ora, ora, quem está com dificuldades agora? - Ele estava se divertindo porque estávamos andando pelo breu de um depósito abandonado, onde tínhamos no metido para investigar algo relacionado a desvio de cargas. No escuro. Sherlock queria que eu visse detalhes no escuro. E é claro que como ele estava habituado, andava com muito mais facilidade do que eu. Observo-o se virar para mim com um sorriso no rosto, mas então ele faz uma careta.
– O que f... - Movo minha mão e novamente ele franze os olhos. Consigo ver o incomodo mesmo através dos seus óculos. Olho para minha mão, mais precisamente para a lanterna que carrego nela e a viro para os olhos dele mais uma vez. De novo ele se retrai. Meu sangue dispara de forma tão brusca que sinto minha cabeça latejar - Sherlock, você está... Vendo?
Minhas mãos começaram a tremer ao mesmo tempo em que ele estancou, percebendo o que estava acontecendo.
Sherlock estava vendo seu primeiro raio de luz em meio a tanta escuridão.
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Caso alguém não conheça Hercule Poirot: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hercule_Poirot
:)