Jogos Vorazes - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 47
Parte 47




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Portia me acorda para as preparações, da entrevista que será as duas. Me sinto exausto, por ter dormido muito pouco, mas junto todo o meu animo, para o início de mais um dia. Não quero comer nada, pois não sinto fome. Tudo o que eu sinto, é ansiedade. Ver Katniss logo, voltar para o distrito 12 logo. É tanta urgência dentro de mim. Passo por todo o processo de preparação, com a minha equipe falando sem parar. Mas estou alheio a tudo isso, apenas sorrio as vezes, e torço para que não tenha sido alguma pergunta. Portia aparece, o que sempre me alivia, pois significa que a preparação já acabou. Ela entrega minhas roupas, e vejo que são um tanto extravagantes. Calça branca, mas uma camisa vermelho berrante. Nunca abandonam a referência ao fogo. Me visto, e sigo em direção para a sala no final do corredor, onde avisto o sofá vermelho, Katniss e Caesar. Ela está deslumbrante, como sempre. Um vestido branco, sapatos cor de rosa, e uma maquiagem que faz seu rosto brilhar. Estranho é que por mais que ela esteja linda, ainda prefiro a verdadeira Katniss Everdeen. Sem maquiagem, vestidos e todas essas coisas. Prefiro a garota que eu sempre observei de longe. Calça, bota, jaqueta de couro, e cabelo trançado.
Mal chego, e já envolvo Katniss em meus braços. Não sei o que sinto ao certo. É exagero dizer que é saudade, pois passamos apenas algumas horas afastados, mas só pode ser isso.

— Quase não consigo te ver. Haymitch parece empenhado em manter a gente afastado – digo sorridente.

— É mesmo, ele tem estado muito responsável ultimamente – ela responde, corando.

— Bem, só falta essa entrevista e voltamos pra casa. Aí ele não mais poder ficar vigiando a gente o tempo todo.

Katniss não responde, o que eu não considero muito estranho. Nos sentamos no sofá, e ela fica numa postura ereta, com as mãos no colo, diferente da noite anterior.

— Ah, vamos lá, pode se enroscar nele se quiser. Fica muito bonitinho – Caesar diz, e gesticula com as mãos, incentivando Katniss.

Ela então, coloca os pés para o lado e eu a envolvo em meus braços, imediatamente.

A entrevista começa. Me sinto um pouco nervoso, parece que estou nas entrevistas que antecede os jogos, não na que encerra. O que está me deixando mais nervoso, é Katniss. Tem algo errado acontecendo. Só preciso descobrir o que. Tento focar nas perguntas de Caesar, e tudo está transcorrendo muito bem. Ora ou outra, Katniss diz alguma coisa, mas parece que há apenas um vencedor. Só eu estou falando.

Depois de algum tempo, Caesar assume um tom mais sério, e eu entendo que as perguntas triviais chegaram ao fim.

— Bem, Peeta – Caesar começa - sabemos, pelos dias que passamos naquela caverna, que foi amor à primeira vista de sua parte desde quando, os cinco anos de idade?

— Desde o momento que pus os olhos nela pela primeira vez — digo.

— Mas, Katniss, que coisa, hein? Imagino que a parte mais excitante para o público tenha sido assistir a você cedendo aos encantos dele. Quando você se deu conta de que estava apaixonada por ele? — Caesar pergunta.

— Hum, essa é difícil...

Ela sorri, e olha para suas mãos suadas em meu colo.

— Bem, eu sei quando a coisa me tocou. Na noite em que você gritou o nome dele daquela árvore — Caesar diz, como se tentasse ajudar Katniss.

Ele é muito bom nisso, e eu sinto uma grande afeição por ele. Se ao menos ele não fosse da capital...

— Foi mesmo, acho que foi lá. É o seguinte, até aquele momento, simplesmente tentava não pensar quais poderiam ser os meus sentimentos, falando com toda honestidade, porque a coisa toda era muito confusa e imaginar que eu realmente sentia alguma coisa por ele só pioraria tudo ainda mais. Mas aí, naquela árvore, tudo mudou.

— Por que você acha que isso aconteceu? — ele insiste.

— Talvez... porque pela primeira vez... haveria uma chance de eu ficar perto dele —ela diz, baixando o tom de voz.

Eu, fico dividido entre acreditar que tudo isso e verdade, ou continuar com uma certa dúvida, visto que tudo começou como uma mentira.

Caesar precisa de um tempo para se recompor, pois ficou extremamente emocionado. Enquanto ele enxuga suas lágrimas, eu encosto minha cabeça junto a cabeça de Katniss.

— Então, agora que estou perto de você, o que é que você vai fazer comigo? - pergunto

Ela se vira para mim, e olhando em meus olhos, responde:

— Vou te colocar em algum lugar onde você não possa se machucar.

É difícil acreditar, como em um dia, eu vivia me esgueirando pelo prego, tentando achar um jeito de falar com Katniss, e agora, ela está em meus braços, olhando em meus olhos e dizendo uma coisa dessas. Não resisto aos meus impulsos e a beijo. Consigo ouvir as pessoas presentes na sala, suspirando.

Caesar, muito sagaz, aproveita para engatar um assunto extremamente doloroso para ambos. Os ferimentos sofridos na arena. Quando ele pergunta sobre minha nova perna, Katniss dá um pulo, e levanta a barra da minha calça, tocando a prótese. Ela sussurra algo, mas não consigo entender. Isso faz eu ter certeza, de que ela não sabia. Como eles podem não ter contado? Será que era parte do plano a descoberta ser ao vivo, assim como nosso reencontro?

— Ninguém contou pra você? — Caesar pergunta, delicadamente.

Ela nega com a cabeça, e olha para mim.

— Eu não tive oportunidade — digo, e dou de ombros. Acho que a última coisa que eu conversaria com Katniss, seria sobre isso.

— É minha culpa — ela diz, com os olhos marejados. — Porque usei aquele torniquete.

— Sim, é culpa sua eu estar vivo — digo, apertando meu braço ao seu redor.

— Ele tem razão — Caesar concorda. — Ele certamente teria sangrado até morrer se não fosse por isso.

Katniss enterra seu rosto em minha camisa, e demora para Caesar convence-la a continuar a entrevista. Não imaginava que ela ficaria tão abalada. Mas, ela deve estar se sentindo culpada. E por mais que isso seja em parte verdade, o que é uma perna comparada a uma vida?

Depois disso, eu respondo a todas as perguntas, volta e meia acariciando as mãos de Katniss, que parecem cada vez mais geladas. Depois de um bom tempo, sei pela expressão de Caesar, que as perguntas que eu sou capaz de responder acabaram. É hora de Katniss voltar a falar.

— Katniss, sei que você acabou de ter um choque, mas sou obrigado a perguntar. No momento em que você pegou aquelas amoras, o que se passava em sua cabeça? – ele pergunta.

Ela faz uma longa pausa, e quando responde, é quase como um sussurro.

— Não sei, eu simplesmente... não consegui suportar a ideia de... viver sem ele...

— Peeta? Alguma coisa a acrescentar? — pergunta Caesar.

— Não, acho que isso serve para nós dois — digo apenas isso, pois o que acabo de escutar, me deixou sem palavras. Sem folego. Sem reação.

Caesar encerra a entrevista, e todos aplaudem, alguns estão rindo, outros chorando.

Effie vem até nós, emocionadíssima, e me abraça. Enquanto isso, Katniss vai até Haymitch, que a conduz para o corredor, e depois ela desaparece em direção ao seu quarto. Me despeço de Portia, Cinna, e ambas as equipes de preparação. Katniss volta, e seguimos para um carro, que nos levará até a estação. Adentramos o trem, que começa a se mover rapidamente. Haymitch e Effie nos acompanham mais uma vez. Ainda não consegui conversar com Katniss a sós, se bem que, eu nem sei o que eu quero saber. Só sei que tem algo a ser dito.

Na sala de jantar, há um farto banquete a nossa espera, e depois que comemos em silencio, até Effie em silencio, vamos até a sala assistir a reprise das entrevistas. Não presto atenção, porque quanto mais longe da capital ficamos, mais penso em como será daqui pra frente. Como será quando chegarmos ao distrito doze. Somos liberados para ir para os quartos, nos trocar, e Katniss sai imediatamente, antes mesmo que eu possa a acompanhar. Ando devagar, memorizando cada detalhe desse exuberante trem, mas já abominando o momento em que terei que embarcar nele novamente, quando teremos de fazer a turnê entre os distritos, e encarar os familiares daqueles que matamos. Troco de roupa, e me deito um pouco. Mas estou tão inquieto que resolvo ir até o quarto de Katniss. Chego na porta, toco a maçaneta, mas desisto. Resolvo ir para a sala, onde encontro Effie, e ficamos conversando coisas sem importância. Na verdade, não é bem uma conversa, já que apenas Effie está falando sem parar. O trem faz uma parada para reabastecer, me levanto para sair, tomar um pouco de ar, quando encontro Katniss a caminho da porta também. Ela está sem maquiagem, com calça e camisetas simples. Está tão linda quanto naqueles trajes magníficos. Me junto ela, e saímos do trem, caminhando lado a lado. Eu pego a sua mão, ela hesita por um instante. Avisto algumas flores, beirando os trilhos. Eu as colho e entrego para ela. Ela parece satisfeita, mas permanece em silencio.

— Algum problema? — pergunto.

— Nada — ela responde, inexpressiva.

Continuamos a caminhar, de mãos dadas, nesse silencio perturbante. Tento achar algum meio de começar uma conversa, mas me faltam as palavras. Estou com um pressentimento ruim. Me arrepio.

— Excelente trabalho, vocês dois. Basta manter o ritmo no distrito até que as câmeras desapareçam. A gente vai se dar bem – Haymitch, diz atrás de nós, me assustando.

Olho para ele, sem entender o contexto dessas palavras. Mas ele apenas volta para o trem, com os olhos fixos em Katniss. Como se eles soubessem de algo que eu não sei.

— O que ele quis dizer? — pergunto.

— É a Capital. Eles não gostaram da nossa armação com as amoras — Katniss solta, num tom de voz baixo.

— O quê? Do que você está falando?

— A coisa pareceu rebelde demais. Aí Haymitch tem me orientado nos últimos dias para eu não piorar tudo.

— Orientado você? Mas não a mim — digo, indignado.

— Ele sabia que você era suficientemente esperto para proceder da maneira correta.

— Eu não sabia que havia algum motivo para proceder de maneira correta — digo, chateado.

E de repente, todos os meus medos, minhas incertezas, minhas agonias, se concretizaram, com uma constatação que só eu não queria enxergar.

— Então, o que você está dizendo é que, nesses últimos dias e também eu acho que... lá na arena... aquilo não passou de uma estratégia que vocês dois bolaram? – pergunto, sem saber, se eu quero escutar a resposta.

— Não, eu nem conseguia conversar com ele na arena, não lembra? — ela insiste.

— Não. Você sabia o que ele queria que você fizesse, não sabia?

Ela morde o lábio. E seus olhos revelam a verdade.

— Katniss?

Nenhuma resposta. Solto sua mão, percebendo como fui tolo.

— As suas atitudes foram todas em função dos Jogos — digo, entendendo que nunca foi real.

— Nem todas — ela retruca.

— Então quais foram e quais não foram? Não, não. Esquece isso. Aposto que a verdadeira questão é o que vai sobrar quando a gente chegar em casa.

— Não sei. Quanto mais a gente se aproxima do Distrito 12, mais confusa eu fico.

Eu espero que ela diga mais alguma coisa. Que ela diga que realmente gosta de mim, que as coisas vão continuar assim entre a gente, mas nada acontece. Tudo acaba de se revelar, como um soco arrebatador.

— Bem, me avisa quando você tiver alguma resposta — digo, tentando conter o embargo da minha voz.

Ando de volta para o trem, sem saber como deixei me levar por essa mentira. Mas, parecia tão real. Lembranças, de todos os nossos beijos, tudo o que foi dito, invadem minha mente, e dói demais saber que isso nunca vai se repetir. Que serão sempre lembranças. Não sei o que é mais difícil aguentar, saber que fui enganado, mesmo que isso tenha me mantido vivo, e feliz quando não havia mais esperanças, ou virar as costas para Katniss, sair definitivamente de sua vida, e ela nem se dar ao trabalho de tentar me impedir.


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