Quando aquilo acabou Miguel saiu do quarto. Durante todo o tempo ele dizia que a culpa era minha e que me amava. Eu não sabia mais se tinha durado minutos, horas ou dias, mas pareciam dias. Eu comecei a gritar e logo uma das empregadas chegou. Eu chorava e ela me desamarrou. Eu sentia dor. Todo meu corpo latejava e as lágrimas não paravam de cair. Ela me levou até o banheiro, me colocou na banheira, me deu banho e me ajudou a me vestir.

Depois, chamou o motorista. Pedi ao mesmo que me deixasse há um quarteirão da casa de Felipe. Caminhei o restante do caminho e entrei no elevador. Bati na porta diversas vezes até que ele atendesse. Eu tinha perdido a noção da hora. Devia ser tarde. Quando ele abriu a porta eu só consegui saltar em seus braços e sentir tudo a minha volta se apagar.

***

Acordei algum tempo depois. Felipe parecia aflito. Estava andando de um lado para o outro do quarto. Levantei a cabeça e ele me olhou. Comecei a chorar novamente. Provavelmente Miguel estava certo e aquilo tinha sido mesmo a minha culpa. Eu não conseguia parar. Felipe se deitou comigo na cama e afagou a minha cabeça para me acalmar, o que só me fez chorar mais.

–O que aconteceu, princesa? Eu estou em desespero desde a hora que você chegou aqui. Você apagou e eu não sabia o que fazer. - Ele me acariciava.

–Miguel aconteceu. Mas ele estava certo, eu não deveria ter feito nada. A culpa é minha. Eu sou inútil. - Aquilo me consumia. Eu não conseguia acreditar no que tinha acabado de acontecer.

–Você não é inútil. Nunca mais repita isso. E o que ele fez com você? - Ele falava com calma. Era quase como se eu estivesse prestes a quebrar, e isso realmente poderia acontecer.

–Ele me amarrou. Eu devia ter me trocado no banheiro. Suas mãos passaram por todo o meu corpo. Eu não queria. Ele me amarrou. Ele me beijou. Eu não queria, mas a culpa é minha. Eu não queria. Ele forçou. Ele forçou e foi embora. Eu não queria. Felipe, ele forçou. A culpa é minha. - Eu chorava. Chorava e não conseguia parar. Felipe levantou.

–Como aquele canalha tem a coragem de te estuprar, Milena? Eu vou matar aquele cara. - Ele disse com raiva. Seu rosto estava vermelho e seus punhos estavam cerrados. - Eu vou matar aquele cara e acabar com a raça daquele imbecil. - Coloquei a mão sobre a dele.

–Não precisa matar ninguém. A culpa foi minha, eu não devia ter ficado com ele da primeira vez. Devia ter esperado até o casamento. Eu errei. Fica comigo, por favor. É tudo que eu preciso. - Disse o puxando.

–É claro que eu fico com você, mas não ouse falar que isso é culpa sua outra vez. Se for pra culpar alguém, esse alguém tem que ser ele. - Ele deitou do meu lado.

***

Horas depois, Felipe me deixou em casa e explicou o que tinha acontecido comigo(Omitindo o fato de que temos um romance secreto). Meu pai ligou para o advogado que disse que não podíamos fazer nada sobre isso além de me manter distante até o casamento, mas meu pai se recusou a isso para não irritar os Havonteccios. Ou seja, ninguém se importava comigo além de Felipe.

Me recusei a ir para a escola nos dois dias seguintes. Conversei com meus pais e eles concordaram em não me mandar para a casa, pelo menos por um tempo. Miguel me ligou algumas vezes e eu ignorava. Os Havonteccios passaram na minha casa poucos dias depois e se desculparam pelo incidente, mas disseram que o contrato não poderia ser modificado. Concordamos que eu jantaria uma vez por mês com Miguel obrigatoriamente.

***

Na sexta-feira, fui para a casa de Felipe para passar o final de semana. Meus pais haviam viajado e eu não queria ficar em casa sozinha. Quando cheguei ele estava dormindo no sofá. Me aproximei e dei um selinho. Ele abriu os olhos e sorriu. A tarde de sexta-feira e toda a manha de sábado nós mal nos tocamos. Ele me abraçava e me beijava algumas vezes, mas não passava disso. Eu precisava me sentir desejada, precisava receber carinho. Estava com a sensação de que Felipe não me queria mais:

–Eu posso ir embora se quiser. - Disse quando estávamos sentados um em cada ponta do sofá.

–Eu não quero que vá embora. Eu só sei que você passou por um trauma há pouco tempo e não quero invadir o seu espaço. - Ele respondeu olhando diretamente pra mim.

–Mas eu quero que você invada o meu espaço. Eu quero sua total atenção. - Eu precisava superar o que tinha acontecido com Miguel se quisesse ter uma vida. Eu queria uma vida, eu queria me sentir viva. E a única pessoa que me fazia sentir assim estava com medo de me tocar. - Eu quero estar com você. - Eu me aproximei e o beijei.

Ele se movia lentamente, como se pudesse me quebrar. Subi sobre ele no sofá. Todos os movimentos dele eram cautelosos. Eu não queria aquilo. Eu queria o Felipe que me queria de volta. Comecei a beijar seu pescoço. Ele colocou os dedos na passadeira do meu jeans e me puxou pra perto. Sentei em seu colo com uma perna de cada lado de seu corpo. Minha boca pedia pela dele. O beijo foi se intensificando. Comecei a rebolar em seu colo. Os beijos ficavam mais e mais intensos. Desabotoei um a um os botões de sua camisa e arranhei seu abdome. Me separei de seus lábios o tempo suficiente para tirar minha blusa. Ele olhou para mim com desejo e neste momento me senti viva. Voltamos a nos beijar quando a campainha tocou. Levantamos rapidamente e nos vestimos novamente.

Ele abriu a porta e uma menina loira estava parada a porta. Seus cabelos absurdamente claros iam até dez centímetros abaixo dos ombros. Seus olhos eram de um verde bem claro e seus corpo era esguio. Não me surpreenderia se me dissessem que ela era modelo ou algo parecido.

–Sophia, o que faz aqui? - perguntou Felipe.

–Desculpe vir sem avisar. Meu pai pediu para eu te entregar isso. - Ela entregou um envelope a ele. - É a análise do contrato que você pediu.

–Obrigado. - Ela sorriu.

–Era só isso. Até.

–Até. - E saiu. Assim que ele fechou a porta eu me pronunciei.

–Você não me disse que ela era bonita.

–E por que eu deveria ter dito?

–Ah, qual é Felipe?Você olhou pra ela? Ela é bonita, tem a sua idade, faz o mesmo curso que você e parece uma modelo. Ela é a garota perfeita. - Ele riu. Como ele podia rir de uma coisa dessas?

–Você fica linda quando está com ciúmes. - Ele se aproximou. Eu não estava com ciúmes. Virei de costas. Ok, talvez eu estivesse com um pouquinho de ciúmes. - Mas não precisa disso. - Ele me abraçou por trás e beijou meu pescoço. - Eu estou exatamente com quem eu quero ficar.

–Esse é o problema, Felipe. Nós não podemos ficar juntos. Eu estou noiva! Meus pais estão me obrigando a casar com o homem que me estuprou por causa de um contrato. Se nem o que aconteceu me tirou disso, não há nada que eu possa fazer. Eu quero ficar com você, eu realmente quero. Mas a sua felicidade importa mais do que a minha no momento.

–E se a minha felicidade for ao seu lado, Milena? Nós temos uma conexão, você sabe disso. Eu me sinto ligado a você de uma forma que nunca me senti a ninguém. Se eu tiver que esperar três anos para ser feliz tendo a certeza de que vou ser feliz, não tem problema. Eu quero você pra mim, mas eu sei que antes disso você tem deveres a cumprir e eu não me importo de te esperar.

–Eu não quero que você se sinta preso a mim por tanto tempo. Se você gosta de alguém, você tem que correr atrás dessa pessoa e não ficar com medo de machucar meus sentimentos. Desde o começo dessa história você foi a pessoa que mais me entendeu e eu não quero te ver sofrer de jeito nenhum.- Meus olhos estavam marejados.

–Eu me sinto preso a você, mas não desse jeito. Tudo em mim pede por você. Se eu for sair machucado disso de algum jeito será por não ter você do meu lado. - Ele se aproximou, pegou minha mão e me beijou.