Surviving to Hell escrita por Alexyana


Capítulo 32
Insalváveis


Notas iniciais do capítulo

Olá, amiguinhos! Como vocês estão? Eu estou ótima. Já disse que eu AMO férias? Se não, estou dizendo agora: eu amo muito!
Graças a ela e aos comentários inspiradores do capítulo anterior, eu cheguei mais cedo. Viva!! Muito obrigada por tudo, graciosas(os).

FELIZ ANO NOVO! Espero que estejam comigo e com a Emma em 2016 também! Awn.



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— Deixem-me aqui — ordena Billy, se pronunciando pela primeira vez. Todos absorvem suas palavras em silêncio, e eu sou a primeira a protestar.

— Nem pensar! Está maluco?

Estamos na estrada há pelo menos uma hora, e nenhum de nós ousou dizer sequer uma palavra durante o trajeto. Perseu permanece calado olhando para a neve que cai lá fora lentamente, e encontro-me lançando olhares cautelosos para a espada em seu coldre de vez em quando.

Papai é o único aparentemente atento à tudo, olhando para todos os lados e de ouvidos em todos os sons. Olho para ele periodicamente, como se para checar se está tudo bem. Andrew parece uma estátua, imóvel ao seu lado. As vezes uma lágrima escorre pelo seu rosto, mas ele não produz som algum.

— Eu vou morrer de qualquer forma, e prefiro que seja lá fora, longe de vocês — o velho professor responde, olhando para as árvores ao redor da estrada. Ignoro suas palavras, focando-me na estranha levemente esbranquiçada.

— Não podemos deixar você aqui, Billy — papai diz ao homem.

— Nada me fará mudar de ideia. — Suspiro, negando-me a parar. Continuo dirigindo, até sentir uma mão em meu ombro por cima do banco.

— Por favor, filha — Billy pede, olhando em meus olhos. — É uma escolha minha.

Olho para papai, que apenas limita-se a concordar com a cabeça. Mordo o interior da minha bochecha com força, sentindo o gosto de sangue invadir meu paladar. Como posso deixar um homem, mesmo que por sua própria escolha, para trás? Para morrer sozinho?

Mesmo com tais pensamentos, conduzo o automóvel até o acostamento. Billy aparenta estar mais cansado, porém não à beira da morte. A ferida está claramente pior, mas sua espingarda permanece em suas costas quando ele desce do carro.

— Ainda sou capaz de atirar — ele diz após despedir-se de todos, batendo na arma atrás de si. Não tenho certeza se ele se refere aos infectados.

Não resisto e corro até ele, abraçando-o fortemente por alguns segundos. Billy me acolhe em seus braços, aconchegando-me por um breve momento mesmo que nunca tenhamos sido próximos. Sinto lágrimas em meus olhos ao separar-me dele, e pergunto-me quando elas pararão de vir.

— Até mais — despede-se, olhando uma última vez para nós três antes de entrar por entre as árvores.

Observo sua figura até não ser mais possível vê-la antes de decidir que já é hora de partir. Enxugo os olhos com a manga da blusa, evitando olhar nos olhos dos homens que estão comigo. Perseu vira-se de costas para nós, para o outro lado da estrada, e pergunto-me se ele também quer ir embora.

— Minha vez de dirigir — Shane comunica, já indo em direção ao banco do motorista.

— Ei, eu ainda posso fazer isso! — protesto, infeliz.

— Descanse um pouco — sugere, não abrindo espaço para argumentações. Reviro os olhos, mas aceito. Sei que no fundo não conseguiria dirigir nem mais um quilometro. Não depois de Billy.

Andrew permanece calado, com o olhar fixo em um ponto qualquer. Aproximo-me dele, tentando passar um mínimo de conforto possível.

— Eu sinto muito. — Ele me olha sem expressão e assente com a cabeça. Ele não merece isso, penso pela milionésima vez hoje.

— Precisamos encontrar um lugar para passar a noite — Shane diz quando todos entram no carro.

— Tem algum lugar por aqui?

— Vamos descobrir — papai responde, adquirindo uma velocidade bem maior do que meus 60km/h.

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Acordo sobressaltada, e demoro alguns segundos para raciocinar que havia dormido. Olho em volta e percebo que todos estão descendo do carro. Apresso-me em segui-los, pisando cambaleante no chão de cascalho. Preciso segurar na porta do carro para evitar um tombo.

— Aqui deve ser seguro — Shane diz. Noto que estamos em frente à uma casa enorme, digna de algum médico ou famoso, igual a todas as casas desse bairro nobre. — Com sorte, podemos ficar aqui alguns dias.

— Uau! Será que a Nutella já venceu? — pergunto animada, passando pelos portões de ferro que cercam a casa.

— Espero que não — Perseu murmura atrás de mim, e olho surpresa para ele. É a primeira vez que ele diz algo em horas! Viva à Nutella!

— Cuidado, crianças — papai alerta quando nos aproximamos da entrada da mansão. Sua fachada é branca com detalhes de madeira, e é com certeza um lugar que mamãe moraria. A grama ao redor já está grande demais, denunciando o descuido.

Meio que ignoro seu aviso, indo direto até a enorme porta dupla de madeira. Torço a maçaneta ansiosa, e a encontro destrancada.

— Emma!

Mas o alerta vem tarde demais. Quando vejo já estou no chão acompanhada de uma infectada. Engulo um grito ao ver seus dentes perto do meu rosto, e em um segundo ela não está mais em cima de mim. Olho ao redor desnorteada, a tempo de ver Shane enfiando um guarda-chuva na cabeça da mulher.

— Você tem que parar de ser tão inconsequente, garota! — papai ralha, jogando o guarda-chuva ensanguentado ao lado do cadáver.

Levanto-me apressadamente, limpando minha calça jeans. Olho para Shane constrangida, mas me recuso a responder algo. Ele claramente está certo, porém isso não quer dizer que eu vou concordar.

Dessa vez deixo os outros irem na frente, guardando a retaguarda com minha arma. Olho para a mulher no chão da entrada antes de fechar a porta, perguntando-me há quanto tempo ela está morta.

— Perseu, verifique se lá em cima está tudo ok. Andrew, cheque lá fora enquanto eu e Emma vistoriamos aqui em baixo — papai passa as ordens rapidamente, e cada um segue para o caminho indicado.

— Por que não posso ficar com uma área também? — pergunto injustiçada ao entramos na cozinha enorme.

— Quer mesmo que eu responda?

— Foi só um momento de animação! — tento justificar. Abro os armários e encontro-o cheios de alimentos, e imediatamente sorrio ao encontrar dois potes de Nutella.

— Que poderia ter te matado — Shane responde, indo até a lavanderia rapidamente. Ele volta para cozinha e olha para mim sério. — Você precisa aprender a se virar. Nem sempre haverá alguém para te salvar.

— Eu consigo me virar — respondo brava. Porém, no fundo sei que se não tivesse encontrado papai provavelmente já estaria morta. — Tem certeza que é seguro deixar Andrew vistoriar sozinho?

— Não, mas vamos descobrir em breve — responde. Olho-o confusa, achando graça de sua tranquilidade.

— Acho que seria uma boa ideia te ensinar umas coisas — Shane cogita depois de um tempo, voltando ao hall de entrada e indo para os quartos. Acompanho-o desatenta, olhando para a decoração impecável da casa.

— Que coisas? — questiono curiosa. Vejo um enorme quadro com um pintura abstrata pendurado na parede, e paro um momento para tentar entender. — Eu já sei como colocar um absorvente, pai.

Shane ri e balança a cabeça, como se perguntasse o que há de errado com a filha. Ainda não consegui esquecer tudo o que ele me disse naquela  barraca, porém, depois de todas as mortes de hoje, manter mágoas parece errado. 

Sorrio também, desistindo de tentar entender os rabiscos aleatórios no quadro, e entro no quarto de hospedes. Há uma cama de casal enorme, e imediatamente pulo sobre ela. Suspiro ao sentir o colchão macio abaixo de mim, e tenho vontade de ficar aqui para sempre.

— Autodefesa não seria má ideia. Duvido que você conseguiria se defender de alguém que quer te matar. — Papai entra rapidamente no banheiro ao lado do quarto, saindo logo em seguida. — Essa casa é mesmo enorme!

— Por que alguém iria querer matar essa menina adorável? — questiono, abrindo um adorável sorriso quando ele me olha.

— Pergunte isso para seu futuro assassino. — Reviro os olhos, feliz por estar tendo uma conversa decente com papai. Pensei que isso nunca mais aconteceria.

— Você ao menos sabe acender uma fogueira? — Shane continua a sessão “humilhe a Emma” enquanto avançamos para os outros quartos.

— Tenho um isqueiro — digo, mostrando o objeto prateado que estava em meu bolso. Ele arqueia uma sobrancelha interrogativa em minha direção e lembro-me que nunca mostrei a ele. — Carl me deu.

Ficamos em silêncio depois de minha resposta, e tenho vontade de me bater por ter estragado o momento.

— Então, quando começará a me ensinar em como bater nas pessoas? — pergunto, tentando acabar com o silêncio constrangedor.

— Quando quiser — ele responde, terminando de fiscalizar o último quarto. Papai me lança aquele sorriso que só damos quando mamãe não está por perto. — E não é tão simples assim, querida.

—--------------- ↜ ↝ -----------------

Pela décima vez em meia hora, estou sendo enforcada por papai. Pergunto-me se é algum tipo de vingança por ele nunca ter me batido, ou se ele só gosta de me ver sofrer.

— Você está fazendo errado, Emma — Shane diz o óbvio, me soltando da “gravata”. — Flexione as pernas e tente me dar uma rasteira.

— Falar é fácil — retruco, posicionando-me mais uma vez para tentar. Acho que é melhor simplesmente morrer.

As aulas estão sendo de grande ajuda, já que é um motivo para esquecer o que aconteceu mais cedo. Porém está claro nos olhos de todos que vai demorar um bom tempo para superarmos todas as mortes.

— Onde está Andrew? — Shane questiona, alarmado. Já está de noite, e estamos treinando há horas. Perseu está sentado no sofá, observando-me apanhar. Tenho certeza que o vi sorrindo em todas as vezes que papai me derrubava.

Ele também está em alerta, provavelmente tendo notado só agora que o padrasto sumiu. Ouço um barulho lá em cima, como algo caindo no chão, e olho para papai. Em um segundo já estamos subindo as escadas correndo, e fico feliz por ter colocado uma vela perto do corrimão. Seria desastroso cair da escada agora.

Sou a última a entrar no quarto do casal, e paro de supetão ao ver Andrew na beira da janela. Ele tem uma arma na mão, e assusto-me ao procurar minha Glock em meu coldre e não encontrar. Ele a deve ter pego quando troquei de roupa.

— Andrew, não faça isso! — Shane diz com sua voz de policial. O homem segura a arma com as mãos trêmulas, e só então noto o que ele deseja fazer. — Podemos te ajudar.

— Eu não consigo — Andrew rende-se, chorando. — Não consigo.

Então ele aponta a arma para a própria cabeça e atira.

 


Well, I've lost it all, I'm just a silhouette

A lifeless face that you'll soon forget
My eyes are damp from the words you left
Ringing in my head, when you broke my chest
Ringing in my head, when you broke my chest




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Notas finais do capítulo

Tradução:
Bem, eu perdi tudo, sou apenas uma silhueta
Um rosto sem vida que você logo esquecerá
Meus olhos estão úmidos pelas palavras que você deixou
Tocando na minha cabeça, quando você partiu meu peito
Tocando na minha cabeça, quando você partiu meu peito
(Youth — Daughter)

Devo confessar que um suicídio foi bem difícil de escrever. Fiquei bem triste. O que acharam? O que esperam a partir de agora? Sugestões, pedidos?

Três dias pro ano novo e não fiz nada pra me orgulhar. Que legal, né, gente?
Espero que vocês tenham feito.

Pergunta de hoje: Vocês teriam coragem para matar alguém?
Minha resposta: Sim. Porém, quando paro para pensar, tenho dúvidas se conseguiria mesmo.


beijos