Diário do Silêncio escrita por Vaalas


Capítulo 9
Achei Que Aconteceria Algo Que Não Aconteceu


Notas iniciais do capítulo

Mil e uma desculpas pela minha demora de 10 dias. Estava com um sentimento estranho que notei ser medo de terminar com um fim não-digno.
De todo modo, o fim já tava escrito, não vou mudá-lo :D
Um grande super hiper mega ultra power agradecimento à Alexandria Manson, que, cara, recomendou a história durante minha ausência. Garota, muito obrigada, espero não desapontá-la.
Boa leitura.



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O vocabulário do amor é restrito e repetitivo, porque a sua melhor expressão é o silêncio. Mas é deste silêncio que nasce todo o vocabulário do mundo.” — Vergílio Ferreira

— Por quê? — Perguntei, me sentando na mesa e já me preparando para usar você (diário) na próxima resposta, cujas palavras não saberia pronunciar.

“Porque sim” Cassie sorriu e se sentou ao meu lado, assoprando o café fumegante de sua xícara. “Tinha coisas a tratar com você ainda e amanhã será sábado, ou seja, só iria vê-lo na segunda. Dois dias é muito.”

Preparei a caneta e o papel, escrevendo rápido.

“E o que seria esse assunto tão importante?”

Após ler, ela se virou para mim. Não só o rosto, mas todo o tronco, de modo que ficasse com uma perna sobre o banco e outra no chão. Fiz o mesmo, me preparando para ler as palavras que sairiam de seus lábios.

“Preciso que você preste bastante atenção no que vou dizer. Vou tentar falar devagar, mas você sabe como sou, então se não entender algo, diga, tudo bem?” Assenti, começando a ficar com medo do que ela falaria. Quando as pessoas falavam daquele modo geralmente carregavam uma notícia ruim, nada muito agradável, como a morte de algum parente que, mesmo que fosse uma de suas tias chatas, não era legal ouvir. Engoli em seco e deixei-a continuar, “Pois bem, quero que saiba que demorei muito para pôr meus pensamentos em ordem, assim como tive que esperar um mês para concluí-los e até mesmo aceitá-los, porque no caso, sou eu quem devo criar o meio, para que você ponha um fim.”

Ela parou, me olhou, bebericou o café, mordeu um dos cookies no prato, e virou-se para mim novamente. Fiquei sem saber o que fazer enquanto ela dava essa pausa, então apenas assisti, quieto. Não era como se eu pudesse fazer algo, e tenho certeza que a frase “Você não faz ideia” não caberia ali. Tentei procurar alguma frase que conhecesse, mas acabei não achando nenhuma.

Quando percebi, ela já falava.

“[...] depois de pôr os pensamentos em ordem, tive que pôr as palavras, e apesar de ser excelente em falar mais que o necessário, não sou muito boa em palavras que coubessem com o que eu queria dizer ou que ao menos mostrassem todos os meus sentimentos e pensamentos [...]”

Sentimentos... Pensamentos... Palavras certas? Não, pera, o quê? Como? Cassie está se declarando para mim? Como? O quê?

Ela não podia, podia?! Digo, hã? A garota ali na minha frente, que me beijou um mês atrás e falou para sermos amigos não podia estar... Se declarando, digo, isso não vai contra as regras do regulamento de amizade?!

Não é como se eu não quisesse a Cassie como namorada, digo, eu não posso ter uma namorada! Não porque eu seja surdo, porque até mesmo minha auto piedade tem limites, mas sim por razões normais de um adolescente normal que faz coisas normais e tem revistas pornográficas embaixo do colchão! Sim, eu tenho algumas, mas isso não é o ponto! Quieto, diário maldito! Você não falou nada, mas quieto! Isso aqui é importante demais, por que Cassie, a garota de cabelo bagunçado e olhos castanhos bonitos está apaixonada por mim?! Eu, Elliot! O cara que coleciona figurinhas de jogadores de baseball, que quebra biscoito dentro do iogurte até virar papa, que odeia leite frio, que faz mães de escravas quando doente! Elliot que, sei lá, tem problemas sérios com folhas comestíveis?

Isso. Não, tipo. Ahhhhhhhh Cassie gosta de mim.

Isso me deixa... Feliz (?)

“Hey, babaca, está acompanhando?” Pisquei. Uma, duas, três vezes até lembrar que ainda estava na cafeteria com Cassie e que ela ainda falava de coisas que, eu, Elliot, não sabia se queria ouvir (ou ler, no caso). “Sinto que não, então vou encurtar a história. Elliot, eu finalmente consegui pôr em palavras o que eu [...]”

Saltei do banco ao ver que a mão dela ia até o bolso da calça. Acho que minhas mãos suavam no momento e se pudesse teria ruído as unhas.

— Espera! — Só sabia falar isso, então disse, um pouco alto demais.

“[...] acho sobre o silêncio.” Ergueu a sobrancelha curiosa, levantando um envelope branco na mão. “O que foi?”

Acho que naquele momento travei. Não sei se de vergonha, por ter achado que o que aconteceria seria algo que não aconteceu (?), ou de decepção, pois mesmo que eu, naquele momento exato estivesse eufórico com a ideia de desriscar da lista da vida o item “paixonite adolescente por causa de hormônios”, no fundo no fundo estava querendo. Acho que posso dizer isso aqui, é para isso que serve um diário, não? E embora a vontade de mentir seja gigantesca, preciso de algum lugar para que possa deixar o silêncio de lado. Sim, eu queria que Cassie estivesse apaixonada por mim! Posso ir morrer agora por causa disso!

Peguei o caderno em cima da mesa e tentei disfarçar o indisfarçável vermelho. Acho que já havia ficado claro que eu não era um galã de novela mexicana, porque, incrivelmente, ficava corado mais do que Cassie na história. Ela era o cara da inexistente relação!

“Nada. Continue.” Escrevi.

Desconfiada, ela prosseguiu.

“Quero que leia só quando chegar em casa. Bem, passei algum tempo tentando pôr minha resposta em poucas palavras, e mesmo não ficando como queria, espero que possa, de alguma forma, lhe agradar. Você parecia bem ansioso por ela quando perguntou.” Esticou o envelope para mim, e naquela vez, ficou corada. “Por que sinto que você esperava que eu dissesse outra coisa?”

Ri seco e sem graça, pegando o envelope e o segurando nos dedos, pra logo depois escrever uma resposta.

“Haha, sabe como é. Por um momento achei que você estivesse... Hm... Se declarando para mim, seria um tanto constrangedor :D” Sim, eu desenhei uma carinha feliz no fim para tirar a tensão do momento. Patético, mas eu sou patético e o mundo inteiro sabe disso.

Elliot, o patético.

Cassie, após ler, arregalou os olhos. Esperava que ela fosse gargalhar e rir da minha cara, mas ela arregalou e os olhos e ficou muito, mas muito vermelha.

“Elliot, devolva esse envelope para mim”

Senti que li errado o que ela disse, mas por garantia, agarrei o envelope contra meu peito.

— O quê? Por quê?

“Apenas me devolva essa droga. Eu [...] outra resposta, essa está ruim.” Seus lábios estavam tremendo e quase não consegui ler as últimas palavras. “Me dá logo isso!”

Amassei o envelope o empurrei mochila abaixo. Não fazia ideia do que tinha acontecido com ela, mas percebi que estava encrencado por algum motivo quando ela pulou em cima de mim. Será que ela tinha ficado com raiva ao ponto de querer me privar de sua resposta?

Quando uma Cassie maluca avançou contra mim, pulei do banco, agarrei você, diário, e me encontrei correndo porta afora em direção à rua. Algumas pessoas da cafeteria nos encararam de modo estranho, e Cassie não demorou muito a correr atrás de mim também.

Lembra quando eu disse que a vida real era sem emoção porque não tinha demônios, monstros, viagens no tempo e afins?

Bem, retiro o que disse. A vida real terá emoção quando você está fora de forma com uma louca psicótica correndo atrás de você e querendo tomar de suas mãos a resposta mais importante da sua vida.


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