As Crônicas de um Amor escrita por MitilTenten


Capítulo 1
Sakura despetalada




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Ela estava sentada no banco daquele trem enquanto olhava pela janela. A paisagem era apenas um borrão verde, mas ela não se importava mais. Não se importava se a paisagem estava distorcida, pois com certeza não estava pior que a sua vida.

Tudo o que queria era ir embora para longe daquela cidade. Não tinha mais família, não tinha mais amigos e foi abandonada grávida pelo homem que mais amou em toda sua vida. Só restava ir para longe, muito longe daquele lugar. Ainda se lembrava com o coração partido a última conversa que tivera com seu ex- namorado antes de ir embora.

Uma garota sentada na cama chorava. Seus longos cabelos rosa tapavam seu rosto. Os olhos grandes e verdes agora estavam inchados e avermelhados por causa do choro. Sua tez alva agora estava mais branca por causa da palidez causada pelo medo e desespero. Sakura havia perdido sua beleza aquele dia. Estava desfigurada. Mesmo tendo apenas vinte anos a rosada sofria muito.

— Você não pode fazer isso comigo, Sasuke! – disse.

Estava dentro do quarto de um estudante que frequentava a mesma universidade que a ela. Sentada na cama, Sakura olhava a sua frente um rapaz alto e forte. Seus olhos negros estavam cravados nela. Balançava negativamente sua cabeça. Aquilo só podia ser mentira. Passou a mão nos cabelos negros e sorriu sarcasticamente.

— Escuta aqui sua desgraçada, esse filho que você está esperando com certeza não é meu. Deve ser de um cara qualquer com quem você dormiu. Agora vem dizer que é meu. Ahh... Até parece – respondeu o rapaz com desprezo na voz.

— Sasuke não fala assim comigo. Nunca dormi com outro homem. Você sabe disso. - o desespero era visível nos olhos da garota.

— Como eu vou saber? – falou dando ombros - Você sabe quantas garotas tentam me passar esse golpe? Você é só mais uma. Eu não vou assumir criança nenhuma, mesmo porque eu acho que nem tem filho nenhum na história.

Sakura percebeu no tom de voz do garoto a convicção ao afirmar aquilo. Depois de saber da gravidez, Sasuke passou a tratá-la como uma vagabunda.

— Eu não estou dando golpe nenhum em você. E eu estou realmente esperando um filho seu. – disse olhando com firmeza para o moreno.

— Você só quer saber do dinheiro da minha família. Posso garantir que você não está grávida coisa nenhuma. – andou até a rosada - Você é uma golpista.

Golpista? De ‘amor da minha vida’ ela passou a golpista. Sakura o olhava chocada. Ela não era nenhuma golpista. Nunca fora. Ele não podia dizer isso dela. Decidida a provar que estava mesmo grávida Sakura vai até a bolsa e pega um papel contendo os resultados do exame de sangue que fizera dois dias antes e que pegara naquela manhã.

— Aqui. Olhe e veja com seus próprios olhos.- disse estendendo os papéis para que ele visse o resultado.

Sasuke meio desconfiado pega o papel e vê o resultado positivo para gravidez. Seu rosto se contrai quando vê o resultado positivo, mas logo se recompõe e volta-se para a rosada com um sorriso irônico estampado nos lábios.

— Mas isso não garante que EU seja o pai. – responde com o sorriso nos lábios

— Mas... Por favor, Sasuke...

— CHEGA DESSA PALHAÇADA. – gritou furioso. - Se esse filho for meu você vai abortar, entendeu? Não vou ser pai agora.

Sasuke se dirige até um criado-mudo, deixando a moça atrás de si completamente perplexa, tira a carteira e pega uma quantia considerável para entregar à Sakura. Anda na direção da rosada, que estava sentada em sua cama, e estende o maço de dinheiro à garota.

— Pega esse dinheiro e procure uma clínica qualquer e tire essa criança. - disse simplesmente.

Sakura olhava para moreno com os olhos completamente arregalados. Ela não estava acreditando que ele dera dinheiro para abortar. Quanto mais olhava para ele mais ela tinha certeza que ele estava falando sério. Sentiu seu sangue ferver, seu rosto esquentar. Automaticamente cerrou os punhos. Levantou-se rapidamente e falou:

— EU NÃO VOU TIRAR ESSA CRIANÇA, ENTENDEU? EU NÃO VOU MATAR MEU PRÓRPIO FILHO, SEU CACHORRO. - Estava descontrolada. – Como você pode me falar uma coisa dessas? Matar uma criança que nem nasceu é covardia. - disse enquanto jogava o dinheiro na cara de Sasuke. – Eu não vou fazer uma coisa dessas. Eu não vou abortar. Não mesmo, entendeu?

— Faça como quiser. Mas eu não vou assumir criança nenhuma entendeu. Mas fique com esse dinheiro. Assim você não dirá que eu não fiz nada pelo nosso “filho". – Disse isso no ouvido de Sakura, enquanto enfiava o dinheiro na bolsa dela. – Agora vai embora daqui. Não quero mais ver você. Vai. Suma da minha frente.

— Você é um monstro, Sasuke. Um monstro. - Disse enquanto abria a porta do dormitório do garoto e ia embora. 

— E você uma golpista mau-caráter. – respondeu assim que a rosada fechou a porta.

Sakura, porém, escutou o comentário. Decidiu ir embora assim mesmo. Não tinha mais forças para revidar. Não tinha mais forças para se defender. Estava sem chão. Queria ter lutado. Entrado na justiça e feito Sasuke assumir seu filho. Queria mostrar a ele que não era uma golpista. Tão pouco uma fraca que aceita a vida que tem. Mas acabou por desistir por falta de força.

Sakura pensou muito na possibilidade de interromper a gravidez. Chegou a ir a um hospital e preencher o cadastro para fazer o procedimento. Também marcou a data da intervenção, mas, quando chegava ao hospital para a cirurgia deu meia volta e foi embora. Não teve coragem de tirar seu bebê. Lembrou-se dos pais. Eles sempre a ensinaram a respeitar uma vida, seja ela qual fosse. Por isso, foi até a coordenação da universidade e pediu seu desligamento da instituição. Não podia pagar seus estudos e criar uma criança. O dinheiro não dava e ela também não teria tempo para se dedicar ao filho. Optou, então por abrir mão do seu maior sonho.

Ela ainda pensava no ocorrido. Como Sasuke podia duvidar de sua fidelidade? De sua dignidade? De seu caráter? Teve que largar a faculdade de medicina por conta disso. Estudara e se esforçara tanto para entrar em uma das mais conceituadas universidades do Japão, com fama nacional por conta do curso de medicina. Lembrava-se do quanto trabalhou para poder juntar dinheiro para estudar, mesmo seus pais deixando uma pequena quantia antes de morrerem. Sua frustração só aumentou ao pensar nas suas amizades. Nem suas amigas, ou deveria dizer falsas amigas, quiseram ficar do seu lado. Nem mesmo Hikari, que julgava ser sua melhor amiga, ficou do seu lado. Pelo contrário. Assim que soube que Sasuke a dispensara, ela correu para braços do moreno. Por isso ela estava ali. Saindo de Tóquio indo em direção a Kyoto.

Seu romance com o homem mais desejado da faculdade tivera um desfecho horrível. Seu coração estava partido e não tinha ninguém para se consolar. Todos os seus sonhos se transformaram em fumaça. E para piorar tinha um bebê que nasceria dentro de alguns meses. Um ser que seria totalmente dependente dela. E ela nem sabia como segurar uma criança recém-nascida.

Tinha saído da pequena cidade Nara, mais precisamente da casa de sua tia para estudar medicina em Tóquio. Sabia que ela não a aceitaria de volta. Haruno Naoko era uma senhora tradicionalista, que gostava das coisas feitas segundo a moral e os bons costumes. Jamais permitiria que Sakura voltasse a viver com ela estando com um bebê nos braços e sem estar casada com o pai da criança.

Então resolveu pegar o maldito dinheiro que Sasuke lhe dera e se aventurar por Kyoto. Não conhecia a cidade, mais ouvira falar que Kyoto era uma das mais tradicionais cidades do Japão. Também sabia que ali tinha uma boa universidade e até boas oportunidades para trabalhar em uma das indústrias da cidade. Tentaria algo, afinal não podia pedir ajuda ao governo uma vez que não pagava impostos por ser estudante. Não tinha ideia de como começar a se virar, ainda mais sabendo do preconceito em relação a mães solteiras em seu país.

Arranjaria um emprego e seguiria em frente. Ouvira falar que Kyoto era uma ótima cidade para se arranjar um emprego. As indústrias com certeza precisavam de mão-de-obra para funcionar. Alguma oportunidade deveria aparecer. Quem sabe mais tarde poderia voltar a estudar. Quem sabe encontrar um novo amor. Uma nova vida.

Sem perceber Sakura já estava sonhando. Já fazia planos. Ficou admirada consigo mesma. Sempre fora determinada e sabia que podia se levantar depois de levar um tombo como esse. Sua mãe sempre lhe dissera que era forte. Agora a rosada via que poderia usar de sua determinação para conseguir o que queria. Não desistiria. Não desta vez. Não cometeria mais o erro de desistir.

Escutou a apito do trem anunciado que tinha chegado ao seu destino. Seguiu para a saída e desceu da plataforma e olhou ao seu redor as pessoas que iam e vinham. Algumas recebiam parentes, outras se despediam. Observou em poucos minutos o cotidiano do local. Não tinha ninguém a esperando, ou assim pensava. Pegou sua pequena mala e tratou de sair da estação em busca de algum lugar para ficar. Sabia que a partir de agora era apenas ela e seu filho. Por fim saiu da estação sem olhara para trás. A partir de agora começaria tudo do zero.

Após o desembarque na estação, Sakura andava pelas ruas calmas da cidade. Tinha um papel na mão que continha o endereço de um apartamento para alugar. A estação era um lugar agitado, mas conseguira algumas informações de prédios com apartamentos para locar.

 As folhas adornavam o chão. As árvores já não estavam vigorosas como na primavera. As marcas do outono estavam impressas nas folhas caídas no chão. Passou a mão em seu ventre. Seu bebê chegaria no verão, na época do grande festival do Gion  Matsuri. Enquanto acariciava a barriga, viu uma bola colorida parar aos seus pés. Abaixou-se e pegou o brinquedo e esperou que o dono viesse buscá-lo. Em menos de um minuto uma menina de cabelos roxos apareceu na sua frente e apontou para a bola. Com um sorriso Sakura devolveu o objeto para a criança que logo saiu saltitando com o brinquedo nas mãos.

Havia observado a estação da cidade antes de sair de lá. Estava enfeitada, assim como toda cidade, para algum festival que ocorreria dentro de alguns dias. Com certeza seria um grande festival. Sentiu sua barriga reclamar. Estava com fome. Apertou o passo e viu uma barraquinha que vendia lámen. Comeria e depois continuaria a procura o apartamento.

Um motivo para seguir em frente

Na estação as pessoas exerciam o direito de ir e vir. Ele preferia ficar sentado. Esperava que o trem que o levaria de Tanbaguchi, sua cidade natal, para Kyoto chegasse logo, mesmo porque já não agüentava mais os olhares tortos que as pessoas ali lhe dirigiam. Tinha cabelos compridos e cor de café, que contrastavam com seus olhos perolados. O seu semblante era sério, mas no momento demonstrava nervosismo. E tudo por causa de uma mísera bolsa rosa com detalhes em flores que segurava. É claro que as pessoas costumam pensar besteiras diante de uma cena como aquela. Não era para menos. Além da bolsa ainda segurava uma boneca de vestido vermelho e tranças cor de rosa. Era no mínimo estranho. Olhou o relógio.

— “Onde diabos eles foram? Está quase na hora do trem chegar.” – pensou.

Sentia-se desconfortável naquela situação. Hyuuga Neji não era o tipo de homem que sairia por aí com aqueles objetos sem um, não bom, mas excelente motivo. Este motivo é que o deixava nervoso com a demora.

— “Eles disseram que iriam apenas comprar balas, mas até agora nada.”.

Decidiu ler um livro para passar o tempo. Abriu sua maleta prata e retirou um tratado sobre medicina. Não chegou a ler uma página quando ouviu o som da risada espalhafatosa do marido de sua prima. Virou-se e viu três figuras se aproximarem.

— Onde vocês foram? – perguntou sem esconder sua preocupação.

— Acalme-se nii-san. Nós não encontramos a barraquinha de doces aberta. Então decidimos procurar uma.

— Não fique brabo com a gente cunhado. – pediu o marido de Hinata com um enorme sorriso no rosto.

Naruto não era um tipo convencional. Pelo contrário. Com seu jeito moleque de ser, logo conquistou o coração de Hinata. Alto e loiro, Naruto também possuía um forte brilho determinado em seus olhos azuis. Tinha algumas marcas de nascença em suas bochechas que lembravam os bigodes de uma raposa.  Ele também não era o tipo que desistia facilmente. Enfrentou Hiashi para ficar com a filha mais velha dele. Suportou um ano longe dela quando Hinata foi mandada para um colégio interno a mando de seu pai, para que se afastasse de Naruto. Ainda assim o loiro hiperativo não desistiu de sua amada.

Por fim, vencido pelo cansaço, Hiashi permitiu que eles ficassem juntos, mesmo sabendo que Naruto não pertencia a uma família rica como os Hyuugas. Para poder dar um futuro decente para sua esposa, Naruto se formou no curso de engenharia civil. Empregou-se com uma famosa construtora da qual  atualmente é sócio. Tudo isso por causa de Hinata. Todo o esforço que ele fez para ficar com ela só a fez se apaixonar mais ainda por ele.

— Não vamos criar caso por causa de algumas balas. – falou Hinata encerrando o assunto.

Hinata tinha uma criança em seus braços. Uma garotinha de aproximadamente três anos. Ela segurava um pacote de balas e já tinha uma na boca. Ela logo estendeu os braços na direção de Neji. Ele sem hesitar a pegou.

— Então Mathilda? Estão boas as balas?

— Sim.

— Então me dá uma?

A garotinha pegou uma bola e colocou na boca de Neji, que agradeceu dando um beijo na testa da menina. Os únicos momentos em que ele não era o sisudo Neji, eram quando estava com sua filha. A garotinha tinha os cabelos cor de chocolate presos em dois coques, enquanto sua franja caía acima de seus olhos. Estes denunciavam que Mathilda era uma Hyuuga. Porém a personalidade era de sua mãe.

Por fim o trem que levaria Neji e Mathilda de volta a Kyoto chegou. Ele ajeitou a menina em seus braços. Pegou suas coisas e foi se despedir de seus primos.

— Tchau, Hinata. Cuide-se. – assim que falou deu um beijo na testa da prima.

— Tchau, nii-san. Você também se cuida e cuide da Mathilda. – respondeu a morena. – Segunda-feira nós voltamos para Kyoto, tá bom.

— Tudo bem. – respondeu Neji.

— Você também se cuida, Naruto. – falou apertando a mão do loiro.

— Claro. Tchau, mocinha. – despediu-se o loiro acariciando os cabelos da garotinha.

— Tau. – respondeu.

— Tchau, querida. Cuida do papai, tá bem?

— Tá. – recebeu um beijo carinhoso de Hinata.

Após se despedirem, Neji rumou para a plataforma 12, onde embarcou. Já no veículo, procurou um lugar confortável. Sabia que Mathilda ia dormir logo. Ela sempre dormia em viagens. Após o feriado na casa dos pais tinha que voltar para casa e para o trabalho. Era médico no Hospital Geral de Konoha, tinha um chefe muito chato e implicante. Danzou era o pior tipo de chefe que se podia ter. Não gostava nem um pouco de Neji.

Porém decidira se dedicar a medicina por causa de um acontecimento em sua família que o marcou profundamente.

Mais um dia cansativo na escola. Era bom chegar a casa, na verdade na mansão onde morava com sues pais, na pequena cidade de Tanbaguchi. Seu pai era um oficial do exercito japonês, sua mãe pintava telas. Gostava da sua família, mesmo seu pai sendo um apreciador da ordem e da disciplina.

Hizashi, pai de Neji, tinha um irmão gêmeo, Hiashi, que preferiu seguir os passos do pai e tocar os negócios da família. Ele era pai de suas primas Hinata a mais velha que costumava chamá-lo de nii-san, e Hanabi a caçula, que adorava torrar sua paciência. Não era uma família muito grande.

Naquele dia chegou em casa a tempo de ouvir a conversa de seus pais sobre contar ou não algo pra ele:

— Você tem certeza, Satsuki? Você esta certa que é isso mesmo?

— Tenho sim. Nós mulheres temos um instinto para essas coisas.

— E se for apenas um engano? Como das outras vezes. Não quero vê-la deprimida por não ter dado certo novamente.

— Hizashi, dessa vez eu tenho certeza. Há três meses que não vem nada.

— Três meses? Por que não me falou nada antes?

— Eu queria ter certeza de que não era apenas um atraso. – disse a mulher sorrindo.

— Mas então... Eu não acredito – falou Hizashi com um sorriso bobo – Isso é excelente.

— Temos que contar para o Nej.Será que ele vai aceitar bem?

— Acalme-se querida, vai dar tudo certo.

— É que eu tenho medo da reação dele. Temo que ele reaja mal à notícia. Durante muitos anos só tivemos Neji, e agora...

— Satsuki, para uma criança de sete anos Neji é bastante maduro. - Hizashi respondeu - Vai aceitar bem. Não se preocupe.

— Quando vamos contar a ele?

— Depois do jantar o chamamos para conversar, certo?

— Certo. Vou cuidar então do jantar.

Ao ver sua mãe se levantar do banquinho e seguir para dentro de casa, Neji achou por bem ir para o seu quarto e tentar assimilar a conversa que escutou. Chegou ao quarto e colocou suas coisas num canto qualquer. Jogou-se na cama e pensou: quem estava atrasado? E três meses? No que seu pai não acreditava? E por que era excelente esse atraso? Seu pai era militar. Odiava atrasos. E o que os pais deveriam contar para ele? E como assim só o tinham durante anos? E por que ele reagiria desagradavelmente? Por que reagiria mal a tal notícia? Pensava e pensava e não consegui achar nenhuma resposta para suas dúvidas. O jeito era esperar até o jantar para descobrir.

— Neji, meu filho. Não vi você chegar. – a voz de sua mãe o tirou de seus pensamentos. – Há quanto tempo está aqui? – perguntou sentando-se na beirada da cama do filho.

— Cheguei no horário normal. Vi você e o papai conversando e resolvi vir pro meu quarto.

— Está bem querido. – disse dando um beijo na testa do filho. – Lave-se e venha jantar, querido.

— Está bem mãe.

Neji olhou sua mãe se afastar. Sua mãe trajava uma sai cinza que ia da cintura até os joelhos, uma blusa de mangas ¾ branca e sapato preto de salto médio. No cabelo um coque muito bem feito preso por uma presilha prateada. Nas orelhas brincos de pérolas. Em seu peito pendia um belo crucifixo de prata argentina. Cristãos. Pelo que seu pai contava, seus tataravós se converteram ao cristianismo pouco antes do final do século XIX. Sua mãe também era de origem cristã.

— Vou por a mesa. Não se atrase, está bem?

— Sim, mãe.

Neji levantou-se da cama e foi se arrumar para o jantar. Ouviu seu pai chamar e se apressou. Sentou-se a mesa. Seu pai, sentando a ponta da mesa e sua mãe a sua direita. Neji sempre sentava a esquerda de seu pai. Sua mãe o olhou com um pequeno sorriso e juntou suas mãos para orar. Neji imitou os gestos dela juntando suas pequenas mãozinhas. Ao final do jantar seu pai o chamou para ir até a sala junto com sua mãe.

— Filho, sua mãe e eu temos uma algo para te contar.

Neji olhou confuso para sua mãe que sorriu e depois voltou sua atenção para o pai.

— O que vocês querem me contar?

— Você vai ter um irmão, meu filho, meu querido. – Satsuki responde com um sorriso nos lábios.

— Um... Irmão? – disse surpreso com a notícia.

— Sim. Daqui a alguns meses você vai conhecê-lo.

— E onde ele está?

— Aqui na barriga da mamãe.

Neji não era tão inocente de não saber de onde os bebês vinham. Ainda se lembrava de quando sua tia estava grávida de Hanabi. Soube como os bebês eram feitos através de Hinata, que lhe contou o que Katsura contou a ela.

— Entendo. E quando ele vem?

— É provável que na primavera ele chegue. – falou sua mãe.

— Hum.

— Neji, eu vou precisar muito de você quando o seu irmão nascer. Você terá algumas responsabilidades como irmão mais velho.

— Certo. – disse se sentido orgulhoso com o novo posto.

— Quando ele nascer vou precisar dar toda minha atenção ao neném, pois ele não poderá fazer nada sozinho.  Mas isso não quer dizer que nós o amaremos menos.

— Sim, mamãe. Eu sei que vocês me amam. Sei que também me amarão quando meu irmão chegar.

— Que bom que você compreende Neji. – sua mãe sorriu. – Agora vá para o seu quarto e se arrume para dormir. Depois eu vou lá te dar um beijo, tá?

— Tá.

Os meses passaram voando. A barriga de Satsuki crescia cada mês. Sua tia já dava palpites sobre o sexo da criança. Acreditava ser uma menina. Suas primas queriam mais um amiguinho. Ele não tinha preferência. Um menino ou uma menina tanto fazia para ele. O importante é que ele que cuidaria do seu irmão. Estava feliz por enfim poder ter alguém com quem partilhar sua vida.

Certo dia estava voltando da escola quando viu ao longe sua mãe entrando num carro com seu pai e indo embora. Viu na expressão dela dor. O que aconteceu? Correu até em frente a sua casa, mas não conseguiu alcançá-la. Sua tia o chamou e disse que eles haviam ido para o hospital, pois o bebê resolveu nascer. Foi para casa de seus tios e ficou lá até o outro dia.

Costumava ficar no quarto junto com suas primas menores. Acordou com Hanabi se jogando em cima da sua cama. Tratou de acalmá-la e foi para sala para perguntar de seus pais. Viu seu pai na sala conversando com seus tios. Ficou escondido atrás da parede do corredor escutando a conversa.

— E a Satsuki-chan? Como ela está?

— Ela está bem... Mas o bebê não. – Hizashi falou com a voz pesada.

— O que aconteceu com o recém-nascido? – perguntou o mais velho.

— Os médicos não sabem dizer. Acreditam que seja algum defeito no coração. Ela não consegue respirar direito, e a pele está num tom azulado.

— Cianose. – deduziu Hiashi.

— Ela? Então é uma menina? – perguntou Katsura.

— Sim. Tenho que chamar o padre para batizá-la. Ninguém acredita que sobreviverá por muito tempo.

— Como vai chamá-la?

— Chiharu!

Neji ouvia tudo. Então sua irmã nasceu. Mas já ia morrer. Sentiu um aperto no peito. Sua mãe esperara tão ansiosamente aquela criança. Ele também. Ajudou sua mãe durante a gestação toda vez que ela precisou. Ao fim de março sua mãe mal conseguia andar, então Neji sempre levava o café da manhã para ela no quarto. Mas agora entendia porque seus pais haviam saído tão depressa. De repente sentiu uma vontade de conhecer sua irmã. Foi se achegando de seu pai.

— Pai, onde está a mamãe?

— Filho você deveria estar no quarto.

— Queria ver a mamãe e minha irmã. – disse ingenuamente.

— Nós vamos levá-lo ao hospital, querido. – disse sua tia de forma mansa para acalmá-lo.

— Está bem. Vou me aprontar. – dito isso saiu do recinto.

— Você não acha que ele vai mesmo querer ver a mãe dele naquele estado, Katsura-san?

— Ele quer ver a mãe! Deixe-o vê-la. Mais cedo ou mais tarde ele vai ficar sabendo o que houve.

— Não acho que é certo...

— Hizashi-san, por favor. Ele é só uma criança. Se a irmã não vai sobreviver, deixe que ele a veja ao menos uma vez.

— Está bem. Vou levá-lo para o hospital.

Neji olhava para sua mãe com tristeza. Ela estava olhando para uma caixinha de acrílico transparente. Lá dentro estava sua pequena irmã Chiharu. Era pequena demais. Mal conseguia respirar. Estava cheia de tubos. Um médico chegou e pediu que ele saísse. Ele foi então para a sala de espera junto com seu pai. Sua mãe ainda ficou mais um tempo cuidando da filha.

— Ela nasceu com uma deficiência grave no coração. Está nova demais para ser operada. Ela não aguentaria uma cirurgia tão complexa. – explicara o médico.

Sendo assim restava apenas esperar. Ao final da manhã Hizashi levou Neji para casa. Ao final do dia veio a notícia. A pequena Chiharu não agüentou e morreu. A mãe de Neji estava inconsolável.

No dia seguinte foi realizado o funeral. Hizashi amparava sua esposa. Neji olhava o pequeno caixão com uma grande decepção. Queria muito ter convivido com sua irmã. Queria ter tido a família que sua mãe tanto sonhara em ter, mas que era impossível já que por conta dos abortos anteriores e do parto complicado, sua mãe ficou estéril.

Naquela tarde, após o enterro, Satsuki estava no quarto. Neji viu sentada na cama chorando. Decidiu entrar e consolá-la.

— Mãe não chora. – disse enquanto sentava do lado dela

— Filho...

— A Chiharu ta no céu, não tá?

— Está meu filho – respondeu ainda fungando.

— Então não chora. Kami-sama está cuidando dela.

— Filho... – abraçou Neji enquanto derramava mais lágrimas.

— Mãe! Eu já tomei a minha decisão! – disse convicto

— E qual é a sua decisão meu filho? – perguntou confusa.

— Quando eu crescer serei médico. E quando eu for médico não deixarei nenhuma criança morrer sem tentar ao máximo salvá-la. Os médicos daqui forma malvados com a Chiharu. Nenhum deles tentou realmente salvá-la.

— Eu fico feliz pela sua decisão, meu querido. Tenho certeza que será um grande médico. – respondeu sorrindo.

— Vou me esforçar para ser o melhor.

Aquele episódio o marcou profundamente. Era pequeno, mas sabia o quanto sua mãe sofreu naquela situação. Levou sua decisão até o fim e formou-se em medicina pela melhor faculdade de Kyoto. Adorava crianças e se empenhou e se concentrou somente nelas. Sabia que a elas o futuro pertencia.

Chegou a Kyoto. Já era tarde. Mathilda dormia profundamente. Teve que fazer malabarismo para poder pegar suas coisas ainda segurando sua pequena nos braços. Por fim saiu do trem e foi para a entrada da estação a fim de chamar um táxi que o levasse de volta para casa.

Já acomodado dentro do veículo, olhou para sua filha que ainda dormia. Ela era uma cópia quase perfeita de Tenten. Os mesmo coques, a cor da pele, a personalidade, o gosto por artes e chocolate. A única coisa que herdara dele eram os olhos.

Antes de chegar em casa ainda teve tempo de pensar nela.

“Tenten”.


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Notas finais do capítulo

Olá pessoas! Estou modificando um pouco esta história! Juntei o primeiro e o segundo capítulo e estou reescrevendo o restante. Quero, o mais breve possível, postar novos capítulos! Abraços, Mitil!