Surviving to Hell escrita por Alexyana


Capítulo 19
Perda


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Tudo bem?
Eu estou totalmente triste e sem rumo, já que terminei de assistir o último episódio de Breaking Bad recentemente. Chorei enquanto lia, chorei enquanto lavava a louça, chorei quando encarava o teto... Enfim, eu nunca vou superar o fim dessa série fodasticamente ótima e perfeita. Aliás, eu super indico. ASSISTAM BREAKING BAD!
Queria agradecer também a todas leitoras lindas que comentaram o capítulo anterior, vocês me fazem muito feliz, sério! Obrigada!

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/521945/chapter/19

Eu nunca gostei de enterros. A aura de perda e de tristeza, a desesperança presente no olhar dos familiares e amigos... Tudo isso porque sabem que não verão mais aquela pessoa. Não poderão desculpar-se por algum erro, agradecer ou até mesmo falar o quanto amava ela. Nunca mais.

Todas as pessoas reunidas aqui demonstram a mesma dor e tristeza em suas expressões. Alguns choram, outros não. Eu não derrubei mais lágrimas depois de ontem, provavelmente porque não acho que tenho direito de fazê-lo.

O vento frio da manhã bate contra meu rosto, e abraço meu tronco, levemente feliz por estar com meu enorme moletom dos Bulldogs. Este presente foi de meu tio, que mesmo odiando meu time me presenteou com ele. Com muitos insultos e piadinhas, coisas que não podiam faltar quando tio Grayson estava presente.

Rick inicia seu discurso, e forço-me a prestar atenção nas palavras proferidas por ele. Encaro mais uma vez o amontoado de terra no chão, como se estivesse olhando para Dale.

– Dale conseguia irritar as pessoas – com certeza ele me irritou –, porque ele não tinha medo de dizer exatamente o que pensava, como se sentia. Esse tipo de honestidade é rara e corajosa. Sempre que eu ia tomar uma decisão eu olhava para o Dale, e ele olhava para mim com aquele olhar que ele tinha. Todos nós vimos isso uma vez ou outra. Nem sempre eu podia compreendê-lo, mas ele nos compreendia. Ele via as pessoas como elas eram, ele sabia coisas sobre nós: a verdade, quem nós realmente somos.

“E no fim ele estava falando sobre a perda da nossa humanidade. Ele disse que nosso grupo está rachado, e o melhor jeito de honrá-lo é fortalecer o grupo, colocar de lado nossas diferenças e nos unir, parar de sentir pena de nós mesmos; assumir o controle de nossas vidas, da nossa segurança, do nosso futuro. Não estamos rachados. Vamos provar que ele estava errado.

A partir de agora, vamos fazer do jeito dele. É assim que honraremos Dale.”

–---------------- ↜ ↝ -----------------

Hershel finalmente tomou a grande decisão de nos acolher em sua casa, então passamos a maior parte do dia transportando objetos das barracas para dentro. Cada um ficou com um lugar para “morar” e o meu é o quarto onde mamãe está, junto com Cassie e Seth. Estou adiando ao máximo minha entrada lá, já que desde nosso desentendimento ontem não a vi. Nada melhor do que adiar o inevitável.

No momento estou em nossa barraca, mais mexendo nas coisas do que guardando. Encaro amorosamente o taco de baseball em minhas mãos, como se esse objeto guardasse todos os momentos felizes que vivi desde que o ganhei. O que é uma grande baboseira.

Ouço um barulho atrás de mim, e fico surpresa ao ver Carl abaixado na porta da barraca.

– O que está fazendo aqui? – pergunto em um tom de voz curioso, tentando não ser grosseira. O que é quase impossível dizendo isso.

– Oi pra você também – cumprimenta irônico. Ele vê o taco em meu colo, e sua voz sai nostálgica na frase seguinte. – Faz tempo que eu não vejo um desses.

– Felizmente consegui salvá-lo – digo, olhando mais uma vez para o objeto em minhas mãos. Carl entra na barraca, se sentando ao meu lado e observando as coisas espalhadas. Inclusive coisas íntimas.

– Então, está disposto a me contar por que estava agindo de maneira estranha? – pergunto, escondendo disfarçadamente a calcinha que estava ao meu lado. – Mais estranho que o normal – acrescento antes que ele diga “estava normal”.

– Você que é a estranha aqui – retruca, e sorrio ironicamente em sua direção. Carl demora um tempo para continuar, e fico esperando pacientemente.

– A morte do Dale... Foi minha culpa – murmura, a tristeza e o remorso tomando seu rosto infantil.

– Carl, como pode ser culpa sua? – pergunto indignada com essa confissão sem sentido.

– Eu fui ao celeiro ontem à tarde e Shane acabou me pegando lá e contou pro meu pai. Ele me deu uma bronca e eu fiquei bravo, acabei indo pra floresta onde encontrei um walker preso no pântano. Tentei matá-lo, porém ele escapou e eu fugi como um covarde. – Ele suspira pesadamente antes de continuar. – Eu causei a morte de uma pessoa.

– Carl... – tento, porém suas lágrimas silenciosas me interrompem. – A culpa não é sua. Esse walker poderia ter escapado sozinho, e Dale sabia que andar assim à noite era perigoso!

Ele não parece muito convencido disso, mas por fim se dá por vencido.

– Limpe essas lágrimas e seja macho! – ordeno com uma voz séria. Ele ri levemente, limpando as lágrimas com as costas da mão.

– Você tem um péssimo gosto – constata enojado depois de se recuperar, apontando para meu casaco. – E os Bulldogs são horríveis!

– Diga isso mais uma vez e eu te faço chorar de novo – ameaço. Ele faz uma expressão insolente, que me irrita muito, porém não arrisca repetir.

Volto a guardar meus pertences e os outros poucos de mamãe que ainda está aqui, jogando todos dentro da caixa de plástico. Carl começa a fuçar em algumas coisas, e acaba achando minhas fotos.

– Você até parece gente nessa foto – observa, vendo a fotografia minha ao lado de mamãe. – E sua mãe está bem bonita aqui.

– Oh, cale a boca – ordeno, tentando tomar as fotos de suas mãos, sem sucesso.

– Por que tem uma foto do meu pai aqui? – ele pergunta, finalmente chegando à foto de Shane e de Rick.

– Eu peguei na casa do meu pai quando fui lá procurá-lo. – Olho para a foto em suas mãos por alguns segundos, lembrando da horrível sensação de não achá-lo. – Aliás, eu já fui à sua casa.

– Foi? Como ela estava?

– Meio abandonada – respondo, o humor negro brincando em minha voz. Ele revira os olhos diante disso, e olha mais uma vez para foto.

Permanecemos mais uns minutos assim, enquanto dobro e guardo todas as roupas, uma coisa totalmente desnecessária. Porém que leva tempo. Noto o olhar de Carl sobre mim, e levanto os olhos em sua direção.

– O que está olhando? – questiono um tanto desconfortável.

– Nada – responde evasivo. Ele fica mais um tempo em silêncio. – Emma?

– Que é? – pergunto impaciente, virando a cabeça em sua direção.

Sou pega de surpresa por seus lábios, que selam os meus no segundo seguinte. Arregalo os olhos surpresa, congelando totalmente. A sensação de sua boca na minha acaba três segundos depois, antes que eu possa fazer alguma coisa. Ele se afasta de mim rapidamente, enquanto continuo com os olhos arregalados.

Carl se levanta apressadamente, pegando seu chapéu. Ele olha mais uma vez em minha direção antes de sair.

– Obrigado, Emma – agradece se virando e começando a caminhar em direção à casa. Observo sua figura se distanciar cada vez mais, e tenho a leve impressão que estou de queixo caído.

–---------------- ↜ ↝ -----------------

Caminho devagar com a grande caixa pendendo em meu quadril, tentando não deixá-la cair. Fico aliviada quando vejo a porta do quarto de mamãe aberta, o que facilita muito meu trabalho.

– Deixa que eu carrego pra você – oferece Seth, surgindo ao meu lado. Tento recusar, porém quando vejo ele já a pegou de mim.

Acompanho-o até o quarto, parando de adiar. Vejo mamãe sentada na cama do mesmo jeito de ontem, porém com uma roupa diferente. O livro de Dale repousa em suas mãos, e ela parece totalmente concentrada na leitura das páginas. Isso me lembra das vezes que ia ao seu quarto à noite, pedindo um lugar pra dormir após um pesadelo – que eram mais frequentes do que eu gostaria ­–, e a encontrava exatamente assim.

Seth coloca a caixa no canto do quarto e sai rapidamente, me deixando sozinha com mamãe. Distraio-me em colocar meus pertences dentro da mochila, evitando olhar em sua direção.

– Olha, Emma... – mamãe começa, em um suspiro derrotado. – Desculpe-me por ontem. Eu não queria dizer aquilo para você.

– Eu sei que o que você disse é verdade – respondo. – Sei que estava certa.

– Filha... – Mamãe me olha culpada, talvez até com um resquício de dor nos olhos verdes.

– Tudo bem, mãe – interrompo antes que ela diga algo. Aproximo-me da cama, sentando na beira do colchão. – De verdade.

Ela sorri levemente, com as sobrancelhas franzidas em uma expressão quase de choro. Ela abre os braços, me convidando para um abraço. Não hesito em correspondê-la, refugiando-me em seus braços, que são tão protetores e acolhedores quanto os de papai.

– Mamãe ama você – sussurra, fazendo carinhos no meu cabelo. Um estranho déjá vu me atinge, como se essa cena já tivesse acontecido centenas de vezes.

– Também te amo.

O momento cafuné-mãe-e-filha é interrompido pelo alvoroço de vozes lá fora, e levanto-me rapidamente. Troco um olhar com mamãe, ambas em estado de alerta.

– É melhor eu ir lá ver – digo. Maddison parece um tanto hesitante em concordar com isso, mas no fim consente. Não que eu tenha dado opções.

Corro em direção ao celeiro, fazendo uma prece silenciosa no caminho para que nada de ruim tenha acontecido. Vislumbro várias pessoas ao redor do celeiro enquanto paro ao lado de Cassie, que também está aqui.

– O que aconteceu? – pergunto, ficando na ponta dos pés para tentar ver alguma coisa.

– Randall fugiu. – Minhas preces com certeza não foram atendidas.

– Rick! Rick! – Viro em direção ao chamado, e noto papai saindo da floresta. Todos olham em sua direção, e fico assustada ao notar seu rosto ensanguentado.

– O que aconteceu? – Lori pergunta alarmada.

– Ele ta armado, ele pegou minha arma! – Shane grita, andando até o grupo rapidamente.

– Pai, você está bem? – pergunto preocupada, avançando em sua direção.

– Eu to bem – responde, sua voz alterada. Olho para ele, mas não sou correspondida. Seus olhos possuem um brilho estranho, quase insano. – O desgraçado pulou em cima de mim e me acertou bem na cara!

– Hershel e T-Dog, voltem com todo mundo pra casa e tranquem as portas – Rick ordena, gesticulando para as pessoas. Tento me aproximar de papai, porém Sam me impede. – Glenn e Daryl, venham com a gente.

– Deixem ele ir! O plano era esse, não era? – Carol questiona.

– O plano era deixá-lo bem longe daqui, não na porta da nossa casa com uma arma! – Rick esbraveja, já começando a caminhar em direção à mata com papai, Glenn e Daryl. – Voltem para a casa, bloqueiem todas as portas e fiquem lá.

Tento ir atrás deles mais uma vez, porém novamente sou impedida. Olho suplicante para Samantha, que apenas nega com a cabeça. Viro a cabeça em direção à floresta uma última vez, já não os vendo mais. Pergunto-me quantas vezes terei que me separar de papai, e se isso é uma espécie de castigo.

Trancamos-nos na casa e aguardamos, provavelmente por um bom tempo já que o Sol se transformou em uma grande Lua cheia. Não tivemos mais nenhuma notícia, e todos estão apreensivos. Os homens que ficaram permanecem vigiando, atentos a tudo, como Rick ordenou.

Mamãe também está na sala agora, já que Hershel finalmente permitiu que ela desse uma voltinha. Ela está escorada na parede ao lado da janela, com Carol ao seu lado. Elas ficam conversando monotonamente enquanto fitam a noite lá fora, provavelmente falando sobre banalidades na tentativa quase inútil de se distrair.

Não vi mais Carl depois daquilo, e não sei se fico preocupada ou aliviada. A ficha finalmente caiu há uns minutos, enquanto encarava um ponto qualquer. Carl Grimes, o garotinho insolente do chapéu, realmente me beijou!

Sou retirada dos meus conflitos adolescentes por um barulho distante, seguido de mais outro após um pequeno intervalo de tempo. Todos entram em estado de alerta, encarando uns aos outros enquanto um silêncio de poucos segundos se segue.

Eu sabia que aqueles dois tiros não significavam boas notícias, mas não imaginava o quanto minha vida mudaria por causa deles.


I've got a tight grip on reality
But I can't
Let go of what's in front of me here
I know you're leaving
In the morning, when you wake up
Leave me with some kind of proof it`s not a dream


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu tenho uma forte noção de realidade
Mas eu não consigo
Deixar o que está na minha frente
Eu sei que você está partindo
Quando você acordar de manhã
Me deixe uma prova de que não é um sonho
(The Only Exception - Paramore)

Eu não sei se vocês já notaram, mas os trechos que eu coloco nos fins dos capítulos podem ser pistas para ao futuro, risus.

O que acharam do capítulo? Já sabem o que está por vir, né? É a chance de vocês darem sugestões e me dizerem o que gostariam que acontecesse, então não percam essa oportunidade!
Pergunta de hoje: Vocês têm um objeto ou algo da sorte?
Minha resposta: Não, eu procuro não relacionar coisas materiais à sorte e a momentos bons, já que eu posso perdê-las. E não parece nada legal perder a sorte, haheuhe.

Beijoss e espero vocês nos comentários!
PS: Me indiquem séries!!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Surviving to Hell" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.