Surviving to Hell escrita por Alexyana


Capítulo 26
Eu sou Emma


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Feliz dia da independência! Como estão?
Aqui ta uma chuvinha tão gostosa.. Isso foi um dos motivos-inspiração pra esse capítulo, junto com a linda recomendação da Vicky (OBRIGAAAAAADA, SÉRIO! ♥) e pelo carinho da leitora maravilhosa, Kaya Levesque ♥.
Aliás, todas as leitoras e leitores são maravilhosos! Tenho muita sorte. Peço desculpas pela demora, e mais uma vez: obrigada por tudo!



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Encaro o garoto em minha frente, ainda agachada na posição em que entrei. Sinto um arrepio descer a minha espinha quando seus olhos me focam. Eles são tão escuros, talvez até mesmo pretos; mas não é isso que me assusta. É algo dentro deles.

Ele arqueia uma sobrancelha, com uma expressão quase de desprezo. Isso me desconcerta, não é uma reação que estava esperando. Começo a refletir se foi uma boa ideia subir aquela escada.

Reluto um pouco ao ficar em pé, notando que o teto de madeira é muitos palmos mais alto que eu. Igual ao garoto todo vestido de preto em minha frente, que é quase da altura do teto. Vejo que ele não tem nenhuma arma nas mãos, e isso é estranho. Aparento ser tão inofensiva assim?

Reparo que o pequeno cômodo é de madeira por dentro também, e todas as janelas estão fechadas, limitando a luz à entrada onde estou parada.

O garoto da um passo em minha direção, e encolho-me, tentando me afastar e sentindo o nada atrás de mim. Ele não para, diminuindo a distância entre nós a nada. Porém, ao contrário do que eu esperava, ele apenas se agacha ao meu lado, puxando a escada para cima.

Não relaxo, e começo a sentir que devia falar algo. Porém ele não parece nem um pouco a fim de conversar, e não sei se quero deixá-lo insatisfeito.

Qual é, Emma! Ele é só alguns anos mais velho que você, digo a mim mesma, porém isso não faz com que eu me sinta mais a vontade.

— Hum, obrigada por me salvar — agradeço contrariando meu outro eu, forçando minha voz a sair mais alto que um sussurro. O garoto não demonstra nenhuma reação.

— Qual seu nome? — tento novamente após algum tempo. Ele sequer olha para mim, focando-se em enrolar a escada antes de colocá-la ao lado da porta. — Eu sou Emma.

Fico zangada por ser ignorada, e tenho certeza que ele notou, porque consegui visualizar a sombra de um sorriso em seu rosto quando ele sentou-se no chão do outro lado do cômodo. Ou talvez eu esteja ficando paranoica com esse ser humano estranho. Também visualizei um coldre diferente em seu quadril, longo demais para ser uma arma; não consegui pensar em nada daquele tamanho.

Bufo, resistindo à tentação de sentar-me no chão. Fico impaciente depois de alguns minutos, não tendo nenhuma reação por parte do garoto, que aparenta estar dormindo. Só aparenta, porque sempre que faço um movimento diferente, sinto seus olhos em mim.

— Você é a garota da foto — assusto-me ao ouvir isso após tanto tempo de silêncio, e demoro alguns segundos para notar que foi ele que falou isso. Não há nenhuma emoção em sua voz, apenas uma constatação, como “Vai chover”.

— Como disse? — questiono, não confiando o suficiente em meus ouvidos. O garoto-sem-nome me lança aquele olhar de desprezo de novo, como se eu fosse o ser mais inferior da face da Terra.

Ele puxa uma mochila, que até então não havia notado ao lado do colchonete no canto do cômodo. Arregalo os olhos quando noto que é a minha mochila. O garoto tira do pequeno bolso exterior um maço de papéis, e já sei o que ele vai mostrar antes dele fazê-lo.

Avanço rapidamente em sua direção, não me importando com o olhar duro que ele me lançou por me aproximar tanto. Paro a uma pequena distância dele, que está em total estado de alerta no chão. Agarro as fotos, que agora estão um pouco amassadas depois de tantos meses.

— Como encontrou isso? — pergunto, olhando a figura de mamãe ao lado de uma Emma criança. Sinto meu coração doer, mas felizmente nenhuma lágrima vem.

Ele dá de ombros, sem me responder. Levanto os olhos das fotos, focando em seu rosto. Noto que ele é extremamente pálido, apesar de toda a sujeira que cobre sua pele, e que seus traços são simétricos e bonitos.

— Você viu outros humanos? — questiono, controlando a esperança em minha voz.

Seus olhos escuros me encaram por algum tempo antes dele negar, e não tenho certeza se posso confiar em sua resposta.

— Posso pegar? — sussurro, olhando a mochila. Ele dá de ombros novamente, e apresso-me em pegá-la para voltar ao lado oposto do cômodo, sentando-me perto da parede.

Abro a mochila, a minha primeira, e vejo que os suprimentos não estão mais aqui. Porém ainda há algumas roupas minhas — não todas —, junto com meu taco. Sorrio ao vê-lo, e tenho consciência que o garoto está me encarando, contudo não me importo.

Ouço o barulho dos mortos abaixo de nós, e só então me lembro deles. Há quanto tempo estou aqui? Vinte minutos? Não tenho certeza. Provavelmente terei que ficar aqui por mais um bom tempo.

Encaro a foto de papai ao lado de Rick, e pergunto-me se ele está bem. Será que Rick está vivo? Acho que sim. Provavelmente acha que estou morta, igual ao Shane.

Depois de algum tempo mexendo em minhas coisas, sinto o cansaço me atingir. Não penso muito antes de deitar no chão, ajeitando-me da maneira mais confortável que a superfície dura permite. O garoto-sem-nome continua na mesma posição de antes, e duvido que irá dormir. O dia ainda está claro, mas não sei quantas horas faltam para o anoitecer.

As lembranças do dia também preenchem meus pensamentos, deixando-me mais cansada ainda. A tristeza e a decepção me atingem fortemente agora que a adrenalina extinguiu-se totalmente do meu sistema, deixando meu senso de perigoso quase inexistente. Sinto as lágrimas descerem livremente pela minha bochecha, caindo no chão de madeira.

Seja forte, Emma, ouço a voz de mamãe em minha cabeça, e sei que é apenas um reflexo do sono. O mundo ainda vale a pena.

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Acordo com a luz do sol batendo meu rosto, deixando minhas pálpebras avermelhadas. Demoro alguns segundos para me localizar, e noto que dormi a noite inteira, já que agora é de manhã.

— Pensei que tinha morrido — diz uma voz baixa em algum lugar ao meu redor. Forço-me a erguer meu corpo até ficar sentada, piscando os olhos vorazmente. Fico insatisfeita com a dor que sinto quando a luz solar bate diretamente nos meus olhos sensíveis.

O garoto-sem-nome ainda está sentado, porém agora perto da porta. Ele segura um enlatado em uma das mãos e uma colher em outra. Meu estômago ronca com a visão, e reparo que não como nada há muito tempo. Seus olhos tem um brilho sarcástico, e chego à conclusão que ele é uma pessoa estranha.

Lembro-me de ter colocado algumas coisas comestíveis dentro da minha mochila, e corro para pegá-la. Vasculho dentro dela, visualizando os xampus e os remédios, finalmente pegando a lata encardida. Abro-a com o pequeno abridor, enfiando a gororoba garganta abaixo com a colher sem nem sentir o sabor.

Termino e recoloco a embalagem no chão, limpando a boca com as costas da mão.

— Tenho que ir — murmuro debilmente, levantando-me. Sinto seu olhar sobre mim enquanto coloco meus pertences em uma só mochila e caminho em direção à porta.

—Aonde vai? — sua voz me assusta novamente, provavelmente por ser tão grave e baixa. Confesso que não esperava que ele fosse me responder.

— Encontrar meu pai — respondo, desviando o olhar para a árvore onde a casa está alojada. Ela é maior que as outras, e percebo que suas folhas cobrem quase totalmente a construção. O motivo de não ter reparado no abrigo antes.

O garoto se levanta, pegando sua mochila no canto e caminhando até o lugar onde estou.

— E você? — pergunto franzindo as sobrancelhas, atônita.

— Para casa. — Fico ainda mais confusa, perguntando-me se há outros humanos. Têm tantas coisas aqui, porque não é sua moradia?

Olho mais uma vez ao redor, e noto que não há tantas coisas assim. Provavelmente está tudo dentro da mochila dele, apenas o colchonete e algumas caixas continuam no chão de madeira.

Ele joga a escada, e indica para eu descer. Obedeço, agindo o mais rápido possível, pousando no chão cheio de folhas em estado de alerta. Não vejo nenhum infectado, mas mesmo assim não relaxo a mão do coldre onde minha faca está.

Ao contrário do que esperava, ele não desce. Apenas recolhe a escada, e quando penso que lá é mesmo a casa dele, sua figura esguia e escura surge pela porta. Arregalo os olhos, pensando que ele é algum suicida, porém ele apenas agarra a árvore e se iça pelos galhos facilmente, pousando ao meu lado como um gato.

— Qual a direção? — questiona. Ainda o encaro abismada, mas forço-me a controlar minhas reações. Indico a direção da casa de Vovó com a mão, não confiando em mim e no meu senso de direção ridículo.

— Lá está infestado.

— Mas meu pai me mandou encontrá-lo lá — digo, infeliz por ele ter me dado essa informação.

— Se ele foi mesmo pra lá, está morto.

Sinto meus lábios tremerem, não sei se por medo ou de raiva por esse menino ser tão rude. Seus olhos escuros olham os meus agora, e não parecem nem um pouco arrependidos. Ele suspira insatisfeito, como se estivesse lidando com uma criancinha mimada.

Antes que possa dizer alguma coisa, gemidos nos interrompem. Ele me empurra, me obrigando a esconder-me atrás da árvore mais próxima. Novamente arregalo os olhos, dessa vez por ele ser tão rápido.

Três infectados surgem no meu campo de visão, vindo da mesma direção de ontem. Esperamos eles passarem em silêncio, minha respiração irregular pelo medo.

— Não é seguro aqui — constata após estarmos sozinhos novamente.

— Eu prec... — começo, porém ele me interrompe.

—Você quer morrer, Emma? — pergunta calmamente, surpreendendo-me com seu tom inadequado para as palavras ditas. E também por se lembrar do meu nome.

— N-não — gaguejo em um sussurro, perguntando-me aonde foi parar minha coragem.

Apesar de tudo que soube de Shane ontem, do que é capaz de fazer, ele ainda é meu pai. A pessoa que eu procurei por tanto tempo no inicio de tudo isso, e tive a sorte de reencontrar. Eu quero achá-lo.

Por outro lado, nunca sobreviveria até chegar à casa de vovó com pouca comida e sem uma arma. Principalmente depois de saber que lá está infectado. Papai não seguiria para lá, ele não é suicida.

— Hoje é dia de busca do grupo, talvez tenham encontrado seu pai. — Demoro alguns segundos para entender que está falando do seu grupo.

— Certo — concordo dessa vez sem gaguejar. O garoto não me olha, apenas começa a caminhar para a direção que papai seguiu. Espero que não seja um caminho tão longo.


Don't ask me when, but ask me why

Dont ask me how, but ask me where
There is a road. There is a way
There is a place. There is a place


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Notas finais do capítulo

Tradução:
Não pergunte quando, pergunte por quê
Não pergunte como, mas me pergunte onde
Há uma estrada, há um caminho
Há um lugar, há um lugar.
(I Know Places — Lykke Li)

O que acharam do novo personagem? Será que esse lugar que ele está levando a Emma é seguro? E o Shane? O que acham que irá acontecer?

Enfim, espero que tenham gostado! Até mais!



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