–Você... gostou? - Ally sorriu timidamente para mim e eu a encarei sem palavras. Seu rosto misturava um pouco de emoção e nostalgia. - Meu pai comprou quando eu vim para cá; era para eu estar morando aqui mas de alguma forma a casa pertence a você. - riu ela. Ri junto, nervoso e claramente emocionado.

–Ally, é incrível. Quanta coincidência. - digo, referindo-me a compra da casa que eu queria. Seu olhar era indecifrável.

–Na verdade, eu meio que implorei para os donos do imóvel saírem daqui ou que ao menos alugassem para mim; e veja só, deu certo. - explicou, não me encarando por completo. Ally estava tão corada que resolvi abraçá-la apenas para agradecer-lhe.

–Obrigado, Ally. - ela fungou em meu peito mesmo sem estar chorando. Eu ri levemente e afaguei seus cabelos. Uma memória invadiu minha mente repentinamente.

–Ally, estamos indo embora. - choraminguei. A garota baixinha ao meu lado riu, porém logo produziu uma careta de choro.

–Não quero ir embora. Acostumei com o ar de Miami. É tão quentinho. - lamentou ela. Segurei sua mão firmemente enquanto subíamos um pequeno morro que daria para uma rua estreita e sem saída, de acordo com nossos pais, cheia de casas vitorianas.

–Olhe! - apontei com sua mão pequena para uma casa amarela. Havia um tapete de boas-vindas primeiramente em frente ao portão, embora eu não compreendesse realmente por quê. Ally gargalhou e me puxou até ela. As janelas eram coloridas, com algumas marcas de adesivos recém retirados. - Eu vou morar nesta casa!

–Comigo, Trish e Dez? - arriscou ela. Sorri, convencido.

–Mas é claro. E meus pais, vou arranjar um quarto para eles, vocês se virarão no fundo!

–É justo. - divertiu-se. Rimos juntos enquanto avançávamos para dentro da casa, e eu a ajudei a pular o portão pequeno de madeira. Estávamos tão concentrados em descobrir o que havia pelo outro lado que não avistamos imediatamente um senhor que saía pela porta do vizinho. - Austin, pule logo. Vamos embora, tem um homem aqui. - sussurrou Ally, empurrando-me acidentalmente para dentro do quintal. Silêncio. Não havia sequer um cachorro. Ouvimos por um tempo somente o som de portas fechando-se e o motor de um carro rugindo, e, então, o silêncio retornou. Dei-lhe um sorriso e olhar irônicos.

–Acho realmente que vamos embora agora. - falei sarcasticamente. Seu semblante tornou-se um espelho de chateação.

–Ainda era aquela mulher que nos encontrou dormindo em seu quintal? - perguntei, lembrando-me do fim. Nossos pais haviam ligado diversas vezes em nossos celulares novos, porém não havíamos levado-os para o nosso último passeio. Desse modo, ficamos presos dentro da casa, porém ao mesmo tempo fora. Uma mulher, a empregada, encontrara-nos.

–Não. Eu perguntei se tinha uma, mas claramente mudaram os donos desde aquela época, porque não conheciam nenhuma Alice.

–Que pena. Ela era incrível e só dois anos mais velha do que eu. - Ally me deu um beliscão e ri de seu ciúme. - Calma, eu estou brincando.

–Ah, vai nessa. Austin era o maior pegador lá em nosso colégio. - Dez juntou-se à conversa, o que rendeu um olhar intrigado e assustado de Ally a ele. Muito provavelmente eu havia sido completamente avacalhado naquele momento. - Até a Kira já quis ficar com ele.

–A... Kira? - Ally franziu a testa e apertou os lábios um contra o outro. Dei uma cotovelada fraca em Dez, fazendo-o calar-se. Kira sempre fora a melhor amiga de Ally e havia mudado drasticamente desde sua partida para Miami. - Como ela está? - perguntou delicadamente, como se fosse entrar em um território inimigo e desconhecido.

–Não passaria de uma estranha se você a conhecesse agora e comparasse com a antiga. - suspira Trish atrás de nós. Percebo Cassidy calada em um canto, enlaçando o braço com o de Ally, ouvindo a conversa atenciosamente.

–Ela mudou tanto assim?

–Você não sabe como.

Permanecemos calados enquanto adentrávamos a "minha" casa. Ally guiou-nos para dentro, e percebi que estava muito diferente da última vez, pelo menos seu interior. Ally contou que havia reparado todos os detalhes da antiga época, quando havíamos estado por aqui pela primeira vez, principalmente as vidraças coloridas. Sorri.

Enquanto apenas eu terminava de arrumar-me, Ally e os outros seguiram em direção à piscina. Não havia uma antigamente, porém eu jamais iria reclamar da situação atual; estava tudo muito bom, arrumado e, bem, lindo.

–E como você está? - foi muito estranho ficar a sós com Trish; isso jamais ocorreu. - Eu estou tão bem agora. Eu contei a Ally que engravidei.

–E o que ela disse? - perguntei interessado. Trish sorriu de lado e jogou-se em meus braços, feliz, e eu a abracei. - Acho que isso será uma resposta boa.

–Contar a ela foi uma das melhores coisas que eu já fiz em minha vida. Ally prometeu que não iria falar, como você, e aliás, muito obrigada por não dizer nada, Austin! Continuando, eu e Ally resolvemos ir juntas falar diretamente com o pai do bebê, Trent. Ele me disse que estava muito feliz por isso, porém não podia envolver-se mesmo comigo em um relacionamento sério, mas iria assumir o bebê. - contou empolgada. Trish não me parecia realmente triste por não ter voltado com Trent, de quem gostava mesmo há pelo menos dois meses, mas somente levemente chateada. Sorri verdadeiramente, ainda abraçado a ela lateralmente.

–Acho que você ficou bem? - ela assentiu. - Trish...

–Eu sei, Austin. - desviamos os olhos para o chão e eu encarei meus próprios pés. - Vamos embora muito mais cedo do que o previsto, não é? Dez me disse que ouviu você falando algo assim com Gabe ao telefone.

–Entendo. Seus pais querem praticamente prestar queixa contra mim na polícia, ambos, Trish. Por isso, acho melhor voltarmos antes que vire um fugitivo.

–Como assim?! Envolver a polícia não é um pouco demais?! Eu posso falar com eles...

–Eu realmente acho melhor não. - confesso em tom baixo. Trish parece entender o meu lado, o quão assustado estou. Não quero envolver-me diretamente com a polícia e ser acusado de sequestro ou algo pior, principalmente em uma briga com os pais de meus dois melhores amigos. - Voltaremos em dois dias.

–E quanto a Ally?

–Eu tenho um plano, você sabe. Você sobreviveria três meses sem ela usando Skype, internet e essas coisas? - Trish sorriu tristemente, entretanto assentiu. - Eu completarei dezoito em três meses, como você sabe. E Dez duas semanas após. Logo, nos tornaremos maiores de idade. Sei que seu aniversário é daqui a quatro meses, mas você pode ficar conosco desde que tenha a autorização de seus pais. Continuaremos o colégio por aqui e entraremos em uma faculdade próxima a da Ally.

–É um bom plano, Austin. Estou orgulhosa. - ela me abraçou nova e rapidamente. Sorrimos. - Porém se algo der errado, você será chamado de espírito em breve, meu caro.

–Não se preocupe. - gargalhei.

Fizemos algumas brincadeiras a mais enquanto pegávamos um copo d'água para Ally e nos direcionarmos até a piscina. A cena era, de longe, uma das mais engraçadas. Dez estava no colo de Cassidy, que escorregava várias vezes mesmo dentro da água, e Ally mantinha uma expressão suave e divertida. Ri alto e pulei, espalhando água até em Trish.

–Olhe o que você fez, Austin Monica Moon! - esbravejou. Implorei a Ally com o meu melhor semblante de cachorro pidão e envolvi-a em meus braços pela cintura, rindo, e mergulhamos, escapando das broncas de Trish.

O resto do dia passava-se rapidamente. Nós nos divertíamos com brincadeiras extremamente estúpidas, como jogar água uns nos outros. Trish, por conta da gravidez, enjoava-se rápido e necessitava ir ao banheiro, até uma hora em que deu-se por vencida e deitou-se para se bronzear.

–Acho que poderíamos dormir aqui hoje. - ofereceu Ally. Concordamos rapidamente, pois não haveria lugar melhor para passar a noite, de qualquer maneira. Aquela era a "minha" casa, e eu realmente me sentia bem por ali.

–Então, vamos. Dez, você carrega a Bela Adormecida Desmaiada? - apontei para Trish. Dez lançou-me um olhar zangado enquanto erguia a garota e sua juba preta, levando-a para dentro como um noivo carrega a noiva em noite de núpcias. Eu, Cassidy e Ally os seguimos fazendo piadas sobre ambos e seu amor oculto.

Enquanto Trish descansava em seu quarto, que dividiria com Ally, Cassidy levantou-se rapidamente em um pulo com o olhar fixo no relógio cuco da casa.

–Eu estou atrasada. E eu realmente preciso ir. - um olhar triste cruzou o rosto de Ally, contudo uma expressão animada sucedeu a primeira.

–Boa sorte com a pequena tour, Cassie. - as duas se abraçaram longamente por alguns minutos, murmurando coisas incompreensíveis a meus ouvidos. Troquei um olhar confuso com Dez, que apenas mexeu os lábios "coisas de garotas".

–Volto em dois meses, gente. Espero nos encontrarmos em breve, senão quando eu voltar. - piscou para mim e Dez. - Mandem lembranças a Trish por mim.

–Pode deixar. - Dez levanta-se, visivelmente chorando, e a puxa para um abraço. Faço uma careta, acompanhado por Cassidy, que retribuiu seu abraço desajeitadamente.

–Tchau, Cassidy. - digo e a abraço rapidamente. Não temos um elo de conexão que me faz abraçá-la por mais de cinco segundos como Dez, Trish ou, principalmente, Ally.

–Até mais, lourinho.

Nós a vemos partir com o carro, descendo a rua. Noto que já não é mais tão estreita, pequena, e um caminhão pode passar sem problemas. Dez põe a mão em meu ombro e puxa-me, fazendo com que eu sente ao lado de Ally. O seu ante-braço apoia-se em meu ombro, e eu abaixo, fazendo-a ficar fingidamente emburrada. Rio.

–Então... quem quer jogar Verdade ou Consequência? - Dez sussurra. Um arrepio percorre meu corpo ao relembrar a última vez em que jogamos o jogo. Passo o braço pelo pescoço de Ally, puxando-a mais para mim; posso notar que ela está tentando me reconfortar pela última vez em que jogamos aquele jogo estúpido.

Fora quando estávamos namorando. E a consequência de Ally havia sido beijar um garoto que mal conhecíamos.